Discurso durante a 92ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a insuficiência de investimentos em saúde pública no País.

Considerações sobre a supressão dos recursos da educação, bem como as suas consequências negativas sobre a população.

Insatisfação com as possíveis medidas que prejudicam os direitos dos trabalhadores. Posicionamento contrário ao sistema de capitalização previsto na reforma da previdência.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Preocupação com a insuficiência de investimentos em saúde pública no País.
EDUCAÇÃO:
  • Considerações sobre a supressão dos recursos da educação, bem como as suas consequências negativas sobre a população.
TRABALHO:
  • Insatisfação com as possíveis medidas que prejudicam os direitos dos trabalhadores. Posicionamento contrário ao sistema de capitalização previsto na reforma da previdência.
Aparteantes
Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2019 - Página 33
Assuntos
Outros > SAUDE
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > TRABALHO
Indexação
  • APREENSÃO, MOTIVO, INSUFICIENCIA, INVESTIMENTO, SAUDE PUBLICA, PAIS, BRASIL.
  • COMENTARIO, SUPRESSÃO, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, ENFASE, RESULTADO, PREJUIZO, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, PREJUIZO, DIREITO, TRABALHADOR, CRITICA, CAPITALIZAÇÃO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Eduardo Girão, que preside a sessão, Senador Wellington Fagundes, que usou a tribuna, e Senador Styvenson Valentim, sempre presente, eu quero falar de um tema que tem me deixado muito preocupado e que preocupa a todos nós, que é a saúde do povo brasileiro. E vou hoje falar sobre essa questão, demonstrando as minhas preocupações.

    Sr. Presidente Eduardo Girão, venho hoje falar sobre a situação pública da saúde no Brasil. É um assunto que ninguém pode achar que é uma grande novidade. Claro que não é novidade. Todos nós estamos preocupados com a saúde.

    A impressão que se dá hoje no Brasil é que nós estamos com uma pauta única no Congresso. E não é verdade. Estão dizendo que é só a previdência. Não é só a previdência. Estamos discutindo, na Câmara, por exemplo, a reforma tributária. Discutimos esta semana, exaustivamente, uma série de temas. Independentemente do mérito, foi discutida, por exemplo, a 871; foi discutida, ontem, a questão do projeto do Senador Tasso Jereissati sobre saneamento básico.

    Mas, hoje, Sr. Presidente, para não dizerem que nós estamos batendo sempre na mesma tecla da previdência, quero falar da saúde. Quero falar sobre saúde, e não sobre a saúde da democracia.

    Democracia, no meu entendimento, está firme. Podemos ter divergências, é normal numa democracia, mas a democracia está firme. Tema de vital importância, todos nós sabemos, é a democracia, mas hoje eu quero falar sobre saúde – repito a palavra "saúde".

    Esse tema foi debatido, recentemente, no âmbito do Conselho Federal de Medicina. Os Municípios brasileiros em regiões fronteiriças, essa é a informação que eu recebi – aí pega a Região Norte, pega a minha Região Sul, e Centro-Oeste principalmente –, apresentam índices de saúde piores do que os demais Municípios brasileiros.

    Olha, este dado, eu achei assustador: em 93% dos Municípios aqui citados por mim, não há nenhum leito – nenhum –, na UTI, vinculado ao Sistema Único de Saúde, o SUS. Ou seja, no Sistema Único de Saúde, na região fronteiriça, não há nenhum leito na UTI que seja patrocinado pelo SUS, que é o Sistema Único de Saúde. E mais, em mais de um terço das regiões de fronteira, não há sequer um hospital geral. Na maioria deles, a mortalidade infantil é maior do que a média brasileira e, em mais de um terço, podemos dizer que essa mortalidade está aumentando.

    Doenças como tuberculose e outras têm incidência maior do que a média nacional. São quase 600 Municípios ocupando uma faixa de terra de quase 17 mil quilômetros e abrigando uma população em torno de 12 milhões de pessoas. Eu volto ali atrás e digo: não tendo um leito de UTI. E muitas não têm um hospital geral.

    Mas por que falar sobre a saúde em Município de fronteira? Devido à realidade de que os seus problemas são muito mais graves do que aqueles que têm uma atenção maior do Poder Público em outras áreas.

    Mesmo assim, para quem está afastado dessa realidade, eu diria para quem está em outros centros do País, parece um conceito vago. Mas não é. Uma visão de quem está vendo somente de longe algo que está literalmente às margens do Brasil.

    É uma situação, Sr. Presidente, em todos os sentidos, análoga à de boa parte da população brasileira. São pessoas que não têm recursos, que recebem pouca atenção do Estado, que têm um cotidiano sofrido e que dependem do SUS para cuidar da saúde. Só não podem cair na UTI. Se caírem na UTI, como já registrei aqui, não existe um leito. Da forma como a saúde vem sendo tratada, ao longo da nossa história, infelizmente, essas pessoas que antes estavam sendo progressivamente incluídas, agora são empurradas, aos poucos, de volta para as margens da sociedade.

    Não podemos perder de vista nunca que grande parte dos brasileiros, seja de três quartos da população, depende do Sistema Único de Saúde. São pessoas que, se não tiverem UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou UBS (Unidade Básica de Saúde), um médico de estratégia na linha da Saúde da Família, uma ambulância do Samu, uma assistência farmacêutica, não terão alternativa nenhuma para cuidarem da sua saúde.

    É gente como nós, que não pode pagar uma consulta, que não consegue arcar com os custos de um exame complementar. É gente como a gente, só que a situação deles é desesperadora, porque, muitas vezes, gasta o dinheiro do leite para comprar uma cartela de medicamento. Imagine a situação de uma dessas pessoas quando tem de passar por um tratamento prolongado, por uma cirurgia ou que fica no desespero de encontrar uma UTI, saindo da sua região para outras cidades.

    Em 2017, Sr. Presidente, o Brasil gastou R$3,48 por dia com a saúde de cada um dos brasileiros. É muito pouco. Não imagino como o cidadão brasileiro médio conseguiria custear seus gastos com saúde com um valor – em lugar nenhum. Ainda existe o agravante da forma como os gastos têm sido distribuídos entre os entes federativos.

    Nos últimos dez anos, o ônus dos gastos com a saúde afetou de maneira desproporcional os Municípios brasileiros. Nesse período, suas despesas com recursos próprios aumentaram 50%. A União consegue fazer ajustes; os Estados, quando precisam, interrompem o atendimento; mas os Municípios, que estão lá na ponta, no contato direto com o cidadão, mesmo em dificuldade, não podem simplesmente fechar as portas fazendo de conta que não estão vendo a população no desespero do tratamento em relação à doença. É lá que as pessoas estão, lá nos Municípios; é lá que elas vão ao pronto-socorro, é lá que elas vivem, adoecem e morrem, muitas vezes, sem assistência.

    É notório que vivemos ainda sob os efeitos de uma crise econômica mundial que começou por volta de 2014. O Brasil tem sofrido bastante por causa dessa crise. É uma crise que se arrasta e que, em vez de resolver, parece deitar raízes cada vez mais profundas no tecido social do País. O Governo atual, como o anterior, tem dito que o problema é receita. A receita, segundo eles, é simples: cortar gastos de forma indiscriminada no meio ambiente, na cultura, na educação, na assistência, na previdência, na saúde pública; corta em todas as áreas. A situação é que não temos nem anestesia.

    Algumas das consequências imediatas da crise já foram computadas, especialmente para os brasileiros que mais precisam da saúde pública. A mortalidade por doenças chamadas sensíveis ao atendimento de ambulatório, que vinha caindo progressivamente nos últimos anos, praticamente estacionou a partir de 2014. O que isso representa? Que é gente que não precisa morrer e está morrendo, é gente que estaria viva se a curva da mortalidade continuasse descendente como antes da crise. Esse raciocínio fiscalista selvagem que prega que é preciso cortar custos da máquina de forma imponderada tem sido cada vez mais ruinoso para a sociedade brasileira.

    Um estudo do Ipea, Presidente Girão e Senador Styvenson, de 2016, já alertava para o que estava por vir. O Ipea alertou. Eles foram claros, quando previram os ataques fiscalistas que estavam sendo gestados e que vêm dominando as notícias e que os debates agravariam o fosso social que projeta o Brasil para uma posição de destaque negativo entre as nações do mundo. As ponderações do Ipea eram claras: os que já sofriam, os mais pobres, seriam os mais afetados pelos cortes, ou seja, os que estavam mal ficariam ainda pior.

    Os resultantes desse tipo de agressão aos gastos sociais – aí veio a Emenda nº 95 –, segundo a nota técnica, seriam danosos à própria economia, uma vez que a saúde é fundamental para a produtividade do cidadão e os gastos com a saúde, que não são gastos, são investimentos, têm efeito multiplicador no próprio PIB. Cálculos de especialistas concluíram que no Brasil cada R$1 gasto em saúde gera quase R$2 positivos na economia. Repito: não são gastos, são investimentos!

    Em países europeus e no Japão, os gastos com saúde educação têm um efeito multiplicador fiscal ainda maior, chegando a já três vezes mais riqueza no montante investido, ou seja, ao investir R$1, vai haver três vezes mais, se aproximando, então, com aquele R$1 investido, três vezes. Trata-se, portanto, de uma política equivocada.

    Em todos os aspectos, o nosso debate sobre saúde – estamos tratando de vida – tem que ser qualificado. É preciso que a gente – não é só esse ou aquele, não – saia das redes sociais. Temos que ir mais à academia, buscar o saber, o conhecimento. A academia de que eu falo não é àquela onde se malha, mas aquela em que se pensa. É preciso buscar dados, fatos confiáveis, para embasar as nossas políticas públicas para salvar vidas.

    Um estudo publicado em abril por cientistas ingleses, americanos e brasileiros, que já recebeu atenção merecida em nível internacional, já previu alguns cenários possíveis para a saúde da população brasileira nos próximos dez anos. Eles utilizaram dados nacionais do Datasus e do IBGE, naquela época em que os cortes de bom senso não eram sequer cogitados, e aplicaram alguns modelos matemáticos. Partiram de uma premissa conhecida, a mesma premissa que, em outubro passado, levou os Estados-membros da Organização Mundial de Saúde a celebrarem a Conferência de Astana, no Cazaquistão, os 40 anos da histórica declaração de Alma-Ata. E a premissa ratificada e endossada na conferência é de que a atenção primária à saúde é o meio mais efetivo e mais barato para resolver as dificuldades dos sistemas nacionais de saúde, ou seja, a prevenção. O pressuposto é que todo cidadão tem direito à saúde e que reduzir as disparidades no acesso aos serviços básicos de saúde deve ser a meta de qualquer nação do mundo.

    A partir dessas premissas, os cientistas previram a quantidade de mortes que deve ocorrer nesse período, em quatro cenários possíveis. Eles consideraram apenas uma fração do total de óbitos, apenas os causados por doenças que poderiam ser prevenidas por uma assistência, inclusive, no próprio ambulatório – ambulatorial básica –, como as doenças infecciosas, nutricionais, cardiovasculares.

    Com base em projeções econômicas e no atual cenário de restrição fiscal que nos impuseram, eles preveem que a atenção primária à saúde sofrerá, como vem sofrendo, graves restrições orçamentárias.

    É exatamente o que está acontecendo: ele perderá, como vem perdendo, sua eficácia ao longo dos anos, diminuindo, com isso, a vida das pessoas. Estamos caminhando para uma situação perigosíssima.

    Vamos ver o cenário.

    Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, há um médico para cada 470 brasileiros. Olhem bem: a média é 470, mas no Norte e no Nordeste chega a um médico para quase 954 brasileiros. Ou seja, quase o dobro – respectivamente.

    Pelos cálculos da Organização Mundial da Saúde, há 17,6 médicos para cada 10 mil brasileiros, bem menos que a Europa, cuja taxa é de 33,3 – mais do que o dobro.

    O Brasil tem dois leitos por mil habitantes, abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é em torno de cinco.

    O País tem, em média, 2,9 leitos por mil nascidos vivos, abaixo dos quatro leitos recomendados pela organização internacional.

    No SUS, essa taxa ainda é menor: baixa para 1,5. Em vez de serem quatro leitos, 1,5.

    Nesse cenário, mesmo que se consiga, de alguma forma, manter o mesmo número de médicos que, antes do Governo atual, prestava assistência pelo Programa Mais Médicos, teremos cerca, ainda, de 28 mil mortes prematuras a mais no Brasil.

    Lembro que, em cinco anos, cerca de 20 mil médicos cubanos atenderam a 113 milhões de pacientes, em quase 4 mil Municípios.

    Se os Municípios não conseguirem repor – não estou entrando nesse debate ideológico, só estou relatando os fatos – os médicos que atuavam pelo programa, teremos 48 mil mortes prematuras a mais por falta de médico.

    E, se compararmos essa última situação, bastante possível, dada a forma como o Governo está agindo – porque não consegue responder –, estaremos entrando numa situação, de fato, de alto risco, em que conseguiremos estender a estratégia da família para todos os brasileiros, teríamos, no mínimo, 84 mil mortes prematuras a menos.

    Um dos aspectos mais fortes desse estudo é que nos faz retomar a questão do fosso social que alguns continuam escavando em nosso País; é que os efeitos negativos dos cortes sociais terão impactos bem mais fortes sobre aqueles que têm menos condição de suportá-los: os Municípios mais pobres, as pessoas mais necessitadas, os pardos, os negros, enfim, todos os setores mais vulneráveis.

    E para dar um último retoque a esse quadro surreal, lembremos...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... de acrescentar as crianças. Os impactos dos cortes sobre a população infantil foram estudados pelo mesmo grupo há cerca de um ano e, mantidas as tendências, especialmente em relação à Estratégia Saúde da Família e à Bolsa Família, teremos cerca de 20 mil mortes e 124 mil hospitalizações infantis a mais do que teríamos entre 2017 e 2030 se os cortes não tivessem acontecido.

    Poderia estender-me, Sr. Presidente, falando, por exemplo, do aumento dos casos de desnutrição infantil em 2017, do aumento das mortes por diarreia, da queda sem precedentes na cobertura vacinal de menores de um ano de idade, e assim por diante; ou num outro exemplo da vida, sobre os estudos sobre o envelhecimento no Brasil, que demonstram que, de fato, as pessoas estão vivendo mais, mas vivendo pior. As pessoas estão mais doentes. Os indivíduos na faixa dos 60 a 64 anos têm mais doenças crônicas hoje do que tinham há 20 anos atrás, enquanto no resto do mundo as pessoas estão vivendo mais – estamos falando, claro, dos países com mais condição –, mas com qualidade de vida. Esses anos a mais não significam anos iguais, pois boa parte desses idosos têm dificuldades com atividades básicas do dia a dia, nesses anos de vida que ganharam.

    E ainda, Sr. Presidente, querem aprovar uma reforma da previdência que, em vez de incluir e garantir dignidade para as pessoas, pelo contrário – quem viver verá –, exclui e coloca à margem das benesses sociais milhões de brasileiros; principalmente – se passar, escrevam – a tal de capitalização, que eu sonho muito, rezo muito para que não passe.

    Sr. Presidente, só quero terminar deixando essa mensagem: a parcela mais vulnerável da população não pode continuar sendo penalizada como sempre foi, ao longo da nossa história. Aqui não se trata apenas de falar por falar. Aqui se trata, Senador Girão, e V. Exa. hoje falou sobre isso, de políticas humanitárias, de humanismo, de boa vontade, de decência, de qualidade de vida. Trata-se também de agir com inteligência econômica e estratégica.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – O Brasil que todos desejamos não se realizará sem a participação de todos os brasileiros.

    Sr. Presidente, confesso que me preocupa muito – e V. Exa. me acompanha, eu tenho certeza absoluta, nessa história da liberação do porte de armas – a revogação, como é anunciado, de 474 normas de segurança no trabalho. Mais acidentes no trabalho: destaco aqui a NR-12.

    Preocupa-me muito a falta de investimento no combate ao trabalho escravo, que está crescendo de novo no Brasil. Preocupa-me muito o corte nos investimentos na educação. Travamos esse debate de forma positiva, e espero que na terça-feira, quando lá aprovarmos o recurso que pede o Governo, ao mesmo tempo se suspenda o corte na educação.

    Preocupa-me muito a redução no valor do salário mínimo, uma proposta profunda que vá na linha de combater o desemprego. Sempre me preocupa muito a falta dessa proposta.

    Preocupam-me muito políticas públicas que não respeitem o meio ambiente e a vida. Preocupam-me muito os ataques à seguridade e ao direito à aposentadoria.

    Todos estamos preocupados, e aí vem um outro item, que já vem dos governos anteriores: a manutenção da Emenda nº 95, que congela todos os investimentos no País por 20 anos.

    Concluindo, Sr. Presente, e nesse minuto eu termino, poderia citar outras iniciativas que me preocupam, mas fica aqui o alerta: se mantivermos essa mesma linha, com certeza, teremos mais milhões e milhões de pessoas precisando do SUS. É só ver o crescimento absurdo nos valores dos planos de saúde.

    Aí eu digo: ainda mais que nesse momento os preços dos planos de saúde aumentam de forma desproporcional ao salário da nossa gente e do nosso povo, e ainda sem contarmos – e repito a frase que eu disse antes – a Previdência. Mas, principalmente, a maior preocupação minha é o tal de regime de capitalização. Não deu certo em lugar do mundo nenhum e não é aqui que vai dar. A capitalização fragiliza mais a seguridade.

    E termino com isso, Sr. Presidente. Por que eu falo da Seguridade? Porque é ali na seguridade social que estão a saúde, a assistência e a previdência.

    Por fim, Sr. Presidente, eu queria só deixar registrado: "Procuradoria diz que a reforma da previdência" – aqui cita nomes, mas eu prefiro sempre dizer "do Governo" – "do Governo é inconstitucional".

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Só esse destaque, Sr. Presidente.

    De acordo com o órgão, o estabelecimento de um novo regime com base em um modelo de capitalização altera o princípio da solidariedade, estabelecido como núcleo central da Constituição Federal de 1988. Eu estava lá, é fato e é real.

    "A Procuradoria Federal do Direito do Cidadão, órgão que integra o Ministério Público Federal, encaminhou nessa quarta-feira nota técnica a todos para os Parlamentares", para que analisem com muito cuidado a proposta de reforma da previdência apresentada pelo Executivo ao Congresso Nacional por meio da PEC nº 6.

    Segundo a Procuradoria, ela é inconstitucional – não vou ler toda a nota técnica – porque ela ataca, fere de morte – está escrito aqui – as cláusulas pétreas da Constituição Cidadã.

    Obrigado, Senador Girão, pela tolerância de V. Exa.

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Senador Paim, o senhor me permite?

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Pois não, Senador Styvenson.

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN. Para apartear.) – Eu estava ouvindo a preocupação do senhor com a saúde pública, e eu não podia deixar de narrar aqui um fato que está acontecendo aqui em meu Estado. No Rio Grande do Norte, o Hospital Estadual Ruy Pereira dos Santos, que é uma referência no meu Estado em cirurgias vasculares e principal destino para tratamento de pessoas pré-diabéticas, tem 80 leitos. Ele atende as pessoas que vêm de todo o Estado nessa especialidade, que seria vascularidade. Infelizmente, quando o senhor falou que a quantidade de leitos ainda é insuficiente, esse hospital está sendo fechado. É lamentável! Mais lamentável ainda – estou lendo aqui uma nota que a Secretaria de Saúde estadual emitiu – é que todas essas vagas, esses leitos vão ser redimensionados para os outros hospitais. Ora, se já há gente no corredor esperando...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Em todo o Brasil, eu diria.

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Em todo o Brasil. Fechar mais um hospital é colocar as pessoas, cada vez mais, amontoadas em corredores, esperando. Então, vai haver um redimensionamento para outros hospitais na zona oeste, na zona sul, na zona norte. Esse redimensionamento não vai suprir a necessidade em razão desse fechamento.

    Eu creio que deveria haver uma justificativa mais plausível para se fechar um hospital. Se é o contingenciamento, eu soube que não vai atingir a saúde – não se mexeu em nada na saúde pública.

    Então, vendo a preocupação do senhor, Senador Paulo Paim, com a saúde, é lamentável ter que trazer esta notícia que eu estou lendo pelo celular, de que um hospital de referência, um hospital que tem 80 leitos clínicos de enfermagem e 10 de UTI, vai ser fechado lá no meu Estado.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Lamentável!

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Vai sobrecarregar ainda mais os outros hospitais.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Styvenson, com a mesma preocupação de V. Exa., eu recebi, na Comissão de Direitos Humanos, diretores de hospitais filantrópicos de todo o País – estavam lá uns trinta. Eles estão muito preocupados, porque atendem milhões de pessoas. Lembro-me da Santa Casa, no meu Rio Grande do Sul, por exemplo, que atende principalmente SUS. É tão importante a Santa Casa que o meu check-up eu faço lá. Todo ano vou para lá. A Ana Amélia fazia lá, o Simon fazia lá. É um hospital que atende principalmente SUS, mas é filantrópico.

    Eles dizem que há uma tendência agora de se fazer não diria um ataque, mas de retirar verbas...

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Da filantropia.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... da filantropia. Temos que ter muito cuidado. Vamos ver de fato quem cumpre o papel no campo da filantropia e quem é "pilantropista".

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Bom, eu preciso dar uma referência positiva, Sr. Presidente, de um hospital filantrópico bom no meu Estado também: Liga do Câncer. É espetacular o atendimento. É tão bom quanto qualquer outro hospital de nível particular. É interessante a fórmula que eles usam, Senador Paulo Paim. Eles utilizam plano de saúde, atendem plano de saúde, que é uma pequena parcela – coisa de 9%, 10%...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – A Santa Casa também.

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Coisa de 9%, 10%...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – É isso mesmo.

    O Sr. Styvenson Valentim (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Esse dinheiro é revertido para o atendimento público também, equilibrado com o SUS. E não é a totalidade do SUS, porque é muito ínfima a participação do SUS ali, com aquele dinheiro. Se eles conseguem fazer um equilíbrio de contas, um equilíbrio de gestão, isso mostra que o hospital tem que crescer.

    A gente precisa ter uma atenção maior para esses exemplos de funcionamento, principalmente de gestão e administração de hospitais públicos, que dão realmente eficiência.

    Quem vai lá, Senador Girão, Senadora Leila, não vê fila, não vê gente amontoada em maca, não vê sofrimento, não vê destrato. Pelo contrário, todo mundo é bem tratado. E outros hospitais como esse, praticamente de filantropia, uma relação público-privada que presta um bom serviço para a sociedade, tenho certeza que precisam ser reproduzidos, mas a gente está na contramão no meu Estado, fechando os hospitais. O Ruy Pereira sendo fechado e redimensionados todos esses pacientes para outros hospitais, o que vai sobrecarregar os outros, que já são carregados, que já têm pessoas lá aguardando nas filas de espera, nos corredores, como eu vi com os meus próprios olhos.

    Obrigado pelo aparte.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem.

    Senador Styvenson, meus cumprimentos pelo aparte, que eu faço questão que conste no meu pronunciamento.

    Quero só informar, Senadores, Senador Girão e Senador Styvenson, eu os recebi e fiquei de fato comovido e bem impressionado com o trabalho belíssimo que eles fazem em todo o País, inclusive com muitos profissionais voluntários. Tem alguns ali, que dizem: "eu sou voluntário, mas eu ajudo a administrar lá". Atendem, de fato, milhões e milhões de pessoas no Brasil. E eles estão preocupados que haja algum investimento do Governo para cima dos hospitais filantrópicos.

    Eu me comprometi com eles, primeiro, que eles me mandassem o material para a gente poder falar aqui na tribuna e fazermos uma audiência pública, para eles mostrarem ao Brasil, numa segunda-feira, quando da nossa comissão – os senhores dois são titulares permanentes e presentes –, para a gente mostrar ao Brasil o trabalho deles e não permitir que eles sejam prejudicados.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Prejudicando-os, estão prejudicando milhões de pessoas.

    Senador Girão, muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2019 - Página 33