Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da importância do avanço da biotecnologia.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE.:
  • Considerações acerca da importância do avanço da biotecnologia.
Publicação
Publicação no DSF de 02/04/2015 - Página 173
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, BIOTECNOLOGIA.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Nobre Senador Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, o grande desafio da humanidade está estabelecido para os próximos 36 anos. O Planeta já atingiu uma população de 7 bilhões de habitantes, e, em 2050, haverá mais 2 bilhões. Com a melhoria das condições de vida, com a atuação mais eficaz da medicina, com o atendimento mais disseminado de natureza básica na saúde, com a melhoria dos padrões alimentares, esses 2 bilhões a mais vão reclamar que a atual produção de alimentos seja dobrada.

            Este é o primeiro grande desafio para a metade deste século: como dobrar a produção de alimentos sem derrubar árvores e desmatar a floresta? Esse é o grande desafio que se lança para que tenhamos, em 2050, o desenvolvimento sustentável, ou seja, para que a vida seja possível. E não é daqui a três séculos; é daqui a 36 anos.

            Esse desafio pode ser enfrentado. Esse enigma pode ser resolvido através do avanço da biotecnologia, produzindo espécies vegetais capazes de aumentar a produtividade por hectare. Só a ciência e a tecnologia poderão determinar esse equilíbrio entre produção e proteção ambiental. Só com o avanço da biotecnologia e das ciências que lhe circundam nós poderemos conciliar a produção agrícola, o aumento da produção agrícola, o dobro da produção agrícola com a manutenção das florestas.

            Convidado pelo Governo alemão, pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e pela Presidência da Câmara dos Deputados daquele país, chefiei, nos dias 17 a 20 de março último, uma delegação de seis cientistas brasileiros para Berlim, Düsseldorf, Jülich e Colônia. E discutimos com os governantes e cientistas alemães a forma de somar esforços para tirar proveito da nossa biodiversidade, que é a maior do mundo.

            A ciência, Sr. Presidente, Senador Jorge Viana, não é mais obra do acaso de um iluminado como Descartes, Newton, Darwin ou Einstein. A internet intercomunicou os laboratórios e centros de pesquisa, criando equipes multidisciplinares, que trocam experiências a distância. Hoje, cada vez mais, as invenções e descobertas resultam do trabalho de dezenas de cientistas que trabalham em universidades, laboratórios e centros de pesquisa espalhados pelos cinco continentes.

            O exemplo mais recente é obra que está revolucionando o conhecimento na área da economia. O Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty, é uma obra de duas décadas de pesquisa com pesquisadores espalhados por vários laboratórios na Europa, nos Estados Unidos e no Oriente. No caso da bioeconomia - que é a ciência que vai dominar o avanço da indústria, o avanço da agricultura, o avanço dos serviços -, a ciência que sobrepairar pairará sobre todas as outras. E, nesta área, os alemães contam com notáveis centros de saber, como o já citado Instituto Jülich, o Max Planck e o Fraunhofer.

            Contam também com universidades conceituadas, como a Humboldt e a Escola Técnica de Munique. Por que não somarmos a expertise de instituições avançadas, como a Embrapa, da Fiocruz, para tirar proveito mais rápido dessa biodiversidade brasileira?

            Aliás, quero salientar que tive uma surpresa muito agradável. Visitando o Instituto Max Planck, encontrei um pesquisador da Embrapa e três pesquisadores da Universidade Regional do Vale do Itajaí. Foi uma surpresa ver ali pesquisadores brasileiros trabalhando com pesquisadores alemães para melhoria da produção de biocombustíveis, área em que o Brasil exerce uma grande liderança.

            Um dos grandes desafios guiados pela bioeconomia é o de substituir a energia fóssil pela biológica. Já provamos que é possível abastecer nossos carros com biocombustível oriundo da celulose da cana de açúcar. Mas isso não é viável partindo exclusivamente da celulose da cana. Estamos perto de dominar sua extração da madeira, o que pode conduzir, Sr. Senador e engenheiro florestal Jorge Viana, a uma nova fórmula de manejo sustentável, dando valor econômico a nossas florestas.

            A descoberta do DNA e decodificação do genoma já nos permitem aumentar significativamente a produtividade agrícola, com clones mais produtivos, resistentes às pragas e aos efeitos climáticos adversos, como grande inundações e prolongadas secas. Por outro lado, as mudanças climáticas, Sr. Presidente, estão exigindo uma aceleração da pesquisa no sentido de adaptar culturas tradicionais à nova realidade do clima.

            Quando Governador, determinei à Epagri, que é a Embrapa catarinense - notabilizada, dentre outras coisas, pela sua expertise na produção de sementes de arroz, que deu a Santa Catarina a maior produtividade mundial, especificamente estabelecida no Município de Agronômica -, que começasse a estudar os efeitos da redução do frio na Serra Catarinense, resultante do aquecimento global, para que se possam produzir frutas de clima temperado, que se adaptem às novas temperaturas que haverão de vir nas próximas décadas, salvo se o mundo tomar consciência de que é preciso reduzir as emissões que estão provocando essas mutações no clima. Determinei que estudassem a produção de uma maçã, de uma pera, de uma uva que possa adaptar-se a uma superveniente mudança do clima.

            E essa é uma providência que nós temos que tomar em nosso País. Nós já sofremos perdas terríveis por não dominarmos a ciência biológica. O caso mais dramático foi o do algodão do Seridó, no Nordeste brasileiro, que desapareceu em função de uma praga que, praticamente, dizimou as lavouras.

            Nós tínhamos uma ameaça, em Santa Catarina, no caso da maçã, mas, com a atuação eficaz da Epagri, nós eliminamos, totalmente, a ameaça de uma praga da maçã brasileira: a Cydia pomonella.

            E o Brasil acaba de adotar uma medida inteligente. O Governo brasileiro acaba de adotá-la, e eu quero cumprimentar o Itamaraty, o Chanceler Mauro Vieira e a Secretária Kátia Abreu, por não permitirem importações, neste momento, de maçãs provenientes da Argentina, onde ocorre esse fenômeno, essa praga.

            Sr. Presidente, a biotecnologia não se limita à área vegetal e animal, à área da produção rural, da produção agrícola. A biotecnologia é uma solução muito mais abrangente.

            Na semana passada, eu li no jornal El País - do qual procuro fazer uma leitura diária, na parte da manhã, porque ele traz uma visão de conjunto do mundo e da América Latina, da Europa e da América Latina, o que nem sempre se obtém na imprensa local. O jornal El País noticiava que, na Universidade de Stanford, se acendeu uma pequena luz no fundo desse interminável túnel da luta contra o câncer.

            Quase que por acaso, conseguiu-se transformar células cancerosas em glóbulos brancos, que representam a defesa do corpo humano. Os pesquisadores colocaram nutrientes numa célula doente, no fim de semana, para que ela permanecesse viva e eles pudessem reestudá-la no início da semana seguinte. E, quando chegaram ao laboratório, um acadêmico, um estudante, um estagiário notou que as células doentes haviam se transformado, pela ação dos nutrientes, em glóbulos brancos. Isso pode representar a virada contra o câncer.

            Mas a indústria pode se beneficiar cada vez mais por processos que envolvem a bioeconomia. E eu poderia, Sr. Presidente, afirmar, para encerrar este meu pronunciamento, que a bioeconomia, com o esforço multidisciplinar, com o esforço de integração dos vários centros de produção científica, pode transformar essas nuvens negras que pesam contra a humanidade por esse malthusiano crescimento habitacional.

            E veja, Sr. Presidente: as previsões são de que, em 2050, teremos 50 megacidades com mais de 20 milhões de habitantes cada uma. Repito: 50 megacidades com mais de 20 milhões de habitantes cada uma! Cinquenta são paulos espalhadas pelo mundo.

            A perspectiva que temos também...

(Soa a campainha.)

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Já vou encerrar, Sr. Presidente.

            A perspectiva que temos é que, em 2050, 92% da população estará vivendo em cidades, o que avoluma, aumenta ainda mais esse desafio de dobrar a produção de alimentos.

            Esse é o grande pesadelo que temos pela frente. E a bioeconomia poderá transformar essas nuvens carregadas de dúvida na certeza de um futuro promissor.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/04/2015 - Página 173