Discurso durante a 117ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado na presente data.

Considerações acerca do Projeto de Lei nº 4656, de 2020, de autoria de S. Exa. que pretende assegurar a continuidade das cotas e de sua aplicação às instituições particulares de ensino. Comentários sobre dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que demonstram que o piso salarial dos professores brasileiros é o menor entre 40 países.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem, Pessoas com Deficiência:
  • Manifestação sobre o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado na presente data.
Educação Básica, Educação Profissionalizante, Educação Superior:
  • Considerações acerca do Projeto de Lei nº 4656, de 2020, de autoria de S. Exa. que pretende assegurar a continuidade das cotas e de sua aplicação às instituições particulares de ensino. Comentários sobre dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que demonstram que o piso salarial dos professores brasileiros é o menor entre 40 países.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2021 - Página 16
Assuntos
Honorífico > Homenagem
Política Social > Proteção Social > Pessoas com Deficiência
Política Social > Educação > Educação Básica
Política Social > Educação > Educação Profissionalizante
Política Social > Educação > Educação Superior
Matérias referenciadas
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, LUTA, PESSOAS, PESSOA COM DEFICIENCIA, ENFASE, DIREITOS HUMANOS, DIVERSIDADE, DISCRIMINAÇÃO, EDUCAÇÃO, INCLUSÃO, COMENTARIO, ORIGEM, NEGRO, AFRICA.
  • COMENTARIO, PROJETO DE LEI, COTA, EDUCAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, CURSO TECNICO, NIVEL MEDIO, GARANTIA, CONTINUAÇÃO, REVISÃO, PROGRAMA ESPECIAL, ACESSO, PESSOA COM DEFICIENCIA, INDIO, NEGRO, PARDO, ESTUDANTE, ORIGEM, ENSINO MEDIO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, MANUTENÇÃO, ESCOLA PUBLICA.
  • COMENTARIO, DADOS, ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO (OCDE), PISO SALARIAL, PROFESSOR, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, ALUNO.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar. Por videoconferência.) – Meus cumprimentos, Presidente Rodrigo Pacheco, Senadores e Senadoras de projeto tão importante.

    Presidente, hoje é o dia 21 de setembro, início da primavera, é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, lei essa de minha autoria, aprovada em 2005. Então, Presidente, inicio dizendo, homenageando este dia, que só a educação liberta. Muitos falam que sobre o exílio não se escreve; o exílio se vive, transpira no suor, no odor da alma. E diz o adágio que o exílio é como a agonia dos pássaros cativos: de que adianta um par de asas se falta o céu para voar? Quando se discrimina uma pessoa, estamos colocando-a no exílio. Quando não acreditamos no potencial do ser humano, somos nós que adentramos no exílio.

    O Brasil é o País das cores, das diversidades, da cultura vibrante, dos vários e vários caminhos que se encontram no esplendor da vida. Somos um país de homens, mulheres, crianças, idosos, jovens, negros, indígenas, pessoas com deficiência, LGBTQIA+, ciganos, imigrantes, refugiados. A nossa pluralidade de ideias e de pensamento é imensa, um oceano de riquezas. Vamos construindo, mesmo com altos e baixos, com períodos antidemocráticos, mas também com momentos de pura liberdade. Quão grande e maravilhosa é a nossa gente!

    Por isso, as pessoas com deficiência dizem: "Tudo com nós. Nada sem nós". Retroceder é um equívoco histórico. Edinho Santos é poeta, um jovem. Assim ele se define: "Sou negro, surdo, periférico, muitas barreiras nessa caminhada. Vou em frente". Ele complementa: "Um surdo pode ser educador, médico, o que quiser. Só não pode ser excluído nem discriminado". Priorizar a educação em todo o seu universo é antever a evolução da sociedade e o desenvolvimento econômico social e cultural, bem como agir na exata medida do respeito aos direitos humanos e às diversidades na sua plenitude. Excluir é favor decisivo para o fracasso, é incentivar a ignorância, capitaneada pelo poder e suas ideologias. A educação precisa ser inclusiva, questionadora, libertadora, democrática, permitindo que as crianças, os jovens e os adultos compreendam o mundo e a condição humana em todos os seus aspectos.

    Paulo Freire já dizia que a educação é um ato de amor, é um ato de coragem. Com ela se combatem as desigualdades, o racismo, as discriminações, o feminicídio, a homofobia e a estupidez.

    Por que vamos separar estudantes com ou sem deficiência se podemos incluí-los ao coletivo, ao todo? Por que vamos elitizar as universidades se podemos abri-las para as cores do povo, para as diferentes vozes, se podemos dar – e devemos – oportunidade a todos?

    O Professor Ricardo de Andrade diz o seguinte: "Negros não são descendentes de escravos, como dizem os livros escolares. São descendentes de civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos. São descendentes de reis, rainhas, príncipes e princesas. São parentes de homens e mulheres que desenvolveram a escrita, a astrologia, as ciências e as pirâmides. São fruto de um povo que desenvolveu as técnicas agrícolas e que domina a medicina alternativa. [Presidente] São fruto de um povo que conhece [até mesmo] as folhas e como despertar o poder delas."

     Estamos falando de inclusão e de exclusão. É daí que surge o caminho da sabedoria ou não. Garantir o conhecimento, resgatar a história, fortalecer o legado do povo brasileiro é o próprio educar.

    No ano que vem, a Lei de Cotas, por exemplo, passará por uma avaliação no Congresso, onde tramitam mais de 35 matérias que modificam a lei. Existem as mais variadas posições, mas, com certeza, vai prevalecer a linha de que as cotas são importantes, estão mudando a cor das universidades. Presidente, o objetivo das cotas, todo mundo sabe, é buscar a igualdade, a igualdade para todos em todos os setores, e aqui estou me referindo à educação.

    No Senado, apresentamos o PL 4.656, que assegura a reavaliação da lei depois de dez anos e a permanência de vagas para negros e negras, indígenas, pessoas com deficiência, alunos de baixa renda e estudantes de escolas públicas em universidades públicas e institutos federais. Essa proposta traz uma inovação: o recorte da política para as entidades privadas, para que possamos garantir a participação da população tão diversa e oferecer ao nosso povo a oportunidade de estar em todos os espaços da sociedade, inclusive nos espaços de poder, como os Parlamentos, os ministérios. É necessário priorizar a educação para todos.

    Claro, Presidente, temos vários problemas para enfrentar. Conforme a OCDE, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o piso salarial dos professores brasileiros é o mais baixo entre 40 países. Os rendimentos dos nossos docentes, no início da carreira, são menores do que os dos professores em países como México, Colômbia e Chile.

    A proporção de jovens, no Brasil, que não estudam nem trabalham é o dobro da taxa em países ricos. No Ensino Fundamental 1, o investimento para o estudante, no Brasil,...

    O SR. PRESIDENTE (Rodrigo Pacheco. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - MG) – Para concluir, Senador Paulo.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... é US$3,8 mil – concluindo, Presidente –; a média da OCDE é de US$8,6 mil.

    Para concluir, Sr. Presidente, só queria dizer que levantei uma análise global, mostrando que é possível, sim, fazer com que a educação chegue para todos. No ensino médio e técnico, o investimento no estudante, no Brasil, é de US$4,1 mil. A média de investimento, na OCDE, destacando-se o ensino médio, é de US$10 mil.

    Finalizo só dizendo, Presidente – perdoe-me pelo tempo –, mas quando lembro essa lei, de minha autoria, eu me lembro também do que diziam os sábios africanos: "Quando você estiver perdido, em um deserto, siga os passos que você deixou para trás. A origem é o ponto de referência e não o objetivo". E completando, Nietzsche diz que, no exílio, vivemos perdidos em um labirinto e que jamais encontraremos a verdade.

    Obrigado, Presidente, eu sei que fui além do tempo, mas é o dia de uma lei muito marcante na história da vida de todos nós.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2021 - Página 16