Discurso durante a 107ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da independência do Banco Central, com denúncia de possível tráfico de influência entre setor público e bancos privados, além da exigência de mais mecanismos de controle, transparência e responsabilização. Manifestação de apoio ao Projeto de Lei Complementar nº 144/2025, que amplia para quatro anos a quarentena do Presidente e dos Diretores do Banco Central após o exercício do cargo.

Autor
Soraya Thronicke (PODEMOS - Podemos/MS)
Nome completo: Soraya Vieira Thronicke
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Administração Pública Indireta, Agentes Políticos, Cargos e Funções Públicos, Sistema Financeiro Nacional:
  • Defesa da independência do Banco Central, com denúncia de possível tráfico de influência entre setor público e bancos privados, além da exigência de mais mecanismos de controle, transparência e responsabilização. Manifestação de apoio ao Projeto de Lei Complementar nº 144/2025, que amplia para quatro anos a quarentena do Presidente e dos Diretores do Banco Central após o exercício do cargo.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2025 - Página 17
Assuntos
Administração Pública > Organização Administrativa > Administração Pública Indireta
Administração Pública > Agentes Públicos > Agentes Políticos
Administração Pública > Organização Administrativa > Cargos e Funções Públicos
Economia e Desenvolvimento > Sistema Financeiro Nacional
Matérias referenciadas
Indexação
  • DEFESA, INDEPENDENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), TRANSPARENCIA, PRESTAÇÃO DE CONTAS, DENUNCIA, TRAFICO DE INFLUENCIA, SETOR PUBLICO, BANCOS, INICIATIVA PRIVADA, AUSENCIA, CONTROLE, FISCALIZAÇÃO, DIRETORIA, AUTARQUIA FEDERAL.
  • DEFESA, PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP), ALTERAÇÃO, LEI FEDERAL, LEI COMPLEMENTAR, AUMENTO, PERIODO, PROIBIÇÃO, PRESIDENTE, DIRETOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), EXERCICIO PROFISSIONAL, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, PARTICIPAÇÃO, CONTROLE SOCIETARIO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, CORRELAÇÃO, CARGO PUBLICO, ATUAÇÃO, CONSELHEIRO, ADMINISTRADOR, CELEBRAÇÃO, CONTRATO, EXECUTIVO, CONFLITO DE INTERESSES, HIPOTESE, EXONERAÇÃO, DEMISSÃO, EXTINÇÃO, MANDATO.

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MS. Para discursar.) – Sr. Presidente, na sua pessoa cumprimento todos os colegas e as colegas, servidores e servidoras desta Casa, cumprimento também toda a população brasileira que nos assiste.

    Eu hoje subo a esta tribuna para falar de um tema que define literalmente o futuro da nossa nação: a verdadeira independência do Banco Central do Brasil. A sua autonomia foi votada aqui, mas a sua autonomia ainda não é plena, infelizmente – as pessoas pensam que sim, mas não é. É tal qual na reforma da previdência, que todo mundo pensa que nós resolvemos, e a população mal sabe que a conta ainda vai chegar, nós não resolvemos o problema. Então, muitas vezes, a gente vota aqui, a população acha que algo foi feito e no fundo, no fundo, não, não está resolvendo.

    Em relação à independência do Banco Central, essa independência deve servir ao povo brasileiro e não aos interesses escusos do grande capital financeiro. Falam em autonomia e independência técnica, e daí eu pergunto: independência de quem, autonomia para quê? O que temos visto, na verdade, é uma perigosa confusão em que a bandeira da independência técnica é usada como um escudo para proteger uma elite que não quer ser supervisionada, que não quer prestar contas a absolutamente ninguém.

    E aí eu digo a vocês: a autonomia não é e nunca será sinônimo de ausência de regras. A gente fala em democracia, mas a gente não fala em liberdade total, pois tudo tem regras, não é anarquia, essa é a diferença. Então, sim, é autonomia com regras. Na verdade, é o cumprimento rigoroso das regras que fortalece uma instituição e lhe confere a legitimidade que ela precisa para operar.

    E não se enganem: a credibilidade do Banco Central não nasce da arrogância de tecnocratas que se julgam acima do bem e do mal. Ela nasce, sim, da transparência, da responsabilidade e da certeza de que cada decisão proferida é tomada no melhor interesse da nação.

    Falhas individuais comprovadas e desalinhadas do interesse público não podem ser varridas para debaixo do tapete. Elas exigem respostas institucionais claras, firmes e imediatas. É isso que garante a previsibilidade ao mercado e a estabilidade do nosso sistema financeiro e não a blindagem de indivíduos que falharam em suas missões.

    E o que dizer, senhores, da vergonhosa porta giratória que transforma o Banco Central em um mero trampolim – mero trampolim! – para os altos escalões dos bancos privados? Um diretor sai do Banco Central, Presidente, e, em míseros seis meses, já pode estar sentado na cadeira de um grande banco, vendendo, a peso de ouro, as informações e os contatos que acumulou enquanto servia ao Estado. Isso, sim, é um escândalo. Nós precisamos olhar para isso e avisar toda a população brasileira de que isso acontece. Então, é a legalização do tráfico de influência.

    Por isso, defendo aqui – e espero ser acompanhada pelos colegas –, com unhas e dentes, a nova lei que estende essa quarentena para quatro anos. É o mínimo que podemos fazer para proteger a nossa economia da ganância de poucos.

    E quem ousa criticar essa medida? Quem vai ousar? Quem é que se levanta contra o fortalecimento desse sistema? Na verdade, são os mesmos de sempre: os porta-vozes dos grandes bancos, aqueles que lucram com a fragilidade do Estado e com a falta de controle. Há muita falta de controle, e não estou falando só do Banco Central aqui.

    No caso, em tese, eles nos dizem que o Congresso, que tem a responsabilidade de sabatinar – na verdade, o Senado Federal – e aprovar a entrada de um diretor, não pode ter o poder de removê-lo, mesmo diante da conduta inadequada comprovada. Que lógica é essa? É a lógica de quem quer um poder sem fiscalização, um cheque em branco para fazer o que bem entender. Se o Senado tem o poder de dar, de empossar alguém neste mandato, ele precisa ter o poder de tirar quando a confiança é quebrada.

    Estive, dias atrás, na posse dos novos indicados para as agências reguladoras, e o Presidente Lula disse algo interessante no final. Ele disse o seguinte: "Agora todos estão empossados. É lógico que vocês dependeram de listas e de pessoas. Quando os nomes passaram por aqui, eu indiquei, no meio de tantos outros profissionais. Daí vocês foram fazer aquele périplo pelo Senado e pediram para um, pediram para outro, foram recebidos por uns e outros, uns ajudaram mais, outros ajudaram menos, mas eu quero dizer agora que [o Presidente Davi estava presente], a partir de agora, vocês não devem – eu quero deixar muito claro – nada para mim, nada para nenhum Senador, nada para o Presidente Davi. É assim que tem que ser, vocês devem para o povo brasileiro".

    Por isso é que é mandato – mandato –, porque, se fosse uma simples nomeação, a pessoa poderia ser exonerada. O mandato é para que ela mantenha a técnica. E o que foi visto recentemente, e não vou citar, foram casos parecidos de outras agências também: o técnico nomeado preocupado com o que a política vai pensar, com o que o povo vai pensar. Esse técnico tem que ser técnico, simples assim.

    É por isso que existe uma maior dificuldade em removê-lo do cargo. No caso, quando cometer algum crime de responsabilidade, há na lei já umas quatro hipóteses, mas isso precisa ser revisto. E eles têm que ter a verdadeira noção de que eles devem prestar o serviço para a população brasileira e, além de tudo, proteger a nossa nação, num momento em que estamos tão vulneráveis para tantas coisas.

    Então, o que está em jogo aqui é a soberania do nosso país. É a nossa capacidade de decidir o nosso próprio destino econômico, livre da interferência de interesses que não são os do povo brasileiro.

    Fortalecer os mecanismos de controle e responsabilização do Banco Central não é enfraquecê-lo. É torná-lo mais forte, mais resiliente e, acima de tudo, mais brasileiro.

    Que fique bem claro: quem se opõe a essas mudanças não está defendendo a independência do Banco Central, como foi feito lá atrás. Na verdade, ele não é independente porque não tem nem autonomia financeira. Que independência é essa? Que autonomia foi dada?

    Quem for contra está defendendo, na verdade, o controle dos grandes bancos sobre o Banco Central. Está defendendo...

(Soa a campainha.)

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MS) – ... os seus próprios privilégios em detrimento do futuro de mais de 213... 214 milhões de brasileiros.

    E a isso nós dizemos, eu digo aqui e vou lutar com unhas e dentes: basta disso. Basta.

    Nas sabatinas aqui, parece que nós somos feitos de palhaços. A verdade é essa. A verdade é essa, porque, depois, a pessoa fica vinculada a dever favor para a indicou e esquece da técnica.

    Eu já vi diretores de agências reguladoras e sabatinados aqui dizendo o seguinte: "Olha, eu concordo com você, porém o momento político não é adequado". Que momento político?

    Então, num momento em que se fala tanto em soberania, tanto em proteção, tanto em vulnerabilidade...

(Soa a campainha.)

    A SRA. SORAYA THRONICKE (Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - MS) – ... nós precisamos, sim, tomar pé disso e não permitir que uma pessoa possa sair do seu mandato no Banco Central e, daqui a pouco, estar sentado como diretor-presidente de um grande banco e passar informações.

    Então, peço aos senhores atenção redobrada para esse assunto em prol do nosso país.

    Obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2025 - Página 17