Discurso durante a 120ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear as vítimas de acidente de trânsito no Brasil e conscientizar a população sobre a importância do trânsito seguro.

Autor
ALYSSON COIMBRA DE SOUZA CARVALHO
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Homenagem:
  • Sessão Especial destinada a homenagear as vítimas de acidente de trânsito no Brasil e conscientizar a população sobre a importância do trânsito seguro.
Publicação
Publicação no DSF de 25/09/2021 - Página 20
Assunto
Honorífico > Homenagem
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, HOMENAGEM, VITIMA, ACIDENTE DE TRANSITO, BRASIL, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, SEGURANÇA, ACIDENTE, TRANSITO, PREOCUPAÇÃO, AUMENTO, MORTE, RELAÇÃO, VELOCIDADE, MOTORISTA, MOTOCICLETA.

    O SR. ALYSSON COIMBRA DE SOUZA CARVALHO (Para discursar.) – Bom dia. Bom dia a todos que nos acompanham. Cumprimento a todas as autoridades que integram esta Mesa, na pessoa da Sra. Renata Marques, na pessoa do Senador da República Fabiano Contarato, a quem reitero a minha admiração e reconhecimento pelo trabalho de uma vida voltada para a defesa da vida.

    Hoje é um dia daqueles desafiadores, pois nós temos a certeza de que estamos retomando a memória de cerca de 500 mil histórias que foram interrompidas pela violência do trânsito brasileiro nos últimos dez anos. É um gesto que simboliza, além do respeito pelos que partiram, a nossa preocupação pela cadeia de sofrimento que não se encerra após o sepultamento de uma vítima.

    Estudos do Ipea estimam que o custo de uma vida seja de R$785 mil aos cofres públicos, mas somos conhecedores de que para muitos e, principalmente, para aqueles que são vitimados em suas famílias isso não possui nenhum valor mensurável. É uma cadeia de dor que a cada hora recebe pelo menos cinco novas famílias.

    Em 2020 nós falhamos no cumprimento da primeira década de ação pela segurança do trânsito, pois não cumprimos minimamente a redução do número de mortes em pelo menos 50%. E, mais uma vez, esse relatório de Estocolmo, nessa segunda década, ele nos concede essa possibilidade de revivermos e revisarmos as nossas políticas públicas e as nossas ações voltadas para a segurança viária.

    Temos que ter sim uma preocupação com a gestão de segurança do trânsito, vias e mobilidade mais segura, veículos mais seguros, usuários das vias mais seguras e uma atenção após o sinistro de trânsito. Sabemos que é uma luta e um desafio diário, em que as entidades precisam estar mobilizadas.

    Recentemente, nosso departamento científico, em trabalho conjunto com a Polícia Rodoviária Federal, repercutiu nacionalmente dois importantes levantamentos sobre nossas rodovias federais: o aumento expressivo do número de autuações pelo consumo de substâncias psicoativas e o excesso de velocidade como causa principal das colisões nessas rodovias federais. Não por acaso, a Meta 6 do relatório de Estocolmo desafia reduzir em 50% a proporção de veículos trafegando acima do limite de velocidade e reduzir as lesões e mortes relacionadas no trânsito até 2030. Dados recentes divulgados pela Abramet apontam que, em plena pandemia, o número de atendimentos a vítimas de sinistro de trânsito bateu um novo recorde e, desse total, 54% das vítimas foram motociclistas.

    O fenômeno do delivery trouxe um novo impacto sobre a nossa mobilidade urbana, na medida em que, mesmo representando cerca de 22% da frota circulante nacional, os acidentes, melhor dizendo, os sinistros de trânsito que envolveram essa categoria representaram mais de 80% das solicitações de reembolso ou por morte ou por invalidez permanente junto ao DPVAT. Estamos formando um exército de jovens mutilados que oneram o SUS, previdência social, e certamente essa perda de força produtiva impactará negativamente em nosso crescimento econômico.

    Precisamos também ter a serenidade de saber que os recentes desafios impostos durante a tramitação das recentes alterações do Código de Trânsito Brasileiro reafirmaram a necessidade de que o poder público, especialistas e sociedade civil cada vez mais trabalhem em conjunto.

    Há mais de 40 anos a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) segue sua vocação científica em um trabalho contínuo pelo aprimoramento de normativas e diretrizes que qualifiquem ainda mais o nosso exame de aptidão física e mental em ocasião da obtenção ou da renovação da Carteira Nacional de Habilitação. O recente reconhecimento da União Europeia quanto à aplicação do nosso modelo de exame por lá é prova incontestável da efetividade desse trabalho associativista que representa os milhares de médicos de tráfego no Brasil.

    Precisamos de ações urgentes e efetivas a curto prazo, pois as recentes modificações do perfil biopsicossocial de nossos motoristas confirmam nossas previsões acerca da fragilidade da saúde física, mas, principalmente, da saúde mental e psicológica de nossos motoristas.

    Os crimes de trânsito, as discussões, a violência urbana têm afetado os nossos motoristas, e é preciso a intervenção de todos, trabalhando conjuntamente, pois a segurança de todos que integram o Sistema Nacional de Trânsito depende efetivamente dessas ações.

    Finalizo, reafirmando a disponibilidade da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego e de sua Comissão de Assuntos Políticos para todo e qualquer trabalho pela preservação de vidas no trânsito do Brasil. É um momento muito emocionante estar aqui. Agradeço ao Senador Contarato por esse mandato plural, esse mandato de igualdade, e tenho certeza, Senador, de que, com a graça de Deus, todas as próximas ações serão, sim, transformadoras na vida, para que as pessoas minimamente se sintam confortáveis por essa surpresa desagradável que é o trânsito, que são os sinistros de trânsito.

    Sou um sobrevivente do trânsito, perdi todos os meus tios maternos pela violência do trânsito. Já como especialista, tive essa missão desagradável de comparecer ao Instituto Médico Legal e reconhecer um grande amigo, olhar caixão, olhar túmulo, olhar vaga no cemitério. Isso nos marca. Imagine as pessoas comuns, que não têm a mínima noção da violência que hoje existe nas nossas vias urbanas.

    Tenho certeza também, Senador, de que temos um grande desafio também, como integrantes do planeta, de trabalharmos por uma mobilidade urbana equitativa, uma mobilidade urbana inclusiva e sustentável. Esse também será o nosso desafio, que, assim como foi dito anteriormente, é uma preocupação que nós especialistas temos que antecipar, pois o conhecimento deve ser propagado e transformado efetivamente em leis, em ações. E que sejamos aqui minimamente um exemplo e um caminho novo para quem quer trabalhar pela segurança do trânsito.

    Em homenagem a todas as vítimas, aos seus familiares, coloco mais uma vez a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego a trabalhar por vocês. Nós somos integrantes do trânsito, nós somos integrantes do seu sofrimento e da sua dor, e certamente o nosso trabalho fará a diferença para que novas tristes histórias não aconteçam no nosso Brasil.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/09/2021 - Página 20