Discurso durante a 223ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a celebrar a canonização da brasileira Irmã Dulce pelo Papa Francisco.

Autor
Jaques Wagner (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Jaques Wagner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Sessão Especial destinada a celebrar a canonização da brasileira Irmã Dulce pelo Papa Francisco.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2019 - Página 11
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, CANONIZAÇÃO, IRMÃ DULCE, PAPA, LOCAL, VATICANO, IGREJA CATOLICA.

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA. Para discursar.) – Bom dia a todos.

    Cumprimento a todos que nos acompanham na Mesa desta sessão solene na pessoa da Senadora Kátia Abreu e, em tempo, eu a parabenizo porque ela foi mais rápida que os baianos. O natural seria que algum Senador baiano propusesse esta sessão solene, mas como ela é uma Senadora muito ativa, uma mulher extremamente de fé... Ela mesma que outro dia disse para mim: "Eu sou muito carola e tenho uma afeição muito grande por essa primeira santa". Primeira santa, porque é a primeira santa mulher brasileira; é óbvio que já temos santos brasileiros. A Senadora Kátia Abreu se apressou e me surpreendeu, apesar de que nos convocou a todos para estarmos aqui e já estaríamos como estivemos, com muito orgulho, no dia 13, em Roma, presenciando ao vivo aquele momento tão nobre para todos nós brasileiros e, particularmente, para os baianos, que conviveram mais com a obra social de Irmã Dulce, na proclamação da Santa Dulce dos Pobres, que, seguramente engrandecerá mais ainda o olhar sobre a obra ao longo de sua vida, que eu não tive a oportunidade de acompanhá-la tanto quanto os Senadores Angelo Coronel e, particularmente, o Senador Otto Alencar, que, inclusive, serviu nas obras sociais, como médico, Irmã Dulce, então teve a glória de conviver com uma santa, como já muito bem colocado pela Senadora Kátia Abreu, de obstinação, de determinação e de uma qualidade que a fez santa que nós temos tanta carência nos dias de hoje, que é a solidariedade. Hoje as pessoas se voltam muito para si, para os seus e esquece que ninguém será um oásis cercado de deserto de pobreza e exclusão por todos os lados.

    E, quando a gente fala de violência, eu digo sempre que a violência não é consequência da pobreza, é consequência da exclusão. A pessoa, quando se sente expelida do grupo social, da sociedade, reage contra esse grupo social muitas vezes na forma violenta como nós presenciamos.

    Eu tive a glória e a oportunidade junto com minha esposa Maria de Fátima Carneiro de Mendonça, também extremamente católica, de nos aproximar muito das obras sociais Irmã Dulce através de Maria Rita, e tivemos a oportunidade de contribuir com as obras sociais. Contribuímos muito para que ela concluísse um sonho, que era a unidade de oncologia, feita contígua às obras sociais Irmã Dulce. Fizemos a desapropriação de um terreno, foi todo um episódio em que Maria Rita e Fátima lutaram com muita obstinação, como a Santa Dulce dos Pobres também fazia, até que conquistaram aquela unidade hospitalar.

    Eu lembro que Maria Rita disse: "Eu quero fazer uma homenagem à sua esposa e quero batizar o hospital de Hospital Maria de Fátima Carneiro de Mendonça". Eu, como tenho uma formação de Colégio Militar do Rio de Janeiro, sou muito disciplinado e respeitador das normas e das leis, disse: "Não pode, Maria Rita, não se homenageia quem ainda está em vida". Ela disse, talvez imitando a tia: "Pois bem, vocês não querem, eu vou botar Hospital Nossa Senhora de Fátima. Então, indiretamente eu estou a homenageando".

    Mas eu queria só saudar este momento. Eu acho que a fé cristã, particularmente a Igreja Católica, cresce com o reconhecimento, pelo Papa Francisco, da Santa Dulce dos Pobres, porque a sua vida toda é santificada. Na verdade, ela não media esforços para se solidarizar e acolher – começou num galinheiro. Nós conseguimos ajudar: promovemos, fizemos o filme da vida de Irmã Dulce, beata agora, a Santa Dulce dos Pobres. E, realmente, é admirável a obstinação dessa senhora, pequenininha – como disse – de tamanho, mas gigante de alma, de fé, de espiritualidade e de solidariedade.

    Eu quero, Senadora Kátia Abreu, além de parabenizá-la pelas palavras e pela ideia da sessão, registrar uma particularidade a qual V. Exa. citou na sua fala, que Irmã Dulce, Santa Dulce tinha um contato inter-religioso, até porque a Bahia, como terra-mãe do Brasil, e Salvador como a primeira capital, é a terra de todas as crenças, de todos os credos, fez de um judeu, cuja comunidade é muito pequena – que sou eu – Governador daquela terra, para mostrar a generosidade e a amplidão do povo baiano.

    Eu digo sempre que Deus escreve certo por linhas que nós mortais não compreendemos; eu não gosto de dizer por linhas tortas, porque eu acho que as linhas estão sempre certas, nós é que não as alcançamos. E esta sessão que estava prevista para uma outra data, por questões que eram impossíveis de realizar, foi transferida para o dia 21, um dia depois da data em que se comemora no Brasil o Dia da Consciência Negra, que é uma marca também de Santa Dulce dos Pobres quando em vida aqui, porque ela sempre foi da tolerância, do acolhimento, da compreensão, fosse qual fosse a sua etnia, a sua religião.

    Então, eu chamo a atenção para que as bênçãos de Santa Dulce dos Pobres, além de tudo que V. Exa. já citou, possa inspirar mentes e corações brasileiros para que a gente diminua o nível de intolerância que a gente vem vivendo nos últimos anos, em que as pessoas se dão ao direito de ofender por divergir. E não há nada mais belo na democracia do que a pluralidade, o caleidoscópio brasileiro com todas as ideias, com todas as crianças, com todas as convicções políticas, com toda a fé religiosa.

    Então, eu espero que Santa Dulce dos Pobres, que serviu a todos sem distinção, que tinha um coração aberto e totalmente contra a discriminação, possa inspirar a todos nós para que nós, em paz, na convivência democrática, na convivência inter-religiosa, possamos encontrar os melhores caminhos para fazer deste Brasil uma Pátria de todos nós, que acolha nossos filhos, de ricos e pobres, mas não de miseráveis e de excluídos.

    Esse é o esforço que esta Casa tem que fazer, que é a minha caminhada de vida inteira como político, na política institucional ou no movimento sindical, e que é sempre a minha palavra. As pessoas, às vezes, me admiram, porque eu converso com todo mundo, e eu digo: "Se se quer viver em paz na democracia, há que se conversar com todos, principalmente os que pensam de forma diferente, porque com os que pensam de forma igual é fácil de se conversar". O bonito é encarar a divergência e produzir os consensos possíveis.

    Salve Santa Dulce dos Pobres!

    Parabéns, Senadora Kátia Abreu.

    E que Deus abençoe o Brasil e o povo brasileiro. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2019 - Página 11