Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise sobre o potencial das startups de tecnologia, comumente denominadas techs, de trazer inovações e soluções criativas para os diferentes setores do mercado nacional. Alerta sobre a necessidade de modernização da educação para preparar os alunos para as oportunidades futuras nos setores de tecnologia.

Comentários sobre negociação de S. Exa. com o Governo acerca do projeto de lei que corrige distorções na reestruturação das Forças Armadas.

Expectativa pela votação dos Projetos de Lei do Congresso Nacional nº 1 a 4, de 2020 na próxima terça-feira, com relação a alteração da Lei Orçamentária de 2020.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Análise sobre o potencial das startups de tecnologia, comumente denominadas techs, de trazer inovações e soluções criativas para os diferentes setores do mercado nacional. Alerta sobre a necessidade de modernização da educação para preparar os alunos para as oportunidades futuras nos setores de tecnologia.
ECONOMIA:
  • Comentários sobre negociação de S. Exa. com o Governo acerca do projeto de lei que corrige distorções na reestruturação das Forças Armadas.
ECONOMIA:
  • Expectativa pela votação dos Projetos de Lei do Congresso Nacional nº 1 a 4, de 2020 na próxima terça-feira, com relação a alteração da Lei Orçamentária de 2020.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2020 - Página 22
Assuntos
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Outros > ECONOMIA
Matérias referenciadas
Indexação
  • COMENTARIO, POTENCIA, EMPRESA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO, SOLUÇÃO, MERCADO INTERNO, ENFASE, NECESSIDADE, MODERNIZAÇÃO, EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO, ALUNO, TRABALHO, SETOR.
  • COMENTARIO, NEGOCIAÇÃO, ORADOR, GOVERNO FEDERAL, RELAÇÃO, PROJETO DE LEI, CORREÇÃO, REESTRUTURAÇÃO, FORÇAS ARMADAS.
  • EXPECTATIVA, ORADOR, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, CONGRESSO NACIONAL, ALTERAÇÃO, ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO, LEI FEDERAL, ORÇAMENTO, ANO, VIGENCIA, ABERTURA, CREDITO SUPLEMENTAR, BENEFICIO, MINISTERIO DA SAUDE (MS).

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores e Senadoras, hoje eu vou falar sobre o boom das techs, que são as empresas de base tecnológica voltadas para os setores. Então, nós temos a healthtechs, as agrotechs, o foodtechs, edutechs, entre outras.

    Senador Plínio, ao levar a inovação para setores que não vislumbraram tecnologia em seus processos, essas startups trazem diversas soluções criativas e mais eficazes.

    Num mundo que se rendeu à tecnologia, a forma de as pessoas se relacionarem com atividades corriqueiras vem mudando radicalmente. Se olharmos ao redor, vamos perceber como a tecnologia entrou em detalhes do nosso dia a dia e foi ganhando cada vez mais espaço até tornar-se essencial.

    Reuniões familiares, com cada participante de uma cidade ou país diferente, foram transportadas para grupos de WhatsApp. Os serviços bancários estão cada dia menos presenciais. Praticamente inexiste essa presença nos bancos. Agora são feitos por aplicativos. Até o cartão físico começa a ser obsoleto. Os serviços são os mais diversos. O cidadão já consegue identificar catadores de materiais recicláveis nas suas redondezas e combinar com elas o dia e a hora via aplicativo. Também pode checar que horas o ônibus vai passar antes de sair de casa. Você sabe o horário, você sabe exatamente a que horas você tem que sair da sua casa para pegar o ônibus. O agricultor consegue mapear e também guiar a irrigação com a quantidade de água necessária calculada por um aplicativo. Os embarcadores podem cadastrar suas cargas disponíveis e oferecê-las às transportadoras interessadas também por aplicativos.

    Nesse período de transformação, há um universo de oportunidades em várias escalas para públicos e setores distintos. O mundo está cada dia mais tech e quem não entra nesse circuito se torna obsoleto.

    Por isso, eu tenho trazido aqui, para esta tribuna, a importância da inovação. A inovação tem que fazer parte do ambiente empresarial brasileiro. Essas empresas techs são, em sua maioria, startups que estão mudando os setores que ainda não vislumbraram na tecnologia o futuro de seus negócios. Ontem, eu falei aqui, Paim, sobre, com o uso da inovação e da tecnologia, como eles estão mudando o setor da construção civil.

    Por isso, as empresas techs tornaram-se o que há de mais efervescente no mercado e estão surgindo com soluções tanto para clientes, pessoa física, quanto para outras empresas também. Surgiram as fintechs, agrotechs, healthtechs, logtechs, edutechs. Esse universo de empresas, por meio de ideias disruptivas, ou seja, ideias que quebram e mudam os padrões, leva aos mais distintos setores da tecnologia disponíveis para otimizar processos, modernizar padrões, definir novos conceitos de eficiência e também dar escala.

    Não é demais reforçar que melhorar processos e agregar tecnologia tornou-se essencial para a sobrevivência das empresas brasileiras. E, de olho nesse mundo, já não mais tão novo, as chamadas empresas techs estão chegando com tudo, ainda mais em um País como o Brasil, que ainda tem muito espaço para o universo tech, não só pela dimensão do País, como também porque alguns setores entraram tardiamente na sociedade 4.0.

    Um segmento tech que está ganhando espaço, por exemplo, é o de logística, com as chamadas logtechs. Isso faz muito sentido em um país de tamanho continental como o nosso. A logística ainda é um mercado tradicional que enfrenta desafios nesse processo de mudança de mentalidade capaz de propiciar a abertura para a inovação. Segundo estudos da Fundação Dom Cabral, os gastos com logística consomem mais de 12% do faturamento das organizações no Brasil. Não é difícil pensar que as empresas querem diminuir esse gasto e tornar os processos mais eficientes em cada segmento. Outro estudo feito pela aceleradora de startups Liga Ventures mostra que o potencial para uso de internet das coisas na logística é bem amplo e pode maximizar a eficiência das cadeias de distribuição. Internet das coisas nada mais é do que um conceito que se refere à conexão dos objetos cotidianos com a internet. Até 2022, os investimentos voltados para a aplicação de internet das coisas, principalmente aqui no caso da logística, devem atingir cerca de US$10 bilhões – só no setor de logística.

    Um exemplo interessante de aplicação de internet das coisas é em sistemas de rastreabilidade. O principal trunfo das companhias desse setor é fornecer informações rápidas, possibilitando ações preventivas ao longo do tempo e durante todo o processo operacional. Nesse sentido, tais soluções conseguem ter diversas aplicações, como controle de frotas, processos, documentações, aumento da segurança, da eficiência e até a análise detalhada do comportamento dos motoristas ou do desgaste do veículo.

    A Trackage, startup brasileira focada em otimização de processos logísticos e baseada em rastreabilidade de processos ativos e pessoas, movimentou, só em 2019, cerca de US$9 bilhões em investimentos, segundo os dados da Associação Brasileira de Software. Isso não é incrível?

    Outro setor em que as techs vêm ganhando espaço é a agropecuária. As agrotechs estão mudando o agronegócio brasileiro. Levar a tecnologia à agricultura e melhorar os processos e os impactos vão além do aumento da produção. A tecnologia pode, inclusive, melhorar a produtividade por hectare, produzir mais alimentos e desmatar menos áreas para as plantações. Dessa forma, a maximização dos recursos e a necessidade de aumento da produtividade agropecuária trouxeram à tona a discussão sobre a agricultura 4.0 e sobre como as tecnologias são essenciais para o futuro do setor e, consequentemente, da humanidade.

    A conexão das fazendas por meio se software, sistemas e equipamentos tecnológicos se tornou a solução para otimizar a produção agropecuária em todas as suas etapas. Essas fazendas, que produzem de forma inteligente, conseguem gerar uma agricultura de precisão ao implantar tecnologias que permitem atuar com detalhes milimétricos em cada semente, animal, insumos, micronutrientes vegetais e animais.

    E o ramo das agrotechs já se tornou importantíssimo no mundo. O relatório Mercado Agrícola Inteligente, que analisa as tendências e traz a previsão da indústria global, do período de 2016 a 2025, mostra que o mercado de agricultura inteligente gerou mais de US$5 milhões em 2016, e é esperado que alcance mais de US$15 milhões até o final de 2025, um crescimento de 13% entre 2017 e 2025. Ou seja, não há dúvida de que as inovações trazidas pelas agrotechs trazem benefício ao campo.

    No Brasil, segundo a aceleradora Liga Ventures, existem pelo menos 307 startups relacionadas à agropecuária das mais diversas categorias, desde análise laboratorial até a biotecnologia e análise de dados, que são sistemas que conectam o produtor até o consumidor final. Além disso, há startups que trabalham com sensores, rastreadores e outros dispositivos capazes de capturar informações e monitorar criações, propriedades e plantações.

    Não podemos esquecer, claro, das agrotechs, destinadas a serviços financeiros e a blockchain. Outras que oferecem soluções para auxiliar na digitalização de processos do campo. De acordo com a CB Insights, uma plataforma de inteligência de mercado, 2017 foi o ano em que os investimentos em agrotechs bateram o recorde de US$437 milhões investidos, ou seja, 94,2% a mais do que em 2016.

    Eu estou insistindo nas agrotechs, Presidente, mas as oportunidades estão em todos os espaços produtivos. O setor de saúde também pode passar por muitas transformações. Conforme o relatório da PWC, os custos para tratar um paciente aumentaram em 6,5% em 2017, em relação ao ano anterior. Dentro deste segmento, a tecnologia e modelos digitais têm sido adotados ao redor do mundo para reduzir os custos da área de saúde e também ajudar na construção do futuro deste mercado.

    A Liga Ventures, que já citei hoje aqui, analisou 263 startups brasileiras do segmento de saúde, a maioria delas foca em sistema de gestão, hard sciences, agendamento de consultas e soluções para o bem-estar físico e mental dos pacientes.

    A conclusão a que se chegou é que a aplicação de inovações advindas de healthtechs ainda são tímidas no Brasil, por uma série de fatores: regulamentação – nós ainda não votamos aqui o marco regulatório das startups –, altos investimentos, prazos longos para desenvolvimento, processos burocráticos e concentração em grandes players.

    O que estiver ao alcance do Estado fazer para mudar essa realidade precisa ser trabalhado e, para não me estender mais, eu menciono somente mais um exemplo: o setor de recursos humanos, que também está na mira da onda tech. Essas são as HR Techs, empresas que oferecem programas para analisar centenas de currículos com o uso da inteligência artificial, plataforma para gestão de benefícios, softwares para gestão comportamental, aplicativos para ofertas de vagas temporárias de uma série de outras ferramentas tecnológicas voltadas para aumentar a eficiência desses processos.

    No Brasil um dos principais exemplos de HR Tech é uma empresa chamada Revelo. A startup nasceu em 2014 e hoje possui mais de 1,5 mil clientes, como Itaú, UOL, Monsanto, Kroton e 99. Candidatos se cadastram gratuitamente na plataforma, que utilizam o machine learning para aprender sobre as oportunidades de emprego. Os candidatos são avaliados criteriosamente por meio de testes adaptativos de habilidades técnicas e, a partir da aprovação, ficam disponíveis para as empresas cadastradas. Em outubro de 2017, a startup recebeu um aporte de R$14 milhões de uma rodada de investimentos.

    A minha ideia, ao mostrar o crescimento dessa grande onda das techs, é fortalecer a premissa de que a inovação é o caminho mais promissor para o empreendedorismo, para os empreendedores brasileiros e, consequentemente, para o Brasil.

    E eu encerro, Sr. Presidente...

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Senador Izalci Lucas, antes de encerrar, se me permitir, eu queria cumprimentar V. Exa. pelo pronunciamento.

    Eu tenho essa visão também de que é equivocado, como já fizeram no passado – felizmente, no presente, estamos avançando –, combater novas tecnologias ou o avanço nesse campo; porque caminhamos para isso.

    Eu me lembro sempre de que, numa oportunidade, falavam muito do Japão, de como ia gerar muito desemprego lá. Pelo contrário, eles avançaram e é um dos países que menos tem desemprego no mundo.

    Lembro-me também – permita que eu diga agora – de que, logo que eu entrei no movimento sindical, eu fui convidado a ir a França, para conhecer o movimento de lá. E os franceses me mostraram, na beira do rio, uma fábrica de madeira e disseram: "Aqui nós a guardamos como um museu". Eu disse: "Mas por quê?". E eles: "Porque, na época, os trabalhadores entendiam que a melhor forma para evitar o desemprego era combater as novas tecnologias quebrando as máquinas; depois, nós mesmos aprendemos a lição e hoje preservamos como exemplo, porque é um equívoco combater as novas tecnologias".

    E V. Exa. está exatamente falando o contrário disso, naturalmente, dizendo que nós temos que prestigiar os novos tempos, as novas tecnologias, como fonte, inclusive, de renda e de emprego.

    Parabéns a V. Exa.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Obrigado, Senador Paim.

    Evidentemente, aproveito a oportunidade para também dizer que a gente tem que preparar os nossos alunos. A educação precisa entrar no século XXI. Nós ainda estamos na educação do século XIX. Então, temos que preparar os nossos jovens para esse novo mercado, e não estamos fazendo isso. Precisamos formar novos professores, uma nova metodologia, colocar mais tecnologia nas escolas, banda larga, porque não há. Nós não podemos deixar essas oportunidades passarem. Eu acho que o Brasil está muito atrasado, por isso que eu estou aqui todo dia falando.

    Conseguimos, graças aos Senadores, manter o fundo nacional de ciência e tecnologia, impedir que ele fosse extinto. Então, isso foi um avanço, pelo menos. Espero que a gente ainda consiga... E nós conseguimos votar na CMO a proibição do contingenciamento, mas foi vetado. Tudo bem, mas uma hora alguém vai acordar para a importância de se investir cada vez mais na ciência, tecnologia e inovação.

    Mas eu encerro, Sr. Presidente, lembrando que a tecnologia está dinamizando setores antes muito tradicionais. Por isso, o Brasil precisa aproveitar esse momento tech para incentivar cada vez mais os empresários dispostos a trazer ideias disruptivas e modernizar a nossa economia.

    E, como ainda tenho uns minutinhos, eu só quero atualizar que eu pedi, no final da sessão do Senado, ao Presidente Davi que cobrasse do Governo um acordo que foi feito na votação do PL dos militares. Nós fechamos um acordo para votar o projeto, que hoje é lei, de que nós faríamos uma comissão em janeiro para estudar e tentar resolver algumas questões, algumas distorções do projeto. Eu tinha apresentado as emendas. Assumi o compromisso de tirar as emendas desde que se formasse essa comissão. Então, fiz essa ponderação ao Presidente e ao Líder do Governo, Fernando Bezerra.

    Quero dizer que, ontem, o Ministro Ramos me ligou, às 17h53, e me disse que, hoje, fará uma reunião interna com o novo Ministro da Casa Civil, Gen. Braga; com o Gen. Fernando Azevedo, que é Ministro da Defesa; com o pessoal da Economia e do Governo, e que, na terça-feira próxima, ele, então, fará a reunião oficial – me chamando, inclusive, para participar. Ele disse que levará um assessor aposentado, militar, que entende da questão das Forças Armadas, para que a gente possa buscar esse entendimento, que é fruto de um acordo.

    Então, aqui uma notícia para todos os nossos militares da reserva das Forças Armadas, para todos aqueles que têm problema, com os quais houve realmente distorção mesmo em alguns pontos da lei: estamos aguardando, então, para terça-feira, essa reunião. Na sequência, nós vamos informar o resultado dela.

    Só para registrar que o Governo, então, já tomou essa posição. Portanto, vamos aguardar a terça-feira.

    Presidente, com relação à segurança pública do DF, nós tínhamos previsto a votação na terça-feira agora, mas não houve nenhum prejuízo, porque a próxima sessão do Congresso será apenas nas terça-feira que vem.

    Antes da sessão do Congresso haverá uma reunião da Comissão Mista do Orçamento, que vai apreciar o voto do PLN 1, que trata especificamente da segurança pública do DF e tem o parecer favorável do Líder do Congresso, Eduardo Gomes. Na sequência, nós vamos votar os PLNs 2, 3 e 4, com relação ao orçamento, encaminhados esta semana pelo Governo. Acho que foi prudente não votarmos naquele dia, porque temos de cumprir o Regimento. Se temos de aguardar cinco sessões, que vá para CMO e tramite normalmente. E, agora, na terça-feira, a gente encerra votando no Plenário.

    Então, agradeço a V. Exa. e peço também para incorporar as colocações do Senador Paulo Paim.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2020 - Página 22