Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Celebração pela realização da Marcha das Margaridas.

Ponderação sobre a conduta de membros da Operação Lava Jato.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Celebração pela realização da Marcha das Margaridas.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Ponderação sobre a conduta de membros da Operação Lava Jato.
Publicação
Publicação no DSF de 15/08/2019 - Página 26
Assuntos
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, MOTIVO, PASSEATA, OBJETIVO, COMBATE, VIOLENCIA, VITIMA, MULHER.
  • COMENTARIO, ASSUNTO, CONDUTA, MEMBROS, OPERAÇÃO LAVA JATO.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, pessoas que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado, pelas redes sociais, quero aqui mandar um abraço muito especial à Sra. Lia Galvão, de 90 anos de idade, moradora lá de Recife, que acompanha todos os dias a TV Senado e que assiste, muito interessada, os debates que ora ocorrem nesta Casa e que têm incidência sobre o futuro do Brasil.

    Queria também aqui, mais uma vez, pedir liberdade e justiça para o Presidente Lula.

    Sr. Presidente, foi com muita alegria que hoje nós nos integramos – desde a noite de ontem, na verdade – à grandeza da Marcha das Margaridas, que chega ao seu sexto ano com a força democrática descomunal. Estivemos na abertura ontem e, hoje pela manhã, fomos às ruas de Brasília acompanhar a entrada de 100 mil mulheres no coração do Poder do País para reivindicar uma pauta sólida de direitos que não só não pode retroceder como precisa avançar em conquistas.

    Nós recebemos essas mulheres do campo, das florestas e das águas de braços abertos para dizer que integramos esta marcha e que a luta delas por terra, por políticas de educação e saúde, pelo combate à violência de gênero também é uma luta nossa. É uma luta de dimensão mundial, já que mulheres de outros 26 países também vieram se integrar à Marcha das Margaridas, reverberando uma pauta que não é só brasileira, mas de escala planetária.

    Tivemos a oportunidade ainda de encontrar lá o nosso companheiro Fernando Haddad, que veio especialmente trazer uma mensagem do Presidente Lula a essas mulheres guerreiras. Foi uma mensagem em que Lula ressaltou o Brasil que começamos a construir com inclusão social, mais democracia e capacidade de se organizar; um País onde as mães tinham assegurado o direito de ter o que dar para o seu filho comer, onde a energia elétrica chegava às casas dos lugares mais remotos, onde os jovens tinham o acesso à educação e o emprego era uma regra, onde as mulheres contavam com o apoio no combate à violência, especialmente à violência doméstica. Enfim, um Brasil de políticas públicas e programas sociais exitosos, que sempre teve nas políticas para as mulheres um norte a ser seguido.

    Em sua carta às mulheres, Lula externou, ainda, sua vontade de poder estar com elas em mais esta marcha, porque somente os Presidentes da República que faziam parte do PT, participaram deste movimento e ouviram suas reivindicações.

    Se a justiça realmente for feita, Presidente Lula, não tardará para que o senhor volte à Marcha das Margaridas, não tardará para voltar às ruas que o têm como a maior liderança política deste País.

    A cada dia, inclusive, fica mais e mais evidenciada a imensa trama suja enredada nos porões da Lava Jato, com a participação de alguns agentes do Judiciário, alguns do Ministério Público e alguns da Polícia Federal agindo de forma claramente criminosa para prendê-lo e retirar os seus direitos políticos.

    O homem, por exemplo, que apreendeu o tablet do Arthur, neto do Presidente Lula, considerando certamente que ali havia informações importantes para a investigação, e que apreendeu o celular de D. Marisa – Arthur e D. Marisa, ambos hoje falecidos – é o mesmo que mandou o Procurador Deltan Dallagnol proteger o delinquente Eduardo Cunha da apreensão dos celulares. Por que será? Por que será que Sergio Moro tomou o iPad de uma criança e o celular de uma senhora, mas preservou intocados os telefones de um bandido, cuja mulher a benevolência do ex-juiz também absolveu? Certamente, para preservar segredos devastadores sobre o golpe que derrubou a Presidenta Dilma em 2016 e que poderiam prejudicar os planos de poder do Sr. Sergio Moro.

    É só olhar onde está Moro hoje e a quem ele deve obediência. Aliás, que humilhante! Que humilhação ver o papel que esse cidadão está cumprindo hoje, um papel ao qual ele tem se prestado nos últimos dias, de estar ao lado de um Presidente da República que lhe faz piadas chulas, homofóbicas e comentários escatológicos sobre regulação intestinal! E ele, Sergio Moro, a tudo assiste calado, caladinho, por medo de perder o cargo. Que deprimente: o paladino da Justiça, o defensor da moral e da ética reduzido a um xeleléu! Lá em Pernambuco, a gente chama xeleléu ou chaleira – chaleira é o cara que leva a chaleira para o que vai tomar um mate. Então, Sergio Moro hoje é um xeleléu, é o chaleira de Bolsonaro. E ai se não for, porque poderá ser demitido, a não ser que se confirme a notícia que saiu hoje de que o Governador de São Paulo o levaria para lá. Com toda a certeza, se isso não acontecer, ele vai ter que ficar aí, já sem o cargo de Ministro da Justiça, que, bem ou mal, ainda o protege. Mas a hora dele vai chegar, vai chegar. A cada dia que passa, mais o povo brasileiro sabe do papel deprimente que ele exerceu ao longo desse período em que foi o chefe – o chefe! – da Operação Lava Jato.

    Em algum momento, ele terá que pagar o mal que fez ao Brasil, pagar o fato de ter propiciado que este Presidente que está aí, que a cada dia que se passa comete um novo crime de responsabilidade, que, não tendo mais nada o que fazer, se mete no resultado da eleição argentina, chama o candidato vencedor da prévia de bandido. Não tem nenhuma noção do que é o papel, do que é a liturgia, do que é a responsabilidade de ser Presidente da República.

    Mas, Sr. Presidente, como disse Lula na sua Carta às Mulheres, o ódio não vencerá o amor, o medo não vencerá a esperança e a grosseria não vai vencer a solidariedade.

    As Margaridas chegaram, e eles não têm como deter a primavera!

    Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/08/2019 - Página 26