Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 33, de 2020, que permite a recondução dos membros das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Elogios ao Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pela condução da Casa.

Autor
Rose de Freitas (PODEMOS - Podemos/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Considerações sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 33, de 2020, que permite a recondução dos membros das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Elogios ao Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pela condução da Casa.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/2020 - Página 104
Assunto
Outros > SENADO
Matérias referenciadas
Indexação
  • REGISTRO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), RECONDUÇÃO, MEMBROS, MESA DIRETORA, CAMARA DOS DEPUTADOS, SENADO, ELOGIO, DAVI ALCOLUMBRE, PRESIDENTE.

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES. Para discursar. Por videoconferência.) – Presidente, antes de mais nada, nós estamos encerrando realmente o ano. Eu acho que V. Exa. vai ficar na história desta Casa como uma pessoa que fez uma diferença enorme.

    Eu estou no oitavo mandato. Já enfrentamos a elaboração da Constituição Federal e, acredite, naquele quadro – eu fiz parte da comissão de sistematização. Fui a primeira mulher Vice-Líder no Congresso –, passamos por muitos momentos de muitos debates acalorados, momentos de enfrentamento de grupos ideológicos. Tinha o centrão, tinha a sistematização.

    Mas quero dizer a V. Exa. que me ocorre – eu estava ouvindo a sessão, ouvindo o Wellington, ouvindo as outras pessoas se pronunciarem, meus colegas – que eu não poderia deixar de lhe dizer uma coisa que vai ficar no registro da minha vida política por ter convivido em um momento em que um homem faz a sua diferença pelas suas atitudes. Homem ou mulher.

    V. Exa., quando sentou naquela cadeira, de uma maneira que eu me lembro que me incomodava lá embaixo, se assenhorou daquele assento e disse: "eu vou enfrentar essa batalha, eu vou enfrentar essa luta". Foi a sua convicção – e a sua convicção, acredite, Senador e Presidente Davi Alcolumbre, fez uma diferença enorme – que me levou a fazer uma coisa que eu possivelmente não fizesse em outra circunstância. Mas em função do que, no momento institucional, V. Exa. representava e representa até o momento de agora, eu apresentei a PEC da reeleição.

    Por que apresentei a PEC da reeleição? Porque já disse que não vi cenários parecidos. Eu enfrentei uma ditadura. Não vi cenário parecido com os que eu vi recentemente na Esplanada dos Ministérios e neste País. Palavras que nós quisemos sepultar, esquecer, uma perda da liberdade, como perda da democracia, ameaças às liberdades e à plenitude da democracia construída com tantas vidas, com tanto sacrifício.

    E V. Exa. sentou-se nessa cadeira, já eleito, com um voto de diferença, e fez uma diferença enorme. Muitas diferenças também de não atender telefones, de não dialogar permanentemente, mas de construir o que era importante para este País.

    Sabe que as pessoas conhecem Davi Alcolumbre, como Presidente do Congresso Nacional, como não conheceram outros. Ou, se conheceram outros na mesma intensidade, tinham com eles uma grande divergência de conduta, de comportamento. Mas, quando o Senador e Presidente Davi Alcolumbre sabia que havia uma matéria refém, uma matéria guardada nos cantos da Casa, sob articulações outras que não frequentavam as páginas dos interesses do País, V. Exa. vinha e se apropriava novamente da cadeira, agora com todo direito, e dizia: "vou resolver". Esse "vou resolver" faz-me pensar com muita pena que não será V. Exa. que o sucederá novamente.

    Houve uma matéria no Estadão que falou da delicadeza deste momento institucional. Quantas coisas nós estamos vendo. Eu nunca pensei, como política, que eu fosse estar brigando por uma vacina, que eu fosse lembrar ao Presidente da República, ou a quem quer que seja, que está na Constituição o papel do Estado.

    V. Exa. cumpriu o seu papel constitucional ao presidir esta Casa de uma maneira... E V. Exa. sabe o papel que exercerá para ajudar a fazer essa transferência e fazer o sucessor nesta Casa. Não será como foi o Davi Alcolumbre. Não estou dizendo que ninguém tem as suas qualidades, não estou dizendo que ninguém fará um papel, mas V. Exa. fez com a primazia de quem conhece a vida além da sua idade, de quem conhece as dificuldades do que é conquistar uma pauta pelo diálogo, construir a coesão política para passar para o momento seguinte com uma conquista.

    E assim foi na questão dos Estados e Municípios e em muitos outros momentos. E na questão do Fundeb agora. Parece que só dependeu única e exclusivamente do Relator. Não! Mais uma vez, da sua maneira de agir, que tem que levar por toda a vida.

    Provavelmente eu não estarei viva quando estiver em outros cargos, que eu espero poder estar apenas apreciando, mas quero dizer obrigada em nome das mulheres; quero dizer obrigada em nome daquelas parcelas da sociedade que normalmente são escondidas e esquecidas. V. Exa. se lembrou de tudo isso.

    Eu conheço a sua história de vida, conheço o seu amor pela sua família, conheço seu respeito pelos seus colegas e conheço seu respeito pela instituição de poder. Respeitar a instituição de poder é exercê-lo todo dia, democraticamente e altaneiramente, e isso V.Exa. fez como ninguém.

    Eu me sentei, na Constituinte, ao lado de Ulysses, ao lado de Covas, de Fernando Henrique, de grandes nomes da política que, muitas vezes, não conseguiram fazer coisas tão importantes quanto as que V. Exa., chegando agora, tão recentemente, nesse curto espaço de tempo, em dois anos, fez.

    Muitas vezes eu deixei de ligar, deixei de mencionar, mas tive vontade de dizer algumas coisas. Acho que, algumas vezes, consegui, mas quero, finalmente, poder dizer. Faço isso em nome da minha família, faço isso em nome das minhas comunidades, do nosso povo. V. Exa., em dois anos, escreveu uma história que muitos tentaram, por décadas. Sinto tanto que não seja por mais dois anos para que a gente possa concluir essa etapa, que não sei como será concluída; não sei! Se tudo o que dizem sobre democracia, invasão do Supremo, fechamento do Congresso, se tudo ficou para trás, ótimo. Se não ficou para trás, acredite, V. Exa. fará falta; fará falta! Fará falta para entender, para dizer "então, vamos fazer o seguinte". E quando falava "vamos fazer o seguinte", todos nós voltávamos com o mesmo sentimento com que V. Exa. propunha: encontrar o momento da coesão, da união e da solução. Este País precisa de soluções. Não vá dizer que V. Exa. não pensa o quanto é preciso solução quando um gerador deixa de funcionar e quer olhar todos os outros Estados, porque amanhã um deles pode estar na mesma situação. Não vá dizer que não pensa que essa vacina tem que estar ao alcance de todos os brasileiros. Se fosse o Ministro da Saúde, Davi Alcolumbre iria dizer: "Espera aí, vamos conversar sobre isso."

    Então, o que posso dizer? Eu sempre disse, em praça pública, algumas vezes, o tanto que as pessoas, com tanto carinho, agradecem por coisas que são nosso dever. As pessoas, com tanto carinho, agradecem. Quantas vezes vou ouvir obrigado da minha boca e da de outros companheiros? Há um versículo de São Paulo que diz que muito será cobrado a quem muito foi confiado. Eu não lhe confiei o meu voto e não lhe cobrei exatamente por não lhe ter confiado o meu voto. Mas quando conquistou a minha confiança, quero lhe dizer que me senti recompensada de, com a minha história, chegar a ser Senadora da República. E quero dizer que também não vou deixar que escreva essa história sozinho, quero dizer-lhe que escreverei a minha. Olha, um belo dia um jovem disse a mim: "Vou ser Presidente do Senado." Olhei com desconfiança e acreditei com a minha esperança.

    Parabéns! São coisas pequenas dentro da grandeza dos momentos e são coisas grandes dentro dos momentos mais pequenos que fazem com que essa atividade política seja respeitada por todos. Nunca Davi Alcolumbre poderá ser desrespeitado por ninguém, porque cumpriu o seu dever, respeitou seus companheiros e serviu ao seu País. Sobretudo, soube fazer a boa política – que precisa ser feita por todos – a favor do Parlamento, que muitas vezes foi tão xingado, tão tripudiado. V. Exa. tem que se orgulhar.

    Posso lhe dizer que poderia ser sua mãe. Inclusive, foi uma coincidência tão grande estarmos nos falando assim... Meu filho hoje tem um jogo lançado no mundo inteiro, é um dos diretores da Marvel, eu o vejo a tanta distância, e quantas vezes eu falo como Davi Alcolumbre entrou na história do Parlamento. Ele, que já me viu tantas vezes tão crítica, arredia, disse assim: "Dia tal vai ser lançado um jogo que está sendo lançado no mundo inteiro. Quem entrar no link vai ver". E eu vou ver aquele garoto, que eu criei, trouxe para o mundo, lá, brilhando com o seu talento, porque é realmente talentoso. E eu disse para ele assim: "O Supremo não deu o direito à reeleição" – aliás, eu não concordava com esse instrumento mesmo – e ele disse assim: "Mas o Davi não é aquele bom Presidente?" Eu falei: "É". "Mãe, peça para votarem a PEC". Eu falei: "Mas não será votada".

    Então, no outro lado do mundo, um jovem começou a acompanhá-lo nas telas e soube ver, de longe, quem era o Davi. Com certeza, ele, que nunca gostou, porque sabe da minha história, da minha prisão, da minha tortura, sempre teve muito receio da política, talvez, tenha sido a única vez em que ele tenha olhado para o Brasil e tenha visto alguém contemporâneo, da sua idade, que esteja fazendo um papel tão bonito quanto Davi Alcolumbre fez. 

    Então, Senador Davi, Presidente do Congresso, Presidente do Senado Federal, eu tive uma grande honra de atravessar essa quadra da história do seu lado. Peço-lhe que, de longe, receba o meu abraço carinhoso e que, onde estiver, saiba que tem uma amiga que lhe admira muito – muito.

    Muito obrigada por tudo. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/2020 - Página 104