Discurso durante a Reunião Preparatória, no Senado Federal

Discurso como candidato à Presidência do Senado Federal. Anúncio da retirada da candidatura de S. Exa. em solidariedade e apoio à Senadora Simone Tebet.

Autor
Jorge Kajuru (CIDADANIA - CIDADANIA/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Discurso como candidato à Presidência do Senado Federal. Anúncio da retirada da candidatura de S. Exa. em solidariedade e apoio à Senadora Simone Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 02/02/2021 - Página 9
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • DISCURSO, CANDIDATO, PRESIDENTE, MESA DIRETORA, SENADO.
  • CRITICA, PRESIDENTE, SENADO, DAVI ALCOLUMBRE, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, ATUAÇÃO, PRESIDENCIA, AUSENCIA, DELIBERAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ESPORTE, JUDICIARIO, LAVA-TOGA, IMPEACHMENT, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), PROIBIÇÃO, REELEIÇÃO, PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP), IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS.
  • ANUNCIO, RETIRADA, CANDIDATURA, SOLIDARIEDADE, APOIO, CANDIDATO, SIMONE TEBET, PRESIDENCIA, SENADO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas V. Exas., meus únicos patrões, subo a esta tribuna, antes de anunciar minha decisão sobre a candidatura à Presidência do Senado, neste 1º de fevereiro de 2021, para, logo de cara, dizer ao Presidente Davi Alcolumbre que ele não deveria pedir proteção à Deus; ele deveria pedir, sim, perdão à Deus, por ter iniciado um mandato em que tudo...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – ... o que ele prometeu ele não cumpriu, tudo! E fecha um mandato de forma tão melancólica que muita gente no Brasil diz ter saudades de Renan Calheiros, nos tempos da capitania hereditária neste Senado. O senhor entrou com a nossa confiança em mudança e especialmente de que não trocaria a palavra independência por subserviência. E o que o senhor foi nestes dois anos? Desculpe a sinceridade, foi literalmente um office boy de luxo do Presidente Bolsonaro.

    E eu fico com muito medo, embora o Senador Cid Gomes, que eu tanto admiro... Ele é terrível, quando ele bate o olho em alguém, ele fala: "Esse é bom Kajuru!". Ele me disse: "Calma, Kajuru, que você vai ficar surpreso". Se isto acontecer, eu vou ficar muito feliz, mas eu não estou otimista. Pelo contrário, eu imagino que o candidato do Presidente Davi Alcolumbre e do Presidente Bolsonaro também vai ser um office boy de luxo e ter dois patrões; não terá independência; será também subserviente. Não teve a coragem, nas entrevistas, nas declarações, de falar do que a Nação brasileira espera de um Presidente do Senado, e esperou nesses dois anos, como CPIs, pedidos de impeachment, projetos importantes, corajosos – todos engavetados. O senhor, Presidente Davi Alcolumbre, me fez lembrar de Geraldo Brindeiro, o maior engavetador de processos e projetos no Governo Fernando Henrique Cardoso.

    Lembro-me muito bem de que – e queria que o Romário e a Leila estivessem aqui, porque de tudo o que eu falo ou eu tenho prova ou eu tenho testemunha –, chegando à sua mesa, para falar da CPI do esporte, o senhor disse a mim: "Não, Kajuru, começa com o Comitê Olímpico Brasileiro". E eu disse: "Mas e o futebol, Presidente? CPI do esporte sem futebol?". Ele: "Não, Kajuru, começa com o Comitê Olímpico Brasileiro". Eu desci, avisei a Leila, avisei o Romário. O Romário levantou de sua cadeira e falou que viria conversar com o senhor. Até hoje, eu não sei, Romário – se você está aqui presente –, qual foi a conversa. Com isso, eu falei da CPI do Esporte.

    A CPI do Judiciário, ou da Toga, nós rapidamente tivemos a certeza de que ela não aconteceria em função de seus problemas na Justiça. Portanto, literalmente, o que toda a imprensa brasileira fala hoje, em toma lá dá cá, o que aconteceu na sua relação com o nefasto Supremo Tribunal Federal, tendo o senhor como principal amigo Dias Toffoli, foi uma combinação: "Eu não mexo com os senhores, e os senhores não mexem comigo, e eu vou arquivar a CPI". Pedidos de impeachment, da mesma forma; projetos ousados, como o fim da reeleição no Executivo, como taxação das grandes fortunas; todos esses projetos foram deixados de lado. E não é verdade que, durante a pandemia, esta Casa só discutiu saúde; não, ela discutiu projeto de quem tinha interesse – de interesse literalmente eu estou falando – e projetos que peitaram a pauta.

    Mas eu não posso deixar aqui, como ser humano que sou, e tenho defeitos, mas um eu não tenho: eu não sou covarde e não sou desleal... E eu não culpo o MDB, que, é claro, é responsável também, ou irresponsável, por isso; eu culpo o senhor, Presidente Davi Alcolumbre, que ofereceu ao MDB a Vice-Presidência desta Casa. E aí aconteceu algo que me fez chorar por várias noites, com uma mulher honrada, de história nesta Casa, trabalhando, e eu falava com ela por telefone todo dia, ela acreditando em pelo menos 14 votos do MDB; infelizmente, o único voto em que ela não acreditava era lá do meu Estado de Goiás. E ela, evidentemente, sofreu com isso. Por que é mulher? Sim, mulher sofre mais. O homem enfrenta uma situação dessas, briga, xinga, dá entrevista; ela não: calma, elegante, passou por tudo isso.

    Então, como que eu poderia manter aqui a minha candidatura, atrás de votos, e não ser solidário a ela, retirando a minha candidatura, oferecendo o meu voto a ela, Simone Tebet, de coração, de lealdade, de respeito por ela, pela história, pelo que ela passou? E como eu ficaria feliz aqui e abraçaria amigos aqui que pudessem refletir antes do voto hoje. Gente, o que fizeram com a Simone Tebet não tem cabimento. Se alguém aqui não chorou, tudo bem. E eu não me importo em chorar, porque, em muitas vezes da minha vida, eu preferi a lágrima da derrota à vergonha de não ter lutado. E eu lutei nesses dois anos, no que tange a projetos, no que tange a parcerias, no que tange a respeito ao senhor nos momentos em que o senhor mereceu, mas, hoje, dia da eleição aqui, eu não posso chegar aqui e falar em comemoração; repito, falar em proteção de Deus, não! E, sim, pedir perdão a Deus.

    O senhor fala de emendas de milhões. Quantos milhões o senhor enviou ao seu Estado; desculpe, nada contra, porém, pequeno Amapá? E quantos milhões foram realmente espalhados nessa campanha, se Tasso Jereissati, com o tempo que tem aqui, declarou que foi uma cooptação escancarada – declaração dele –, escancarada; se Renan Calheiros disse que o partido dele chegou a um fim melancólico e que são pessoas que ele tacha como pedintes de carguinhos? Renan, aí, não, Renan; respeite a minha inteligência: carguinhos uma ova; cargões!

    E, como não existe almoço de graça, no mundo de hoje em que nem Jesus Cristo é de graça, você tem que pagar intermediário, para chegar até ele, nós, aqui do Senado, temos que tomar providência, porque eu já cansei de viajar o Brasil inteiro e ver que todos nós somos colocados na mesma vala. E eu aqui conheço tantos Senadores e tantas Senadoras que definiram o seu voto – seja para o Pacheco, seja para a Simone, seja para irretocáveis candidatos, como Lasier Martins e Major Olimpio – e que não pediram nada. E eu vou acreditar que o Fabiano Contarato pediu algum cargo, pediu alguma coisa para definir o voto dele? Eu não posso falar, eu não posso ser irresponsável. Mas que houve distribuição de dinheiro, tem que ter havido, ou o jornal O Estado de S. Paulo, com toda a sua história, é mentiroso. Então, vamos processá-lo. Ele informou que 35 Senadores negociaram e 241 Deputados negociaram. O que acontece com quem negociou? Eu não falei com nenhum candidato; nenhum candidato teve coragem de ligar para mim, pedindo voto, porque sabe que a minha caneta grava, o meu telefone grava e, se me oferecesse cargo, eu colocaria no ar na hora, evidentemente. Então, por que todo mundo é colocado na mesma vala?

    E nisso há culpa do senhor, Davi Alcolumbre, porque o senhor que comandou a eleição, o senhor que escolheu o seu candidato; portanto, foi o senhor que foi fazendo essas propostas. Desde o começo, quando sentiu que perderia no Supremo Tribunal Federal, o senhor já foi conversando com os Senadores, caso do próprio Contarato, que deu a palavra lá atrás. O MDB demorou a lançar a candidatura de Simone Tebet, e ele, Davi, competente politicamente, esperto, começou já a convencer cada um dos Senadores e cada um de um jeito, porque que teve jeito, teve. Com todo mundo, não existe a regra de que o almoço foi de graça. Isso é muito ruim para a imagem do nosso Senado. Não adianta, Senador, aqui dizer: "A nossa imagem é boa; a nossa imagem melhorou". Não melhorou coisa alguma; continua a mesma coisa e tende-se a trocar seis por meia dúzia. Não vai mudar absolutamente nada.

    Eu, a partir de amanhã, ficarei no meu trabalho. Eu gosto muito do modo como a Kátia diz: "Briga-se hoje, discute-se; amanhã é outro dia. Vamos pensar no País". E, é claro, temos que pensar: auxílio emergencial, Manaus; enfim, tantas prioridades, reformas. A partir de amanhã, acabou a eleição. Só que hoje, não; hoje, quem subir, aqui nesta tribuna, tem que subir com coragem de falar o que realmente aconteceu.

    E nós aqui, no Senado, pedimos desculpas a você, Simone Tebet, por isso que lhe aconteceu, por essa covardia. A opinião pública brasileira, em maioria nas redes sociais, é você, vota em você. Portanto, se não for você a vitoriosa – se Deus quiser, será –, tenha a certeza de algo: você saiu muito maior do que você era, muito maior, depois de tudo que aconteceu, e este Presidente, que está aqui, Davi Alcolumbre, saiu muito menor. Ele, que já perdeu a eleição municipal lá, é perigoso não ganhar eleição nem para síndico, mesmo com os milhões que mandou para o Amapá. Então, fique de cabeça erguida, absolutamente erguida!

    O meu abraço no Lasier e no Major.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/CIDADANIA - GO) – Que os dois falem aqui como o Brasil espera que eles falem!

    Concluo dizendo que a minha candidatura é de Simone Tebet, o meu voto é dela. Os meus planos, para este Senado mudar de verdade, estão na mão dela; todos estão lá, e ela vai escolher os melhores.

    É isso o que eu tinha para falar, porque eu falo de dentro do meu coração. Sei que não vou ter mais a amizade dele nem a relação com ele, Davi Alcolumbre. Com toda a franqueza: me lixei!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/02/2021 - Página 9