Pela Liderança durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque à necessidade de inovação na política brasileira e apelo aos eleitores para que escolham parlamentares que possuam identidade de ideias com o candidato escolhido para Presidência da República, a fim de assegurar a governabilidade.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL, ELEIÇÕES, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Destaque à necessidade de inovação na política brasileira e apelo aos eleitores para que escolham parlamentares que possuam identidade de ideias com o candidato escolhido para Presidência da República, a fim de assegurar a governabilidade.
Publicação
Publicação no DSF de 04/09/2014 - Página 106
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL, ELEIÇÕES, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, AUSENCIA, INOVAÇÃO, PLANEJAMENTO, ECONOMIA, COMENTARIO, DEPENDENCIA ECONOMICA, PRODUÇÃO, SOJA, REGISTRO, IMPORTANCIA, ESCOLHA, CANDIDATO, ELEIÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, já faz alguns anos que, nesta tribuna, eu digo e repito que o Brasil deve muito aos governos dos últimos 20 anos. Muito parecidos, e isso foi bom para o Brasil, deu uma estabilidade, mas esse modelo se esgotou, acabou. O modelo que começa com Itamar, passa por Fernando Henrique Cardoso, chega a Lula e a Dilma, esse modelo se esgotou.

            É um modelo que tem quatro pilastras, todas enferrujadas: a pilastra de uma democracia que a gente sabe que não está funcionando bem, está caótica, desorganizada, corrupta, fisiológica; a pilastra da estabilidade monetária - dois pontos que todos esses Presidentes defenderam, nenhum foi antidemocrático, nenhum foi contra a estabilidade monetária - está em crise por excesso de gastos, está em crise por diversos erros, está em crise a estabilidade monetária, enferrujou essa pilastra; a pilastra das transferências de renda, uma grande coisa da generosidade de repente surgida no Brasil, de transferir renda para as camadas mais pobres, que começa com o Governo Fernando Henrique, que chega ao Governo Lula, que a multiplica por três, passa de quatro para doze famílias, se esgotou.

            Não que deva parar. É exatamente o contrário, Senador: se esgotou porque não conseguiu ficar desnecessária. Não se esgotou porque já tem que parar - não pode parar Bolsa Família -, se esgotou porque ainda é necessária 15 anos depois. Não poderia ser. Tínhamos que ter tomado medidas de tal forma que fosse diminuindo o número dos que necessitam. Veja bem, não é diminuindo o número dos que ficam nela, é diminuindo o número dos que necessitam dela. Entrou em crise. A porta de saída não apareceu.

            A quarta pilastra é a pilastra do crescimento econômico. E aí se esgotou duplamente: se esgotou primeiro no tamanho do PIB - a gente está vendo os problemas nesses últimos dois anos e, sobretudo, nos últimos meses -, mas se esgotou sobretudo na cara do PIB, um PIB baseado em indústrias primárias, de metalmecânica, um PIB baseado no agronegócio dos bens primários. A impressão que dá é que o Brasil substituiu o açúcar do século XVI pela soja do século XXI; substituiu a borracha lá do final do século XIX, começo do XX por soja, por minério de ferro.

            Esgotou, Senador. Os pilares se esgotaram.

            O Brasil precisa de algo diferente, precisa de algo diferente, porque os partidos que o comandaram ao longo desses 20 anos não trouxeram propostas de rejuvenescimento político para o Brasil. A prova é que o povo foi para a rua. Povo não vai para a rua quando os líderes têm propostas. Povo só vai para a rua quando nós, os líderes, não temos propostas que o convença a nos apoiar.

            Os partidos PT, PSDB e PMDB - os outros são coadjuvantes - não foram capazes de se renovar, de trazer algo novo. Isso acontece muito na história, os partidos se esgotam também. Mas talvez a maior prova de como esses partidos ficaram parecidos e se esgotaram seja o argumento que está sendo usado ultimamente pelo Partido dos Trabalhadores, de colocar medo de um governo se ganhar a candidata que lhe faz oposição, que é Marina Silva.

            Foi isso mesmo que se fez 12 anos atrás com o Presidente Lula, de que ele não ia saber governar, de que ele não tinha base de apoio para isso. E vamos falar com franqueza, mesmo aqueles que fazem críticas ao Presidente Lula, como eu, na parte de educação de base: o Lula foi, se não o melhor - é difícil dizer “o melhor” -, um dos melhores Presidentes que este Brasil teve. E o PSDB dizia que seria o caos. E agora o PT diz que a Marina Silva será o caos. Isso mostra como se parecem os partidos hoje e como é preciso algo novo.

            Eu creio que esse algo novo vai exigir alguns riscos. É claro que a governabilidade fica mais fácil quando se distribuem os cargos entre os partidos e se diz: “Temos uma base de apoio que nos garante fazer o que a gente quiser”. Claro que isso dá mais governabilidade! Mas governabilidade para quê? Para destruir a Petrobras? Governabilidade para quê? Para que cada dirigente de Ministério fique pensando apenas em como se reeleger e não em como transformar o Brasil?

            Eu creio que, sim, há algum risco de se governar de uma maneira diferente da maneira viciada que nós estamos utilizando. Há um risco de sair do fisiologismo, há um risco de parar a corrupção, há um risco de suspender as negociatas, há um risco de não tratar iguais só porque são do mesmo partido, quando a gente sabe que hoje, no Brasil, há tanta semelhança maior de um militante de um partido por outro de outro partido do que dentro do próprio partido.

            Há um risco, mas eu quero propor uma maneira ao eleitor de reduzir o risco. Há uma maneira de reduzir o risco! Só vote em candidato para Deputado do partido ou do grupo de ideias do seu candidato a Presidente ou a governador. Se você quer votar na candidata Dilma Rousseff, só vote em Deputados que demonstram sintonia com as suas posições, do PT ou de outro partido. Quer votar no Aécio? Só vote em Parlamentares em sintonia com o que defende Aécio Neves. Pronto. Estamos resolvendo a questão da governabilidade, aumentando a base de apoio, não por partido, que não significa grande coisa...

(Soa a campainha)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... mas por líderes que aqui venham.

            Agora, quer votar na Marina Silva? Muito bem. Quer garantir governabilidade para ela? Quer evitar o risco da governabilidade? Está na mão do eleitor! Vote nos parlamentares que demonstrem que vão apoiar o governo dela! E fico muito a cavaleiro de falar, porque não sou candidato. Se vai votar nela, não vote em quem não a defende as suas posições.

            Fala-se que ela não terá condições de governabilidade, porque não terá maioria aqui. A maioria não foi eleita ainda. A maioria será eleita em outubro. Então depende de você, eleitor, depende de você, que quer fazer uma mudança na Presidência, votar para que haja uma mudança também nesta Casa...

(Soa a campainha)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... para que haja uma mudança também na Câmara Federal. Depende de você.

            Então, quando ameaçarem o risco, quando falarem do medo, como disseram do Lula - e não se verificou aquela pecha de que Lula não ia governar bem -, quando voltarem com o medo, digam: “Não tem perigo. Eu sou eleitor e vou votar em pessoas que garantirão a governabilidade da nova Presidente da República.”

            É isso, Srs. Senadores, Sras Senadoras, que eu queria colocar aqui. Esse carimbo do medo não pode pegar, mas, além disso, não tem lógica, uma vez que a gente não pode falar em governabilidade antes das eleições. Se fosse depois das eleições, aí até podia se justificar, mas antes? Depende de você, eleitor. Não vá atrás...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mais um minuto. (Fora do Microfone.)

            Depende de você, eleitor. Você quer governar bem, sem risco? Tem duas formas: uma, continuar esse sem risco do fisiologismo, da negociata, da corrupção, em que aqui se forma a maioria que faz tudo que o Presidente quer, mas o Presidente paga, como a gente viu a Presidenta Dilma pagando recentemente, tendo de mudar um Ministro que ela não queria mudar, mas que o Partido que leva a sua sustentação a obrigava. Essa é uma maneira. Mas essa é uma maneira espúria, essa é uma maneira que nega a democracia ao praticá-la. Pratica uma democracia que se nega.

            A outra é dar aqui uma base de apoio, uma base de sustentação compatível com o Presidente ou a Presidente que nós vamos eleger. Então, por favor, na hora de votar, escolha bem. Escolha Deputado, escolha Senador...

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) -...do mesmo bloco, nem falo do mesmo Partido, do mesmo bloco de ideias, aqueles que já demonstraram que vão dar apoio ao candidato ou à candidata a Presidente em que você vai votar. Vote coerentemente e com isso você vai dar sustentação aqui a quem vencer a Presidência da República.

            É isso, Sr. Presidente, que eu tinha para colocar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/09/2014 - Página 106