Discussão durante a 190ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discussão sobre o Projeto de Lei (PL) n° 3626, de 2023, que "Dispõe sobre a modalidade lotérica denominada apostas de quota fixa; altera as Leis nºs 5.768, de 20 de dezembro de 1971, e 13.756, de 12 de dezembro de 2018, e a Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; revoga dispositivos do Decreto-Lei nº 204, de 27 de fevereiro de 1967; e dá outras providências."

Autor
Carlos Viana (PODEMOS - Podemos/MG)
Nome completo: Carlos Alberto Dias Viana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discussão
Resumo por assunto
Concessão e Permissão de Serviços Públicos { Outorga , Autorização }, Desporto e Lazer:
  • Discussão sobre o Projeto de Lei (PL) n° 3626, de 2023, que "Dispõe sobre a modalidade lotérica denominada apostas de quota fixa; altera as Leis nºs 5.768, de 20 de dezembro de 1971, e 13.756, de 12 de dezembro de 2018, e a Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; revoga dispositivos do Decreto-Lei nº 204, de 27 de fevereiro de 1967; e dá outras providências."
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2023 - Página 75
Assuntos
Administração Pública > Serviços Públicos > Concessão e Permissão de Serviços Públicos { Outorga , Autorização }
Política Social > Desporto e Lazer
Matérias referenciadas
Indexação
  • DISCUSSÃO, PROJETO DE LEI, ALTERAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), FIXAÇÃO, TAXA, AUTORIZAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, GRATUIDADE, PREMIO, PROPAGANDA, SORTEIO, VALE BRINDE, CONCURSO, LEI FEDERAL, ARRECADAÇÃO, CONCURSO DE PROGNOSTICO, LOTERIA, BENEFICIARIO, ORGANIZAÇÃO, PRATICA ESPORTIVA, FUTEBOL, CRIAÇÃO, APOSTA, COTA, SERVIÇO PUBLICO, NORMAS, DEFINIÇÃO, REGIME, EXPLORAÇÃO, AGENTE, OPERADOR, REQUISITOS, PROCEDIMENTO, CONTROLE INTERNO, OFERTA, REALIZAÇÃO, SEGURANÇA, INTEGRIDADE, PUBLICIDADE, TRANSAÇÃO, PAGAMENTO, CRITERIOS, PROIBIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, TRIBUTAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, INFRAÇÃO, PENALIDADE, TERMO DE COMPROMISSO, PROCESSO ADMINISTRATIVO, SANÇÃO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).

    O SR. CARLOS VIANA (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG. Para discutir.) – Presidente, obrigado.

    Uma boa-noite a todos!

    Estou acompanhando aqui os debates sobre a questão dos jogos e não poderia, em momento algum, deixar de me manifestar sobre um assunto que interessa e está dentro das casas das pessoas. Isso porque, até há bem pouco tempo, nós discutimos, pelo menos em grupos de Senadores, a questão da autorização para os cassinos no Brasil. Agora, nós não precisamos mais ter uma preocupação gigante, porque os cassinos estarão dentro das casas das pessoas. Estarão não: os casinos já estão dentro das casas das pessoas, com adolescentes e crianças tendo acesso a toda possibilidade de apostas.

    E a argumentação para se liberar o jogo no país, via televisão, passa por uma série de questões que a gente poderia, aqui, discutir por vários e vários dias, mas nós chegaríamos a uma conclusão muito simples: o que interessa é a arrecadação, o dinheiro que isso vai gerar para o país, independentemente se isso vai adoecer uma juventude, se isso vai criar danos às famílias, ao orçamento das pessoas, porque não há controle sobre a questão do jogo. Nós estamos dando liberdade praticamente absoluta.

    Se nós colocarmos aqui que os jogos, hoje, Senador Kajuru, são o principal patrocínio de sustentar os veículos de comunicação, em que, como V. Exa., eu também tive a oportunidade de trabalhar... Não fui tão famoso como V. Exa. porque sou um pouco mais equilibrado. V. Exa., na televisão, sempre foi um pouco mais...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. CARLOS VIANA (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG) – Não. V. Exa. sempre foi um pouco mais corajoso.

    O SR. ESPERIDIÃO AMIN (Bloco Parlamentar Aliança/PP - SC) – Mais exuberante!

    O SR. CARLOS VIANA (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG) – Mais exuberante na televisão.

    Mas eu digo, claramente, que os veículos passam por dificuldades, hoje, não é porque falta dinheiro; é porque, simplesmente, acabou o tempo em que jornalistas se sentavam numa sala fechada e decidiam o que era notícia no Brasil. E, no dia seguinte, todo mundo comentava a fala de determinado jornalista. Isso acabou! A população brasileira, hoje, percebeu que há muito mais do que os interesses das salas de redação, há muito mais do que a visão, muitas vezes, pequena, ideológica e até partidária de boa parte da imprensa brasileira – e quem está falando isso aqui para os senhores é um jornalista e professor que hoje analisa.

    Às vezes, fico observando que a capacidade, a possibilidade, a liberdade de se fazer o julgamento, em televisão, de qualquer notícia esbarra na visão pessoal de cada um daqueles que estão lá e do que eles pensam que é melhor para o país sobre política. O eleitor, que está do outro lado da linha, especialmente o eleitor de direita, conservador, cristão, evangélico como eu, vira e fala assim: "Esse canal, essa opinião desse jornalista não é a minha, não é o que eu quero". Desliga a televisão ou muda o canal.

    Então, o problema da falta de dinheiro e se apelar para os jogos está, principalmente, na essência do que se tem na comunicação no Brasil.

    "Ah, mas já existem as apostas, isso já pode ser feito." A aposta online no Brasil é proibida por lei, já é proibida, o cassino online é proibido no Brasil há muitos e muitos anos, e ninguém tomou providência alguma de absolutamente nada. Nós estamos fazendo ouvidos moucos e um olhar como se nada existisse.

    E vem o projeto, um projeto que, quando eu leio, dá total liberdade para a questão das apostas e cobra 10% do valor para os impostos.

    Senador Ciro, são milhões e milhões de reais em dinheiro da população, e vai-se pagar 10% de imposto? Eu apresentei uma emenda imediatamente, pedindo para que a taxação fosse para 35%.

    Já que é para legalizar, que é para a gente se deixar vencer por esse lobby que quer a liberdade completa dos jogos no Brasil, então que eles paguem. Se a gente quer arrecadar, então vamos arrecadar muito, para que valha a pena para um Governo e para um país.

    A minha emenda foi rejeitada. Pelo menos, chegamos a um acordo de 20% dos impostos, que, a meu ver, é pouco, Coronel. Nós tínhamos que cobrar 35%, porque, olha, vai para a televisão, e ali, por um computador na mão da pessoa, as apostas vão se sucedendo.

    Não há despesa nenhuma para aquelas empresas, ao contrário das indústrias, que têm que comprar o metal, têm que pagar energia elétrica, têm que contratar empregado, têm que fazer CLT. Essas empresas que efetivamente produzem o que interessa ao país para exportação, geração de renda, divisas, essas vão pagar muito mais imposto do que quem faz apostas em televisão e vai ganhar muito dinheiro. E nós querendo aqui taxar em 10% esse tipo de jogo. Olha o absurdo que é isso!

    Então, eu ainda faço um apelo à V. Exa.: vamos subir para 35% essa taxação, porque não tem cabimento.

    Olha, eles não têm despesa. Que despesa que eles têm, Senador Weverton e Senador Hiran? Não têm! Eles vão para a televisão, vão ganhar muito dinheiro. Então, vamos aumentar a taxação de imposto em cima deles. Por que nós não fazermos isso?

    Agora, essa defesa de se aumentar a arrecadação para se ter um orçamento mais equilibrado no ano que vem nos coloca diante de vários dilemas. Este é um deles: o país precisa do dinheiro do jogo da mesma forma como o Brasil sempre precisou do dinheiro, no passado, de cigarro, de fumo. Resultado: os hospitais lotados de pessoas com câncer. Lá na frente, a despesa é muito maior para o país.

    Nós tomamos consciência do mal que fazia a questão do tabaco sendo divulgado em televisão e no cinema, geração em geração, porque o número de pessoas com câncer aumentava, e a despesa pública do país era muito maior. Começamos a fazer uma campanha muito grande para poder controlar. Agora, até a Inglaterra está proibindo definitivamente a venda de cigarros para quem tem menos de determinada idade.

    Nós estamos no mesmo caminho: nós estamos aqui liberando, para o bem da arrecadação brasileira, um vício que vai gerar problemas no nosso orçamento de saúde no futuro, porque o vício do jogo é muito mais difícil do que determinadas doenças no corpo da pessoa, porque ele está aqui na cabeça. O vício está aqui na dependência emocional do que se faz no jogo. Essa é a questão.

    Nós estamos liberando para ter mais arrecadação com um futuro de muito mais despesas na área da saúde de nosso país. Então, se é para poder liberar, se é para poder colocar jogo, então vamos cobrar, vamos taxar essa gente. Vamos colocar 10%? Isso é um absurdo! E 20%? Já melhoramos! Vamos chegar nos 35%! Assim, pelo menos, a gente vai ter mais dinheiro para o sistema de saúde do país, para o sistema de atendimento psicossocial, porque nós, aqui, não trabalhamos a prevenção. O Brasil não sabe, o Brasil prefere o luto do que a prevenção.

    O senhor veja bem a questão.

    Vamos dar um exemplo: a questão do Covid; os problemas emocionais que nós tivemos depois dessa pandemia: depressão, falta de sono, aumento da venda de remédios para dormir em nosso país, dos ansiolíticos. E nós não fazemos nenhum tipo de trabalho de prevenção contra isso, porque, quando acabou a pandemia, nós não atentamos para a questão da saúde mental.

    Estamos trabalhando do mesmo jeito com o jogo. Estamos liberando aqui apostas, mas estamos colocando todo um futuro psicossocial da sociedade em risco.

    Daqui a alguns anos, não estaremos mais aqui, 15, 20, 30 anos, sabe lá o Altíssimo quando, mas as gerações futuras vão voltar a discutir: "Olha, nós precisamos controlar essa questão de jogo, porque virou um problema sério em nosso país". É o que vai acontecer.

    Então, nós, infelizmente, a nossa cultura não é a cultura da prevenção, é a cultura do luto. Nós só nos importamos depois que a tragédia acontece.

    Essas, senhores, são as minhas palavras nessa questão desse projeto. Sou contra qualquer tipo de jogo, de aposta...

(Soa a campainha.)

    O SR. CARLOS VIANA (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MG) – .... mas, se temos que liberar, se é a arrecadação o principal argumento, que se arrecade de verdade, para que parte desse dinheiro possa suprir o sistema de saúde do nosso país, que vai ser impactado mais cedo ou mais tarde.

    Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2023 - Página 75