Discurso durante a 192ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Regozijo pela canonização pelo Papa Francisco da Irmã Dulce.

Destaque para o Dia do Professor, comemorado dia 15 de outubro.

Considerações sobre a importância da preservação da Amazônia pelo Estado Brasileiro.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Regozijo pela canonização pelo Papa Francisco da Irmã Dulce.
EDUCAÇÃO:
  • Destaque para o Dia do Professor, comemorado dia 15 de outubro.
MEIO AMBIENTE:
  • Considerações sobre a importância da preservação da Amazônia pelo Estado Brasileiro.
Aparteantes
Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2019 - Página 45
Assuntos
Outros > RELIGIÃO
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, CANONIZAÇÃO, REALIZAÇÃO, PAPA, IRMÃ DULCE, IGREJA CATOLICA.
  • DESTAQUE, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, PROFESSOR, EDUCAÇÃO, CONDIÇÕES DE TRABALHO.
  • COMENTARIO, ASSUNTO, IMPORTANCIA, EVENTO, IGREJA CATOLICA, PRESERVAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, RESPEITO, INDIO, AGRICULTOR, AGRICULTURA FAMILIAR, PRODUTOR RURAL, BIODIVERSIDADE, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG).

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO. Para discursar.) – Muito obrigado, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, nossos amigos que nos acompanham através da TV Senado, da Rádio Senado e também das redes sociais.

    A fé cristã e os católicos de todo o mundo estão em júbilo com a canonização pelo Papa Francisco da Irmã Dulce. A freira baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, mais conhecida como Irmã Dulce ou a bem-aventurada Dulce dos Pobres. Agora, Santa Dulce dos Pobres. Ela dedicou toda sua vida religiosa àqueles que não tinham direitos, que eram fracos e vulneráveis.

    Sua trajetória foi marcada pelo amor ao próximo e pelo cuidado que dedicou durante toda a sua vida aos doentes e às pessoas mais necessitadas. A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da sua família. Uma herança dos pais, o dentista Augusto Lopes Pontes, e a mãe, Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, que ela levou adiante.

    Aos 13 anos, graças ao seu destemor e senso de justiça, traços marcantes revelados quando ainda era muito jovem, Irmã Dulce passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família lá no bairro Nazaré, em Salvador, num centro de atendimento. A casa ficou conhecida como a Portaria de São Francisco, tal o número de carentes que se aglomeravam à sua porta.

    Também é nessa época que ela manifesta pela primeira vez o desejo de se dedicar à vida religiosa. A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa de Salvador.

    Mais tarde, em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para os operários e filhos de operários no bairro Massaranduba, mais tarde transformada em hospital.

    Ao citar essa passagem da vida da Irmã Dulce como educadora, aproveito a oportunidade para parabenizar todos os professores, que, no próximo dia 15, amanhã, comemoram o Dia do Professor. Costumamos dizer que o magistério é um sacerdócio. E, de fato, foi isso que a Irmã Dulce fez em sua vida como professora.

    De todo modo, eu não estou querendo dizer aqui que todo professor deve ter uma vida de monge, mas que, além de se dedicar à profissão com amor e qualificação permanente, deve, sim, lutar por um salário mais digno e por melhores condições de trabalho.

    Nesse caso, o sacerdócio não pode ser confundido com voluntariado, pois todos sabemos que os professores estudam muito, se dedicam de corpo e alma e não podem ser substituídos por qualquer pessoa, por voluntários, como, por exemplo, amigos da escola. São importantes, mas não substituem o professor, porque ele muito estudou, muito se dedicou para estar ali, à frente dos alunos, para ensiná-los.

    A baixa remuneração é certamente questão central na solução dos problemas de professores e da educação brasileira. Portanto, aproveito a passagem do Dia do Professor e também a canonização da Irmã Dulce para manifestar minha defesa permanente da causa dos professores, que, em sala de aula, a cada dia, tentam iluminar mentes e construir novos cidadãos.

    Sem professores não se constrói nada, nada acontece, nem médicos, nem engenheiros, nem advogados, nem nações, nem padres ou freiras. Sem professores, não teríamos a formação humana e solidária da Irmã Dulce, não teríamos a primeira santa brasileira.

    Por isso, é preciso dar aos professores melhores condições de trabalho, se é que queremos construir alguma coisa, se é que queremos que o Brasil se transforme numa nação digna, onde todos possam viver muito bem, em paz e com qualidade de vida.

    Que possamos, então, a partir de hoje adotar a Oração à Santa Dulce dos Pobres como nossa prece diária, que diz o seguinte:

Senhor nosso Deus, lembrando de vossa filha, a Santa Dulce dos Pobres, cujo coração ardia de amor por vós e pelos irmãos, particularmente os pobres e excluídos, nós vos pedimos: dai-nos idêntico amor pelos necessitados, renovai nossa fé e nossa esperança e concedei-nos, a exemplo desta vossa filha, viver como irmãos, buscando diariamente a santidade, para sermos autênticos discípulos missionários de vosso filho Jesus.

    Sr. Presidente, aproveito a ocasião para lembrar o que disse o Papa Francisco, na segunda-feira passada, dia 7 de outubro, durante a abertura dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, que vai até o dia 27.

    O Papa Francisco disse que a sociedade moderna deve respeitar os indígenas e evitar as colonizações que serviram para dividir e aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles.

    Ele lembrou a experiência da Argentina, seu país de origem, onde os povos originários sofreram e sofrem ainda hoje com atitudes depreciativas. O mesmo ocorreu aqui no Brasil e em praticamente todos os países do continente americano.

    Ao pedir respeito às populações da Amazônia, o Papa Francisco disse que a Amazônia precisa do fogo de Deus, não do fogo ateado por interesses. "O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade, alimenta-se com a partilha, não com os lucros", disse o Papa Francisco.

    Concordo plenamente com o Papa Francisco – tenho chamado a atenção para os interesses sobre a nossa Amazônia – e também concordo com o relator-geral do Sínodo da Amazônia, Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, para quem a Igreja Católica "precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho da história nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humildade".

    E não é só a Igreja Católica que precisa fazer isso; outras igrejas, religiões, ciência, governos e instituições, povos, comunidades e pessoas precisam defender e promover a vida das populações da Amazônia, especialmente os povos originários, os agricultores familiares nas comunidades das periferias e a biodiversidade do território da Região Amazônica.

    O Estado brasileiro, mais do que nunca, também precisa caminhar ao lado da Amazônia e fazer valer a soberania nacional sobre o nosso território. Isso porque os interesses das grandes potências se revelam de forma mais intensa nas regiões ditas de interesse ambiental para o Planeta, em particular na Amazônia, que já é tratada como um bem de interesse da humanidade, um patrimônio público universal, o pulmão do mundo.

    Temos que ter cuidado, pois, por trás desses discursos ambientalistas, sustentados em preocupações, supostamente ambientais, em defesa do clima, da biodiversidade, da fauna e da flora, escondem-se, na verdade, os interesses estrangeiros bem mais perversos.

    Sr. Presidente, só conhecendo a Amazônia ou as várias Amazônias que existem dentro da nossa Amazônia, que integram a Região Norte do Brasil, é que podemos suspeitar, com propriedade, dos reais interesses internacionais de governos estrangeiros e de seus aliados nacionais que defendem a preservação da Amazônia intocada, a internacionalização da Amazônia.

    Só conhecendo a Amazônia real, a Amazônia profunda, seus rios, suas comunidades, suas lavouras, suas cidades é que poderemos falar com propriedade de conservação do bioma Amazônia, de desenvolvimento sustentável ou de sustentabilidade na Amazônia. Só assim podemos falar daquele modelo de sustentabilidade que reconhece as comunidades tradicionais, as populações indígenas, os agricultores, os operários, os comerciantes e empresários que trabalham dia após dia para proteger as florestas, para integrar seu modo de vida à floresta e para produzir usando recursos naturais, para produzir conservando. São brasileiros fundamentais para a proteção das águas e das florestas e para garantir o sustento das gerações futuras.

    Rondônia é um exemplo dessa Amazônia que floresce da agricultura familiar, do agronegócio, da produção de energia, da indústria moderna e da exploração dos recursos naturais, como a madeira, a biodiversidade e uma diversidade de minérios.

    A Amazônia continua praticamente abandonada pelo Governo brasileiro, e a principal prova disso é a situação da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, que já foi pavimentada um dia e hoje aguarda conclusão de um estudo de impacto ambiental para que o trecho do "meião" da rodovia possa ser asfaltado novamente, pois ela já era asfaltada.

    Temos que superar essa dicotomia entre preservação ambiental e desenvolvimento, que, na verdade, é uma cortina de fumaça para o verdadeiro desenvolvimento sustentável da Amazônia e uma ameaça à soberania nacional.

    Precisamos afastar as forças ocultas que impedem o desenvolvimento da Amazônia e promover um desenvolvimento regional, sem nos submetermos aos interesses externos.

    Temos que ter o homem e o seu empreendedorismo, sua capacidade de desenvolver novas tecnologias, como aliados do meio ambiente, pois o que vai salvar a Amazônia é o seu desenvolvimento, e não o seu abandono.

    Vamos cuidar de quem vive na Amazônia – lá há 25 milhões de brasileiros. São esses brasileiros que vão cuidar das nossas reservas, dos nossos córregos, dos nossos rios, das nossas florestas. Não é isolando-os, não é esquecendo quem mora na Amazônia que nós vamos conseguir manter a Amazônia e as nossas florestas em pé.

    Eram essas as minhas colocações.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN. Para apartear.) – Senador Acir Gurgacz, muito boa a defesa em relação à Amazônia, mas eu não preciso lembrar aqui ao senhor que eu acho que o Nordeste tem mais ONGs do que a Amazônia. A Amazônia deve ter 1,6 mil ONGs. O Nordeste deve ter umas 40 mil, aproximadamente, mas não tem o mesmo recurso.

    Agora, houve – não foi um acidente; para mim, foi crime ambiental – esse óleo derramado. Só no meu Estado do Rio Grande do Norte, 43 praias foram atingidas. E pasmem: nem R$1 do Governo Federal. As prefeituras, sob a determinação – para não dizer ameaça – do Ministério Público Federal e do Ibama, vão ter que desviar – como estão sendo desviados – trabalhadores da limpeza urbana para limpar as praias. Ora, limpar com que material? É um piche, um óleo dessa grossura.

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – E cadê as ONGs? Onde estão as ONGs que recebem tanto dinheiro?

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – Onde estão essas ONGs?

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – Cadê?

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – Eu pergunto para o senhor justamente isto: cadê as ONGs que atuam na Amazônia? Fizeram o quê com o dinheiro? Deus sabe. Deve haver aí uma...

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – Para o cidadão amazônida não chegou um centavo desse dinheiro que foi destinado às ONGs. Talvez para discutir e debater a Amazônia em Londres, em Paris, em Nova York, na Avenida Paulista, em Copacabana. Talvez esse dinheiro tenha sido gasto para isso.

    Mas não, nunca vi um centavo sequer chegar até aquele cidadão que mais precisa, aquele nosso agricultor familiar, que está lá na sua lavoura, cuidando dos seus 10, 12ha para sobreviver. Nunca vi chegar um centavo desse dinheiro, muito menos agora, quando houve esses incêndios. Não importa de que forma foram, de que forma aconteceram, não vi as ONGs participarem, ajudando...

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – Não jogaram uma pá de areia.

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – ... os nossos bombeiros brasileiros a cuidar da nossa Amazônia.

    Agora, discurso existe de toda ordem. É uma pena que isso aconteça.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – A preocupação com o meio ambiente é de norte a sul. Eu falo isso porque o único recurso que meu Estado tem – um dos poucos recursos que o meu Estado – é o turismo.

    Minhas praias são lindas, as praias do meu Estado são lindas. Agora, sujas de óleo, matando o ecossistema, poluindo os corais, acabando com a vida marinha, disso ninguém fala. Vai fazer um mês já e ninguém sabe.

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – V. Exa. viu pessoalmente, nós vimos pela televisão o acidente, a quantidade de piche...

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – Aquilo não foi acidente, não, Senador. Se fosse acidente, o cabra que derrama uma quantidade de óleo daquela não avisa ninguém?

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – Sem dúvida. V. Exa. viu pessoalmente, nó só vimos pela televisão. Pela televisão, já é impactante agora; agora, ao ver pessoalmente, o impacto deve ser muito maior. Olhar aquilo e ver que está acabando com a natureza...

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. PODEMOS - RN) – Tartarugas marinhas sendo mortas.

    O SR. ACIR GURGACZ (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - RO) – ... é uma coisa séria e terrível.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2019 - Página 45