Discurso durante a 26ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à telenovela 'Páginas da Vida', de autoria do escritor Manoel Carlos.

Autor
José Maranhão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Targino Maranhão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TELECOMUNICAÇÃO. POLITICA SOCIAL. HOMENAGEM.:
  • Elogios à telenovela 'Páginas da Vida', de autoria do escritor Manoel Carlos.
Aparteantes
Flávio Arns.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2007 - Página 5252
Assunto
Outros > TELECOMUNICAÇÃO. POLITICA SOCIAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, PROGRAMA, TELEVISÃO, DEBATE, PROBLEMA, DISCRIMINAÇÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, ALCOOLISMO, DOENTE, SINDROME DE IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA (AIDS), ABORTO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, TENTATIVA, MELHORIA, SOCIEDADE, VALORIZAÇÃO, FAMILIA.
  • IMPORTANCIA, PROGRAMA, TELEVISÃO, CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, DEBATE, SOLUÇÃO, PROBLEMA, ADOÇÃO JUDICIAL, VALORIZAÇÃO, RELIGIÃO, MORAL, FAMILIA, REALIZAÇÃO, INCLUSÃO, DEPOIMENTO, SOCIEDADE.
  • NECESSIDADE, LEGISLATIVO, APERFEIÇOAMENTO, LEIS, AMPLIAÇÃO, ACESSO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, EDUCAÇÃO, REFORMULAÇÃO, POLITICA, ADOÇÃO JUDICIAL, MELHORIA, COMBATE, DROGA, VIOLENCIA, DISCRIMINAÇÃO, SUGESTÃO, ESTADO, APLICAÇÃO, POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA, TRATAMENTO, DOENÇA, ALCOOLISMO.
  • IMPORTANCIA, ESTADO, VALORIZAÇÃO, FAMILIA, CIDADANIA, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, BRASIL.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, DECLARAÇÃO, ESCRITOR, RELEVANCIA, VALORIZAÇÃO, FAMILIA, MELHORIA, MORAL, SOCIEDADE, MUNDO.

            O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desde o dia 10 de julho do ano passado, o Brasil acompanhou, atento, o desenrolar da telenovela Páginas da Vida, encerrada no dia 2 de março último. Foram 203 capítulos, em que o autor, Manoel Carlos, procurou apresentar situações que, apesar de fictícias, poderiam muito bem ter sido vividas por qualquer brasileiro.

            Foram muitos os temas abordados durante a exibição da novela, temas esses que nos levam a refletir profundamente sobre a condição humana nos dias de hoje, nas grandes cidades, num mundo cada vez mais globalizado, mais individualista e carente de valores éticos, carente de solidariedade, carente de convivência familiar.

            Durante todos esses meses, assistimos ao drama da pequena Clara, que, como outras milhares de crianças portadoras da Síndrome de Down, lutava por uma educação inclusiva, pelo simples direito de freqüentar uma escola, direito esse assegurado a todas as crianças pela Constituição Federal. Nesse período, também nos emocionamos com a persistência da jovem Marina, lutando para tirar seu pai, Bira, das garras do alcoolismo, um grave problema social que já afeta mais de cinco milhões de brasileiros. Igualmente importante foi a abordagem do racismo, do preconceito contra os portadores da AIDS e da problemática do aborto, temas sempre polêmicos e que, por isso mesmo, merecem que um veículo de comunicação de massa, como a Rede Globo de Televisão, leve a sociedade a refletir sobre eles e sobre a necessidade de sermos mais solidários.

            A par desses, um dos elementos mais importantes, no meu entendimento, foi a valorização da família como célula mater da sociedade. Pudemos presenciar o patriarca Tide, interpretado por Tarcísio Meira, conversar com os filhos e com os netos, aconselhando-os sobre como resolver seus problemas. Em sua família, todos faziam juntos as refeições e todos moravam sob o mesmo teto - fato raro nos dias atuais e tradicional fonte de nutrição de valores éticos na história da civilização.

            Dentro desse contexto familiar, outro assunto que também foi trazido à tona - e de modo inovador - foi o tema da adoção. Pudemos compartilhar, nesses sete meses, as angústias e as expectativas da médica Helena, lutando para adotar a menina Clara, cuja mãe morrera durante o trabalho de parto. Sabemos que a letra fria da lei e os corações dos magistrados nem sempre contemplam os sentimentos, mas, com esse exemplo apresentado pelo autor, pudemos assistir a um final feliz. A teoria da felicidade prevaleceu, e a pequena Clara pôde ficar, enfim, com a família que a amava.

            Essa, Srªs e Srs. Senadores, talvez seja uma nova visão de justiça que devemos perseguir! E devemos exaltar a iniciativa da Rede Globo de Televisão de exibir essa novela, que, no meu entender, é altamente criativa, porque trata de questões reais, de forma realista, mas, sobretudo, com uma visão ideal, como padrão para a educação e para a estruturação da família brasileira.

            Enfim, Sr. Presidente, a telenovela Páginas da Vida procurou trazer para o dia-a-dia do brasileiro uma reflexão sobre a necessidade de resgatar os valores importantes para a convivência social, como a família e a solidariedade, e também de lutar contra o preconceito em todas as suas formas. Suscitou ainda discussão sobre o problema da gravidez indesejada, sobretudo na adolescência, da bulimia e da anorexia, distúrbios relacionados à alimentação que provocaram, recentemente, a morte de três modelos no Estado de São Paulo.

            A telenovela procurou, igualmente, resgatar a importância da religião para nossas vidas, apresentando sem exageros alguns fenômenos relacionados ao Espiritismo, e mostrou freiras bem próximas às comunidades carentes, auxiliando os médicos nos cuidados com os doentes.

            Uma das características que mais me chamaram a atenção, Sr. Presidente, foi que, ao fim de cada capítulo da novela, eram exibidos depoimentos, muitas vezes polêmicos, de diversas pessoas do povo, narrando acontecimentos de suas próprias vidas, relacionados a temas que dizem respeito a todos nós, como casamento, separação, nascimento, preconceito, sexo e amizade. Essa foi uma maneira brilhante e inovadora, encontrada pelo autor, para dar voz à sociedade, trazendo os temas abordados na telenovela diretamente para o contexto vivenciado pelos telespectadores. Com esse recurso, a novela deixava o mundo do imaginário e ganhava o mundo real.

            O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Com todo prazer, concedo-lhe o aparte.

            O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Quero, em primeiro lugar, associar-me ao conteúdo externado por V. Exª em relação à novela Páginas da Vida, um instrumento fortíssimo de discussão de temas fundamentais para a sociedade. Costuma-se dizer que mil campanhas de conscientização não teriam o mesmo impacto da novela Páginas da Vida nos aspectos que V. Exª tão bem está mencionando. Gostaria de destacar dois fatos principais. A Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado Federal apresentou e enviou à Rede Globo voto de aplauso pela abordagem dos temas da novela. É interessante observar como os meios de comunicação, constatando a força que têm na sociedade, estão abordando temas fundamentais, como a exploração sexual de crianças e de adolescentes. Esse trabalho conscientiza, sensibiliza e abre caminhos. Quero destacar que artistas, parentes e autores da novela Páginas da Vida estarão no Senado Federal, na quarta-feira, 21 de março, no Dia Internacional da Síndrome de Down - síndrome a que V. Exª já se referiu também. É interessante observar que a escolha da data de 21 de março deve-se ao fato de que, no início da nossa vida, há 23 pares de cromossomos e de que, quando ocorre a Síndrome de Down, no par nº 21 há um acidente genético, pois, em vez de haver o par, há uma trissomia, três cromossomos. Nesse dia, discutiremos o encaminhamento especificamente mencionado na novela: a cidadania, os direitos, a valorização do ser humano, a alternativa em termos de políticas públicas. É uma honra ouvir V. Exª. Compartilho do seu pronunciamento e destaco para a sociedade que é muito bom termos assistido a uma novela com esse enfoque, pois fez com que muitas pessoas mudassem o pensamento em relação aos temas mencionados. Parabéns a V. Exª! Que eu tenha sempre o prazer de desfrutar da sua companhia aqui ao lado; seremos José Maranhão e Flávio José. Muito obrigado. Parabéns!

            O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Agradeço ao Senador Flávio Arns o aparte.

            Na verdade, o que há de novo nessa abordagem da novela Páginas da Vida é o aspecto pedagógico, atual, realista, mas sem sensacionalismos ou exploração de qualquer natureza de temas que, na verdade, fazem parte do dia-a-dia da sociedade brasileira, que interessam a todas as famílias, a todos os cidadãos brasileiros.

            Não foi à toa que, em sua fase inicial, a novela Páginas da Vida alcançou o índice médio de 51 pontos no Ibope. Está aí a prova de que nem sempre a apelação ao sensacionalismo ou aos escândalos de qualquer natureza se constitui num ponto de atração, pois temas construtivos e abordados de forma inteligente e de forma equilibrada podem igualmente conquistar grandes audiências. Com aquele índice, a trama registrou a maior audiência no gênero nos últimos 13 anos - esse dado é importante -, sendo que o último capítulo chegou a atingir 53 pontos, com picos de 59 pontos. É mais do que natural que isso tenha ocorrido. Afinal, o povo se identificou com os problemas abordados na novela e com as possíveis soluções apontadas pelo autor.

            Foi por esses motivos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e por entender que a telenovela Páginas da Vida continha inúmeros aspectos positivos, que resolvi fazer este pronunciamento da tribuna do Senado. Como homem público, identifiquei nessa obra alguns elementos importantíssimos, que acabo de apresentar, sobre os quais podemos e devemos nos debruçar.

            Temos o dever de aprimorar as leis e de fiscalizar o Poder Executivo, para que sejam equacionadas questões, a meu ver, fundamentais para toda a sociedade brasileira. Entre elas, gostaria de destacar o acesso a uma educação verdadeiramente inclusiva para os portadores de necessidades especiais; a reformulação da política de adoção, em benefício dos menores órfãos que anseiam pelo aconchego de um lar; o combate sem tréguas ao alcoolismo, às drogas, aos preconceitos e à violência urbana. O alcoolismo não pode continuar sendo visto como um crime ou como um vício, mas tem de ser encarado pela sociedade e pelo Governo como uma doença, como uma patologia a ser tratada com competência técnica e científica pelo Estado brasileiro.

            Nesse particular, fortalecer os laços e os valores familiares deve ser preocupação constante de todos nós, cidadãos e homens públicos, pois, em uma sociedade em que a família se degrada, o futuro será sempre uma incógnita.

            Desejo, assim, registrar na história desta Casa, a competência do escritor Manoel Carlos, que parabenizo, e de toda a sua equipe de pesquisa, que trabalharam arduamente na elaboração do texto da novela.

            Saúdo também o excelente trabalho realizado por Jayme Monjardim, diretor da novela, e todos os atores que fizeram com que a novela saísse do papel, assumisse forma na tela da televisão e ganhasse vida nas mentes e nos corações de milhões de brasileiros.

            Por fim, no mês em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, saúdo todas as mulheres do Brasil, na pessoa de Helena Camargo Varella, personagem da novela Páginas da Vida, brilhantemente interpretada pela atriz Regina Duarte. Helena, seu exemplo de luta, de perseverança e de amor ilustra muito bem a alma da mulher brasileira!

            Encerro este pronunciamento com uma frase do novelista Manoel Carlos, proferida em uma entrevista concedida à Folha Online, no dia 1º de julho de 2006, que traduz meu sentimento quanto à importância dos valores familiares para a nossa sociedade: “Na família não está apenas a força da minha narrativa, mas a força de uma nação, de todas as nações, em todo o mundo”.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2007 - Página 5252