Discurso durante a 16ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a PEC nº 187/2019, que trata da extinção dos fundos públicos. Defesa da manutenção do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. Necessidade de investimento em inovação tecnológica na construção civil com expectativa de aumento de produtividade, redução de desperdícios e retomada de crescimento do setor.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Considerações sobre a PEC nº 187/2019, que trata da extinção dos fundos públicos. Defesa da manutenção do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. Necessidade de investimento em inovação tecnológica na construção civil com expectativa de aumento de produtividade, redução de desperdícios e retomada de crescimento do setor.
Aparteantes
Eduardo Girão, Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2020 - Página 33
Assunto
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Matérias referenciadas
Indexação
  • COMENTARIO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), EXTINÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, FUNDO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES (FUST), EDUCAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, BANDA LARGA, INTERNET, DEFESA, MANUTENÇÃO, FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO E TECNOLOGICO (FNDCT), INVESTIMENTO, INOVAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, CONSTRUÇÃO CIVIL, PRODUTIVIDADE, CRESCIMENTO, QUALIDADE, EMPREGO, ECONOMIA.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Plínio, quero cumprimentar também aqui o nosso querido Styvenson e o Girão.

    Sr. Presidente, ontem, na Comissão de Constituição e Justiça, nós tivemos uma longa discussão sobre a PEC 187, de 2019, que trata da extinção dos fundos públicos, de um modo geral. E, para quem nos assiste e não conhece bem esses fundos: os recursos desses fundos são usados para projetos, programas importantes de vários setores, tais como de ciência e tecnologia, segurança, trabalho. É óbvio que são 280 fundos, e alguns deles são completamente contingenciados, como é o caso do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que, em princípio, era para universalizar os "orelhões", que já nem existem mais, mas, em compensação, o dinheiro está lá, quase R$30 bilhões.

    Quando eu entrei na Câmara Federal, a primeira coisa que fiz foi apresentar um projeto para que esse recurso pudesse ser destinado à colocação de banda larga nas escolas, implantar tecnologia nas escolas. Nós apresentamos o projeto em 2011 – já havia outros projetos tramitando, como há vários –, mas ele nunca foi aprovado, e, consequentemente, o recurso está lá. Então, são mais de R$200 bilhões. Mas você não pode dar um tratamento igual para coisas diferentes. Então, há fundos e fundos. Então, no caso do fundo nacional de ciência, tecnologia e inovação, o mundo todo – eu sempre falo isto aqui – investe cada vez mais em ciência e tecnologia, principalmente na crise. No Brasil, é o contrário: quanto maior a crise, menores os recursos. É tanto que temos hoje praticamente muito pouco recurso para ciência e tecnologia.

    Então, quando eu fiquei sabendo do parecer do Senador Otto Alencar, que fez um belo relatório, mas que propunha a extinção do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), da ciência e tecnologia, eu fui para lá, para a reunião da CCJ, e pedi ao Relator que esse fundo, especificamente, fosse mantido. Nós não podemos desamparar a pesquisa, a inovação e a tecnologia porque é por meio delas que conseguiremos mais desenvolvimento para o nosso País. Está aí a questão do coronavírus, da dengue... Em Brasília, no ano passado, 62 pessoas morreram de dengue. Até este mês, já são mais de 2 mil pessoas com dengue no Distrito Federal, a Capital da República. Imaginem como está isso no resto do Brasil!

    Agora, quem descobriu essa questão do zika vírus foi um pesquisador brasileiro. Agora, com o coronavírus, está todo mundo assustado, o mundo todo, a economia com sérios problemas... Esse pessoal acha que a solução vem da noite para o dia, e não é verdade. Se você não investir em pesquisa, ciência e tecnologia, a gente não vai a lugar algum.

    Nós estamos falando aqui de educação e, inclusive, hoje, pela manhã, eu tive uma reunião. Eu estou fazendo reuniões nas cidades com os diretores de escola, que são quem sabe fazer educação. Quem tem condição de fazer com que a escola funcione bem é o diretor: 70% de uma escola está na mão do diretor. Se o diretor é bom, se ele consegue agregar as lideranças, se ele consegue realmente sensibilizar a comunidade, a escola funciona muito bem – evidentemente tendo uma estrutura mínima pelo menos. Mas a gente, normalmente, não privilegia, realmente não dá nenhuma assistência para os diretores. Só quem conhece os diretores de escola é que sabe: eles dão tudo que podem para a escola funcionar. Compram fiado, compram com o dinheiro deles, saem correndo pedindo, vendendo rifa, fazendo tudo para a escola funcionar; e, muitas vezes, não têm esse reconhecimento.

    Hoje, de manhã, eu tive, na escola lá, no Guará, uma reunião com todas as escolas de ensino especial. Nós temos em Brasília 14 escolas, que são escolas invisíveis, ninguém sabe o trabalho que eles fazem. Não vou nem falar do Governador, porque esse nunca... Mas nem secretário, nunca foi numa escola dessas. E são escolas que têm todo tipo de criança, com todas as deficiências possíveis. O que você imaginar você tem nessas escolas. São invisíveis. As pessoas não... Vi, agora, uma delas, por exemplo, que tinha 187 alunos: com deficiência havia vários, mas havia uns alunos precoces, que têm que ter um atendimento especial. Eram 187 alunos, e a escola não recebia recurso nenhum, porque dizem que esses alunos não fazem parte do Censo e tal. Então, é uma coisa absurda. Você não faz ideia.

    Eu até tinha colocado... Eu vi um ônibus especial para essas escolas no ministério e disse assim: "Poxa, eu vou botar o recurso, um para cada uma, para comprar pelo menos um ônibus". E coloquei. Só que, quando eu conversei para colocar direto na escola, eles acharam melhor – e eu concordei – que, em vez de comprar o ônibus, cada um fizesse a reforma que eles achassem prioridade – como uma piscina, porque há alunos que precisam disso, ou uma reforma de um ambiente diferenciado. Mas nunca houve, nos últimos, sei lá, 15 anos, 20 anos, alguém que conversasse com eles para saber como é que estão as escolas, como é que funcionam, do que estão precisando.

    Então, são invisíveis. Por quê? Porque são 14. E, no meio de 500, é mais uma.

    Eu me lembro de que, quando eu fui Secretário, nós tínhamos aqui, em Brasília, três escolas técnicas, que eram desse contexto todo e que eram boas escolas. Eu avoquei – eu fui Secretário de Ciência e Tecnologia –, puxei para a ciência e tecnologia a educação profissional, essas três escolas – a Escola Técnica de Brasília, a Escola Técnica da Ceilândia e a Escola de Saúde de Planaltina –, e a gente passou a ser "as escolas". Então, só eram elas na nossa secretaria. Então, a gente teve, evidentemente, um tratamento diferenciado. Agora, no meio de 500, ela será apenas mais uma, como é o caso das escolas de educação especial.

    Então, a gente precisa, realmente, dar uma atenção maior a essa questão de educação. E disse: na questão da formação, nós temos aí um problema. Eu conversei com o Governo Rollemberg, Governo passado, no início do Governo. Eu disse a ele que nós tínhamos que cuidar da questão de formação de professores.

    Nós temos em Brasília, talvez, uma das melhores escolas do Brasil de Medicina. Na escola de Brasília, que é uma escola distrital, o aluno vai para o hospital no primeiro semestre. Passou no vestibular, no primeiro semestre, o aluno já está dentro dos hospitais, ele vai para dentro do hospital; e os professores são os médicos. É lógico que o Ministério Público questionou isto: "Não, tem que haver um concurso específico, porque o cara é médico, não pode dar aula", umas coisas absurdas assim que acontecem no nosso País.

    E eu disse no Governo passado: "Olha, nós temos que fazer uma escola para o magistério da mesma forma. Nós temos 600 escolas. Por que não colocar os alunos de magistério também no primeiro semestre dentro das salas de aula para terem experiência? Como havia antes o magistério – porque acabaram com o magistério – quando o aluno que fazia o curso de magistério ia para a sala de aula para ganhar experiência. Hoje, não; o menino termina pedagogia na faculdade, não tem a mínima noção e é colocado em uma sala de aula com 40 alunos.

    E o mais grave agora... É uma crítica, porque é a realidade, mas ainda é uma das melhores do Brasil. Não sei nem se, nos outros Estados, há o que há em Brasília, que é a escola inclusiva. Então, os alunos com alguma deficiência participam das aulas normalmente, com os alunos sem deficiências. Mas havia um concurso público para monitores, porque é óbvio que tem que ter gente auxiliando, e não chamaram ou chamaram poucos alunos. Depois, criaram o artifício do educador social. Não sei quantos mil alunos, cerca de 5 mil alunos foram contratados. Em seguida, reduziram pela metade e, já agora, para menos da metade.

    E, aí, como é que faz? Você coloca um professor como esse, que saiu da faculdade, que não tem experiência nenhuma em sala de aula, coloca 40 alunos em sala e ainda coloca quatro, cinco ou seis alunos que têm deficiência, e não há uma pessoa para acompanhar. Como é que esse professor vai dar alguma coisa? Não tem a mínima condição.

    Então, a gente precisa rever essa questão não só da infraestrutura de construção de escolas, de dar condições de funcionamento, mas também o modelo educacional, que já está muito ultrapassado, um modelo do século XIX, como já disse aqui.

    Mas, voltando à questão dos fundos, eu pedi ao Relator que fosse mantido o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A gente não pode esquecer que, sem inovação, sem tecnologia, a gente não vai a lugar nenhum.

    E o pior: nós não estamos preparando os nossos jovens para esse novo momento do fim dos empregos. Já, já não haverá mais advogados, contadores, mais nada. Hoje você tem um computador da IBM, um software, que chama Watson, para a qual você dá o problema e, em três minutos, ele devolve uma peça com 99% de chance de ganhar a ação. E por quê? Porque tem toda a jurisprudência.

    Então, a tendência de muitas profissões – e acredito que mais da metade das atuais –, nos próximos dez anos, é acabar. Agora, os nossos alunos estão sendo preparados para enfrentar esse novo momento da tecnologia se eles não têm acesso à tecnologia na escola?

    Aqui, na Capital, o pessoal fala muito em banda larga nas escolas. Pode ser que haja banda larga do lado de fora das escolas, mas dentro das escolas não há banda larga alguma, em nenhuma escola! Como é que você vai botar tecnologia e robótica dentro de uma sala que não tem nem internet?

    O diretor, muitas vezes, para fazer alguma coisa, ainda compra... Sabem quanto ganha um diretor hoje de escola de 1ª a 4ª ou de 5ª a 8ª? Ganha R$1,1 mil para ser diretor de escola. Isso não paga o telefone, o combustível que ele gasta, a responsabilidade que ele tem com o patrimônio e a responsabilidade que ele tem com a educação.

    Então, a gente precisa rever muitas coisas, mas essa área de tecnologia... Eu me lembro de que, quando eu fui aluno de escola pública aqui, eu ficava doido para ir à escola; era um prazer ir para a escola. Agora, vocês imaginem hoje, com cuspe e giz, sem tecnologia nenhuma... É um pesadelo. O aluno vai porque tem que ir. Estou falando de escolas públicas. Então, se a gente não investir em infraestrutura de tecnologia... E ainda querem acabar com o FNDCT. É um negócio maluco!

    Conseguimos, então, fizemos um apelo ao Relator, conversei com o Líder do Governo, falei com Senador por Senador que estava lá ontem, e, assim, depois, fechamos o acordo, tirando não só o da ciência e tecnologia, como também o da segurança, porque já tínhamos conseguido educação e saúde, e nada mais justo que colocar, manter ciência e tecnologia e também segurança pública. Então, a gente conseguiu esse mérito ontem.

    E eu tenho repetido aqui, nesta tribuna, que, nos países desenvolvidos, quanto maior a crise, maiores os investimentos em ciência e tecnologia. Então, eu fiz um apelo lá para que o fundo não fosse extinto, porque isso realmente seria um atraso para o Brasil, porque já estamos com sérios problemas na questão dos recursos.

    Nos últimos anos, os recursos destinados à ciência, tecnologia, pesquisa e inovação têm diminuído drasticamente, causando uma série de problemas com a interrupção de pesquisas. Há perda de cientistas que estão deixando o País em busca de melhores condições porque os projetos estão parados.

    Eu citei um exemplo, aqui, ontem: recebi agora um aluno que ganhou uma bolsa na Alemanha – agora – da Agência Brasileira de Aeronáutica. A agência deu a bolsa, são cinco anos, para doutor, só que, no contrato dele, ele é obrigado a ficar no Brasil – e com razão, não é, porque tem que pagar, tem que retribuir aquilo que recebeu do Estado –, só que o menino chega aqui e vai para onde? Não há emprego, não há colocação em lugar nenhum, e não deixam, porque está no contrato, ir para outro lugar, porque ele queria ficar na Alemanha, continuar na Alemanha, ou queria ir para os Estados Unidos, mas não pode porque está no contrato. Lógico que não ofereceram, mas eu o encaminhei para a agência, foi recebido lá... Mas vão colocá-lo onde? Em serviço terceirizado? Colocá-lo na limpeza? Doutor! Então, nós estamos perdendo cérebros. As pessoas que realmente querem pesquisar e investir nisso estão indo embora.

    Então, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é um instrumento importante para o fomento. Se existe hoje estrutura nas universidades, nos institutos de pesquisa... Estão inaugurando agora um sírio – eu estive lá – em Campinas: não existe nenhum instrumento como aquele no mundo! É o mais moderno do mundo! Foi feito com o quê? Com recurso. Lógico que para esse também havia o PAC, aquele programa que existia antes, o Programa de Aceleração do Crescimento, mas, se não fosse o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, também não teríamos nada.

    Então, é o único instrumento que nós temos, mas que também está sendo contingenciado. Por exemplo, ano passado, havia R$6 bilhões, e não liberaram nem R$1 bilhão, quer dizer, estão contingenciados. Nós até aprovamos, proibindo o contingenciamento, mas foi vetado.

    Eu falo aqui todo dia, toda hora, que a gente precisa ter um pouco mais de prioridade, não pode ficar só no discurso. Educação não se resolve com discurso, tem que ter recurso, ações, etc. Com a ciência e tecnologia, a mesma coisa.

    Está aí, cancelaram vários editais agora da Capes, de bolsas, que, por incrível que pareça, não têm reajuste há oito anos. Um cara, para fazer pós-graduação fora ou esses bolsistas de pós-graduação, R$1,6 mil, se não me engano; doutorado, R$2,5 mil... E olhem que é um contrato de dedicação exclusiva. O cara não pode nem trabalhar! Ele tem que fazer doutorado, ganhar R$2,5 mil e não pode trabalhar em lugar nenhum, porque tem que ser dedicação exclusiva. Então, são uns troços assim que não são prioridade, as pessoas não colocam... Todo mundo faz um discurso muito bacana de educação, ciência e tecnologia, mas, na prática, na hora em que vai falar em recurso...

    Bem, conseguimos chegar a um acordo, preservamos lá o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A Comissão acabou mantendo também o da segurança, porque o da saúde já tinha sido preservado.

    Mas, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, a importância da tecnologia e da inovação tem sido um assunto trazido aqui frequentemente por mim desta tribuna.

    Hoje eu quero falar... Vixe, mas já acabou meu tempo quase. Agora que eu vou começar a falar.

    O Senador Plínio vai me dar uns minutinhos a mais, porque eu acabei não falando o que eu ia falar.

    Então, hoje eu quero falar sobre o uso da tecnologia na construção civil, coisa que pode aumentar a produtividade, reduzir os desperdícios e elevar a eficiência dos processos nesse tão importante segmento da economia. Aqui em Brasília, é um dos principais para a geração de emprego. E, agora, graças a Deus, a coisa está retomando.

    Em tempos de forte competitividade, num setor que ainda está se reerguendo, o uso da tecnologia e da inovação pode fazer toda a diferença. As práticas inovadoras são um caminho para o crescimento e para longevidade do mercado da construção civil. Por isso algumas construtoras têm investido em inovação para mudar a forma como produzem e administram os seus serviços, de modo que possam responder às demandas de uma sociedade cada vez mais exigente e moderna. Essas empresas já perceberam que o futuro da construção é investir em inovação tecnológica, que permite baixar os custos, melhorar a competitividade do mercado e elevar a qualidade de vida e ainda promover mais responsabilidade ambiental e social.

    Nesse caminho, a tecnologia e a inovação podem ser utilizadas nos mais diversos processos, que vão desde a industrialização até a criação de produtos para atender novas demandas tanto na engenharia civil quanto na arquitetura.

    Uma pesquisa realizada pela consultoria Deloitte, uma empresa de assessoria tecnológica, envolvendo 270 empresas mostrou que 54% delas já têm estratégias voltadas à inovação tecnológica. O estudo apontou que 46% não possuem nenhuma estratégia nesse sentido, ou seja, quase metade das empresas brasileiras de construção civil não investe em inovação e tecnologia.

    Mesmo entre aquelas que já possuem estratégias de inovação, o investimento ainda é pequeno. Segundo a pesquisa, 35% não quantificam valores; 23% aplicam até 1% do orçamento em inovação; 30% destinam entre 1% e 5%; e só 12% utilizam mais de 5% do orçamento.

    Esses são valores muito pequenos se comparados com as empresas mais inovadoras do mundo, como a Apple e a Tesla, que reservam pelo menos 5% do orçamento para pesquisa e desenvolvimento.

    Ainda segundo a consultoria, os principais motivos para o investimento baixo em inovação estão relacionados à limitação de recursos financeiros, à falta de cultura corporativa e à inexistência de equipe especifica para essa finalidade. O fato é que as empresas até gostariam de investir mais em inovação, evidentemente para melhorar procedimentos como a análise de grandes dados, big data, e o desenvolvimento de novos materiais de construção.

    No caso do Brasil, inovar na construção civil é fundamental para que o País possa transformar práticas antigas e ultrapassadas e retomar o crescimento do setor.

    Sr. Presidente, o campo para a aplicação da inovação tecnológica na construção civil é amplo. E podemos dizer que se divide em dois grupos diferentes. Dessa forma, temos inovações para melhorar a edificação em requisitos de desempenho térmico, estrutural e impacto ambiental.

    Temos inovações que impactam o processo produtivo com o uso de materiais, componentes ou sistemas construtivos revolucionários, por exemplo, e ainda inovações que impactam os processos internos das empresas como softwares para os processos administrativos. Até na promoção do produto e sua colocação no mercado a inovação pode atuar. São as inovações de marketing.

    Como vemos, o uso da tecnologia pode melhorar a construção civil. Exemplos práticos dessas inovações que acabei de mencionar podem ser vistos em todos os cantos do Planeta. Uma nova tecnologia já utilizada em outros países, como a Alemanha, permite construir uma casa popular em uma hora e meia. A técnica permite realizar a obra, do piso ao acabamento, com peças prontas para a montagem do imóvel, em pouquíssimo tempo.

    A ideia é da startup brasileira, a Tecverde, que desenvolveu, com o apoio do Senai do Paraná, um método em que 75% do processo construtivo é industrializado, com peças prontas que só precisam ser montadas no local. Vimos agora, na China, um hospital construído em dez dias. O modelo que serviu de inspiração veio da Alemanha, onde é usado para montar casas populares pré-moldadas. Essa tecnologia foi a base utilizada pela Tecverde para montar uma casa da mesma forma que se monta um carro.

    Surgida em 2009, a empresa paranaense se deparou com o primeiro desafio: encontrar uma forma eficiente e sustentável, que garantisse redução no tempo de execução e na geração de resíduos. Não bastava ser rápida, mas também tinha que ser ecologicamente correta. Com esse objetivo, o modelo alemão foi adaptado e a empresa passou a usar no Brasil o sistema light wood frame, executado com painéis industrializados. Um convênio com a Alemanha viabilizou a transferência de tecnologia que permitiu o início dos testes para adaptá-la ao tipo de edificação do Brasil. Nesse caso, as parcerias tiveram papel importante para a viabilização da iniciativa. A startup brasileira contou com o apoio da Federação das Indústrias do Paraná e também do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, o Senai do Paraná.

    Outro exemplo de aplicações da tecnologia já em uso na construção civil são os drones que analisam revestimentos, acompanham obras e avaliam a segurança. A impressão 3D, que está sendo usada por uma startup brasileira para confecção de módulos em microconcreto, também é outro procedimento já amplamente utilizado. E ainda os recursos gráficos em três dimensões ou imagens em 360 graus, que ajudam a criar a sensação de presença por meio de ambientes virtuais, muito utilizados na arquitetura.

    Essas são apenas algumas das tecnologias direcionadas à construção civil. As iniciativas são tantas que eu poderia passar horas aqui falando sobre isso. Mas eu quero, para terminar, Presidente, citar também os benefícios ambientais que a inovação pode proporcionar no setor.

    A construção civil é um dos segmentos que mais geram impacto ao meio ambiente. Portanto, promover a sustentabilidade sempre foi um desafio. Atualmente engenheiros, arquitetos e empresas ligadas à construção estão abraçando a causa da preservação e demonstrando que é possível construir de forma mais ecológica. A geração de resíduos sólidos é um fator preocupante em todo o mundo. E, no Brasil, estima-se que a média de resíduos da construção civil seja em torno de 800kg por habitante ao ano.

    Dar um destino concreto e correto para esses resíduos, de forma que seja economicamente e ambientalmente viável, exige empenho. No entanto, não se trata de uma missão impossível. Com o auxílio da tecnologia, desenvolver novos materiais, novas técnicas construtivas que permitam gerar menos impacto ambiental já é uma coisa viável. A inovação está transformando a construção atual em um sistema mais sustentável.

    E, no caso da geração de resíduos, nós temos bons exemplos de como diminuir os impactos. Vejamos duas tecnologias que já estão sendo utilizadas aqui. O uso de esferas plásticas para construir lajes, no lugar de concreto. Esse é um novo processo construtivo chamado de BubbleDeck. Com ele, gasta-se menos material, porque a estrutura é feita com telas metálicas e bolas de plástico, que são cobertas com cimento. A estrutura fica mais leve, e o sistema gera menos resíduos.

    Outra inovação é a telha ecológica, que permite mais sustentabilidade, pois pode ser produzida com fibras naturais de painel reciclado e materiais como caixinhas Tetra Pak e garrafas PET. Esse processo promove a reciclagem e não usa materiais tóxicos na fabricação.

    Encerro, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, dizendo que somos capazes de realizar mudanças positivas por meio da tecnologia e da inovação. É dessa forma que conseguiremos criar recursos inovadores, que vão beneficiar não só a economia e o desenvolvimento, mas também preservar cada vez mais o meio ambiente.

    Aqui no Parlamento, estamos discutindo proposições nesse sentido. Vamos trabalhar pensando nas gerações futuras e no mundo que queremos para que todos possam viver bem e felizes.

    Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Senador Izalci...

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Obrigado pela...

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Senador Izalci...

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Pois não, Senador.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN. Para apartear.) – Quero só parabenizá-lo e dizer para o senhor que é bom haver uma pessoa da sua qualidade como defensor de tecnologia e educação. Não dá para pensar num País que pensa no futuro atrasado na tecnologia e atrasado na educação.

    Foi a minha fala anterior, falando sobre ECA e educação, e a fala do senhor, neste momento, vem trazendo justamente empreendedorismo, empregos. O senhor sabia que futuramente, há profissões em que jovens, que a gente nem imagina, vão trabalhar em locais de que não foram feitos empregos ainda?

    Hoje desenvolvedor, programador, criador de software, tudo isso deveria estar sendo ensinado nas escolas – deveria estar sendo ensinado nas escolas. As universidades estão ficando para trás, porque é uma carga muito longa de conhecimento para pouca utilidade para as profissões que há hoje. Profissões que existem hoje, de um desenvolvedor, de um programador, bastam quatro, seis meses de curso para esses jovens de hoje que nasceram com a tecnologia na mão. Não precisa de tanto conhecimento, nem tanta espera e expectativa.

    Há mercado disponível para isso, para absorver todas essas pessoas, se existirem essas profissionalizações. Existe pelo menos num polo em Pernambuco, em Recife, 100 mil vagas para desenvolvedores. Se eu abrir o celular agora, Senador Girão, está aqui: programador web, programador Java júnior, esperando vagas. E não há pessoas para isso. Não há demanda para isso. E nós ainda estamos atrasados na educação brasileira, na Idade Média, na idade da pedra, em relação a tratar a educação sem tecnologia.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Então, ter o senhor como um defensor também da educação e da tecnologia, que pode ser eficiente não só na construção civil, como o senhor disse, mas na segurança pública, na medicina, enquanto a gente debate... E também até na arrecadação de impostos. Se a gente melhorar... Não adianta a gente mudar aqui o sistema de tributação todinho se não houver a tecnologia para ser eficiente. O serviço público deveria ter mais tecnologia, mais inteligência artificial, deveria ter para poder servir às pessoas, pelo menos, de forma igual, sem privilégio. A máquina não escolhe pessoas. A máquina trata por igual.

(Intervenção fora do microfone.)

    O Sr. Styvenson Valentim (PODEMOS - RN) – Exatamente.

    A tecnologia está em tudo, Senador Girão. Então, dá para a gente pensar que hoje eu esteja conversando aqui, e pessoas, assistindo pelo celular dentro de um carro. Então, a gente continua atrasado. Precisa haver investimentos. E um dos ministérios que têm os menores recursos é o da tecnologia.

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE. Para apartear.) – Eu só queria complementar, Senador Lucas, para lhe dizer que...

(Intervenção fora do microfone.)

    O Sr. Eduardo Girão (PODEMOS - CE) – Senador Izalci Lucas. Lucas é forte, ave Maria.

    Mas me deixe falar uma coisa. Eu vejo muito o seu trabalho aqui diariamente. O senhor é um dos Senadores mais participativos, é ativo, não para um minuto. É de Comissão em Comissão, é reunião, porque você está aqui em Brasília, perto, e cuida muito das suas comunidades de uma forma muito sensível.

    Então, eu quero parabenizá-lo pela vitória de ontem, muito obstinado, lá na CCJ. Falou com Senador e Senador para conseguir resguardar a questão do fundo da ciência e tecnologia. O senhor também conhece muito sobre educação, ainda tem muito a contribuir para este País com educação.

    E outra vertente do senhor, que eu conheci esta semana... Eu já sabia da sua humanidade na questão do BPC, que o senhor foi o Relator das crianças com microcefalia, fez, desenvolveu um trabalho fantástico, ouvindo todo mundo. O senhor emocionou a mim e a muitos Senadores aqui num discurso que fez nesta semana sobre doenças raras, em que mostrou, evidenciou a sua faceta de compromisso com a sociedade.

    Então, siga nesse caminho que Deus vai abençoá-lo e vai fazer com que essa sua capacidade de conhecimento, de trabalho e de gestão seja multiplicada para o bem do Brasil.

    O SR. IZALCI LUCAS (Bloco Parlamentar PSDB/PSL/PSDB - DF) – Eu agradeço e peço a V. Exa. que incorpore ao meu discurso o aparte desses magníficos Senadores.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2020 - Página 33