Discurso durante a 46ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre supostas irregularidades de resultados de jogos de futebol com vistas a fraudes em casas de apostas eletrônicas.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Desporto e Lazer, Segurança Pública:
  • Considerações sobre supostas irregularidades de resultados de jogos de futebol com vistas a fraudes em casas de apostas eletrônicas.
Aparteantes
Eduardo Girão, Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2023 - Página 7
Assuntos
Política Social > Desporto e Lazer
Soberania, Defesa Nacional e Ordem Pública > Defesa do Estado e das Instituições Democráticas > Segurança Pública
Indexação
  • DEFESA, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, FRAUDE, APOSTA, JOGO DE AZAR, JOGO ELETRONICO, ALTERAÇÃO, MANIPULAÇÃO, RESULTADO, FUTEBOL.
  • COMENTARIO, PRISÃO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, FRAUDE, APOSTA, JOGO ELETRONICO, RESULTADO, MANIPULAÇÃO, FUTEBOL.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para discursar.) – O Girão, se deixar, quer um discurso de uma hora, não?

    Primeiro, ótima semana, Deus e saúde a todos e todas aqui nesta Casa!

    Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, quem nos acompanha pela TV Senado, Rádio Senado, Agência Senado, redes sociais, o meu respeito, e presente amigo, voz da segurança pública do Rio Grande do Norte, sempre presente no início de cada sessão para presidi-la, nosso querido Capitão Styvenson, eu vou dar aqui, Senador Girão – que é do futebol, como eu –, um nome. Eu vou batizar como máfia das apostas eletrônicas o escândalo que está sacudindo o futebol brasileiro. Começou com um leve tremor no fim do ano passado, e gradativamente está assumindo a proporção de um terremoto, Senador Confúcio Moura, voz da educação, com repercussões agora até no exterior. A Polícia Federal teve de entrar em campo, a meu ver, com atraso. Ela já deveria, lá atrás, ter começado, porque nós, aqui no Congresso, pelo menos aqui nesta tribuna, desde o ano passado alertávamos o país inteiro sobre esses fatos.

    Eu estive no Rio Grande do Norte, no seio da família do Capitão Styvenson, quando, lá, tomei conhecimento de um resultado que me deixou aturdido: um time, desculpe, inexpressivo do seu estado goleou o Guarani, de Campinas, por cinco a zero. Como não desconfiar de um resultado como esse?

    Só que, agora, a gente está ouvindo tubarão. Não é time pequeno, não. Agora, é tubarão.

    Então, finalmente, a Polícia Federal...

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Senador Kajuru, nem posso pedir um aparte, mas deixa eu ver se eu entendi.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Pode.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN. Para apartear.) – Você considerou o time potiguar ruim assim?

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Ruim, não. Péssimo. Péssimo.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Ou o resultado é duvidoso porque já poderia ter essa máfia?

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Sim, isso foi máfia. O resultado foi máfia.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Só para entender.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Pode ter certeza.

    Se jogador de time grande está vendendo cartão, ou seja, sofre um cartão amarelo, sofre um cartão vermelho e pega no bolso dele, na carteira dele, R$50 mil, isso em time grande, eu estou falando... O que você acha do time do Guarani, um time que já foi presidido por gente da máfia? O Guarani já teve um presidente que já foi um dos homens mais mafiosos do Brasil. Quer que eu dê o nome dele aqui? Beto Zini. Eu sou dessa época da imprensa esportiva.

    Eu falava agora mesmo com a Thaísa, uma das melhores jornalistas deste país, da Folha de S.Paulo, do tempo em que eu escrevia na Folha de S.Paulo e denunciava constantemente, com nomes.

    Então, a Polícia Federal, nas investigações, alimenta a esperança de que serão devidamente apuradas todas as denúncias de manipulação de resultados em partidas de futebol.

    É preciso, claro, reconhecer o trabalho já desenvolvido pelo Ministério Público de Goiás, estado onde foi feita, em novembro do ano passado, a primeira denúncia por parte do Presidente do Vila Nova Futebol Clube, envolvendo partida da Série B do Campeonato Brasileiro.

    Após cinco meses de trabalho, os promotores concluíram que o esquema criminoso tem dois núcleos distintos. Um é formado pelos apostadores, Styvenson, que aliciam atletas para cometer pênaltis ou receber cartões durante os jogos e fazem nas apostas nos sites conhecidos como bets. O segundo é o dos financiadores, que dão o dinheiro para o pagamento dos jogadores aliciados.

    Como líder do esquema é apontado um cidadão que se apresenta como um empresário de jogadores de futebol.

    O grupo é acusado de organização criminosa e fraude ao Estatuto do Torcedor, com suspeitas de manipulação de partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro de 2022, além de torneios estaduais de 2023.

    A chamada Operação Penalidade Máxima concluiu uma etapa. E, na semana passada, a Justiça de Goiás acatou a denúncia feita pelo Ministério Público contra 16 investigados. Tudo indica que há muito mais gente envolvida.

    Novas denúncias não param de surgir, cada vez envolvendo inclusive jogadores dos chamados grandes times da Série A. Isso levou a Confederação Brasileira de Futebol a divulgar nota para garantir que o Brasileirão de 2023 não será suspenso e informar que trabalha em conjunto com a FIFA, na busca de um modelo padrão de investigação.

    Eu não sei a opinião do Girão, qual é? A minha já vou antecipar aqui.

    Para mim, a Confederação Brasileira de Futebol, que estava mudando o seu nome – esse é o original –, está querendo voltar a ser o que foi por muito tempo: a casa bandida do futebol, comandada por Ricardo Teixeira e sua gangue. Dirigentes que foram expulsos do futebol, presos, e tiveram que sair. A CBF tinha, sim, que suspender o Campeonato Brasileiro para uma investigação profunda agora.

    O início dos trabalhos da Comissão de Esporte, que vamos ter aqui, cuja Vice-Presidência poderá ter o meu nome, inclusive, segundo o Presidente Rodrigo Pacheco; para a Presidência, o nome sugerido até agora é o do Romário; mas o Girão tem que participar, o Styvenson... Tem que participar gente com coragem para entrar nesse vespeiro, por que isso tem nome, chama-se vespeiro.

    O escândalo no futebol do país não é novidade, assim como a impunidade não é novidade. Em 1982, já na Imprensa Nacional, acompanhei a revista Placar, que desvendou o esquema que manipulava resultados de jogos da Loteria Esportiva. Dos 125 acusados, entre atletas, árbitros e dirigentes de futebol, apenas 20 foram indiciados. Detalhe triste – pasmem! –, nenhum deles foi preso. Nenhum! Olhem a impunidade!

    Em 2005, partidas da Série A do Campeonato Brasileiro tiveram que ser remarcadas depois de descoberta a máfia do apito. Lembra, Girão, da máfia do apito? Não sei se você já presidia o Fortaleza? Ela interferia nos resultados dos jogos em benefício financeiro dos envolvidos. Dois árbitros acabaram banidos do futebol. Mas, novamente – pasmem! –, ninguém foi condenado. Ninguém.

    Foi condenado um Juca Kfouri, jornalista; eu, Kajuru; o Mário Magalhães, da Folha de S. Paulo... Nós sofremos processos um atrás do outro. Como diz o ditado, gente, "três é demais". Dois, você aceita, três não.

    No caso, portanto – para concluir –, da máfia das apostas eletrônicas, esperamos que haja punições. Cada um tem que fazer a sua parte. A Polícia Federal precisa ir fundo nas investigações; o Ministério Público, apresentar as denúncias à Justiça, e esta dar celeridade às decisões. Torceremos pelas condenações, assim como esperamos sanções no âmbito da Justiça Esportiva.

    Fechando, a CBF pode agir também, proibindo, por exemplo, que casas de apostas patrocinem o que Girão e eu defendemos nesta Casa, há mais de um mês: clubes e jogadores de futebol, assim como está acontecendo, e sendo exemplo para o mundo, na Inglaterra, com a proibição de placa de publicidade em camisa de time de futebol, de jogadores de futebol, fazendo comercial e recebendo milhões a cada 30 segundos.

    Nós, legisladores, temos a obrigação, com o atraso de cinco anos, de regulamentarmos o setor de apostas esportivas. Aqui na Casa, há um único projeto de lei, de minha autoria, do Senador Mourão e também, agora, do Senador Girão, e o Governo está para encaminhar, o mais rápido possível, ao Congresso, uma medida provisória sobre o assunto.

    Não há motivos para protelações, mais. Do contrário – Senador Izalci, que também defende a nossa causa –, precisamos, com urgência, dar a necessária contribuição para evitar algo que, para mim, está próximo, ou seja, o futebol brasileiro está a caminho do báratro.

    Eu me lembro que Tasso Jereissati – que me deu estes óculos de presente, aliás, lindíssimos; Tasso, Senador inigualável, que eu tanto amo – veio perguntar para mim, no meu primeiro dia aqui: "Kajuru, o que significa báratro?", ele e o Jaques Wagner. "Kajuru, você é culto demais". Eu não sou culto nada. Báratro é o precipício. O futebol brasileiro caminha para o precipício, para o abismo.

    Por quê? A credibilidade vai acabar, do nosso futebol, que é uma das principais, se não a maior, manifestações culturais do Brasil, tanto que o Senador Alvaro Dias, Styvenson, tem um projeto guardado nesta Casa extraordinário, Confúcio, como você tem vários na educação.

    O Alvaro queria transformar a seleção brasileira num patrimônio da nossa cultura, tirando-a da Confederação Brasileira de Futebol, que se considera uma empresa privada: ninguém sabe quantos bilhões ela fatura; o que ela faz com o dinheiro dela, ela faz o que ela quer, não dá satisfação para ninguém; recebe uma fortuna com a seleção brasileira, com a camisa da seleção brasileira, que já foi vendida por bilhões – perfeito. E esse projeto não andou aqui. Ou seja, ele transformaria a seleção brasileira num patrimônio cultural. O Tribunal de Contas da União teria que receber, mensalmente, uma prestação de contas do que recebe, do que arrecada, do que gasta e do que investe a Confederação Brasileira de Futebol, que é a confederação mais rica do mundo – do mundo! –, simplesmente isso.

    E, para concluir, eu cumprimento aqui as Organizações Globo. Por quê? Porque é o grupo que mais tem interesse na credibilidade do futebol, é a emissora que mais fatura em função de suas transmissões e da exclusividade em alguns campeonatos.

    Mas, não! Ela está sendo independente. A reportagem que o Fantástico mostrou ontem mostra que a Rede Globo entrou no vespeiro – porque ela ainda não havia entrado. Por enquanto, você lia apenas na Folha de S.Paulo, no Estadão e em alguns outros veículos. A Globo entrou para valer, e, se ela entrou para valer, podemos esperar que, todo dia, no Jornal Nacional, vem algo novo e podre, infelizmente, daquilo que eu mais amei na minha vida, e não amo mais, desde 2014, que se chama futebol brasileiro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Eu queria fazer um aparte, se possível, Senador Styvenson, Senador Kajuru.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu tenho o prazer de ouvi-lo.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Olha, em primeiro lugar, o senhor é culto sim, porque um discurso desses, poético inclusive, firme no que se coloca, é uma peça que tem que ser guardada com muito carinho aqui nos Anais desta Casa.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Obrigado, é recíproco.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – O senhor vem insistindo neste assunto há muito tempo, eu sou testemunha disso. Foi o pioneiro. E eu acho que, na vida, Senador Confúcio, nada acontece por acaso, Senador Styvenson. Cada um... A passagem que a gente tem na vida, profissional e pessoal, tem uma razão de ser, para algum aprimoramento com que a gente possa contribuir, para alguma possibilidade de colaboração.

    Eu fui Presidente do Fortaleza. Quando eu era pequenininho...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Foi o maior, aliás, da história!

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Não! Longe disso.

    O clube é de 1918, é um clube centenário, e eu entrava pequenininho, no estádio, quando eu era mascote e entrava em campo com o time. Para mim, é o meu esporte predileto. O meu grande amigo de infância é o meu clube, o Fortaleza Esporte Clube.

    Aprendi a admirar o rival, que chamam de rival, mas eu não gosto dessa palavra. O seu adversário é o Ceará. A minha esposa é torcedora. Você conhece...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu sei! A Márcia.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É torcedora alvinegra!

    E eu quero ver o povo feliz. Então, para mim, com os dois na primeira divisão e brilhando... Ótimo! É claro que se joga Fortaleza contra Ceará, eu quero ver o Fortaleza sempre ganhando! (Risos.)

    Mas eu quero dizer uma coisa para você: a gente está sendo enganado sem saber.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Sem saber. A gente está tomando bola nas costas.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Eu quero, em primeiro lugar, dizer que a maioria dos jogadores – a esmagadora maioria – é ética e a gente não está aqui para questionar, e árbitro também. A gente não está aqui para questionar a conduta de ninguém, mas eu confesso para o senhor, Senador Kajuru, que, logo quando o senhor levantou essa bandeira aqui, eu e o Senador Mourão estávamos juntos e, quando eu fui Presidente, eu fui muito criticado e quando saí também, porque eu sempre fui contra a venda de bebida alcoólica dentro de estádio de futebol.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu me lembro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Você sabe o que significa isso, Senador Confúcio? É um faturamento importante para um clube que vive ali passando o chapéu, mas o esporte foi feito para unir, o esporte foi feito para a saúde, para a família e a coisa mais linda do mundo é você ver um estádio com crianças, com mulheres!

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Claro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É a coisa mais linda! É a nossa paixão nacional o futebol.

    E quando você vê a bebida ali patrocinando o nome do estádio, vendendo, enquanto a bola está rolando...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Assim como era o cigarro, não é?

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Isso eu acho uma coisa abominável, porque não tem nada a ver!

    E eu lhe dou exemplos, aqui, bem clássicos! Para um time perder o mando de campo por causa de uma briga na arquibancada, na torcida, é daqui para ali, com álcool!

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Daqui para ali.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Porque você já entra naquele espírito competitivo querendo ganhar, vencer, então, você já vê o outro como inimigo! E nós podemos ser adversários, jamais inimigos!

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Claro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – E a bebida potencializa a violência. Os grandes estudiosos mostram isso. Será que não a gente não pode passar duas horas sem beber?

    Então, nós perdemos, por uma manobra do Governo do Ceará, infelizmente. Lutamos! Alguns Deputados tentaram barrar...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Deve ter faturado muito, hein? Não existe almoço de graça.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – A gente perdeu no voto, Senador Kajuru, mas nós lutamos, fomos para debates...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu sei. Eu me lembro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Então, ficou uma marca.

    Aliás, foi o Presidente do Sport o grande pioneiro disso. Eu não estou lembrado do nome dele. Há cerca de cinco anos, ele também foi firme.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Sim.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Quanto a essa questão de apostas, que é uma coisa relativamente nova, agora, esses bets, eu confesso para o senhor que eu estou muito assustado.

    Antes, quando a gente começou a levantar esse debate, eu achava que tinha que se proibir, imediatamente, propaganda, seja no uniforme, seja na placa dos estádios, até propaganda em veículos de comunicação! Eu sei que o senhor discorda e eu respeito.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Não, não é que eu discorde. Eu acho que tem que haver um limite.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Pronto.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eu acho que você não pode é cortar 100%, porque aí você está culpando os veículos de comunicação por algo por que eles não podem ser condenados.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Sim.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Eles apenas transmitem um produto, transmitem uma publicidade, assim como uma cerveja, assim como um banco.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É uma linha muito tênue...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – É.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... porque isso está levando as pessoas para o vício, para perderem a produtividade...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Alienando as pessoas.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... perderem o emprego, perderem a família...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Sim.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... e perderem a vida.

    Eu vi um caso desses agora, há dois finais de semana. Eu conversei com um torcedor que perdeu tudo, um evangélico...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Você mandou a mensagem dele para mim.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... que nunca botou uma gota de álcool na boca, Senador Confúcio. Ele foi por curiosidade para esses bets, de tanto ver propaganda, e ele perdeu tudo em poucos meses.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Ele se entusiasmou com R$120, não foi?

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Hã?

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Ele recebeu R$120, ficou entusiasmado, seguiu, e foi à falência.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – E foi à falência.

    Há 20 anos que ele trabalha na mesma empresa. Coitado! Eu falei com a família dele.

    E quantos senhores desses, brasileiros irmãos e irmãs nossos, estão nessa situação que a gente não tem ideia? Então...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Rapidinho. Rapidinho.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Tá.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Você, o Confúcio e o Styvenson não sabem, mas eu vou contar para vocês. Eu não vou dar o nome, mas aqui, depois que eu sair da tribuna, eu falo.

    Tem um colega nosso, excepcional, por sinal, um Senador, cujo neto, de dez anos, gastou, do cartão de crédito do avô, R$16 mil com apostas. Neto de um Senador da República. Não ganhou nada!

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É vício.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Desculpe-me por interromper.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Não, para encerrar, e o senhor já deu tempo mais do que necessário para eu concluir, mas é porque este assunto...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Mas a discussão é importante.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... emociona, eu confesso para o senhor que me toca, pela responsabilidade social de um clube. Um clube tem que fazer a paz, a harmonia, uma vida saudável. Esta é uma função importante de um clube de futebol, e eu vejo que nós estamos perdendo isso por causa do dinheiro...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Sim.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... e dinheiro não é tudo. Como o senhor colocou e ensinou para o Senador Tasso Jereissati, que é meu conterrâneo, e a história do Ceará é antes e depois do Tasso Jereissati...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Claro.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... e também para o Senador Jaques Wagner, nós estamos caminhando para o báratro.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Precipício. Abismo.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – O precipício. E eu confesso que, numa situação dessa, eu sou muito comedido, Senador Kajuru. E eu estou me convencendo...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Como é em tudo.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... a cada dia que não apenas a propaganda a gente deve começar a proibir. Eu acho que esses jogos que foram liberados ainda na época do Temer, do Presidente Temer, só que hoje não tem imposto, eu acho que a gente pode começar a pensar, com muita responsabilidade, pelo impacto social que tem e por destruir, devastar a magia do futebol, a essência do futebol, eu acredito que a gente pode começar a pensar em proibir, proibir essa questão de bets...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – É o que eu penso.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... como já tem um movimento forte em outros países.

    Muito obrigado.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Por nada. Eu que agradeço, Girão. Este assunto, assim como tantos outros, é fundamental que a gente ouça no plural, nunca no singular, e que a discussão seja assim, no plural.

    Só rapidamente, Presidente Styvenson, você que adora anotar as minhas frases...

    Quando eu passo frase para ele, ele diz "repete aí", e aí vai e passa para as namoradas dele, entendeu? O Kajuru é o cupido dele. Mas, brincadeira à parte, eu não tenho a cultura do Confúcio, mas a minha cultura veio da leitura. Eu li mais do que vivi, graças a Deus. Então, para quem está aqui nas galerias – sejam bem-vindos, brasileiros e brasileiras, Deus saúde a todos –, guardem esta frase, que é de Millôr Fernandes, daquele livro Millôr Definitivo – A Bíblia do Caos. Hoje, um jornalista perguntou para mim: "Kajuru, mas você acredita que um jogador de futebol se venda? Ele aceita, Kajuru, grana para cometer pênalti?" Eu falei: Amigo, eu vou te relembrar uma frase do Millôr, presta atenção nela: "O dinheiro compra o cão, o canil e o abanar do rabo". Não vai comprar o jogador de futebol? Ah, vá para "Punta del Este"!

    Agradecidíssimo.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN. Para apartear.) – Senador Kajuru, esse tema é instigante. Ainda mais porque está no momento, Senador Eduardo Girão, e eu vi o senhor falar. Como o senhor é especialista tanto em futebol como em jogo, eu queria... Eu fiquei aqui numas dúvidas, estava esclarecendo com o colega aqui do lado: como é que funcionam essas apostas pelo mundo afora, Senador Eduardo Girão, já que não existe uma fronteira para a internet para o nosso país? O senhor disse proibir, mas proibir como, se essas empresas estão todas fora, estão em outros países? Não sei se taxar, conforme os cigarros são taxados e as bebidas, justamente para tirar até o estímulo dessas pessoas que recebem esses grandes recursos... E são muitos, não é? Porque não joga só no vício, Eduardo Girão, joga na possibilidade, joga na usura, na ganância, na expectativa de vencer.

    E a conclusão da fala do Senador Kajuru, pelo menos até onde eu possa ter... até onde eu assisti – porque eu não entendo de futebol direito, é um esporte que eu nunca pratiquei; pratiquei voleibol, natação, tudo isso, mas... Até onde eu posso perceber, Senador Kajuru, é que, com essa desconfiança agora dos resultados, a gente começa a se recordar de resultados anteriores, não é? De Copa do Mundo... Será que isso está acontecendo só no Brasil ou será que isso acontece no mundo todo e foi descoberto aqui no Brasil? Ou chegou à tona, a gente não tem conhecimento. Por quê? Porque isso é muito novo. Isso é muito novo – para a gente, descoberto agora –, ou seja, Senador Kajuru, o senhor, que um repórter esportivo – ainda o é hoje, pelo menos eu percebo o seu entusiasmo quando fala aqui na tribuna, ainda mais de um tema desse, que o senhor domina –, isso resulta em que, além de perder a credibilidade, as pessoas hoje já assistem aos jogos sabendo que o resultado pode ser forjado. Antes era só o juiz ladrão, não é? Agora são os jogadores. E não são todos, o pior de tudo é que não são todos. São apenas alguns, que comprometem o futebol brasileiro, os clubes brasileiros.

    Senador Eduardo Girão.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Eu queria só, Senador Styvenson, ratificar esse discurso do Senador Kajuru – eu falei para ele agora, eu fui cumprimentá-lo: tem que recortar e colocar num quadro. Porque ele fez uma passagem da história, que isso não é de hoje, isso já vem há décadas acontecendo, só que se multiplicou muito – acredito – com esses bets, essa cultura, que outros países já estão proibindo.

    Agora, o senhor não conhece bem o futebol, mas o senhor certamente já viu como é que é o posicionamento de uma torcida: ela comemora numa defesa de um goleiro, ela comemora num gol... Mas você sabe o que é que comemoraram este final de semana, de que vazaram os vídeos? Acho que foi no G1, que está fazendo uma grande cobertura; eu quero parabenizar as Organizações Globo nisso aí. Você sabe como foi, como é que eles estão comemorando, Confúcio, agora? O jogo está rolando, o pessoal está vendo aqui, apostando, e aí, quando o cara vai pegar o Gatorade lá no banco de reservas, se o Gatorade é da cor que ele apostou, aí o cara começa a comemorar: "Olha aí, ele pegou o que eu disse que ele ia pegar". Chegou a esse nível, amigo. Quantidade de falta, cartão amarelo... O cara não tem noção nenhuma, e vai e recebe um cartão amarelo, com cinco minutos. Sabe uma coisa assim? Rapaz, virou uma... Não vou falar essa palavra por respeito à Casa, mas eu vou dizer uma coisa para o senhor, Senador Styvenson: se quiser proibir, proíbe. Vai lá no site, faz a Polícia Federal... Monitora, pode o site estar em Curaçao, pode estar em qualquer lugar. Agora, eu sei que esse pensamento é um pensamento que partilho com a minoria, mas faz parte colocar a posição e deixar as investigações avançarem para ver se tem razão.

    Uma coisa eu posso dizer: jogador de futebol, em sua maioria, pelo menos na minha experiência... Pelo menos no Fortaleza, eu não vi... Eu conversei com jogador por jogador quando eu fui presidente, olho no olho deles. Diziam, Confúcio, para mim – sei que você também é desportista –, que jogador de futebol... Diziam isto para mim: "Olha, não assume isso não, é tudo muito sujo, juiz, jogador de futebol. Quando você mais precisa, eles vão te dar uma facada, vão te exigir, fazer uma chantagem e tal na hora da final." E eu disse: É muito difícil isso, eu não acredito nisso. É que todo gol que o jogador faz ele dedica a Deus, toda defesa que o goleiro faz ele dedica a Jesus, ou seja, eles são muito firmes na sua religião, na sua fé, são na maioria evangélicos inclusive. Eu dizia: Não é possível que eles façam, eu não acredito nisso, isso é mito. E foi mito. Eu confesso para vocês que eu conversei com todos eles quando assumi o clube. Eu olhei no olho deles, combinei com eles como é que seria, e eles cumpriram rigorosamente comigo, foram muito corretos.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Então... Agora, exceções existem, mas eu acho que essa exposição, a propaganda vai fazendo com que a própria torcida se desvirtue também, e aí vira esse caos.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Só, rapidamente, eu vou contar uma bomba para vocês aqui então, para o Brasil inteiro saber, algo que eu iria declarar no livro que vou lançar, o meu quinto.

    Primeiro, como informação para o Styvenson, que não é apaixonado pelo futebol. O Tottenham, um dos maiores times da Inglaterra, agora, no mês passado, foi goleado por um timeco por seis. Sabe qual foi a decisão dos jogadores? Os jogadores mandaram devolver o dinheiro da arrecadação para os torcedores, dando um exemplo os jogadores ingleses. Então é só para você saber... É claro que não é do Brasil, é do mundo inteiro. E você era novo demais. Eu fiz nove Copas do Mundo, fiz seis Olimpíadas. A minha primeira Copa foi em 1978, na Argentina. Lembra da Copa da Argentina? Ele tinha um ano de idade, o Styvenson, e eu tinha 18.

    Copa da Argentina: quem se lembra do jogo do Peru, gente? Se você lembrar, lá atrás, atrás da Copa de 1978, o João Saldanha, o mestre, o comentarista que o Brasil inteiro consagrou, com quem eu tive a honra de trabalhar, e ele comigo, lá em Goiânia, escreveu um livro subterrâneo do mundo do futebol, lá atrás, nos anos 70, Girão.

    E, aí, a bomba para vocês. Copa do Mundo de 1982, aquela seleção mágica do mestre Telê Santana: muita gente acha que o Brasil perdeu no campo para a Itália. Não. O Brasil perdeu no dia do jogo, na preleção em que Telê Santana e Zico – Telê não vivo, Zico vivo, Sócrates falecido infelizmente – saíram da conversa porque naquele dia os jogadores queriam discutir bicho, subornando Giulite Coutinho, que na época era o fantástico presidente do América do Rio, do time de Romário. Eles queriam grana!

    Naquela Copa – isso eu tenho que revelar –, um jogador – eu vou dar o nome dele –, Éder Aleixo, ponta-esquerda, traindo o grupo todo, ele se vendeu para um grande patrocinador para que comemorasse todo gol dele de frente a uma placa de publicidade na Espanha, na Copa do Mundo. Então são fatos que não representam indignação para ninguém, ninguém hoje pode falar "Kajuru, não é possível o que está acontecendo". Claro que é, meu amigo, é só você relembrar o que já houve no futebol. Portanto, futebol em Copa do Mundo, em qualquer lugar do mundo, teve coisas do arco da velha. Agora acho que é a última chance que nós temos de regulamentar, de criar leis, de punir, senão nós vamos perder realmente a credibilidade da maior paixão deste país, que se chama futebol. Hoje eu estou ao lado do Styvenson, prefiro não ver jogo de futebol. Eu vou ouvir Nina Simone, Chet Baker, B.B. King, é muito mais prazeroso.

    Obrigado.

    O espaço foi dado, a gente tem que agradecer ao Presidente, à sensibilidade dele, que é algo normal, esperado, para uma discussão desse assunto, porque sei que daqui a pouco vai subir à tribuna o Confúcio, e com certeza ele vai trazer um pronunciamento histórico, como sempre faz, mas esse caso aqui hoje não é pronunciamento, esse caso é um caso que nós temos que manter em discussão permanente aqui, esperar essa medida provisória, começar o trabalho aqui no Senado da Comissão do Esporte, e criar um projeto urgente de punição, senão, daqui a 20 anos, nós vamos ver os nossos netos, bisnetos, tataranetos, comentarem: "Oh, no ano 2023, Girão, Kajuru, Styvenson foram para a tribuna, falaram isso no Senado", e vai continuar acontecendo a mesma coisa.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Muito obrigado, de coração, pelo espaço e pelo assunto.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2023 - Página 7