Discurso durante a 90ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Insatisfação com o texto aprovado pela Câmara dos Deputados da PEC nº 45/2019, que altera o Sistema Tributário Nacional e dá outras providências (Reforma Tributária).

Autor
Irajá (PSD - Partido Social Democrático/TO)
Nome completo: Irajá Silvestre Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Desenvolvimento Regional, Finanças Públicas, Processo Legislativo, Tributos:
  • Insatisfação com o texto aprovado pela Câmara dos Deputados da PEC nº 45/2019, que altera o Sistema Tributário Nacional e dá outras providências (Reforma Tributária).
Assuntos
Economia e Desenvolvimento > Desenvolvimento Regional
Economia e Desenvolvimento > Finanças Públicas
Jurídico > Processo > Processo Legislativo
Economia e Desenvolvimento > Tributos
Matérias referenciadas
Indexação
  • CRITICA, TEXTO, APROVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), ALTERAÇÃO, DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS, DESVINCULAÇÃO, RECEITA, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL (DF), MUNICIPIOS, EXTINÇÃO, IMPOSTOS, CONTRIBUIÇÃO, SUBSTITUIÇÃO, ALIQUOTA, DISTRIBUIÇÃO, ARRECADAÇÃO, APROVEITAMENTO, SALDO CREDOR, NORMAS, PERIODO, AUSENCIA, LEI COMPLEMENTAR, LEGISLAÇÃO, UNIÃO FEDERAL, CRITERIOS, COMPENSAÇÃO, VALOR, RECEITA TRIBUTARIA, CRIAÇÃO, CESTA DE ALIMENTOS BASICOS, DEFINIÇÃO, BENS, SERVIÇO, REDUÇÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, PROCESSO LEGISLATIVO, COMPETENCIA, Conselho Federativo do Imposto sobre Bens e Serviços, INICIATIVA, PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP), Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), RESSALVA, PRINCIPIO JURIDICO, ANTERIORIDADE, EFEITO, AUMENTO, TRIBUTOS, MEDIDA PROVISORIA (MPV), INICIO, TRAMITAÇÃO, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), JULGAMENTO, CONFLITO, NORMAS GERAIS, SISTEMA TRIBUTARIO NACIONAL, COOPERATIVA, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA, INCIDENCIA, FATO GERADOR, BASE DE CALCULO, ESPECIFICAÇÃO, REGIME JURIDICO, PRODUTO, COORDENAÇÃO, UNIFORMIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO, DIVISÃO, FUNDO NACIONAL, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS), FINANCIAMENTO, SEGURIDADE SOCIAL, COMPOSIÇÃO, FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BASICA E DE VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO (FUNDEB), GARANTIA, MEIO AMBIENTE, EQUILIBRIO ECOLOGICO, REGIME FISCAL, Biocombustível, REFORMA TRIBUTARIA.

    O SR. IRAJÁ  (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSD - TO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela TV e pela Rádio Senado, tocantinenses, esta sessão importante passa a ser um divisor, porque nós estamos praticamente encerrando o ciclo deste semestre, entramos agora num recesso chamado recesso branco e retomaremos as atividades daqui duas semanas, já no início de agosto.

    Mas o tema que me traz aqui, Sr. Presidente, é um tema que vem me preocupando pessoalmente e que vem também deixando milhões de brasileiros e brasileiras preocupados, um tema debatido amplamente no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, que é a tão sonhada reforma tributária, desejada, esperada. De forma meritória, nós precisamos aprovar de fato essa reforma, por mais de 30 anos aguardada aqui pelos brasileiros e brasileiras.

    Todos os brasileiros, Sr. Presidente, quase 220 milhões de brasileiras e brasileiros, pessoas de bem, brasileiros que querem melhorar de vida desejam uma reforma tributária que venha para simplificar a vida do cidadão.

    Todos nós concordamos com isto: com a simplificação e, acima de tudo, com que a cobrança aconteça no destino, nos municípios onde os serviços são prestados, onde os produtos comercializados. Esses são dois temas essenciais na reforma, aos quais todos, sem exceção – brasileiras, brasileiros, Parlamentares, Deputados e Senadores –, são favoráveis.

    Agora, nós somos contrários a uma reforma tributária que aumente impostos, e é disso que se trata essa reforma que foi aprovada na Câmara dos Deputados.

    Nós talvez teremos, Sr. Presidente, o maior IVA cobrado do mundo, de 25%, dos quais 9% serão destinados à União; e 16%, aos estados e municípios.

    Além disso, foi aprovada nesse mesmo texto da reforma tributária uma brecha que prevê a aprovação de novos tributos, de novas contribuições, por estados e municípios de todo o Brasil. Já não basta a gente ter uma alta carga tributária, um dos maiores impostos do mundo, e ainda há a admissibilidade, no texto, da possibilidade, Senador Heinze, de criar novos impostos no Brasil.

    Isso é indefensável. Isso é impraticável. Não é possível que agora, no Senado Federal, nós não tenhamos sabedoria e juízo para que a gente possa discutir essa proposta, avançar nos debates e, claro, entregar ao Brasil uma reforma tributária sonhada e desejada – não um pesadelo, não um filme de terror.

    E é este o pedido que eu faço, Sr. Presidente, aos colegas Senadores e Senadoras: que nós possamos, ao longo dos próximos meses, estudá-la com profundidade e possamos fazer as modificações e os aperfeiçoamentos que são necessários. Nós não podemos admitir que sejam cometidas injustiças ou imperfeições nessa matéria tão importante e essencial para a nossa economia.

    Há três décadas, Sr. Presidente, no mínimo, a reforma tributária vem sendo discutida no Congresso Nacional. Finalmente, neste mês, aprovado na Câmara dos Deputados, o texto da reforma, chamada PEC 45, de 2019, chega aqui a esta Casa.

    A aprovação da PEC 45 é motivo, sim, de comemoração por todos nós, mas também é uma fonte de muita preocupação, especialmente quanto ao provável aumento de carga tributária para determinados setores econômicos e possíveis impactos negativos para a sociedade.

    É fato que o Brasil precisa reduzir a complexidade do sistema tributário. Em média, nos 38 países que compõem a OCDE, esses 38 países gastam em torno de seis dias, dos 365 dias que temos no ano, para poder cuidar da burocracia, que é a preparação dos impostos, a prestação de contas junto à Receita Federal, todo o ordenamento tributário que nos exige. No entanto, Sr. Presidente, no nosso país, nós gastamos 62 dias. É dez vezes mais do que gastam os países emergentes da OCDE para fazer exatamente a mesma tarefa. É um absurdo que precisa ser corrigido. E a reforma veio justamente para ajudar a construir um sistema tributário mais simples, mais eficiente e, acima de tudo, mais transparente para o país.

    No entanto, colegas Senadoras, colegas Senadores, é nossa obrigação analisar criteriosamente o texto, para corrigir potenciais distorções na reforma. Temos que trabalhar com um grande objetivo em mente: a carga tributária total que os brasileiros pagam não pode, de modo algum, aumentar. Simplificar é importante, mas isso não pode servir de pretexto ou mesmo de desculpa para que a gente aceite passivamente o aumento de impostos no Brasil.

    Para se ter uma ideia, a proposta aprovada na Câmara prevê a criação um nome chamado IVA Dual, que é a criação da CBS, que é a Contribuição sobre Bens e Serviços, que unifica os três impostos federais, o PIS, a Cofins e também o IPI. Além disso, o IVA Dual reflete a criação do IBS, que é o Imposto sobre Bens e Serviços, que é justamente o ICMS, cobrado nos estados, e também o ISS, cobrado nos quase 5,5 mil municípios.

    Ela ainda inova com a previsão do aumento sobre o ITCD, que é o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação – quando a pessoa morre por alguma razão e precisa transferir os seus bens, o seu patrimônio para os seus herdeiros – e que hoje custa em torno de 4% – há uma variação entre os estados da Federação, mas essa é a média hoje praticada. Esse mesmo texto da PEC prevê que essa cobrança possa ser de até 8%, ou seja, é o dobro do que está sendo praticado no momento.

    Cria ainda o imposto seletivo, com o que passamos a tributar, até de uma forma justa, coerente e equilibrada, mais esses produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, como bebidas alcoólicas, como tabaco, e ainda prevê a tributação reduzida, que é uma tabela especial, das áreas que são também sensíveis, como a educação, a saúde e o transporte, em que haverá um abatimento de 60% sobre a alíquota prevista de 25% do IVA.

    Segundo o texto que tramita aqui no Senado, setores importantes da nossa economia podem ser penalizados, como é o setor, por exemplo, de serviços, um dos setores que mais empregam no país. Infelizmente, com o texto que chegou ao Senado Federal, será o setor mais prejudicado. O maior empregador do Brasil será o setor mais punido com a reforma que se encontra aqui hoje. A reforma, tal como está escrita, vai fazer com que as empresas do turismo, por exemplo, deixem de pagar entre 14% e 17% e passem a pagar 25%, Senador Heinze, um aumento de 60% da carga tributária.

    Os brasileiros de classe média e os demais, de baixa renda, que são a grande maioria em nosso país, vão sentir as mudanças das formas mais expressivas na hora em que aumentarem os preços dos bens e serviços. Afinal de contas, todos nós consumidos, no dia a dia, bens e serviços – todos, sem exceção.

    Isso é inadmissível.

(Soa a campainha.)

    O SR. IRAJÁ  (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSD - TO) – Ninguém aguenta mais pagar uma carga tributária tão alta como a que já vem sendo praticada aqui no Brasil.

    A reforma tributária não pode se tornar, Sr. Presidente, uma injustiça tributária.

    Nesse segundo semestre, temos que fazer uma análise criteriosa e profunda da PEC da reforma tributária. A tramitação aqui no Senado tem como obrigação corrigir essas distorções, revisar os processos de simplificação, observar as mudanças de alíquotas, analisar corretamente as isenções.

    Outra questão importante é a dos estados e a dos nossos municípios. Quais são os impactos e o papel de cada um deles, nesse contexto?

    Com a reforça tributária, o país tem que gerar empregos, melhorar a renda das famílias, combater a sonegação, incentivar o crescimento das empresas e melhorar a arrecadação, garantindo os recursos necessários para as políticas e serviços públicos em todo o Brasil.

(Soa a campainha.)

    O SR. IRAJÁ  (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSD - TO) – Nós não podemos, Sr. Presidente, ter aprovada no Senado Federal, numa PEC, a reforma tributária mais abstrata que já existiu – pelo menos nos meus 12 anos de Congresso Nacional: dois mandatos como Deputado Federal e, agora, no Senado da República. É uma PEC cujo texto menciona por 57 vezes "lei complementar". É como se a gente estivesse dando aqui um tiro no escuro, sem saber o que vem por aí.

    Nós precisamos, nós temos o dever e a obrigação de elucidar esse texto definindo critérios claros, objetivos, porque a população brasileira não merece pagar mais impostos. Simplificação, sim. A reforma que nós queremos é uma reforma que simplifique a vida do cidadão, que melhore a qualidade de vida das pessoas. Para uma reforma tributária que aumente imposto, não, não contem comigo.

    Muito obrigado, Presidente.