Fala da Presidência durante a 114ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comentário sobre a influência japonesa na cultura brasileira, e homenagem aos 111 anos da imigração japonesa.

Autor
Leila Barros (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Leila Gomes de Barros Rêgo
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comentário sobre a influência japonesa na cultura brasileira, e homenagem aos 111 anos da imigração japonesa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2019 - Página 8
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • COMENTARIO, INFLUENCIA, CULTURA, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, HOMENAGEM, IMIGRAÇÃO, BRASIL, REGISTRO, CONTRIBUIÇÃO, ALIMENTAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOTIVA, ESPORTE.

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) – Bom dia a todos. É um prazer enorme receber todos aqui nesta sessão solene em homenagem à imigração japonesa no nosso País. Vamos fazer a abertura da nossa sessão.

    Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

    A presente sessão especial é destinada a homenagear os 111 anos da imigração japonesa no Brasil, nos termos do Requerimento nº 513, de 2019, da Senadora que está aqui presente e de todos os Senadores.

    Iniciamos a nossa sessão.

    Gostaria de convidar para a Mesa o Embaixador do Japão, Sr. Akira Yamada. (Palmas.)

    A Diretora do Departamento de Japão e Pacífico da Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Oceania e Rússia do Ministério das Relações Exteriores, a Sra. Ministra Cecília Ishitani. (Palmas.)

    O Presidente da Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste (Feanbra), Sr. Luiz Nishikawa. (Palmas.)

    E o Representante Chefe da Agência de Cooperação Internacional Japão e Brasil (Jica), Sr. Hiroshi Sato. (Palmas.)

    Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos a execução do Hino do Japão e, em seguida, o Hino Nacional brasileiro, pelo cantor Alysson Takaki, juntamente com o pianista Gregoree Júnior.

(Procede-se à execução do Hino do Japão.)

(Procede-se à execução do Hino Nacional.) (Palmas.)

    A SRA. PRESIDENTE (Leila Barros. Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - DF) – Vou falar: são tantas emoções!

    Quando eu escuto o Hino do Japão, eu tenho uma emoção particular, porque, como atleta, Sr. Embaixador e todos presentes aqui, eu vivi grandes emoções no Japão.

    E no Japão, não só eu, certamente todos os atletas que vão lá representar o País se sentem em casa. É um prazer enorme hoje celebrar este momento com vocês, porque eu tenho um carinho particularmente imensurável por esta comunidade e por tudo o que vocês fizeram e fazem pelo nosso País também. Grata.

    Eu vou fazer um pequeno pronunciamento aqui e depois eu passo a palavra para o nosso Embaixador Sr. Akira, ele tem horário. Não é, Sr. Embaixador? O senhor vai sair às 11h. Então, eu vou dar o máximo de celeridade aqui à nossa sessão. Obrigada.

    Sras. Senadoras, Srs. Senadores, é como se fosse uma litúrgica celebração de redescobrimento do Brasil; é como se fosse a celebração de uma bênção destinada a poucos países do Planeta. Afinal de contas, o processo de ocupação e exploração de nossa terra se deu, e ainda se dá, de forma enriquecedoramente difusa e multicultural.

    Nossa origem se configura em diversidades e em temporalidades múltiplas, combinando raças, etnias e culturas dentro de uma moldura aleatória e bem-vinda. Como a formação de uma pátina a emitir luzes e cores infinitas sobre a pintura, a miscigenação brasileira, oriunda de diversas contribuições migratórias, encanta o quadro populacional do nosso País.

    Nesse contexto, Sras. e Srs. Senadores e Senadoras presentes e todos, a integração dos imigrantes japoneses aos costumes do Brasil, ao longo de mais de cem anos, não poderia ser resumida em breves palavras. As experiências adaptativas foram tantas e em tantos recantos do País, que não podemos identificar um modelo único de convergência cultural.

    Na verdade, graças ao ingresso de uma franja tão representativa da tradicional civilização oriental, o caldo cultural nos trópicos se submeteu a um processo muito refinado de viver e pensar a existência latino-americana. Seja no genótipo, seja nos costumes, um novo e original modo de identidade cultural se filtrou pelas cavidades e tecidos mesclados desse pulsante hemisfério.

    Desde o início do ano, as comunidades nipo-descendentes festejam os 111 anos da imigração japonesa. Sem dúvida, um dos pontos altos desse ciclo de festividade é a já tradicional recriação da chegada do navio Kasato Maru ao armazém 14 do porto de Santos, no mesmo dia 18 de junho, em que, há mais de um século, aportaram as primeiras 158 famílias japonesas em solo brasileiro, totalizando quase 800 pessoas.

    Sem exageros, apesar do improviso inicial e dos sacrifícios inerentes a uma mudança tão drástica de vida, é forçoso fazer um balanço positivo da empreitada. Ao longo dos mais de cem anos desse descontínuo fluxo migratório, trocaram o Japão pelo Brasil cerca de 300 mil pessoas. Segundo cálculos demográficos, a população brasileira de origem japonesa soma hoje quase três milhões de habitantes.

    No entanto, o crescimento populacional não é mais expressivo em virtude do fluxo de retorno dos contingentes cada vez maiores dos decasséguis ao Japão. Mudaram-se para o Japão aproximadamente 500 mil nipo-descendentes nas últimas duas décadas, com o objetivo de desfrutar de oportunidades de trabalho abundantes lá e escassas por aqui.

    Como se sabe, Sras. e Srs. Senadores, o pêndulo dos movimentos migratórios oscila de acordo com o movimento de maior ou menor dinamismo da economia. Agora, é o Japão que oferece emprego aos brasileiros. Cem anos atrás, era o Brasil que acenava para os japoneses.

    Ademais, para além da inquietação natural que move o homem e o mantém na busca incessante da terra prometida, toda migração tem forte motivação econômica e algum fundo político. Contudo, não importam os motivos, nosso País respira Japão por todos os lados. Não é à toa que o Brasil é hoje a maior comunidade japonesa do mundo fora do Japão. No decorrer desta jornada, nipo-brasileiros têm contribuído para o desenvolvimento do Brasil em diversas áreas, fortalecendo as relações econômicas, humanitárias e científicas entre ambos.

    Para os historiadores da culinária nacional, uma das contribuições está na alimentação, em que a cultura japonesa incentivou o consumo de peixe, hábito outrora nada comum, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste. Nessas regiões, a gastronomia predominantemente privilegiava o consumo de carne bovina praticamente todos os dias. Dito e feito, com o aumento dos restaurantes japoneses, o consumo de peixe duplicou o hábito alimentar do brasileiro, proporcionando uma proteína menos gordurosa em nossa dieta e muito mais saudável. Nos dias de hoje, correntes, raros são os centros urbanos desfalcados de restaurantes e fast-foods tipicamente orientais no nosso País.

    Na visão dos economistas, outra grande contribuição bastante visível envolve a indústria de motocicletas e automóveis. A força desse setor contribuiu muito para o desenvolvimento econômico e industrial do nosso Brasil, gerando empregos, impostos e trazendo divisas com as exportações. Em números mais precisos, as montadoras de motocicletas japonesas possuem juntas 90% de participação no mercado brasileiro, boa parte da qual sob a égide da Moto Honda da Amazônia.

    Seguindo a mesma toada, no setor de automóveis são cinco montadoras japonesas com fábricas no Brasil. A quantidade se sobressai na medida em que não há nenhuma outra nacionalidade com o mesmo número de montadoras instaladas por aqui. Sintoma dessa pujança, é o fato de o Japão ser o segundo país com o maior volume de financiamento ao Governo brasileiro, ficando atrás somente dos Estados Unidos.

    Saindo das questões da gastronomia e dos assuntos econômicos, não poderia deixar de falar de esporte e cultura, em cujas áreas nosso País se desenvolveu com a imprescindível contribuição dos nossos irmãos japoneses. Os desenhos japoneses são apresentados no Brasil desde a década de 60; a técnica bonsai para conservar árvores em miniatura; o uso do bambu na confecção do artesanato, o zori, criação japonesa que deu origem às sandálias de dedo; dentre outras tantas contribuições.

     No esporte nem se fala: beisebol, caratê, judô e tantas outras artes marciais que têm sido instrumentos de transformação e inclusão social em nosso País tiveram a sua origem nas terras do sol nascente.

    Sras. e Srs. Senadores, aqui em Brasília existe uma harmônica simbiose entre as dezenas de imigrações que ocupam este lugar, desde a sua fundação, em 1960. A impressão que se tem é de que o Presidente Juscelino Kubitschek, ao inaugurar a nova Capital, infundiu no País um simbólico redescobrimento nacional, repactuando um contrato de hospitalidade na diversidade.

    Antes mesmo da inauguração de Brasília, algumas famílias de imigrantes japoneses já habitavam em Goiânia e foram convidadas pelo Presidente Juscelino Kubitschek. Naturalmente, o convite presidencial se destinava a atraí-los para fomentar a produção agrícola local.

    Em 1957, cinco famílias de imigrantes japoneses se deslocaram para Brasília. As famílias Kanegae, Hayakawa, Ogawa, Ikeda e Okudi fixaram, na ocasião, residência na Colônia Agrícola Kanegae, em homenagem ao pai de Hydeaki Kanegae, que foi um dos fundadores do lugar. A essas tradicionais famílias, se agregam hoje outros sobrenomes tão nobres quanto os pioneiros. Vale constar, agora, as já importantes famílias Ueda, Kodama, Uema, Nakashima e Sumida, entre outras.

    Hoje, é a Colônia Agrícola Vargem Bonita, bairro próximo ao Park Way, que abriga o maior reduto nipônico de Brasília, com cerca de 40 famílias — praticamente todas com parentes que ainda residem no Japão. Aliás, de acordo com um levantamento realizado pela Associação Cultural Nipo-Brasileira de Vargem Bonita, os parentes dos agora moradores do Distrito Federal vivem em regiões mais ao sul do Japão.

    Trabalhando sobretudo com agricultura, os japoneses e descendentes japoneses em Brasília reúnem, atualmente, cerca de 50 famílias em Vargem Bonita. Alguns ainda labutam diariamente na roça, cultivando hortaliças para sustentar a família, mas a maioria já conquistou espaço produtivo e comercial em larga escala.

    No cenário atual, a Colônia Vargem Bonita ficou pequena demais para os descendentes de japoneses, que desembarcaram em Brasília ainda nos anos 60. Como bem frisamos, à época, concentravam o trabalho nas chácaras, abastecendo as prateleiras dos supermercados com produtos hortifrúti. De lá para cá, nem todos permaneceram na agricultura. Alguns deixaram o cenário bucólico e decidiram viver em regiões como Plano Piloto, Taguatinga e Águas Claras, tocando negócios os mais variados, ou ocupando cargos de destaque nas hierarquias do setor público.

    Nesse clima de confraternização, não por acaso, o Festival do Japão Brasília tem-se firmado como o maior e mais abrangente evento sobre a cultura japonesa no Distrito Federal.

    É realizado, anualmente, desde 2012, e foi idealizado pela Federação das Associações Nipo-brasileiras do Centro-Oeste, com o intuito de divulgar e preservar as raízes japonesas. Didaticamente elaborado, seu conteúdo programático é formado por shows musicais, exposições, clínicas, exibições de artes marciais, artesanato e gastronomia.

    Em suma, graças à relevância da presença nipônica na construção do Brasil e de Brasília, devemos exaltar, a todo momento, o caráter trabalhador e educado dessa valiosíssima cultura oriental. Não de menor importância, temos que, igualmente, reconhecer sua integração na complexa e rica formação cultural brasileira.

    Para concluir, Sras. e Srs. Senadores, não poderíamos, portanto, deixar de aproveitar a ocasião para, mais uma vez, prestar justa homenagem a todos os japoneses e seus descendentes no Brasil. Em suma, trata-se de mais de um século de contribuições contínuas e incomensuráveis, em função das quais o Brasil tornou-se melhor!

    Era o que eu tinha a dizer.

    Muito obrigada. (Palmas.)

    Agradeço a presença do atleta de Brasília, Matheus Takaki. Ele é campeão brasileiro universitário de judô e é filho do cantor Alysson Takaki, que nos brindou com os Hinos Nacionais do Japão e do Brasil. (Palmas.)

    Gostaria de registrar a presença dos ilustres Presidentes das Associações Nipo-brasileiras que nos honram com as suas presenças neste evento: Waldemar Hiroshi Umeda, Kuniyoshi Yasunaga, que se aliaram à nossa celebração e nos ajudaram muito na preparação desta sessão; da querida Alessandra Yamamoto, da Kamada Verde, que elaborou e doou esses lindos arranjos que estão à nossa frente, com as cores do Brasil e do Japão, que estão enfeitando o nosso Plenário – muito obrigada, Alessandra! –; e do Heitor Kanegae, o primeiro nissei de Brasília – obrigada, Heitor. (Palmas.)

    Eu passo a palavra agora para o nosso Embaixador do Japão aqui em Brasília, o Sr. Akira Yamada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2019 - Página 8