Discurso durante a 94ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre matéria da revista Veja, com relação aos preços dos alimentos no mundo. Defesa de políticas de longo prazo para suprir demanda por produtos agrícolas. (como Líder)

Autor
Kátia Abreu (DEM - Democratas/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. POLITICA AGRICOLA.:
  • Comentários sobre matéria da revista Veja, com relação aos preços dos alimentos no mundo. Defesa de políticas de longo prazo para suprir demanda por produtos agrícolas. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2008 - Página 18216
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, VEREADOR, BRASIL, DEFESA, ORADOR, REFORÇO, CAMARA MUNICIPAL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, CONGRESSO NACIONAL, INDEPENDENCIA, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, ORIGEM, AUMENTO, PREÇO, ALIMENTOS, MUNDO, OPINIÃO, ORADOR, OPORTUNIDADE, LUCRO, BRASIL, COMERCIO EXTERIOR, PRODUTO AGRICOLA, APROVEITAMENTO, PRODUTIVIDADE, RECURSOS NATURAIS.
  • REGISTRO, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EFEITO, EXTINÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), PREÇO, ALIMENTOS.
  • DEFESA, INDUSTRIALIZAÇÃO, ALIMENTOS, ATENDIMENTO, ALTERAÇÃO, FORMA, ALIMENTAÇÃO, POPULAÇÃO, MUNDO, DEMANDA, PRODUTO ANIMAL, POSSIBILIDADE, BRASIL, AMPLIAÇÃO, AREA, AGROPECUARIA, VANTAGENS, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, SOLICITAÇÃO, INFRAESTRUTURA, DESENVOLVIMENTO AGRARIO, TRANSPORTE, TECNOLOGIA, LEGISLAÇÃO, COMBATE, CARTEL.

            A SRª KÁTIA ABREU (DEM - TO. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Colegas Senadores e Senadoras, quero dar as boas-vindas aos nossos Vereadores de todo o Brasil. Infelizmente, não há nenhum Vereador do Tocantins presente, mas luto para que os nossos Vereadores possam existir, mas fortes. Não adianta Câmara Municipal com muitos Vereadores, mas enfraquecidos do ponto de vista econômico-financeiro. Nós temos de refletir muito a respeito disso. As Câmaras têm de ser fortes, as Assembléias Legislativas e o Congresso Nacional têm de ser Poderes independentes, financeiramente independentes. Não precisam ser ricos nem pobres, mas a independência deve prevalecer.

            Sr. Presidente, eu gostaria de mostrar, neste momento, uma matéria da Veja, que mandei ampliar, que trata dos preços dos alimentos no mundo.

            Há uma escala ascendente nos preços dos alimentos e vários motivos para que isso esteja acontecendo no mundo todo. Há uma investida brutal por parte dos especuladores imobiliários dos Estados Unidos, que, com a crise americana do subprime, resolveram investir nas commodities do mundo todo, o que levou ao aumento do preço no mercado futuro das commodities, especialmente dos alimentos.

            Houve variação de temperatura na Ucrânia e também na Austrália, grandes produtores de alimentos que também sofreram frustração de safra por conta do clima. Ocorreu a subida do petróleo. Subiu o petróleo, sobe o preço do combustível do trator, sobem os preços do frete do caminhão e dos fertilizantes. Houve um aumento excessivo no preço dos fertilizantes. Houve um aumento excessivo do plantio de milho, que não só foi transferido da alimentação para o etanol como também áreas dos Estados deixaram de produzir soja para produzir milho para essa produção do etanol americano, completamente inviável.

            Enfim, Sr. Presidente, temos vários motivos para justificar o aumento no preço dos alimentos no mundo. Recentemente, o Presidente disse que o fim da CPMF pouco adiantou para o preço dos alimentos. Quero dizer ao Presidente - disse hoje ao Ministro Temporão - que não é bem assim. Houve uma queda nesses preços, segundo o Dieese. Pode-se observar que o custo da cesta básica nacional caiu, e só não caiu mais porque foge ao nosso controle o preço de commodities, que é formado no mundo afora, não por nós, brasileiros.

            Nos anos 70, Sr. Presidente, o brasileiro gastava 40% da sua renda com alimentos; hoje, gasta cerca de 20 a 25% da sua renda com alimentos.

            Então, esse dado mostra o quanto melhorou a capacidade de compra dessa mesma cesta básica.

            Nós temos que transformar essa grande falta de alimentos, essa subida dos preços, em um grande negócio, em uma grande oportunidade que se vislumbra, não em uma oportunidade positiva em detrimento, às vezes, da tristeza de outros países que não têm as condições do Brasil. Podemos aproveitar essa oportunidade e produzir alimentos de qualidade, com alta produtividade e com preços baixos. Nós podemos e somos a única solução, o único remédio doce para a questão dos alimentos no mundo todo.

            Nós estamos vendo que a população mundial, de 6,2 bilhões de pessoas hoje - número calculado no ano 2000 -, será aumentada, em 2025 para 8 bilhões de habitantes. Portanto, passaremos de uma demanda de alimentos de 2,5 bilhões de toneladas para quase 4 bilhões de toneladas.

            Nós teremos, Sr. Presidente, agora contabilizando 2010, metade da população do mundo no campo e metade da população do mundo nas cidades. Mas isso, em 2030, será diferente, Senador Neuto de Conto, Presidente da Comissão de Agricultura do Senado. Em 2030, nós teremos 60% da população do mundo nas cidades. Isso significa que nós temos que estar de olho não só na produção de alimentos, mas também na verticalização.

            A mulher que mora na cidade e o homem que mora na cidade têm pouco tempo e precisam comprar comida pronta, comprar comida industrializada, um grande mercado para o qual o Brasil tem que estar atento.

            Outra mudança forte que está ocorrendo no mundo e que temos de observar: hoje, nós temos 140 milhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo, mas, segundo o cálculo da FAO, Sr. Presidente, teremos, em 2030, um bilhão de pessoas com mais de 60 anos no mundo todo. Esse aumento da população com mais de 60 anos significa também uma mudança no hábito alimentar. E já estamos observando essa mudança de hábito no consumo de menos cereais e menos amido e de mais proteína pela população. Isso não é ruim para quem produz amido e para quem produz cereal, porque, para que se possa produzir proteína, que está nas carnes de frango, de suínos, de bovinos, é preciso produzir os cereais que fazem a ração para os animais.

            Para se ter uma idéia, Sr. Presidente, para eu possa produzir um quilo de carne de frango, eu gasto um 1,2 quilo de milho, de grãos. Para um quilo de carne de suínos, gasta-se 2,9 quilos de grãos e para um quilo de bovinos, gasta-se 3,2 quilos de grãos.

            Então, deverá haver uma diminuição no consumo de cereais e amido e um aumento de consumo de proteína, de carne e leite, mas os cereais serão utilizados para produção dessas carnes.

            A perspectiva da FAO, Sr. Presidente, é de que a China, somente a China, em 2020, vá consumir 50% de todo o leite produzido no mundo. Os chineses tomavam leite de soja, mas estão começando a experimentar e a gostar muito do leite bovino e caprino.

            Em 2025, Sr. Presidente, teremos uma necessidade, uma demanda 41% maior na produção de cereais e 42% maior na produção de carnes daqui a vinte anos.

            Esse balanço é para demonstrar aos brasileiros que somos o único país do mundo que está preparado para suportar essa produção de alimentos.

            Neste gráfico, a parte azul representa as áreas disponíveis para a agricultura e a verde representa as áreas limitadas para a produção de grãos. E apenas o Brasil, com essa coluna azul imensa, é que tem mais de trezentos milhões de hectares disponíveis para a agricultura.

            A China e a Índia, que são essas duas colunas verdes, não têm mais um palmo de chão disponível para plantar grãos a mais nesse mundo. Aqui está o nosso País, ao lado dos Estados Unidos e da Rússia, que têm uma grande limitação de clima, pois têm mais da metade do ano coberto por gelo. Os Estados Unidos ainda têm em torno de cento e cinqüenta milhões de hectares para produção, enquanto que o Brasil tem mais de trezentos e cinqüenta milhões de hectares, o que daria para alimentar toda a população da União Européia nos dias de hoje.

            Na verdade, precisamos - V. Exª sabe bem disso - do mínimo, do básico. Não podemos aceitar que a Holanda, a Itália e a Alemanha, que não produzem um pé de café, sequer uma planta de café, possam ser responsáveis por 47% do café torrado e moído do mundo. Compram o café brasileiro, compram o café colombiano, a matéria-prima, industrializam nos seus países e se tornam grandes exportadores de café sem nunca terem visto um pé de café na vida.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Concede-me um aparte, Senadora?

            A SRª KÁTIA ABREU (DEM - TO) - Pois não, Senador Mário Couto.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mário Couto, a Presidência pede a colaboração de V. Exª porque não há aparte em horário de liderança e estamos prestes a iniciar a Ordem do Dia e ainda temos que ouvir a Senadora Marina Silva, que está retornando aos trabalhos. Eu pediria à Senadora Kátia Abreu que encerrasse seu pronunciamento para que a Senadora Marina tivesse oportunidade de se pronunciar ainda hoje.

            A SRª KÁTIA ABREU (DEM - TO) - Com certeza, Sr. Presidente. É um prazer e uma alegria ter de novo a Senadora Marina Silva. Temos opiniões divergentes, mas reconheço que é uma mulher brasileira que tem muito valor para todos nós.

            Para encerrar, precisamos apenas que o Estado brasileiro faça sua parte. Da porteira para dentro, deixe conosco, brasileiros do campo, homens e mulheres, porque sabemos como plantar, com tecnologia, com produtividade e custo barato. Da porteira para fora, precisamos de hidrovias, de ferrovias, de portos modernos, de uma lei forte de defesa da concorrência, para combater os cartéis de fertilizantes e defensivos, e precisamos que a engenharia genética neste País possa se desenvolver e não ficar anos-luz atrás dos países em desenvolvimento.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2008 - Página 18216