Pronunciamento de Plínio Valério em 18/02/2020
Discurso durante a 9ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Inconformismo com a suposta interferência do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nas pautas de votações do Senado Federal.
Comentários sobre a aprovação, pela Comissão de Assuntos Econômicos, de projeto que prevê a autonomia do Banco Central.
Defesa de priorizar a melhoria na condição de vida das pessoas como centro do debate sobre a exploração das riquezas da Região Amazônica.
- Autor
- Plínio Valério (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Francisco Plínio Valério Tomaz
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SENADO:
- Inconformismo com a suposta interferência do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nas pautas de votações do Senado Federal.
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ECONOMIA:
- Comentários sobre a aprovação, pela Comissão de Assuntos Econômicos, de projeto que prevê a autonomia do Banco Central.
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DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
- Defesa de priorizar a melhoria na condição de vida das pessoas como centro do debate sobre a exploração das riquezas da Região Amazônica.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/02/2020 - Página 31
- Assuntos
- Outros > SENADO
- Outros > ECONOMIA
- Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
- Matérias referenciadas
- Indexação
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- CRITICA, INTERFERENCIA, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, RODRIGO MAIA, RELAÇÃO, PAUTA, VOTAÇÃO, SENADO.
- COMENTARIO, APROVAÇÃO, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP), AUTONOMIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
- COMENTARIO, FOTOGRAFIA, REGIÃO AMAZONICA, ESTRADA, SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA (AM), CUCUI, ENFASE, INDIO, MÃE, DEFESA, PRIORIDADE, MELHORIA, QUALIDADE, VIDA, PESSOAS, IMPORTANCIA, DEBATE, EXPLORAÇÃO, RIQUEZAS, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, MEIO AMBIENTE.
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM. Para discursar.) – Presidente Dário, Sras. e Srs. Senadores, trago aqui um assunto, mas, agora, ouvindo o meu amigo, Senador Major Olimpio, que toca na ferida, essa ferida interna que nós, que assumimos agora, há um ano – e eu não falo o nome dos outros, mas entendo, porque penso assim –, que chegamos aqui cheios de sonhos sobre o que pode e o que quer fazer, sobre o que deve e o que sabe, esbarramos constantemente, Presidente Dário, como no ano passado – e o senhor vai se lembrar – em algumas MPs que a Câmara Federal enviava para cá já em cima do laço para que nós votássemos. A matéria chegava hoje à noite e tinha de ser votada amanhã. E nós, Senadores, todos experientes, pessoas de bom senso, para não prejudicar o andamento das coisas, não prejudicar a população, a Nação, acabávamos por carimbar.
Eu dizia, no final do ano passado – e o disse em discurso aqui –, que eu parei de carimbar. Eu parei de carimbar! Eu quero discutir todo e qualquer assunto que chegar aqui.
Eu não gosto, quando leio ou quando ouço, de ver o Presidente da Câmara Federal pautar, dizer que a pauta é essa, Senador Veneziano, ou seja, dizer que aqui nós vamos discutir agora a reforma tributária, autonomia do Banco Central... Quer dizer, pautou as matérias como se o Senado, para ele, não existisse.
Compete e cabe a nós – e o Major Olímpio foi muito feliz nisso – mostrar que nós, sim, vamos fazer o nosso papel, vamos fazer o nosso trabalho, com as nossas ideias, com os nossos projetos, bons ou maus – os maus serão excluídos, os bons ficam –, porque aqui se discute. E, no Parlamento, há que se discutir. Se você pensa o contrário, seja de direita ou de esquerda, saiba que o diálogo, a negociação, no bom sentido, a divergência é que levam ao bom senso e à solução.
Então, eu não vou mais – já avisei aqui – carimbar, com um ou dois dias para discutir. Não vou mais! E eu não tolero... Aqui fica o meu registro: respeito a Câmara, mas não posso respeitar um Presidente que quer pautar o País ao seu bel-prazer. Se ele pensa que pode, o problema é dele. Com o Senado, ele não pode, e o Senado vai provar, a cada dia, o que eu estou aqui a dizer.
Por exemplo, Presidente Dário, nós aprovamos hoje – e o senhor estava lá na CAE –, a autonomia do Banco Central. Trata-se de um projeto de minha autoria, que deixou de ser de minha autoria, pois agora é da CAE e é do Senado, com uma emenda do Senador Tasso.
Esse projeto diverge um pouco daquele que está tramitando lá na Câmara. O nosso é bem mais simples, é direto e vai mais ao "x" da questão, ao "x" do problema. A gente trata mais da questão monetária, enquanto eles tratam mais da questão administrativa e financeira. E o nosso recebeu uma emenda do Senador Tasso, que engrandeceu o nosso projeto.
Por que eu pedia ontem da tribuna e pedi hoje, lá na CAE, que nós o aprovássemos logo ou que o derrubássemos logo? Para que nós pudéssemos enviar esse projeto aprovado no Senado para a Câmara, haja vista que eles estão lá com o projeto enviado pelo Executivo, o projeto que o Presidente Rodrigo Maia disse que vai aprovar depois do Carnaval, em três meses. E nós fizemos isso hoje, mostrando, provando mais uma vez a consciência, o entendimento que cada Senador tem, que cada Senadora tem do que representa para a Nação.
Esse projeto provavelmente, minha amiga, Senadora Juíza Selma, que eu vejo aqui com o maior prazer e alegria... Cada um de nós temos a consciência, o compromisso e o dever de colaborar com a Nação, porque a primeira coisa que o Senador faz, que a Senadora faz nesta Casa quando assume, quando levanta a mão e faz o juramento, é se despir de toda e qualquer vaidade. Projetos pessoais são colocados à parte, Senador Veneziano, para que nós possamos trabalhar em prol da Nação. E a Nação vive e exige sempre, de cada um de nós, a cada momento, um gesto de grandeza, porque aqui nós estamos decidindo pela Nação. Então, é simples o que querem de nós: gesto de grandeza em benefício da Nação; nada de vaidade, nada de projetos pessoais e individuais.
Há esse projeto da CAE. O Senador Veneziano, com todo respeito e com argumentos fortes, votou contra, mas respeitou o resultado da maioria, como eu sei que vai respeitar o resultado da maioria, como eu, que fui derrotado aqui várias vezes. Nós não podemos é estar a reboque da Câmara, a reboque de uma pauta, reféns de uma pauta que o Deputado Rodrigo Maia decidiu fazer.
Tentei, a minha vida toda, projetei, a minha vida toda, ser Senador da República. Participei – perdi até a conta – de 14 ou 15 eleições. Ganhei quatro só. Mas cheguei ao Senado e represento um Estado como o Amazonas. Então, para mim, não é possível, eu não posso admitir, em nenhuma hipótese, seguir uma agenda criada pelo Deputado Maia. Não posso, não devo e não vou. E não vou! Falo por mim, mas falo como um Senador da República.
Presidente Dário, ontem eu pedi aqui, eu queria ver até qual das câmeras que poderia... Eu disse que iria mostrar umas fotografias aqui. Essa câmera fica melhor? A de frente? É para mostrar, Senador Dário, Senador Veneziano... Quando a gente fala muito tempo de Amazônia, quando a gente fica aqui falando de Amazônia, eu vejo pessoas, como a gente diz no interior, que arregalam os olhos: "Poxa, será que ele está falando a verdade? Será que ele está dizendo a mesma coisa?". Isto aqui é uma estrada que vai do Município de São Gabriel da Cachoeira ao distrito de Cucuí – está aqui; agora estou me situando –, uma estrada que tem 207km. São Gabriel tem 40 mil habitantes, Cucuí tem 4 mil habitantes.
Olha só como eles fazem para percorrer: fazem passarelas de madeira em cima da lama – eu posso ir para aquela? –, olha só, madeira em cima da lama, para poderem passar com o carro. E o que tem nesse carro aí? Remédios e alimento. E olha quem sofre, olha quem está sofrendo aqui: uma índia amamentando seu filhinho no meio da lama – uma índia amamentando o seu filhinho no meio da lama. Esses mesmos índios, Senador Reguffe, esses mesmos índios que esse pessoal diz proteger, diz cuidar.
Olha como se faz para chegar a alguns locais em São Gabriel da Cachoeira: passando pelas cachoeiras, desce da voadeira, todo mundo vai empurrar para poder subir a cachoeira. Levando o quê? Remédio e comida. Por isso, às vezes eu chego, converso com os Senadores... Lá vou eu de novo para a tribuna falar sobre a Amazônia, falar sobre desmatamento, falar sobre índio, falar sobre ser humano, porque para mim não adianta... Com aquele que só fala em conservar, aquele que só fala em proteger a floresta, mas esquece o ser humano, eu não discuto, porque eu não concebo um meio ambiente saudável com um povo, com uma população doente.
São 207km, ou ele vai por essa estrada lama ou vai lá pelas cachoeiras que eu mostrei. Aqui há várias canoas com tijolos. Há um barco aqui, que trouxe os tijolos, tem que passar para canoas para poder chegar à reserva indígena. E não é São Gabriel, não; aqui é Parintins, médio Amazonas. Sabe quanto custa um tijolo desses, que chega lá à comunidade? Cinco reais. Um tijolo chega a cinco reais. Por isso, eu fico indignado com tanta hipocrisia. E nós estamos falando, quando se fala em São Gabriel, na região mais rica do planeta – do planeta, não é do Brasil, não. Lá está o nióbio, lá está a prata, lá está o ouro e por aí vai. É um povo sofrido.
Lá em Cucuí, acima de São Gabriel, se faz a tríplice aliança com a Colômbia e com a Venezuela. Então, quando as pessoas falam "não, mas é porque a minha ONG faz isso", aí eles vão, reúnem dez, cinco famílias, mandam tirar leite do babaçu, tirar óleo da copaíba, fazem...
(Soa a campainha.)
O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - AM) – Eu peço só um minuto para concluir, Presidente. Agradeço.
Fazem um "filmeto", mandam para quem financia, conseguem dinheiro e acham que estão fazendo o bem, porque ajeitaram a vida de dez famílias. O Fundo Amazônia se vangloria de ter atendido 167 mil pessoas na Amazônia. A Amazônia tem 24 milhões de pessoas. O Fundo Amazônia arrecadou 3 bilhões.
Eu não posso, não devo, reafirmo aqui sempre: não me tomem por presunçoso, por falta de humildade; não me tomem por nada disso, mas, quando eu falo desta tribuna, eu estou falando com orgulho, sim, porque esse povo é rico, na floresta, na biodiversidade de forma geral, é rico no que tem, é rico no que pisa, mas é pobre no que usufrui. Quando falo em nome deles, eu não posso, não devo aceitar favor. Quando eu falo dessa estrada que não está asfaltada, eu não estou pedindo que a asfaltem, por favor, porque nós somos coitadinhos, não. Eu estou dizendo: "Façam essa estrada, porque nós somos brasileiros como vocês. Nós somos índios brasileiros, usados e utilizados por ONGs internacionais que fazem de nós meros brinquedos para arrecadar dinheiro e para ficar com a consciência tranquila".
Mais uma vez eu peço a você, brasileiro, eu peço a você, brasileira, que sinta orgulho do Brasil na questão ambiental. Não baixem a cabeça quando nos acusam de maltratar o nosso meio ambiente. Ainda conservamos mais do que eles. O Brasil é o país que mais preserva a sua floresta. A Europa e os europeus não têm mais nada a preservar, ficam replantando. E nós, da Amazônia, não podemos ser coitadinhos. Nós recusamos esse papel de coitadinho.
Nós não vamos desmatar, nós não vamos destruir para chamar sua atenção, para que você olhe para a gente, sinta pena e ajude. Não, não. Não quero que sintam pena da gente. Eu quero que nos respeite. Esse povo que eu mostrei, essa índia que eu mostrei, amamentando sua filhinha na lama, em cima de uma tábua para andar na lama, onde o carro não passa, ela, sim, merece o respeito, a dignidade, o resgate da sua dignidade. Como? Tendo os mesmos direitos que você tem. Você está aí, com o seu celular, você está aí com o seu carro, com a sua energia, com a sua água potável, e eles não.
Por que eles não, Presidente Dário? Porque alguns órgãos ambientais internacionais dizem que não, que não podem mexer porque, senão, vai prejudicar o clima internacional, prejudicar o resto do Planeta. Sim. E o nosso prejuízo? E querem que conservemos o que aí está, que Deus nos concedeu, nossos bens naturais.
Eu sou contra conservar. Eu sou a favor, sim, de proteger e de preservar.
Portanto, falo e falo, sim, em nome sempre daqueles meus conterrâneos que vivem longe. São Gabriel fica a mais de mil quilômetros de Manaus. São dias de barco. O meu Município fica ainda mais longe. E é esse povo que não tem condições. Uma estrada de 207km, que foi aberta, é lama, como eu lhe mostrei, Presidente. É lama.
O meu povo é de São Gabriel. E reitero sempre: a região mais rica do Planeta não usufrui de nada. Lá em Cucuí, esse negócio de internet, esquece; televisão, esquece. São Gabriel, sim, há alguma coisa. E, em São Gabriel, há o maior índice eu acho que do mundo inteiro de jovens que se suicidam, de jovens indígenas que se suicidam. Saem das aldeias, vão para as cidades, não têm emprego, não têm renda, caem no alcoolismo e se matam.
Mas as ONGs que eu combato, não as ONGs sérias, são aquelas que preferem dizer que compraram floresta na Amazônia, que estão ensinando o povo da Amazônia a plantar e a colher. Ora! Nos ensinar a plantar e a colher? Se a Amazônia fosse na Europa, já estava destruída. A sorte é que a Amazônia é nossa, e nós sabemos conviver e preservar. E, agora, querem nos ensinar: "Não, vocês têm que fazer assim". Aí é que está o perigo, Presidente Dário: as ONGs internacionais que exercem influência, Veneziano, nas ONGs nacionais financiam, mas, para financiar, elas impõem o que elas criaram, o que elas imaginaram que é bom para nós. E ninguém vai me dizer o que é bom para mim na minha casa. Não vai. Não vai.
Eu estou aqui falando com esta arrogância toda porque foi assim que eu falei na campanha. Foi isto que eu disse que viria dizer: os amazônidas não querem, não toleram esmola. Não estou aqui de pires na mão. Eu estou aqui exigindo justiça e denunciando, a cada dia, a cada minuto, esses crápulas, essa histeria que há por aí, esses cínicos que dizem defender uma coisa, mas não abrem mão do que é bom. Não abrem mão de sua energia, de seu avião, do seu celular, mas querem que todos nós abdiquemos disso. Não vamos. Não vamos. Eu tenho sete anos aqui para continuar dizendo isso aqui todos os dias.
Por isso, eu peço sempre a compreensão dos senhores e das senhoras.
Obrigado, Presidente.