Pronunciamento de Paulo Octávio em 16/01/2006
Discurso durante a 1ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Minissérie apresentada pela Rede Globo sobre a vida de Juscelino Kubitschek.
- Autor
- Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
- Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Minissérie apresentada pela Rede Globo sobre a vida de Juscelino Kubitschek.
- Aparteantes
- Almeida Lima, Alvaro Dias, Arthur Virgílio, Augusto Botelho, Demóstenes Torres, Eduardo Azeredo, Eduardo Siqueira Campos, Eduardo Suplicy, Gilvam Borges.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/01/2006 - Página 139
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- CUMPRIMENTO, AUTOR, PROGRAMA, TELEVISÃO, EMISSORA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX SENADOR, COMENTARIO, IMPORTANCIA, INICIATIVA, VALORIZAÇÃO, CLASSE POLITICA, OPINIÃO PUBLICA.
- ELOGIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONSTRUÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), IMPLEMENTAÇÃO, INFRAESTRUTURA, INDUSTRIA, RODOVIA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
- ANUNCIO, DATA, ANIVERSARIO, POSSE, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- CUMPRIMENTO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), HOMENAGEM, EX SENADOR.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, agradeço ao Presidente do meu Partido, Senador Jorge Borhaunsen, que me concede este grande privilégio de ser o primeiro orador nesta sessão histórica de 16 de janeiro de 2006.
O assunto que me traz hoje à tribuna está mexendo com o Brasil, um assunto muito importante que, visto desta Casa, me deixa realmente muito feliz por saber que o homenageado foi um Senador da República que nos deixou, que foi arrancado das poltronas desta Casa pela força da revolução.
O Brasil inteiro está assistindo à magnífica minissérie, produzida pela Rede Globo, sobre a vida do Presidente Juscelino Kubitschek. Trata-se da trajetória do garoto que nasceu pobre, numa cidade pobre, no interior de Minas Gerais. Viveu dificuldades desde a infância, quando perdeu o pai; estudou em colégio religioso; decidiu ser médico e, no exercício de sua atividade, foi-se encontrar com a política. Tornou-se estadista e se transformou em tema de seriado, exibido em rede nacional, batendo, segundo a própria emissora, recordes de audiência com a população brasileira interessadíssima em conhecer a história de um político.
Por sinal, não me lembro de outra história, de outro seriado em televisão brasileira mostrando a vida de um político brasileiro. Essa minissérie é muito importante por tudo que representa, até pela auto-estima que pode ser levantada junto a toda população brasileira no que se refere aos políticos, aos dirigentes, aos Governadores, aos Presidentes do nosso País.
É a história de um homem simples cercado por seus sonhos, envolvido por suas crenças e com a determinação inabalável de alcançar os melhores projetos. O trabalho da Rede Globo é exemplar. Notável. Maria Adelaide Amaral, Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira, os autores, merecem todos os cumprimentos. Trabalharam muito; trabalharam com seriedade. Eu, particularmente, sou testemunha do tempo que foi gasto antes de ser gravado o primeiro capítulo. A Brasília, ao Memorial JK, quantas visitas foram feitas para se retratar a verdadeira trajetória desse grande homem! Eles escrevem para atores de primeira linha. São atores de primeira linha que estão lado a lado na minissérie representando os importantes personagens que traçam a trajetória de JK. É difícil destacar uma interpretação naquele conjunto de performance irretocável. Todo o projeto é bem elaborado, extremamente cuidado, com acabamento exemplar. É produção brasileira com nível raramente encontrado no que há de melhor no exterior.
A pergunta que remanesce é: por que Juscelino? O que há na trajetória deste político de Diamantina que o transforma em mito ou em uma lenda que governantes tentam imitar, reproduzir e lembrar? Essa é a pergunta. As respostas são muitas, mas, sem dúvida, JK foi uma espécie de síntese do Brasil. Ele percebeu a alma nacional e a encarnou com sabedoria e competência, sempre envolvido pela atmosfera de debate franco e de controvérsia livre.
A liberdade é criativa. Talvez por essa razão tenha surgido, nesse período, a Bossa Nova com Vinícius de Morais, Tom Jobim, João Gilberto, entre tantos outros, que produziram a música que fez sucesso no mundo inteiro. Depois da brutal decepção de 1950, a seleção ganha a Copa do Mundo de futebol na Suécia, em 1958. O brasileiro descobre o Brasil do interior e percebe as imensas potencialidades de sua Pátria. Na definição de Nelson Rodrigues, deixa de ser “um País vira-lata, pedaço subdesenvolvido do mundo condenado à miséria, ao desencanto e à pobreza eterna”.
Ocorreu a percepção de que o País era muito maior que a formulação dos conservadores determinados no pessimismo e na condenação a tudo o que fosse nacional. Pela primeira vez, o brasileiro se percebeu capaz de fazer, produzir e conduzir seu próprio destino. Essa é a mudança fundamental que o Presidente Juscelino operou neste País. Sua obra é maravilhosa e extensa. Brasília é síntese de seu trabalho. Mas ele tocou no fundo, diria na essência, da alma brasileira.
É difícil hoje imaginar o Brasil dos anos 50, recém saído da longa ditadura Vargas, das conseqüências das marchas dos tenentes, da coluna Prestes, da revolução constitucionalista, do golpe integralista, da intentona comunista e do formidável impacto da guerra européia sobre a América do Sul. Navios mercantes brasileiros foram afundados por submarinos alemães. A vizinha Argentina se inclinou com Perón na direção dos países do Eixo. Getúlio recebeu Roosevelt em Natal e concedeu ao presidente norte-americano a utilização dos aeroportos do Norte e do Nordeste. E os 25 mil pracinhas brasileiros, que lutaram na Itália contra o fascismo e o nazismo, retornaram vitoriosos ao País. Eles defenderam, no exterior, a liberdade e a democracia.
No território da política, o Brasil dos anos 50 era um caldeirão de idéias inacabadas, frustradas, incompletas e mal formuladas; território livre na confrontação da guerra fria. A cortina de ferro, na magistral definição de Winston Churchill, estava descendo sobre a Europa do leste. Tanques soviéticos esmagaram, em 1956, o tímido início de uma ligeira abertura na Hungria. O muro de Berlim iria, mais tarde, tornar-se o símbolo dessa era.
O Brasil era agrário; na verdade, um grande quintal sem estradas, sem infra-estrutura, sem indústria. E, subitamente, aquele mineiro simpático, que gostava de dançar e de tirar os sapatos até mesmo nas reuniões mais formais, aparece com uma grande novidade: o País possui todas as condições para crescer. Mais que isso: os brasileiros são capazes, sim, de se governar e de produzir progresso. É possível criar aqui uma nova sociedade, aberta, sem rancores, sem ódios, voltada para a construção de um futuro melhor. JK pegou seu avião e embarcou nas nuvens de seus sonhos. Fez 235 viagens entre Rio e Brasília no período da construção da nova capital. Fez 235 viagens, muitas pela madrugada adentro. Despachava no Palácio do Catete durante todo o dia, encerrava o expediente, pegava um avião, gastava três horas para chegar em Brasília, sem nenhum tipo de sinalização, sem nenhuma informação, sem o Cindacta que hoje nos orienta tão bem. Chegava aqui, descia em um campo de pó e acompanhava as obras. Foram 235 viagens em mil dias. Não tinha preguiça, Senador, não tinha preguiça!
Abriu a estrada para Belém, que, pela primeira vez em nossa História, ligou o norte ao centro-sul.
O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PSDB - TO) - Senador Paulo Octávio. Sem o intuito de interromper...
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - V. Exª, que tão bem representa o queridíssimo Estado de Tocantins, o mais novo Estado brasileiro, merece toda a minha consideração. Concedo com o maior o prazer o aparte a V. Exª, querido Senador Siqueira Campos.
O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PSDB - TO) - Em primeiro lugar, Senador Paulo Octávio, cumprimento V. Exª, porque talvez ninguém nesta Casa mais do que V. Exª possa expressar todo este sentimento, todos este reconhecimento sobre a bela história daquele que, sem dúvida, é reputado pelos brasileiros como um dos maiores e mais competentes, entusiasmados chefes de Estado que este País já teve. Quando V. Exª - ouvi atentamente o seu pronunciamento, Senador Paulo Octávio - se referiu a embarcar em um sonho e principalmente na abertura, depois da epopéia de Brasília e da abertura da Belém-Brasília, posso dizer que eu, com quatro para cinco anos de idade, na carroceria de um caminhão, saí do interior de São Paulo e, em 14 dias, percorri pelo menos metade do trecho da Belém-Brasília, parando no então norte de Goiás, na cidade de Colinas, onde iniciamos uma vida naquilo que meu pai chamava “o novo Brasil”, o novo Brasil exatamente sonhado por Juscelino Kubitschek. Então, ainda que não tenha tido a honra, nem o privilégio de conviver com S. Exª em vida pública, pude ainda como criança viver os mistérios daquilo que era um “trilheiro”, que muitos diziam que ligava nada a lugar nenhum. Hoje, sabemos que as regiões Norte e Centro-Oeste estão sendo as novas fronteiras, os novos celeiros deste Brasil desenvolvimentista sonhado por Juscelino Kubitschek. Eu diria, por último, a V. Exª que, não fora a abertura da Belém-Brasília e a integração dela advinda, talvez ainda estivéssemos na condição de norte-goianos. Portanto, como Juscelino foi Senador por Goiás, como Tocantins nasceu de uma divisa do Estado de Goiás, e nasceu fundamentalmente do sonho da integração de uma nova ocupação do território nacional, quero parabenizar V. Exª e, em nome do povo tocantinense, dizer que JK vive no nosso coração. Cumprimento também a Rede Globo pela minissérie.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Meu caro Senador Eduardo Siqueira Campos, acompanhamos a luta de V. Exª e de seu pai, com muita força, dedicação e determinação, pela construção do Estado de Tocantins, o novo Estado que V. Exª tão bem representa e, logicamente, ficamos orgulhosos. Toda essa região floresce, cresce e se desenvolve graças logicamente ao empenho inicial há cinqüenta anos, exatamente cinqüenta anos. No dia 31 de janeiro deste ano, completaremos, Senador Arthur Virgílio, 50 anos da posse do Presidente Juscelino.
Com muita satisfação, concedo o aparte ao Líder Arthur Virgílio.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu gostaria de me inscrever também, Senador Paulo Octávio.
O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Nobre Senador Arthur Virgílio e outros Senadores que se inscrevem para o aparte, embora entendendo a relevância do tema, peço objetividade no uso do tempo, para que não prejudiquemos os outros Senadores.
O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Serei breve, Sr. Presidente. Senador Paulo Octávio, eu lhe conto um episódio ocorrido com meu pai e Juscelino Kubitschek. Meu pai era um jovem deputado de um Estado de peso político relativo, como é o Amazonas - à época, menor -, e pediu, certa vez, uma audiência ao Presidente Juscelino Kubitschek, que a marcou para as 4h45min da manhã. Meu pai achou aquilo o fim do desrespeito. Ele disse: “É um desrespeito, não me acata; deve ser porque sou novato”. Enfim, foi lá, e o Presidente o tratou muito bem. Depois, precisou de outra audiência; pediu outra audiência, e o Presidente marcou para meia- noite e meia. Aí, meu pai concluiu que não era nenhum desrespeito, não; é que ele trabalhava de 4h45min até meia-noite e meia. Era isso.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Arthur Virgílio, essa história contada por V. Exª e vivida por seu pai simboliza uma época de crescimento, de desenvolvimento e de trabalho. É como disse agora há pouco: foram 235 viagens feitas madrugada adentro, deixando o expediente no Palácio, fazendo uma viagem de três horas - tempo gasto naquele tempo - para chegar a Brasília, ficar poucas horas aqui, acordar os operários que construíam esta cidade, que tinham o prazo de mil dias, conversar com esses trabalhadores e voltar ao Rio de Janeiro para mais um dia de expediente. Esse é o Brasil em que acreditamos.
Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Paulo Octávio, cumprimento V. Exª pela análise que faz da vida do Presidente Juscelino Kubitschek e também da minissérie que está sendo produzida com tanta qualidade, com texto de Maria Adelaide Amaral, que merece, de fato, os cumprimentos de todos nós. Penso que o povo brasileiro está tendo a oportunidade de conhecer a trajetória de uma pessoa que nos ensinou a todos o sentimento de brasilidade, de amor à Pátria, de vibração por aquilo que considerava o mais importante para que o Brasil desse um salto em direção àquilo que constitui o anseio de todos nós, de desenvolvimento com justiça. Meus parabéns a V. Exª, bem como à Rede Globo e a toda a equipe junto a Maria Adelaide Amaral pela qualidade da minissérie que apresenta presentemente.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Permita-me uma intervenção, Senador?
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Obrigado, Senador Eduardo Suplicy.
Ouço, com prazer, o Senador Demóstenes Torres.
O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Paulo Octávio, V. Exª faz um discurso sobre um homem público extremamente respeitado, inclusive além fronteiras. A minissérie é muito interessante; comecei a assisti-la, e é interessante até porque descreve o jeito político do mineiro, das grandes personagens, José Maria Alkcmin, Pedro Nava, que acabou se transformando em grande médico, em um dos maiores memorialistas brasileiros; Benedito Valadares e o próprio Juscelino. Destaco apenas uma faceta da personagem Juscelino Kubitscheck, que vem bastante exaltada, acredito eu, no livro de memória do Samuel Wainer. Samuel Wainer não poupa ninguém; mostra que João Goulart, por exemplo, foi um dos grandes delinqüentes que ocuparam a Presidência da República, pilhando o Brasil. Era um político realmente corrupto, o que ocasionou, além de outras coisas, tais como a vontade dos militares, o golpe militar no Brasil. É óbvio que Juscelino Kubitschek, nas memórias de Samuel Wainer, se comparado a Getúlio Vargas e a outros presidentes, além de ser um empreendedor, era um político também honesto. Hoje, no Brasil, é fundamental que possamos reviver esta possibilidade: voltarmos a ter governos honestos. Muito obrigado.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Perfeitamente. Creio que essa minissérie pretende demonstrar isso.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Sr. Presidente, estamos homenageando um brasileiro que foi tirado desta Casa e teve os direitos suspensos. Por isso, pedirei mais uns minutos, tendo em vista que se trata de uma homenagem a um ex-Senador da República que teve os direitos suspensos, foi exilado, sofreu muito, teve um fim de vida muito difícil, muito triste devido à falta da democracia e a uma revolução que o impediu de voltar a governar o nosso País, com um plano de metas extraordinário, com um projeto para continuar o trabalho que havia sido desenvolvido. Pretendo voltar a abordar o assunto nesta Casa. Tenho dito sempre, Sr. Presidente, que o que falta ao Brasil são projetos, programas de Governo. E JK, para 1965, já tinha o seu programa estabelecido.
Juscelino Kubitschek recebeu um país e entregou outro. Promoveu uma divisão na História. Há um período anterior e outro posterior a ele. Junto com a faixa presidencial, outorgou a seu sucessor uma sociedade que já possuía estradas, havia descoberto o interior, produzia veículos, dispunha de energia, de indústrias sofisticadas e se sabia capaz de organizar o futuro. JK, com seu jeito tranqüilo, homem capaz das grandes anistias, de distribuir simpatia e sorrisos, jamais parou de trabalhar. Espargiu esperanças e construiu sonhos. Foram cinqüenta anos em cinco. Um espanto. Obra tão surpreendente que ocasiona reações de perplexidade até hoje, 46 anos depois do fim de seu único mandato e trinta anos após a sua morte.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é bom falar de Juscelino. Faz bem. A gente se lembra de grandes obras, de gestos generosos, de liberdade, de crescimento, verbaliza o que há de melhor neste País. Olha para o povo e enxerga dignidade, trabalho, confiança. Enxerga, portanto, esperança. Ninguém sai do seu lugar sem a crença de que amanhã será melhor que hoje. JK sacudiu os brasileiros e o fez de maneira gentil, amável, brincalhona e, ao mesmo tempo, tão séria quanto definida nos objetivos.
Ele padeceu o exílio. Perambulou pelo mundo, expatriado, distante de amigos e longe de Brasília. Foi um exilado sofrido e trancafiado em profunda solidão. Mas não se perdeu por autismo, manteve-se informado sobre o que ocorria em sua terra. Escreveu as cartas da saudade, chorou as lágrimas de grande líder compulsoriamente afastado de sua terra. A patriazinha adorada, mãe gentil, tornou-se porto inalcançável. Esse homem experimentado na dor ultrapassou sua amargura. Ainda houve tempo para rever amigos, passar os olhos pelas Gerais, transitar pelo Planalto e passear por sua obra maior: Brasília. Morreu vítima do desastre de automóvel na Rodovia Rio-São Paulo em setembro de 1976.
O corpo de Juscelino foi transportado pelo povo desde a Catedral de Brasília até o cemitério onde foi enterrado. A população, de maneira espontânea, fez justiça e o levou à sua derradeira morada. O homem despojado, honesto e trabalhador, que acreditou nas suas utopias, entrou para a história carregado por gestos espontâneos e mãos simples, tão simples quanto as dele.
Transformou-se em mito. Mostrou que o brasileiro gosta de si, gosta de progresso, gosta de seu país e que aqui habita um povo capaz de solucionar seus problemas, planejar seu crescimento e sonhar seus próprios sonhos. A sofisticação de Juscelino Kubitschek de Oliveira foi a sua simplicidade. É a lição que fica para a história. Todos nós, políticos, devemos reverenciar o grande estadista e perceber, nos seus enormes acertos, a melhor maneira de governar o maravilhoso povo brasileiro.
Juscelino é, na verdade, filho do Brasil e, nessa condição, paradoxalmente, assumiu a dimensão de símbolo de realização, trabalho e popularidade. E agora, nas telas dos televisores de todo o País, foi além...
O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador, um aparte por favor.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Consulto o Presidente se o Senador Eduardo Azeredo, que foi grande amigo do Presidente Juscelino...
O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - A Mesa só pede a consideração de V. Exª e dos que pedem aparte devido aos demais oradores inscritos. Quando nós começamos a dilatar o prazo, o prejuízo vem em cadeia para todos os oradores. Em atenção, porém, ao pronunciamento que V. Exª faz, que é uma homenagem justa a Juscelino Kubitschek, a Mesa concede mais cinco minutos para V. Exª, o orador, e para os apartes.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Concedo o aparte ao Senador Eduardo Azeredo, que tão bem viveu o sonho de JK.
O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Senador Paulo Octávio, cumprimento-o pela oportunidade do pronunciamento que faz. O Presidente Juscelino Kubitschek foi, sem dúvida alguma, um homem que merece permanentemente ser lembrado. E essa minissérie vem exatamente procurando fazer os brasileiros lembrarem de um período em que o Brasil foi realmente um país muito alegre, muito feliz. Tive, de fato, o privilégio de conhecer Juscelino de perto. Não fui amigo dele propriamente, que era amigo do meu pai, mas de suas filhas - de Márcia, sua sogra, e de Maristela -, de Dona Sara, com quem convivi. Pude constatar de perto o valor dessa família que deu suporte a Juscelino para que fosse o grande Presidente que foi, autor de grandes realizações pelo Brasil. Como representante de Minas Gerais, quero aqui também dizer que Juscelino é motivo de muito orgulho para nós, porque foi, como V. Exª lembrou, um homem muito simples e que não se deixou envolver pelo poder, pelo fausto que, às vezes, a área pública traz. V. Exª lembrou um assunto importante que já tive a oportunidade de levar ao Ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia. Refiro-me à questão de se fazer um marco significativo no local onde Juscelino morreu, na Via Dutra, uma capela - seria muito importante que fosse uma capela. Hoje não há nada que identifique aquele ponto onde, lamentavelmente, Juscelino perdeu a vida. Senador, cumprimento-o por seu pronunciamento, no qual lembra a importância de Juscelino para Minas e para o Brasil.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Eduardo Azeredo, sua sugestão vem em boa hora. Estive no local, percorri a Dutra toda quando fizemos a investigação sobre a morte de JK. Realmente isso seria muito oportuno, especialmente agora, quando se aproxima o momento em que vamos comemorar os cinqüenta anos de sua posse - agora no dia 31 de janeiro. A propósito, tive uma conversa com o Presidente da Casa, Senador Renan Calheiros, que está pronto a fazer, aqui no Senado, uma homenagem aos cinqüenta anos do início do Governo JK, que tanto marcou o nosso País.
O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Alvaro Dias, ouço V. Exª com o maior prazer.
O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Paulo Octávio, gostaria de me associar às palavras de V. Exª, cumprimentá-lo pela oportunidade do discurso e cumprimentar também a Rede Globo pela oportunidade da iniciativa. Num momento de grande frustração nacional em função da crise política que estamos vivendo, essa minissérie nos faz lembrar que há exemplos de homens públicos que devem ser seguidos, e Juscelino Kubitschek é um deles. Por isso, meus cumprimentos a V. Exª pelo oportuno discurso que faz da tribuna do Senado.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Alvaro Dias, muito obrigado.
Senador Augusto Botelho.
O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Paulo Octávio, quero louvá-lo pelo pronunciamento e também fazer uma referência de louvor à Rede Globo - o Senador Alvaro Dias capturou meu pensamento. Essa minissérie está mostrando às pessoas que existem políticos que fazem as coisas como elas querem que sejam feitas. E nós, da Amazônia, devemos muito a Juscelino Kubitschek, porque éramos muito isolados, ninguém chegava, por terra, àquela nossa região. Se não tivesse feito a Belém-Brasília e Brasília, hoje haveria certamente alguns países querendo que a soberania do Brasil não chegasse até o Centro-Oeste, como falam em relação à Amazônia. Eu o admiro muito e tenho certeza de que as pessoas, conhecendo essa obra de arte, esse documentário, vão tomá-lo como referência para eleger os próximos candidatos ao Governo e aos cargos eletivos no País. Parabéns a V. Exª e à Rede Globo pelo documentário. Muito obrigado.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Senador Almeida Lima.
O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Nobre Senador Paulo Octávio, quero congratular-me com V. Exª e com toda a família JK. Sem dúvida alguma, Juscelino Kubitschek é uma inspiração para todos aqueles que desejam um Brasil grande, independente e desenvolvido. Gostaria apenas de registrar um fato que considero uma página irônica da história brasileira e que envolve a trajetória dessa figura extremamente importante para a história do nosso País. Segundo relato do jornalista e escritor Elio Gaspari, em seu livro Ditadura Envergonhada, e também passagens da biografia escrita por Ronaldo Costa Couto...
O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª a conclusão do aparte e, ao orador, que compreenda que já dispôs de trinta minutos para seu discurso.
O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - ...Brasília JK de Oliveira, quando da ditadura militar, Juscelino Kubitschek, bem próximo de Brasília, foi impedido de visitá-la em plena luz do dia. Sua paixão e seu amor por esta capital eram tão grandes, porém, que ele o fez às escondidas. Esse é o registro irônico da história: aquele que construiu Brasília não pôde matar a sua saudade visitando-a em plena luz do dia. Muito obrigado.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - É uma grande tristeza, Senador Almeida Lima. O homem que construiu Brasília não podia visitá-la.
Senador Gilvam Borges, peço que faça o seu aparte de forma breve porque o Presidente assim me solicitou.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Paulo Octávio, o resgate feito pela Rede Globo é ratificado por V. Exª com um belo pronunciamento. Como o tempo está se exaurindo, quero apenas me congratular com V. Exª. Em outra oportunidade, farei novo aparte a V. Exª.
O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF) - Muito obrigado, Senador Gilvam Borges. Peço a compreensão dos outros Senadores que querem se manifestar - sei que são muitos - mas o Presidente, com muita competência, determina que eu encerre meu pronunciamento. Poderíamos falar muito tempo sobre a história de JK, a saga da construção de Brasília e os cinqüenta anos que foram feitos em cinco.
Mas, Sr. Presidente, Juscelino é, na verdade, filho do Brasil e, nessa condição, paradoxalmente, assumiu a dimensão de símbolo de realização, de trabalho e de popularidade. E agora, nas telas dos televisores de todo o País, foi além, transformou-se em estrela, guia e paradigma que fixa procedimentos e incentiva o progresso. É um exemplo a seguir.
Meus parabéns aos autores, aos atores e a todos aqueles que, na Rede Globo de Televisão, contribuíram para esse magnífico trabalho de resgate histórico que constitui a minissérie sobre a vida de JK.
Aproveito para cumprimentar também o Correio Braziliense que ontem publicou duas páginas nas quais mostra um passeio em Brasília, para o qual convido todos os Senadores, pelos pontos que Juscelino ajudou a criar e tanto curtiu nos seus poucos dias de convivência com essa cidade.
Sr. Presidente, se JK estivesse hoje nesta cidade, na nossa Brasília tão querida, com dois milhões de habitantes, teria visto que a realidade superou seu sonho, pois a realidade foi maior do que o sonho de JK.
Encerro minhas palavras, mais uma vez, homenageando a Rede Globo de Televisão.