Discurso durante a 190ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Resumo da missão de S. Exa. na ONU, em que teve oportunidade de debater, entre outros assuntos, as pautas feminina e ambiental, com destaque para a preservação da Amazônia.

Autor
Rose de Freitas (PODEMOS - Podemos/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Resumo da missão de S. Exa. na ONU, em que teve oportunidade de debater, entre outros assuntos, as pautas feminina e ambiental, com destaque para a preservação da Amazônia.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2019 - Página 18
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, MISSÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DISCUSSÃO, PAUTA, FEMINISMO, MEIO AMBIENTE, PRESERVAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, inicialmente eu quero pedir desculpas se eu cometer alguma falha, se eu tiver alguma dificuldade, porque ainda estou me recuperando de um problema de saúde. Então, não estou tão agitada como sempre fui, tenho que medir aqui alguns momentos.

    Sr. Presidente, eu queria inicialmente registrar – até porque foi, pela confiança dos meus colegas, votado aqui no Plenário – que eu fui participar da Assembleia Geral das Nações Unidas, da ONU.

    Eu aproveitei essa viagem oficial, inclusive para que, Senador Paim, nós pudéssemos dar uma nova versão ou a versão verdadeira do Brasil acerca dos seus principais temas, entre eles a questão ambiental, a questão das mulheres, a preocupação com os refugiados e a questão, sobretudo, da saúde pública.

    Eu aproveitei essa viagem, representando o Senado Federal, para encontrar – não só participar da Assembleia da ONU, tive a oportunidade de participar de várias – as missões da ONU que falam respectivamente sobre os assuntos de que tratei. E eu confesso que os debates, as reuniões e os encontros que nós mantivemos superaram até as expectativas. Hoje eu estou no oitavo mandato, eu posso dizer que esse olhar, que muitas vezes temos restrito à nossa convivência da Casa e ao território brasileiro, é muito diferente dos olhares que outras pessoas em seus países têm a respeito do Brasil.

    E o Brasil, por tudo que está passando, por essa questão ambiental, acabou por despertar uma militância mundial no tema da Amazônia. E não é mais essa baboseira de se dizer que querem tomar a Amazônia. Eu estou aqui há 32 anos. Eu nunca vi ninguém querer invadir a Amazônia, tomar a Amazônia, tirar a soberania do Brasil. Escrevemos na Constituição, não tem nada disso.

    A verdade é pelo descaso sobre a questão ambiental, quando o Presidente Bolsonaro ganhou a eleição, havia um sinal que estava sendo dado de que as pessoas teriam novas regras em relação ao trato da preservação ambiental. E, ao achar que não tinha mais regra nenhuma, as pessoas saíram colocando fogo onde queriam. E não adianta fazer uma nova versão. Foi o que aconteceu no Brasil, foi o que comprometeu a questão ambiental diante do mundo, e o mundo está atento à questão ambiental.

    Vão falar da agricultura familiar, vão falar do agronegócio, mas têm que saber que tem que haver um regramento para que essa questão ambiental seja respeitada, inclusive na particularidade dos negócios que o Brasil faz lá fora. Eu confesso que eu fiquei... Também vi uma questão, Senador Paulo Paim, muito importante: a juventude se apossando dos seus espaços.

    Não tem que ter aqui... Vamos fazer uma cota de jovem, uma cota de mulheres...

    Desculpa. Não é a idade, é a necessidade da atenção do Senador Izalci.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Estava elogiando V. Exa. quando passou aqui. Passou aqui e falou bem de V. Exa.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Ele falou bem de mim? Muito obrigada. Eu vivo falando bem dele.

    Bom, eu quero dizer que representantes dos países do mundo inteiro falaram sobre a questão ambiental. Quero dizer que representantes de quase todos os países falaram a respeito das mulheres. Mas eu vi que na bancada representativa de muitos países, incluindo os países do primeiro mundo, aquele tempo que é dedicado à ONU para se levantar as questões pertinentes ao seu país era dividido entre um homem e uma mulher.

    E hoje é o Dia Nacional do Combate à Violência contra a Mulher. Eu quero lembrar que nós não temos, mulheres desta Casa, que subir à tribuna todo dia e ficar falando, Presidente Rodrigo, sobre a questão de que não se deve agredir uma mulher, que tem-se que respeitá-la. A mulher pare e gera metade da população brasileira. É muito importante que a gente tenha certeza de que os problemas que são gerados numa família e na sociedade trazem o traço do desrespeito contra a mulher.

    Os jovens se apossaram do microfone – e eu os ouvi com satisfação. Nas suas delegações falava um homem e uma mulher. Ao dividir o tempo que é destinado à ONU, meu assessor Will, mostrava-se que é mais do que uma efervescência, é uma conscientização latente de que não se modifica o mundo, não se traz paz a ele, não se faz justiça social, não se avança se não houver a participação da mulher.

    Então, quando eu me reporto à ONU, falando que os problemas, independentemente da língua e da cultura, são problemas que nós temos que discutir de maneira universal... Eu mesma fiz uma observação. Eu estive com o Presidente da ONU. Tive a grata satisfação de estar com ele. Mas em relação ao movimento da ONU Mulheres, eu me lembro de ter dito assim: " A ONU não trata da questão da saúde da mulher dentro do encontro da ONU'. Não trata, Presidente. Há um outro encontro que acontecerá em março, que vai tratar da saúde da mulher. Como, se a saúde da mulher é tão importante quanto o saneamento básico? E foi tratada a questão sanitária por vários países. Nós temos que parar com essa dicotomia. Temos que mudar essa noção que nós temos de que o problema da sociedade, do mundo... Ninguém melhor do que a mulher, inclusive, para lutar pela questão ambiental. Ninguém melhor do que a mulher, porque a mulher tem a sensibilidade de saber que ela quer lutar por uma vida melhor para a sua família, para o seu filho. E isso é uma questão de comprometimento.

    Eu acho que nos dá segurança dizer que o mundo está mudando na direção das mulheres e também os jovens estão se apoderando do seu espaço, não importa qual temática, não importa se foram motivados pela questão ambiental, pelas queimadas que foram mostradas ao mundo por fotos. Não importa qual o tempo que foi usado ou se essa foto era de quatro anos atrás.

    O fato é que na verdade, naquele momento daquela foto retardatária – foto que foi chamada de mentirosa, foi um aproveitamento qualquer feito pela França ou por alguém mais –, eu quero dizer que estavam acontecendo realmente as queimadas na Região Amazônica. Houve um comprometimento das nossas florestas. Para resgatar isso foi muito difícil, como também a questão de Brumadinho. Pode-se dizer aqui no Plenário que Brumadinho acabou e que está havendo uma recuperação? Não! No compromisso com os rios, no compromisso com a vida das pessoas, na dívida social que gerou essa malfadada tragédia, em tudo isso faltou o olhar, faltou a atenção, faltou a fiscalização, faltou o compromisso.

    Então, eu estou falando como mulher. Eu quero dizer a minha presença na ONU... Eu estava disposta a chegar lá e falar sobre o Brasil, os desafios que nós estamos vivendo. E encontrei comunidades inteiras, países inteiros com a mesma decisão. E eu me senti menos solitária nessa luta que nós travamos com um exército tão pequeno nesta Casa, com um percentual ainda não compatível com a representatividade da mulher.

    Então, nós estamos lutando por um mundo mais justo. Nós estamos querendo mudar a mentalidade da violência – e lá se falava sobre isso também. Nós estamos lutando para a preservação dos nossos patrimônios, a exemplo da nossa Amazônia. Todo mundo diz que quando o mundo fala, não importa se a cartilha que é distribuída lá dos Estados Unidos diz que a Amazônia é um patrimônio internacional. Não importa isso. Importa que ela continue sendo nossa. É da nossa responsabilidade. Portanto, se é da nossa responsabilidade, temos que fazer direito. Não é atacar quem nos critica, porque não estamos fazendo certo.

    Então, não importa. O importante é que...

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – ... para se construir um mundo mais justo e termos a oportunidade de fazer políticas melhores para tratar da saúde, combater a violência, cuidar das nossas florestas, construir justiça para todos, nós temos certeza, eu tenho certeza ao dizer aqui, Senador Paim, de que nós não estamos sozinhos, sobretudo por essa juventude, por essa energia que emergiu e que, das ruas, dizia: não desmatem a Amazônia, vamos cuidar do meio ambiente. Não aceitamos que façam leis e que tomem decisões que prejudiquem o nosso futuro.

    Inclusive, teve um líder que me chamou a atenção, acho que da Nigéria, se não me engano. Ele disse assim: "Quem está falando aqui é o futuro do meu país. Eu sou o futuro do meu país, eu sou o líder do amanhã." Então, não façam de conta que nós não existimos. Nós existimos e estamos lutando para que existamos num Planeta muito melhor.

    Então, quero dizer que logo no princípio, se me permite, Sr. Presidente, só concluir o raciocínio.

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Lá no início da minha viagem, estivemos com a missão permanente da ONU, com o Embaixador, com a equipe. Falamos sobre a questão das mudanças climáticas, da Comissão de que faço parte. Estamos falando disso de uma maneira inevitável, não mais com aquele sentimento de que as pessoas vão dizer que não tem alteração nenhuma. Teve um chefe de Estado que disse que não é mais mudança climática, que é crise climática. Desculpem-me, é mudança climática. Porque com mudança você tem que saber como vai lidar; crise você supera. Essas mudanças climáticas não estão para serem superadas com facilidade. É tudo consequência da ação do homem, do descaso, da soberba, da usura. Tudo isso nós achamos que comprometeu. Ou não será que a queima de óleo que se dá nessas plataformas do País, labaredas a céu aberto o tempo todo, não altera?

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – ... das plataformas não é questão de crise. A crise é não sabermos, com perspicácia, com inteligência, abordarmos os temas e não agirmos em conjunto para superar os problemas, o que nos coloca nessa situação.

    Então, queria...

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Pois não.

    Presidente, um pouquinho só de tolerância. O Senador Paim me honra sempre com o seu aparte.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Rose de Freitas, primeiro quero dizer que V. Exa. me representa. O discurso de V. Exa. é emocionante, é um discurso feito com alma, com coração e com vida. Representa muito, muito, a mulher brasileira. V. Exa. me representou lá na ONU. V. Exa., quando fala aqui do meio ambiente, fala de uma luta de todos nós, de toda a humanidade. V. Exa. é muito feliz porque ninguém melhor do que a mulher... É a mulher que dá a vida. Vocês gestam nove meses para que a gente possa estar aqui.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu queria elogiar V. Exa. V. Exa. foi Constituinte comigo. Jamais vou esquecer-me de que... Nós éramos jovens ainda. V. Exa. continua jovem, eu já estou mais para lá do que para cá.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Muito obrigada, Senador.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – V. Exa. é muito jovem, continua bonita, linda, simpática, agradável, fala com todo mundo, faz uma linha – que faz muita falta neste Senado – de gente que consegue dialogar com todos. E não, como alguns fazem: defendem causas, mas pensando em seus interesses e não nas causas. V. Exa. faz essa diferença.

    Eu queria só dizer que na Constituinte V. Exa. foi uma guerreira. Quando olho para V. Exa. eu me lembro, sim, de Mário Covas, por exemplo, lembro-me de Ulysses Guimarães, lembro-me de Bernardo Cabral, lembro-me de Lula, lembro-me de Olívio Dutra, de muitos líderes que, naquela época, independentemente da questão ideológica ou partidária, uniram-se para construir a Constituição Cidadã. V. Exa. era uma dessas líderes. Eu ia lá, meio chegando, um sindicalista...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... e participava das reuniões. E V. Exa. sempre me acolhia...

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Permita-me. Só um minuto.

    Presidente, sei que o senhor tem um tempo. Já presidi muitas sessões, até no exercício do cargo de Vice-Presidente.

    Um pouquinho de tolerância! Esta sessão está vazia, a Casa está com poucas pessoas. Se o senhor tiver um pouco de tolerância, eu gostaria muito de ouvir o Paim.

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - MG) – Absoluta tolerância, Senadora Rose.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Muito obrigada. Eu sei da generosidade de V. Exa.

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - MG) – Perfeito.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Mas eu já estou concluindo, Senadora.

    Quero dizer que era bom aquele tempo, tempo em que havia o centrão, aquele centrão que tinha suas posições, muitas vezes divergentes da nossa, mas que era de diálogo. Só houve a Constituição Cidadã de Ulysses Guimarães, que tinha posições divergentes, mas conseguíamos dialogar... Eu já cansei de elogiar, aqui, neste Plenário, Jarbas Passarinho, que era o principal líder do centrão. Não é porque ele faleceu, não, mas porque... Por exemplo, sobre o direito de greve eu conversei com V. Exa., falei com o Mário Covas, falei com o Lula, falei com tantos, e vocês me disseram: "Vai falar com o Jarbas Passarinho, porque ele poderá ser o grande mediador". Ele me disse, quando fui falar com ele: "Eu vou defender, Paim". "E o Covas?" "O Covas vai defender também". Foi aprovado por unanimidade, e a parceria com V. Exa. foi fundamental.

    Eu queria, neste momento, fazer uma justa homenagem a V. Exa. Sei que V. Exa... Nós todos, com o passar dos anos, vamos ficando mais jovens, jovens de cabelos brancos, e vamos tendo alguns problemas de saúde, mas é natural. É natural. E V. Exa., assim mesmo, vai à ONU, está aqui, acompanha o debate... Eu terminaria dizendo só que homenageio V. Exa. e que se pudesse dar um nome a uma campanha que o Senado está fazendo agora contra o assédio moral e sexual...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... pela luta das mulheres não só daqui do Senado, mas do Brasil, eu daria o seu nome, como a grande mentora dessa luta eterna de todos nós para fazer o bem sem olhar a quem.

    Senadora Rose de Freitas, Constituinte, você me representa.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – O senhor não imagina como acabou me emocionando aqui.

    Eu queria até concluir. Vou deixar para falar... Eu já disse uma vez a V. Exa. que muitas vezes o homem é tratado com suas circunstâncias. V. Exa. será tratado pela sua história. Ninguém, nesta Casa, absolutamente ninguém, lutou mais pelos direitos sociais que V. Exa. Então, V. Exa. dizer que eu o represento... Eu estou bem aquém da luta de V. Exa. Bem aquém. Mas eu quero agradecer as palavras, que são um estímulo à luta das mulheres.

    Sr. Presidente, eu queria que o senhor registrasse neste Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher...

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – ... que todos os homens deste Senado Federal, todos, absolutamente todos, estão irmanados nessa posição de fazer chegar às mulheres que nem uma vez mais um tapa, nem uma vez mais um assédio, nem uma vez mais uma violência, muito menos uma morte, porque não aceitamos mais que sejam assim consideradas as mulheres, que são mais da metade da população brasileira e pariram a outra metade, que está aqui representada por V. Exa., pelo Zezinho e por todos mais.

    Muito obrigada pela tolerância e obrigada ao Senador Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2019 - Página 18