Pronunciamento de Humberto Costa em 09/07/2025
Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Alerta para os graves impactos sociais e educacionais das apostas online, com ênfase nos dados que apontam o adiamento ou abandono do ensino superior por jovens, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste e entre as classes D e E, devido aos gastos com bets.
Defesa da ampliação da taxação sobre casas de apostas como forma de mitigar danos à população. Apelo à rejeição do Projeto de Lei nº 2234/2022, que dispõe sobre a exploração de jogos e apostas em todo o território nacional
- Autor
- Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
- Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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Desporto e Lazer,
Educação,
Proteção Social:
- Alerta para os graves impactos sociais e educacionais das apostas online, com ênfase nos dados que apontam o adiamento ou abandono do ensino superior por jovens, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste e entre as classes D e E, devido aos gastos com bets.
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Desporto e Lazer,
Educação,
Proteção Social:
- Defesa da ampliação da taxação sobre casas de apostas como forma de mitigar danos à população. Apelo à rejeição do Projeto de Lei nº 2234/2022, que dispõe sobre a exploração de jogos e apostas em todo o território nacional
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/07/2025 - Página 42
- Assuntos
- Política Social > Desporto e Lazer
- Política Social > Educação
- Política Social > Proteção Social
- Matérias referenciadas
- Indexação
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- PREOCUPAÇÃO, CONSEQUENCIA, APOSTAS ESPORTIVAS, SOCIEDADE, DADOS, ADIAMENTO, ABANDONO, ENSINO SUPERIOR, EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA), REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE, GASTOS PESSOAIS, ENDIVIDAMENTO.
- DEFESA, AMPLIAÇÃO, DESCONTO NA FONTE, CASA DE APOSTA ESPORTIVA, DANOS, POPULAÇÃO, SOLICITAÇÃO, REJEIÇÃO, PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP), EXPLORAÇÃO.
O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar Pelo Brasil/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, pessoas que nos acompanham pelo serviço de comunicação do Senado e das redes sociais, o levantamento que foi feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior indica que gastos com bets ou com jogos do tigrinho adiaram o ingresso em um curso de graduação para 34% dos jovens brasileiros.
Entre jovens do Norte e do Sudeste, o indicador ficou acima da média geral. No Nordeste, 44% não iniciaram os estudos neste ano por conta de gastos com apostas online. No Sudeste, foram 41%.
Foram 11.762 entrevistas na faixa etária de 18 a 35 anos, entre os dias 20 e 24 de março.
Para o futuro, em 2026, 34% dos jovens dizem que precisarão interromper gastos em bets se quiserem entrar no ensino superior.
O cenário é ainda pior nas classes D e E, que têm renda familiar de R$1 mil, em média, em que 43% afirmam que precisam parar de investir em apostas online para conseguir entrar na universidade. Na classe A, em que a renda familiar é de R$26,8 mil, o resultado é de 22%.
Matriculados também sofrem impacto: 14% dos jovens de 18 a 35 anos que estão no ensino superior já atrasaram o pagamento da mensalidade. Vejam que número absurdo: 14% dos jovens de 18 a 35 anos que estão no ensino superior já atrasaram o pagamento da mensalidade do curso ou tiveram que trancar a graduação por causa de apostas online. O pior é que no Nordeste, uma das regiões mais pobres do país, o índice vai para além de 14%, chega a 17%.
O impacto das bets, além de prejudicar o ingresso de novos alunos no curso superior, afeta a permanência dos matriculados. É a perda de oportunidade e a evasão de estudantes por causa das bets, que já representam uma realidade cruel no Brasil e um impacto sério no futuro da nação.
A crescente popularização das bets impacta justamente o público-alvo da educação superior, brasileiros de 18 a 35 anos.
A projeção de instituições é de que mais de 986 mil alunos em potencial podem ficar fora das universidades. O risco do não acesso ao ensino superior é devido ao montante da renda desses jovens já comprometido com apostas online. O investimento em exercício físico também é afetado: 24% dos jovens disseram que deixaram de investir financeiramente em academias ou atividades físicas devido ao dinheiro depositado nessas casas de apostas. Quando questionados se deixaram de frequentar restaurantes, bares ou sair com amigos para navegar por uma bet, 28% responderam que sim.
É absurdo! É assustador o conjunto dessas informações e desses números. A maioria dos jovens afirmou que aposta de uma a três vezes por semana. No Sudeste, 41% disseram que seguem essa frequência; no Nordeste, foram 40%; enquanto no Centro-Oeste foram 32%.
Bets se tornaram o segundo maior destino da internet brasileira, ultrapassando redes como o YouTube e o WhatsApp – vejam a gravidade dessa informação –, ou seja, os acessos a bets e a navegação nas bets é maior do que a navegação no WhatsApp e no YouTube.
É um absurdo! As pessoas estão dependentes desse tipo de prática, de atividade – esportiva não, porque isso não é esporte... Esporte para destruir o patrimônio das pessoas, para impedir que os jovens venham a ingressar em uma universidade, para promover pobreza e destruição... Afora um estudo que vale a pena ser feito, que é o da quantidade de pessoas que estão se suicidando porque têm a sua vida arruinada pela jogatina nas bets.
Um levantamento apontou que 30,8% dos jovens entrevistados gastaram, em média, R$350 em bets. Uma pesquisa feita pela Atlas mostra que a maioria dos brasileiros é a favor de aumentar a taxação para bilionários, bancos e bets – 58% são favoráveis e apenas 38% são contra. Agora, vocês imaginem se nós aprovarmos – graças a Deus, ontem foi retirado de pauta –, no Brasil, cassino, bingo e tantas outras formas que essa jogatina assume no nosso país.
E eu quero aqui aproveitar esta oportunidade, Sr. Presidente, para dizer que é muito importante que nós, aqui no Senado Federal, ampliemos a taxação, ampliemos os impostos sobre essas bets.
O Governo mandou para o Congresso Nacional uma medida provisória que tem como um dos objetivos a ampliação da taxa que incide sobre as bets de 12% para 18%. Nada mais justo, mas ainda é pouco, deveria ser como o cigarro, deveria ser como a bebida alcoólica, que, aliás, na reforma tributária, poderia ter tido uma taxação maior. A gente deveria tratar essas bets como uma atividade que provoca dano e sofrimento à população e, portanto, deveria ter uma taxação mais forte.
Então, eu quero aqui concluir o meu pronunciamento e espero que, com aquela decisão de ontem, que adiou a votação da proposta de ampliação da jogatina no Brasil, ela não seja novamente colocada em pauta. E, se for, que o Senado Federal derrote essa proposta, proteja o povo brasileiro, proteja, principalmente, a juventude do nosso país.
Muito obrigado, Sr. Presidente.