Pronunciamento de JACKELINE SILVA em 22/11/2019
Discurso durante a 227ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, do Zumbi dos Palmares e da Fundação Cultural Palmares.
- Autor
- JACKELINE SILVA
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, do Zumbi dos Palmares e da Fundação Cultural Palmares.
- Aparteantes
- Paulo Paim.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/11/2019 - Página 77
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, NEGRO, FUNDAÇÃO CULTURAL, ZUMBI DOS PALMARES.
A SRA. JACKELINE SILVA (Para discursar.) – Boa tarde.
Primeiramente, peço licença, a benção aos meus mais velhos, a toda a minha ancestralidade e também aos mais novos; ago aos Orixás.
Cumprimento a Mesa, na pessoa do Senador Paulo Paim, e também as mulheres negras que me antecederam nessa mesma sessão de hoje: a Dra. Márcia Silva, a Dra. Denise Costa, da OAB; cumprimento igualmente a Dra. Edelamare, que tem feito um trabalho brilhante realizando o Simpósio Indígena, Negro/a, Quilombola, trazendo as nossas pautas para dentro desses espaços de poder e de decisão sobre as nossas vidas, sobre os nossos corpos.
Também quero cumprimentar as mulheres negras que estão fazendo política. Aproveitando esse contexto do mês de novembro, o Mês da Consciência Negra, para além do Dia da Consciência Negra, quero lembrar as nossas nobres Parlamentares: Deputadas Leci Brandão, Benedita da Silva, Áurea Carolina, Talíria Petrone e outras mulheres Brasil adentro, e também a Parlamentar indígena Joênia Wapichana.
As mulheres negras do Distrito Federal, que com seu trabalho de articulação e de mobilização da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, também vêm politizando os nossos grupos.
A Coletiva Pretinhas, da qual eu faço parte.
Saúdo também o Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso, do qual eu faço parte. Eu estive aqui, no ano de 2016, representando esse grupo e recebendo a Comenda Senador Abdias Nascimento, também das mãos do Senador Paulo Paim, por indicação do Senador Wellington Fagundes, que já passou por aqui.
Dizer que...
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – O Abdias foi Senador desta Casa. Senador negro que realmente aqui pautou a sua vida na defesa do povo negro foi uma Senadora, a Benedita, foi Abdias, e agora não vou dizer quem, para uma salva de palmas ao Abdias! (Palmas.)
A SRA. JACKELINE SILVA – E em memória também da nossa juventude negra, falo pela Ághata e pela Marielle Franco, que nós seguiremos em luta, existindo, resistindo e militando, em todos os espaços que ocuparmos.
Bom, eu venho de Mato Grosso, uma terra com uma população majoritariamente indígena, negra, quilombola, e eu sou fruto desse aprendizado do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso, que em 2020 vai completar 18 anos de ativismo realizando ações de formação, ações culturais. E o motivo pelo qual fui levada a ingressar justamente no trabalho com a cultura afro-brasileira, buscando conhecer, reconhecer, dar visibilidade e ampliar as ações, as políticas públicas nesse setor, ainda, para esses povos que são extremamente invisibilizados. No caso, recortando para a questão de gênero, das mulheres quilombolas, das mulheres negras, das mulheres de axé, dos nossos terreiros.
Eu cumprimento também, envio, já que estamos em transmissão para todo o Brasil, os meus colegas do Coletivo Audiovisual Negro Quariterê; como eu já disse também, da Coletiva Pretinhas, eu cumprimento a artista Rebeca Realeza, que se apresentou mais cedo também, mulher preta, que está aqui vencendo esses...
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E que vai cantar no encerramento.
A SRA. JACKELINE SILVA – Que está vencendo esses desafios da nossa escassez, na verdade, do nosso desmonte sistemático que o Estado brasileiro, que esse Governo conservador e violento vem causando diretamente às nossas vidas, exterminando nosso povo, os indígenas e quilombolas, desterritorializando a nossa gente, disputando as terras indígenas, as terras quilombolas, excluindo nosso povo, retirando os empregos, precarizando o nosso modo de vida e causando uma série de conflitos armados em nossas comunidades.
Então, nós estamos aqui falando para muitos apoiadores, mas também ao mesmo tempo existem muitos inimigos presentes na política. E eu só vejo essa mudança quando nós, mulheres negras e indígenas, estivermos neste Parlamento ocupando não só o auditório, mas também essa mesa, ao lado do Senador Paim e de outros que vão sucedê-lo. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Permita-me uma questão de justiça. Passou por aqui, foi minha Vice na CDH, e depois eu fui Vice dela, com muito orgulho: Senadora Regina Sousa, que é Vice-Governadora do Piauí. (Palmas.)
Eu havia aqui esquecido.
A SRA. JACKELINE SILVA – E lembrando também da importância de nós, cidadãos e cidadãs, de nós, pessoas negras, estarmos atentos, atentas, alertas, prestando atenção a tudo que é discutido, seja nas escolas, aqui no DF, especialmente, nesse processo de militarização da educação, que também tem sido muito violento nas comunidades periféricas, a esse corte no investimento, tanto na educação, ciência, pesquisa...
Eu, como mulher negra, sou pesquisadora autônoma e, atualmente, estou concluindo essa especialização, mas procuro também trabalhar como militante, como ativista, promovendo formação, promovendo atividades de autocuidado e de afro-afeto junto com os nossos coletivos, para as pessoas negras elevarem a sua autoestima, buscarem os seus espaços e a sua inserção em todas as esferas, sejam elas econômicas, sociais e, inclusive, na cultura, visto que no Brasil também nós passamos por esse desmantelamento do Ministério da Cultura, que foi rebaixado, assim como outras pastas do Governo...
Houve o desmonte também das instâncias de participação social nos conselhos, a saúde, a economia, enfim, todos os outros dados que já foram trazidos pelas mulheres e homens que aqui me antecederam, como o Prof. Wanderson Flor, a Dra. Edelamare, a Dra. Márcia...
Nós sabemos, estamos enxergando que estamos caminhando para um colapso. Esse genocídio já vem acontecendo, a morte sistemática, o apagamento... A eliminação do povo negro, da cultura negra, está em curso. Então, o que eu quero é chamar a atenção de todas as mulheres negras, para lembrar que nós somos descendentes de reis e de rainhas, de heroínas, de domésticas também, de quilombolas – como é o meu caso, descendente de benzedores quilombolas –, para que nós venhamos a esse lugar disputar o nosso espaço, porque esse lugar foi tomado. Então, nós precisamos retomar.
E o tempo da inclusão e da equidade vem sendo construído por nós, mulheres negras. É por isso que nós precisamos preservar a nossa liberdade de viver, de sentir e de pensar, que é o mais importante.
Eu agradeço o espaço.
Boa tarde. (Palmas.)