Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre as queimadas na região do Pantanal, com destaque para a suposta negligência do Governo Federal.

Defesa do Projeto de Lei nº 5002/2023, que institui um plano de gerenciamento de riscos para desastres naturais;

Defesa do Projeto de Lei nº 4364/2023, que altera a Política Nacional sobre Mudança do Clima, para incluir regras de consolidação e fomento à adoção de medidas para mitigação e para remoção de gases de efeito estufa.

Autor
Astronauta Marcos Pontes (PL - Partido Liberal/SP)
Nome completo: Marcos Cesar Pontes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Governo Federal, Meio Ambiente:
  • Comentários sobre as queimadas na região do Pantanal, com destaque para a suposta negligência do Governo Federal.
Calamidade Pública e Emergência Social:
  • Defesa do Projeto de Lei nº 5002/2023, que institui um plano de gerenciamento de riscos para desastres naturais;
Mudanças Climáticas:
  • Defesa do Projeto de Lei nº 4364/2023, que altera a Política Nacional sobre Mudança do Clima, para incluir regras de consolidação e fomento à adoção de medidas para mitigação e para remoção de gases de efeito estufa.
Aparteantes
Marcio Bittar.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2024 - Página 79
Assuntos
Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
Meio Ambiente
Política Social > Proteção Social > Calamidade Pública e Emergência Social
Meio Ambiente > Mudanças Climáticas
Matérias referenciadas
Indexação
  • COMENTARIO, AUMENTO, QUEIMADA, PANTANAL MATO-GROSSENSE, CRITICA, OMISSÃO, AUSENCIA, PLANEJAMENTO, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, DEFESA, MARCO REGULATORIO.
  • DEFESA, PROJETO DE LEI, CRIAÇÃO, LEI FEDERAL, POLITICA NACIONAL, SISTEMA NACIONAL, SISTEMA DE INFORMAÇÃO, GESTÃO, RISCOS, DESASTRE, PROVIDENCIA, DISPOSITIVOS, DIRETRIZ, OBJETIVO, PRINCIPIO JURIDICO, INSTRUMENTO, POLITICAS PUBLICAS, PROGRAMA, COMPATIBILIDADE, Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
  • DEFESA, PROJETO DE LEI, ALTERAÇÃO, LEI FEDERAL, Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), AREA, ATUAÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, FOMENTO, ADOÇÃO, MEDIDA, PROVIDENCIA, REMOÇÃO, GAS CARBONICO, GAS, EFEITO ESTUFA, INTEGRAÇÃO, UNIÃO FEDERAL, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL (DF), MUNICIPIOS.

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP. Para discursar.) – Obrigado, Presidente. Boa tarde, boa tarde a todos. Boa tarde a todos que nos ouvem também e nos assistem pela TV Senado e pela rede do Senado.

    Hoje, eu trago aqui um problema que afeta a todos nós, tem relevância, tem urgência nacional: são as queimadas no Pantanal. Os incêndios no Pantanal aumentaram quase mil por cento neste ano, no Governo Lula, agora, que não tem tomado medidas para proteger esse bioma.

    Durante o meu mandato no Ministério de Ciência e Tecnologia, nós criamos a chamada Rede Pantanal de Pesquisa, mas, lamentavelmente, essa rede tem sido negligenciada pelo Governo atual, entre outros problemas também que nós acompanhamos. A gente não pode ficar só nas promessas de que vai fazer, quando fazer e assim por diante. Tem que ter ação e não dá para esperar esse tipo de... Nessa situação, não dá para esperar, simplesmente. A gente precisa de um marco regulatório robusto para o Pantanal. Este bioma é um dos mais ricos e diversificados do planeta. Ele enfrenta uma crise ambiental agora sem precedentes e isso ameaça não só a biodiversidade local, mas, também, a vida e o sustento de comunidades que dependem dos seus recursos naturais.

    Nos primeiros cinco meses, agora, de 2024, os focos de queimadas no Pantanal aumentaram impressionantes 900% em comparação com o mesmo período no ano anterior. São mais de mil focos de incêndio na região, mesmo antes do período mais seco.

    Vale lembrar que a gente teve aqui, neste Plenário, toda uma conversa importante a respeito de desastres naturais, inclusive, o Senador Esperidião Amin está aqui, o qual presidiu essa sessão. Deixaram muito bem claro que, neste ano, nós teremos uma das maiores secas da história no Pantanal e na Região Norte do país.

    Nós estamos vendo agora o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Tudo isso está acompanhado, está associado com mudanças climáticas e outros efeitos que, em conjunto, trazem esse problema, essa ameaça enorme. Essa ameaça é tão grande, mas tão grande, que nós simplesmente não podemos esperar antes para tomarmos atitudes, elas têm que ser para agora.

    Em novembro de 2023, a estiagem e o calor extremo levaram os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a decretarem emergência. Os níveis atuais podem ser piores, levando em consideração a quantidade menor de chuva na região, cerca de 60% – 60%! – abaixo da média. Os dados são do Inmet e do Inpe.

    A pergunta que a gente faz é a seguinte: o que a gente está fazendo para mitigar esses riscos e para gerenciar esses riscos que já são conhecidos?

    Onde está o Governo?

    Às vezes eu ouço falarem assim: "Olha, a Ciência voltou". Eu fico me perguntando: voltou como? Voltou para trás, provavelmente, porque eu não estou vendo o efeito positivo dessa volta de jeito nenhum.

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC) – Senador, V. Exa. me concede um aparte?

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Pois não.

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC. Para apartear.) – Quero parabenizá-lo por trazer um tema tão relevante para a humanidade.

    Acho incrível como, aqui no Brasil, nós temos vários artistas e políticos que parecem sofrer daquela Síndrome de Estocolmo, de se apaixonar pelo sequestrador. Eles adoram, e seguem, os países que passam receita para o Brasil, que os próprios países não seguem.

    Desastres ambientais tem desde que o mundo é mundo.

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Exato.

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC) – V. Exa. sabe disso muito mais do que eu, porque é um cientista.

    Nós tivemos época, na Terra, em que 70% dela era gelo, quase acabando com a vida que havia naquela época. Em outra época, quase 70% das placas tectônicas davam conta de fogo, larva.

    Isso para não lembrar do meteoro que acabou com a era dos dinossauros e, também, que houve época em que éramos um só continente. Depois, as placas tectônicas, um movimento milenar as separou.

    É evidente que a ocupação desordenada, principalmente nas áreas urbanas, o assoreamento de igarapés nessas áreas, que têm fatores naturais e humanos, poderiam e devem ser fruto da ação do homem.

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Sem dúvida.

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC) – Mas não podemos chegar ao absurdo da Marina, por exemplo, e dos seguidores dela, de achar que somos nós, seres humanos, que alteramos o clima do planeta. E nós chegamos ao absurdo, meu querido colega – vou aqui abrir aspas, para a fala de um ministro, concordando com a Marina... Porque, para a Marina, a forma de resolver os desastres ambientais não é pegando recurso dos amigos dela, como o Macron – que promete e não paga, o que ele quer é cuidar do país dele, em detrimento do nosso... Ela não faz campanha mundial para pegar recurso e recuperar solo degradado de pequeno produtor na Amazônia e no Pantanal, porque não tem dinheiro para fazer por conta própria. Muito menos faz campanha para desassorear igarapés. Ela quer, sim – sabe qual é a solução dela? – criar uma nova estrutura.

    O Ibama já não é suficiente. O ICMBio, que ela criou, também não é suficiente. O Ministério dela também não é suficiente. Cria-se outra, para aumentar mais ainda a despesa do Estado brasileiro.

    Agora, olha a outra que ela quer criar.

    Eu pensava, querido colega, que a autoridade climática era uma pessoa, mas não é, não; é um órgão. E ela acha, aí é que vem a loucura total, que esse órgão seria responsável por regular o clima no planeta. Olha as aspas de um ministro, com ela concordando. Abro aspas: "Se o principal ativo da agricultura brasileira é o clima, um clima estável, com chuvas regulares [...]" – ele concordando que tem que criar esse órgão – "[...] chuvas regulares, não excessivas, e nem que faltem, e sol na medida certa, uma autoridade que cuide do clima é fundamental para a agropecuária."

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Como?

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC) – Acabou o mundo...

    O SR. PRESIDENTE (Weverton. Bloco Parlamentar Independência/PDT - MA) – Senador Bittar, V. Exa. poderia dar o aparte para o Senador Marcos Pontes...

    O Sr. Marcio Bittar (Bloco Parlamentar Democracia/UNIÃO - AC) – Perdão, desculpa.

    É porque o tema, Sr. Presidente, é deveras o tema que mais me comove e me causa indignação.

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – É, esse tema é extremamente importante.

    E, olha, esses dados que nós temos são claros, e os alertas são numerosos.

    O Serviço Geológico Brasileiro reportou que o Rio Paraguai, o principal rio da região, apresenta os menores níveis históricos. A estação de medição de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, registrou alturas abaixo de 250cm, desde o início do ano, 2,5m abaixo, quando o normal seria de 250 a 550cm.

    Questão que eu pergunto sempre: como é que estão as ações de mitigação desses riscos? O ano de 2023 foi marcado por poucas chuvas e o fenômeno El Niño, como nós sabemos. As poucas chuvas, na região, são acompanhadas de raios que atingem o solo, favorecendo as queimadas, além dos ventos, que ajudam a espalhar o fogo, como também sabemos. Além disso, o Pantanal possui várias regiões isoladas e de difícil acesso, o que não se pode atribuir à ação humana. A principal culpa, geralmente, é colocada na queimada.

    O problema é a falta de um plano de preservação, a falta de um gerenciamento de risco, da utilização da ciência de forma pragmática e do conhecimento existente. Isso é culpa humana, sem dúvida nenhuma! Essa parte de falta de previsão é culpa humana. Mesmo com tantas queimadas, não foi planejado o controle de focos de incêndios, não temos um plano de gerenciamento de risco para a região, não pensaram em criar uma infraestrutura para adentrar no mato, brigadas, nessas regiões, para combater o fogo. Não fizeram trabalho prévio com as técnicas de manejo do fogo. A pergunta é assim: treinaram as equipes, nesse ambiente, com a participação de cientistas ou realizaram campanhas maciças de conscientização? Não. Vamos vimos isso acontecer.

    No ano passado, eu apresentei o PL nº 5.002, de 2023, que trata de um...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... plano de gerenciamento de riscos para desastres naturais. Ele é mais completo do que as leis atuais e conecta tudo o que já existe em termos de prevenção, o que é diferente de gerenciamento de risco. Com isso, nós aproveitamos o uso de novas tecnologias, para prever, justamente, os cenários atuais e futuros decorrentes das mudanças climáticas.

    Também apresentei, no ano passado, o Projeto de Lei 4.364, que inclui novas regras e medidas de mitigação do efeito estufa na Política Nacional sobre Mudança do Clima. Esses projetos foram criados, nesta Casa, antes dos incêndios de 2023 no Pantanal, e antes das enchentes do Rio Grande do Sul.

    Os dados de 2024 dos incêndios do Pantanal são de que este é o segundo maior índice, em 15 anos. Em 2020, nós tivemos vários focos de incêndio. Na época, nós sentimos falta de uma base científica que pudesse pensar, abordar e mitigar, permanentemente, trazendo soluções, com a melhor ciência possível, para esses eventos.

    Foi com esse propósito que, na minha gestão como Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, nós instituímos a Rede Pantanal de Pesquisa. Esse programa foi criado com o objetivo de utilizar a ciência e a tecnologia para compreender a dinâmica dos incêndios do Pantanal e desenvolver estratégias eficazes, para prevenir e mitigar esses desastres ambientais, o que foi muito eficaz na época. Criamos toda a articulação para a criação de um sistema de alerta de queimadas, em tempo real, como fizemos, aumentando o monitoramento, também, do Cerrado. Deram seguimento? Essa é a pergunta. Não. Ao sistema de prevenção sazonal, baseado na probabilidade de incêndio e na produção de materiais educativos sobre o uso do fogo como ferramenta de manejo e conservação, foi dado prosseguimento? Não.

    Esses materiais são essenciais para informar a sociedade sobre efeitos das queimadas na vegetação,...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... nos animais, no solo, e para promover práticas de uso sustentável do fogo. No entanto, é com grande preocupação que eu informo que a Rede Pantanal de Pesquisa, do MCTI, tem sido negligenciada pelo Governo atual e está, praticamente, sem atenção.

    A falta de apoio contínuo compromete o trabalho essencial que esses pesquisadores estão realizando, e, sem a melhor ciência possível, a gente corre o risco de repetir a tragédia recorde que vivenciamos agora, em 2024, colocando em risco não só o meio ambiente, mas também a vida de inúmeras pessoas e espécies que habitam o Pantanal.

    Com recursos que alocamos pelo MCTI através da Finep, a Rede Pantanal contou com a participação de mais de 20 instituições. Isto foi com R$1,6 milhão – olha o valor! – até 2022. Ou seja, um valor irrisório para um efeito tão grande. Este projeto é composto por três sub-redes, cada uma focada em um aspecto crítico do problema...

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – ... a análise de dados de satélites para entender os incêndios, o desenvolvimento de um sistema de previsão e alerta de riscos de incêndio e o estudo do uso do fogo como ferramenta de preservação e conservação. Essas sub-redes trabalharam sempre em sinergia, compartilhando informações em tempo real e desenvolvendo soluções baseadas na melhor ciência possível.

    A Rede Pantanal de Pesquisa possui sinergia com o Programa de Pesquisa em Biodiversidade, também criado em 2004, a que demos continuidade durante meu mandato como ministro.

    Uma coisa que eu noto é a seguinte: atualmente, o pessoal, aparentemente, acredita que houve o Big Bang no dia 1º de janeiro de 2023, como se não houvesse um passado e não houvesse a necessidade de preservar o orçamento público e a energia, as pessoas, dando continuidade a programas que são cruciais. Isto é muito perigoso para o nosso país.

(Soa a campainha.)

    O SR. ASTRONAUTA MARCOS PONTES (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SP) – Não podemos permitir que a ciência e a tecnologia sejam negligenciadas.

    Muitas vezes eu ouvia falar sobre negacionismo, sobre narrativas de negacionismo, mas o fato é que, de uma maneira ou outra, os dados reais, os fatos agora não aparecem. Ou seja, agora a gente tem um obscurantismo. Ou seja, tudo está sendo escondido. Nós não vemos esses fatos aparecerem, e o problema não cessou. A gente tem que trabalhar em cima desses problemas.

    Então, apelo aqui aos nossos colegas Senadores e Senadoras e ao próprio Governo para que a gente possa trabalhar junto. Isso não é questão de oposição ou de Governo, é uma questão de trabalhar junto para preservar um dos biomas mais importantes do planeta Terra, e, para isso, a gente vai precisar de ciência, tecnologia, de união e bom senso.

    Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2024 - Página 79