Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Pe. Kazimierz, conhecido na sociedade brasiliense como Pe. Casemiro.

Reflexão sobre a escalada da violência no País.

Destaque à instalação, pela Câmara Municipal de Caucaia (CE), de CPI para investigar supostas fraudes em licitações do Município.

Convite à população para que participe das manifestações previstas para ocorrerem em Brasília no próximo dia 25, em favor da instalação da CPI da Lava-Toga.

Autor
Eduardo Girão (PODEMOS - Podemos/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Pe. Kazimierz, conhecido na sociedade brasiliense como Pe. Casemiro.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Reflexão sobre a escalada da violência no País.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Destaque à instalação, pela Câmara Municipal de Caucaia (CE), de CPI para investigar supostas fraudes em licitações do Município.
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Convite à população para que participe das manifestações previstas para ocorrerem em Brasília no próximo dia 25, em favor da instalação da CPI da Lava-Toga.
Aparteantes
Alvaro Dias, Jean-Paul Prates, Styvenson Valentim, Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2019 - Página 15
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • VOTO DE PESAR, MORTE, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, ATUAÇÃO, NASCIMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, POLONIA, MORADOR, BRASILIA (DF).
  • COMENTARIO, ASSUNTO, CRESCIMENTO, VIOLENCIA, PAIS, BRASIL, SEGURANÇA PUBLICA.
  • DESTAQUE, DECISÃO, CAMARA MUNICIPAL, LOCAL, CAUCAIA (CE), INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MOTIVO, INVESTIGAÇÃO, FRAUDE, MUNICIPIO.
  • CONVITE, POPULAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, LOCAL, BRASILIA (DF), APOIO, ABERTURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), LAVA-TOGA.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE. Para discursar.) – Paz e bem!

    Presidente e Senador Izalci Lucas, do Distrito Federal; todos os ouvintes da Rádio Senado; telespectadores da TV Senado para todo o País; Senadores aqui presentes – Senador Confúcio, Senador Jean Paul Prates, Senador Paulo Rocha, Senador Acir Gurgacz, Senador Alvaro Dias, Senador Styvenson –, agradeço a Deus, mais uma vez, a oportunidade de estar aqui nesta tribuna.

    Nesta primeira parte do discurso, Presidente, eu queria prestar a minha solidariedade a V. Exa., que é aqui do Distrito Federal, aos brasilienses, às pessoas que vivem nesta cidade e que tiveram a oportunidade de conviver com um grande homem que veio da Polônia, um idealista, um missionário. Existem 20 poloneses aqui em missão e também em Luziânia – eu sou muito amigo do Pe. Pedro.

    O Pe. Kazimierz, de 71 anos, com 46 anos de sacerdócio, mais conhecido como Pe. Casemiro, nome abrasileirado, foi morto, Senador Confúcio, cruelmente, na noite do sábado passado, 21 de setembro, durante um assalto em uma casa paroquial na Asa Norte, aqui em Brasília. O crime ocorreu em uma obra da Igreja Nossa Senhora da Saúde, na Quadra 702. Ele estava fiscalizando uma obra que acontece no terreno da igreja. Os criminosos mataram o sacerdote por asfixia e amarraram os pés e as mãos do religioso. Foram quatro. Os bandidos ainda reviraram a casa paroquial e levaram diversos objetos do local.

    Nessa mesma ação, o caseiro da igreja também foi rendido, sofreu escoriações nos braços e nas mãos e foi transportado para o hospital. O estado de saúde é estável. Acho que pode ser uma chave interessante aí para se procurar, buscar apurar o que aconteceu e a responsabilidade, para que haja a punição.

    A Polícia do DF está direcionando a investigação para o crime de latrocínio –roubo cuja ação acarreta a morte da vítima – e já tem quatro suspeitos de ter praticado a ação, porque as câmeras registraram.

    Em nota, a Arquidiocese de Brasília lamentou a morte violenta do padre, disse estar acompanhando o caso e pediu orações para a família. É um momento difícil, é um momento de muita solidariedade, porque é um homem que largou tudo no país dele. Ele morava no norte de Varsóvia. E ele largou tudo e veio para o Brasil, por amor a este País, para fazer o bem, para trazer a palavra de Jesus para cá. E ajudou muita gente.

    Então, eu queria fazer esse registro. Neste momento está acontecendo o velório dele. Daqui a pouco, o enterro dele, que vai ser ali... Vizinho à LBV, como é o nome ali, Senador Izalci?

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – É Campo da Esperança.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Campo da Esperança.

    E que Deus conforte a alma dos familiares e das pessoas que conviviam mais proximamente com ele. E que receba o espírito desse grande cristão que partiu para o mundo espiritual de uma forma violenta.

    Nós enfrentamos um problema, Senador Alvaro Dias, que é um problema... O Brasil vive uma guerra civil. Até o Ministro Sergio Moro falou sobre isso agora, num evento que houve em São Paulo. O Brasil vive uma grande guerra civil. São 60 mil pessoas assassinadas. Para se ter uma ideia, na guerra do Vietnã, esse número não chega nem perto. Então, é algo assim muito impactante. Um País com um povo com tanta fraternidade, solidariedade, a maior Nação católica, a maior Nação evangélica, a maior Nação espírita do mundo, mas a gente tem muitas desigualdades; há a falta também de punição, não é? A impunidade é muito grande no País.

    Senador Alvaro Dias, gostaria de usar a palavra?

    O Sr. Alvaro Dias (PODEMOS - PR. Para apartear.) – Sim, Senador Girão. Primeiramente para manifestar solidariedade.

    E essa denúncia que traz V. Exa. à tribuna, de um fato real, que revela a perversidade humana, nos leva a refletir sobre as nossas responsabilidades. Estamos vivendo realmente um mundo de violência.

    E ontem, à noite já, eu recebi vários apelos, áudios, especialmente de uma paraibana inconformada ao ver dois vídeos na internet. Num deles, uma idosa sendo levada a constrangimento e a violência por parte da própria filha – o Senador Styvenson me informa aqui que já houve a providência e houve a prisão nesse caso, que ocorreu no Rio Grande do Norte. No outro vídeo, um brutamontes agride uma criança violentamente, de forma perversa, cruel. Foi impossível continuar vendo o vídeo.

    Mas essa senhora e tantos outros que se manifestaram nos cobraram: "O que vocês estão fazendo? Por que vocês não legislam a respeito?". E eu respondi que legislação há. Há farta legislação no Estatuto da Criança e do Adolescente e também no Estatuto do Idoso, ainda também no Código Penal. Não é ausência de legislação. Pode ser ausência de providências, pode ser ausência, em determinadas circunstâncias, de autoridade competente para adotar as providências. Mas é, acima de tudo, a ausência de formação adequada, a ausência da educação necessária.

    Quantas vezes nós elaboramos leis e eu próprio tenho dito: "Não gero falsa expectativa em relação a essa lei aqui aprovada". Porque não basta a lei; é preciso que ela seja cumprida eficientemente; é preciso que a autoridade cumpra, de forma rigorosa e implacável, a legislação contra os danos causados por seres humanos muitas vezes animalescos, selvagens.

    Certamente há a legislação. Nesse caso, há a legislação. Nós não podemos ser responsabilizados por isso. Às vezes, legislamos mal, sem dúvida, e temos que dar a mão à palmatória, temos que dar razão a quem nos condena por legislarmos mal. Mas, nesse caso, há legislação. Então, não há o que fazer em matéria de legislação. O que há é, exatamente, a cobrança que deve ser formulada.

    Eu não sei de onde é esse cidadão que está agredindo a criança, se é do Brasil, se é do exterior. Não importa de onde seja! O que importa é o exemplo do mal, da perversidade, da crueldade, e nós temos que reagir a isso. Evidentemente, não podemos ir além da nossa responsabilidade. Aqui cabe legislar. Legislamos. Agora, cabe cobrar das autoridades competentes as providências.

    O que me espanta ver, inclusive, é que alguém, filmando o evento horrendo, não tome providências, prefere ficar filmando a tomar providência para evitar a violência. E isso, Senador Girão, nos leva a refletir sobre até onde vamos, para onde estamos indo e qual o caminho que estamos percorrendo. É preciso, realmente, refletir sobre tudo isso.

    Parabéns a V. Exa., que tem sempre a sensibilidade humana necessária para a abordagem de temas que são muito sensíveis ao coração do povo brasileiro.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Obrigado, Senador Alvaro.

    Eu vou passar a palavra ao Senador Styvenson, mas, antes, eu queria fazer uma reflexão com V. Exa., com todos que estão aqui, sobre esse assunto.

    Esses vídeos que circulam na internet, vídeos que mostram casos absurdos, aberrações humanas, Senador Jean Paul Prates, inclusive com mortes, filmando assassinatos, gangues, enfim, isso só faz, quando a gente compartilha esse tipo de vídeo, quando a gente passa para frente, isso só faz aumentar a violência. Isso é provado cientificamente, Senador Confúcio.

    Eu participei de alguns seminários promovidos pela Agência da Boa Notícia, e outros também, que mostram que a gente tem que fazer uma pausa, porque a gente está incrementando, está assustando, está deixando as pessoas num estado de nervos de que o mundo está perdido. Isso gera violência, isso gera depressão, isso gera outras situações.

    Então o caminho inverso, a neurociência mostra isso, a física quântica, é a gente procurar ver também que nunca houve tanto amor na terra, até porque a mídia só mostra aquilo que é ruim, que vende jornal, que vende anúncio na TV, mas na hora em que a gente for repercutir uma coisa dantesca, a gente tem que imaginar o efeito que isso tem para a sociedade. As pessoas que estão assistindo – muitas vezes, Senador Izalci, crianças – recebem esse tipo de vídeo e isso leva a uma percepção de que o mundo está perdido. Mas, não! Nunca houve tantos projetos, Senador Acir, projetos do bem, projetos de ajuda humanitária, pessoas ajudando creches, ajudando abrigo de velhinhos – nunca houve tanto amor, tantas atividades assistenciais promovidas, seja por entidades religiosas ou não.

    Então, é algo que a gente precisa refletir. Quando a gente passa para frente esse tipo de coisa a gente não está fazendo o bem.

    Eu não consigo ver um vídeo desse – eu não consigo ver um vídeo desse. Aquilo acaba com o meu dia, porque é um sentimento de impotência. É como o senhor colocou, há leis. Agora, a gente tem que focar no que é bom, no bem, na cultura da paz; esta, sim, tem uma força propulsora. Não é ser omisso; é a gente procurar participar de uma corrente diferente, que é a corrente do bem.

    Senador Styvenson, por favor.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN. Para apartear.) – Senador Girão, obrigado pela palavra.

    Preciso só, já que estou ouvindo bem atento à sua fala – e o senhor mesmo disse que o Ministro Sergio Moro falou que estamos passando por uma guerra civil quase desumana, não só no que a gente assiste pela TV, mas em todos os lugares –, a gente precisa, já que sabe disso, investir em aparelhamento policial e em treinamento. Mas concordo, Senador Alvaro Dias, nosso Líder, quando as pessoas estão reclamando do que nós estamos fazendo aqui, que temos um Código Penal caduco, velho, ultrapassado, para os crimes hoje que cada vez são mais bárbaros, um Código de Processo Penal também que torna mais frágil ainda a sensação de impunidade.

    O elemento criminoso tende a exercer, a praticar, a fazer esse crime, muitas vezes com essa garantia de que, ou a polícia não pega por ela ser mal aparelhada, mal treinada, mal equipada, ou, quando pega, por ter a certeza de uma audiência de custódia, de um habeas corpus ou de um mecanismo penal que a sociedade já não reconhece mais como efetivo, não reconhece mais como punitivo, ele tende a fazer a prática criminosa reiteradamente.

    Um dos fatos que o Senador Alvaro citou, a lesão corporal de uma filha de 58 anos praticada contra uma mãe de quase 80 na zona oeste de Natal, Cidade Nova – foi na capital, foi em Natal. É triste a gente ter hoje essa referência ou ser exemplo de um vídeo que viraliza tendo uma brutalidade como essa. Qual vai ser a pena dela? E a senhora vai para onde? Vai para um asilo? Vai ficar com quem? Quer dizer, muitas vezes, a gente não sabe.

    Eu, como policial, via essa impotência. Eu prendia o cara por tráfico, por assassinato ou por roubo e, pasme, Senador Alvaro, ele saía primeiro que eu. Enquanto eu estava lá para ser ouvido, ele era ouvido primeiro. Aí vinha um arsenal de advogados, e tudo aquilo acontecia antes mesmo que eu desse o meu depoimento. E, muitas vezes, como policial, eu era o acusado por estar conduzindo-o para a delegacia, pelas escoriações que ele tinha, por que eu o algemei, por que eu o botei na mala da viatura.

    Então, a gente vive hoje nessa sociedade, Senador Girão, que permite isso, essa fragilidade hoje penal. Falando-se de previdência, já que o cidadão está vivendo mais, já que a expectativa de vida está sendo maior, que aumente a pena de 30 para 70 anos agora. Não é a média de vida agora? Porque 30 anos, amigo, é pouco. E que bote trabalho para essas pessoas desocupadas, criminosas produzirem para a sociedade e não ficarem se alimentando em presídios mantidos pela sociedade, pelo cidadão. Então, como policial, eu digo: penas rígidas e a certeza de "punidade" evitam tudo isso. Por isso o questionamento da população em dizer o que nós estamos fazendo aqui.

    Eu cheguei aqui há oito meses. De fato, eu pretendo fazer muito mais. Pedi uma audiência pública para a gente discutir a audiência de custódia, porque isso é um calo para os policiais. Policial prende e fica me ligando: "Capitão, eu prendi o traficante com 3kg de cocaína, com arma, e o cara saiu, não ficou preso, o cara do PCC". Acontece isso todos os dias.

    Então, a gente precisa rever, sim, o Código Penal, mas, como eu iniciei dizendo que o próprio Ministro diz que vivemos uma guerra civil, que estamos numa guerra civil, então algo precisa ser feito de efetivo para a segurança pública e para a educação – as duas linhas caminhando junto – para que nós evitemos, tentemos, diminuamos atrocidades como essas – não como essa da filha para a mãe, porque isso é uma aberração.

    Então, a minha parte seria justamente para dizer, respondendo ao Senador e às pessoas que comunicam ao senhor, a mim e a qualquer outro Parlamentar, que a exigência deles é justamente ver que a punição sirva de exemplo para que desmotive pessoas a cometerem crimes. É isto que as pessoas querem da parte do legislador: criar penas mais rígidas e que, efetivamente, sirvam para ressocializá-las.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Obrigado, Senador Styvenson.

    Imediatamente, eu passo a palavra para o nosso querido irmão, Senador Telmário Mota.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR. Para apartear.) – Senador Girão, o assunto que V. Exa. traz a essa tribuna é um assunto sobre o qual todos nós deveremos nos debruçar com mais rigor. E eu acho que até pós todo esse processo da previdência, dos projetos mais importantes da parte econômica para o Brasil retomar esse crescimento, com geração de emprego, acho que sobre essa questão da segurança nós temos todos que nos debruçar e aqui pegar experiência. Assim como o próprio Senador Styvenson, que fez um trabalho bonito na sua região, no seu Estado, e tem uma experiência, todos que estão aqui podem trazer e somar.

    V. Exa. estava falando desse vídeo, que realmente...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS - RR) – ... é irracional. E agorinha tenho aqui – eu não tenho nem coragem nem devo mostrar –, acabei de receber uma foto, no WhatsApp, da minha cidade, uma cidadezinha pequena chamada Caroebe, onde uma jovem de 15 para 16 anos teve uma morte extremamente cruel e violenta. Ela foi decapitada no final, de modo que abalou e tem abalado toda a cidade.

    Eu estava aqui vendo, daqui a pouco vou colocar na minha fala, que o meu Estado, Srs. Senadores, era um Estado em que a gente dormia de portas e janelas abertas. Era um dos Estados mais pacatos da Nação brasileira. E eu abro aqui o jornal, que diz: "Roraima vira líder em assassinatos no País." Olha só que tristeza o que o jornal principal da nossa cidade traz como Manchete. Isso é de partir o coração, porque a causa nós sabemos e o efeito é isso aí.

    Então, eu quero dizer para V. Exa. que todos nós temos que unir forças e ir buscar o mecanismo que realmente coíba tudo isso. Nós temos que entender que a questão da criminalidade cresce na ausência do Estado, cresce na ausência do Estado. Quando o Estado é omisso nas suas ações sociais, nas suas ações de crescimento e desenvolvimento, outro poder paralelo cresce. Por exemplo, esse crime bárbaro no meu Estado é fruto de organizações criminosas, que fazem o recrutamento fácil de adolescentes e que depois não têm como mais sair.

    Então, o pronunciamento de V. Exa. é muito oportuno e mexe com o Brasil inteiro, é de interesse nacional. E V. Exa., mais uma vez, tem o meu respeito, a minha consideração. V. Exa. sempre traz a esta Casa assunto que está muito pertinente ao sentimento da população.

    Parabéns!

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Obrigado, Senador Telmário.

    Eu tenho a honra também de passar a palavra ao Senador Jean Paul Prates.

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN. Para apartear.) – Meu querido amigo, Senador Girão, é para me solidarizar com a sua fala e aduzir algumas coisas que os colegas também comentaram. É muito importante que esse debate seja feito. É claro que nós aqui, em apartes, apenas podemos pontuar, arranhar a superfície de um assunto tão complexo, profundo, e que a meu ver se configura como um ciclo pernicioso, vicioso, que a gente entrou, na sociedade brasileira, porque acaba que vira um debate entre policial e direitos humanos, procedimentos, leis mais rígidas versus educação.

    E como o meu colega de Estado, o Senador Styvenson, vem sempre pontuando, ele que é profissional da função de manter segura a nossa sociedade, ele próprio, na sua carreira, descobriu justamente que o outro lado existe, que esse outro lado é o lado da construção educacional, da formação da nossa sociedade, e isso tem de andar em par.

    E, aí, vocês acabaram pontuando duas coisas que estão no meio de debates usuais, mais repressão, mais penas rígidas e, por outro lado, direitos humanos, tratar as pessoas humanitariamente, mesmo que elas tenham cometido crimes etc., etc., etc. e tal da espetacularização desse processo. Então, o primeiro ponto é isso.

    O que coloca pressão na sociedade, além do que habitual e obviamente seria compreensível que ocorresse, porque estamos de fato numa sociedade violenta, estamos de fato impulsionados economicamente – quando eu digo economicamente, não é só porque o cara que está morrendo de fome e vai roubar, porque isso é coisa do passado... Hoje, a maior parte dessa violência vem, como disse o Senador Telmário, vem de esquemas econômicos fortíssimos, de ciclos econômicos criminosos, crime organizado, droga etc., etc., etc. Quando eu digo economicamente, não é só o lado social. É o lado também da construção de ciclos econômicos já completamente consolidados e não apenas nos grandes centros, mas, infelizmente, agora também em Roraima, no Rio Grande do Norte, no Ceará. Então, isso chegou para valer. Isso está desde os presídios até as ruas e comunidades. Mas se coloca pressão também... Eu por exemplo fico muito mal impressionado, e não vejo muita televisão mais, hoje em dia a gente quase não vê, mas quando vejo alguma coisa...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – ... me deparo, em plena tarde, em pleno horário de almoço, com programas altamente apelativos, que agora parecem que viraram escada para serem políticos também etc., etc. Então, programas de altíssima eloquência visual e de coisas atrozes, histriônicas. O pior dos programas não são nem as imagens; são os discursos fáceis, simplistas, populistas, demagógicos, raivosos, que inspiram mais violência, vingança e que põem, Senador Styvenson, pressão na polícia, porque o cara se sente, quando vai à comunidade, premido por aquilo. Dizem: "Olhe o que aconteceu naquele programa ontem, olhem que absurdo, vá atrás, pegue, mate".

     Então, eu acho que está tudo errado. Está tudo errado, a começar por aí.

    A gente pode, de tijolinho em tijolinho, começar a desmontar esse processo. Um deles é, por exemplo: essas TVs são concessionárias; não...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – ... há uma forma de coibir esse tipo de programa, nesse tipo de horário? Vá fazer isso em outro horário. Vá fazer isso em TV fechada, em alguma coisa que se possa de fato censurar, e é censura mesmo nesse caso, porque não é uma questão ideológica, de opinião. É apelação pura e simples. É a coisa cada vez mais histriônica, mais absurda, mais horrorosa. E é o que dá ibope. Eu vejo, inclusive, noticiários que eram tidos como sérios, ao meio-dia, em geral, agora extrapolando porque a outra emissora vai por esse lado. Então, a emissora vai e segue, e o patrocinador mandando naquilo. É um negócio completamente...

    A outra coisa é justamente essa questão da pressão e da violência, que acaba ocorrendo do outro lado também, que é o da repressão.

    Então, nós tivemos – não é possível que ignoremos – o caso dessa menina de oito anos que foi baleada no Rio de Janeiro. Era um policial, não era um policial. Não é questão de ser policial. É a questão do preparo, da capacitação e a questão do próprio sistema, a panela de pressão que está ali. Poderia ser bala de bandido, poderia ser bala de policial. Mas esse confronto, todo esse processo – e, no caso do Rio de Janeiro, há um agravante, porque há um governante claramente que estimula isso e dá ordem de matar, permite matar, diz que quem sair de fuzil, quem isso ou aquilo vai ser alvejado na cabeça por um sniper, já faz um histórico... Fez campanha assim.

    Claro, eu, inclusive, sou nascido no Rio de Janeiro, saí para o Rio Grande do Norte e uma das razões foi isso. Há 12, 15 anos atrás já eram um problema o tiroteio e a confusão, isso já pressionava as pessoas. Imagine hoje!

    Então, claro, o Governador foi eleito com essa bandeira, porque a sociedade foi pressionada, inclusive midiaticamente, mas também pela própria realidade, a exigir soluções imediatistas para isso.

    Então, esse é um problema sobre o qual a gente tem que se debruçar. Esse caso é o décimo sexto de criança baleada – de criança baleada – no Rio de Janeiro desde o começo do ano. Isso não é uma estatística que possa passar por nós, assim, desapercebida, silente.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jean Paul Prates (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Há extermínio de juventude, principalmente negra, nas cidades, nos Municípios, nas comunidades, no Brasil todo, diariamente.

    Então, há dois lados dessa moeda, e a gente precisa desarmar essa bomba. Não sei exatamente como, mas acho que há alguns começos, um deles é essa questão de a gente tirar essa pressão de dar satisfação via mídia, que é extremamente grave, e eu queria aduzir isso à sua fala e ao nosso debate dessa tarde.

    Obrigado, Senador.

    Muito obrigado.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Senador Izalci, eu peço, se o senhor puder complementar o tempo dos apartes...

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Eu só quero aproveitar... O tema é bastante empolgante, mas nós temos sete inscritos, e às 16h teremos uma sessão solene.

    Então, os 20 minutos de que nós estávamos falando eu vou reduzir para 10 minutos, mas eu pediria que fôssemos mais objetivos, porque senão não conseguimos passar a palavra para os demais oradores.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Eu lhe peço só cinco, só cinco extras para comentar um pouco...

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Não. Um minuto para V. Exa, senão não dá tempo, porque temos ainda sete inscritos, Senador. É que houve muitos apartes, e nós estamos com 45 minutos.

    Mais dois minutinhos para V Exa.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – Só para restabelecer um pouco do tempo dos apartes, porque foi muito interessante o que foi colocado pelos Senadores.

    Inclusive, foi feita uma pesquisa, Senador Jean Paul Prates, sobre o que V. Exa. estava falando. Esses programas policiais que mostram, na hora do almoço inclusive, essa cabidela... Você está comendo e está vendo uma coisa... Ao cabidela, comendo uma coisa que não...

    Olha, isso é algo que gera mais violência, sim. Sabe por que, Senador Marcos Rogério? Uma universidade lá do Estado do Ceará, não lembro o nome, fez nas comunidades uma pesquisa e mostrou que muitos jovens que estavam lutando ali para, de alguma forma, encontrar um caminho na sua vida, uma juventude...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – ... realmente que é desamparada, quando via uma cena daquela numa televisão, já no desespero, com o tráfico chamando para ser aviãozinho e tudo mais, simplesmente aquele jovem que apareceu na televisão, que cometeu um assassinato, começou a ser ídolo, Senador Acir Gurgacz, porque ele apareceu na televisão, virou referência na comunidade. Olha que loucura! É a gente dando visibilidade, promovendo mal. A gente tem que promover o bem para construir a paz.

    Então, é uma inversão de valores completa.

    Para encerrar meu pronunciamento, eu queria saudar a Câmara Municipal de Caucaia, no Estado do Ceará, porque instalou um direito da minoria, que é uma CPI para investigar supostas fraudes em licitações...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – ... e foi um trabalho articulado. Dos 23 Vereadores, 8 assinaram. Espero que, com muita imparcialidade, desenvolvam a busca pela verdade. Estão de parabéns Emília Pessoa, que é a Presidente da Comissão, Natécia Campos, Pr. João Andrade, Dona Célia, Mickauê, Neto do Planalto, Jorge Luís e Evandro Maracujá, que começaram essa CPI em Caucaia.

    Por falar em CPI, eu faço aqui um último convite. Eu faço aqui o último convite para os Senadores que aqui estão, para a população, especialmente aqui de Brasília, da terra do Izalci. Estão vindo ônibus do Ceará, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Mato Grosso para a Praça dos Três Poderes, quarta-feira, dia 25 de setembro, a partir das 14h, mas o auge da...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – ... o auge da manifestação vai ser às 18h, aqui na Praça dos Três Poderes.

    Eu peço à população que venha para se manifestar a favor da CPI da Lava Toga, a favor do fim do foro privilegiado, a favor da análise de impeachment dos Ministros do Supremo. Chegou a hora da verdade! Essa é a grande chaga do Brasil, a corrupção é que mata mais do que qualquer coisa. É o que faz faltar dinheiro nos hospitais para tratamento, é o que faz faltar dinheiro para a segurança pública, para investimento, para emprego. E nós precisamos combatê-la, porque a maior crise que existe... Nós vamos votar a reforma da previdência aqui nesta Casa. É importante, é necessário. Vamos votar a reforma tributária, mas tudo desemboca no Supremo Tribunal Federal. Nós precisamos, sim, encarar...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (PODEMOS - CE) – ... essa CPI da Lava Toga para que a verdade venha à tona e liberte o Brasil, porque a maior crise que a gente vive é a crise moral. E você que está em casa tem esse compromisso cidadão com a Pátria. Se é a favor de Governo, se não é, não interessa; é vir querendo essa CPI, que vai fazer o seu papel. E eu tenho certeza de que essa CPI vai trazer um grande resultado para a Nação.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2019 - Página 15