Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Prestação de contas dos compromissos assumidos por S.Exa. quando de sua posse, em 2003. Histórico da trajetória de S.Exa. nesta Casa.

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Prestação de contas dos compromissos assumidos por S.Exa. quando de sua posse, em 2003. Histórico da trajetória de S.Exa. nesta Casa.
Aparteantes
Adelmir Santana, Alvaro Dias, Antonio Carlos Júnior, Antonio Carlos Valadares, Arthur Virgílio, Augusto Botelho, Cristovam Buarque, Cícero Lucena, Demóstenes Torres, Edison Lobão, Eduardo Azeredo, Eduardo Suplicy, Efraim Morais, Flexa Ribeiro, Francisco Dornelles, Garibaldi Alves Filho, Heráclito Fortes, Inácio Arruda, Jarbas Vasconcelos, José Agripino, João Tenório, Lúcia Vânia, Marco Maciel, Marisa Serrano, Mozarildo Cavalcanti, Patrícia Saboya, Pedro Simon, Roberto Cavalcanti, Romero Jucá, Rosalba Ciarlini, Sergio Guerra, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2010 - Página 57573
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, DESPEDIDA, PRESTAÇÃO DE CONTAS, MANDATO ELETIVO, SENADOR, COMPROMISSO, DEFESA, INTERESSE, ESTADO DO CEARA (CE), POPULAÇÃO, DETALHAMENTO, MATERIA, INICIATIVA, APOIO, ORADOR, EXERCICIO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEVERES, FISCALIZAÇÃO, COBRANÇA, ATUAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • FRUSTRAÇÃO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AVALIAÇÃO, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, ETICA, RENOVAÇÃO, POLITICA NACIONAL, AUSENCIA, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, PREJUIZO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, CONLUIO, CORRUPÇÃO, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
  • RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PREPARAÇÃO, CRESCIMENTO, BRASIL.
  • EXPECTATIVA, GOVERNO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS, INFLAÇÃO, REALIZAÇÃO, REFORMA CONSTITUCIONAL, DEFINIÇÃO, PRIORIDADE, INVESTIMENTO PUBLICO, EDUCAÇÃO, INFRAESTRUTURA, DESENVOLVIMENTO, PRESERVAÇÃO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
  • AGRADECIMENTO, APOIO, SENADOR, SERVIDOR, HOMENAGEM, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, em 19 de março de 2003, subi pela primeira vez a esta tribuna como Senador.

            Reporto-me àquele momento porque desejo, além de trazer a minha despedida, prestar contas dos compromissos que assumi naquele dia perante os demais Senadores, perante o Brasil, especialmente diante de todos os cearenses, de defender os interesses do meu Estado e de sua gente.

            Ao mesmo tempo, nesta breve viagem no tempo, buscarei percorrer alguns momentos de minha trajetória nesta Casa, trazendo fatos, dados e impressões, enfim, circunstâncias que não apenas descrevem o passado, mas explicam o momento presente.

            Como eu dizia, comemorava-se o Dia de São José. Havia notícia de chuvas no sertão cearense, prenúncio de boa safra, e pedi a proteção do Padroeiro do Ceará, São José, para a missão que honrosamente me confiara seu povo.

            Lembro-me, claramente, Sr. Presidente, da particular emoção de estar assumindo a cadeira que, quatro décadas antes, fora do meu pai, Carlos Jereissati.

            Vivíamos a recente eleição do Presidente Lula, marco histórico, que saudei nas minhas primeiras palavras por sua trajetória de líder político nordestino, operário e líder sindical. Havia uma enorme esperança de o Brasil continuar avançando, modernizando-se, promovendo as reformas necessárias, tanto na legislação, quanto nas práticas políticas. Não apenas por isso, mas, acima de tudo, por acreditar, como ainda acredito, nos valores da democracia, coloquei-me aberto ao diálogo, disposto a inaugurar uma nova forma de relacionamento entre Governo e oposição.

            Eu queria aqui abrir um parêntese para saudar, para a honra nossa, especial, a presença do ex-governador de Minas Gerais e futuro Senador Aécio Neves, que muito me honra com a sua presença.

            Com o mesmo espírito, trabalhei intensamente no sentido de aprimorar projetos como a nova Lei de Falências e a chamada MP do Bem. Na Lei da Biossegurança, apresentei emenda para permitir pesquisas com células-tronco com fins terapêuticos, única esperança de cura para milhares de pessoas portadoras de doenças e lesões de origem genética.

            Não posso deixar de mencionar ainda todo o esforço que o saudoso Senador Antonio Carlos Magalhães e eu empreendemos durante mais de dois anos, especialmente na Comissão de Desenvolvimento Regional, para a recriação da nova Sudene e da nova Sudam. Buscávamos um novo conceito, baseado não apenas na realização de grandes obras, mas no investimento no capital humano e na igualdade de oportunidades. Para nosso total desencanto, no entanto, ao sancionar a lei, o Presidente vetou itens fundamentais para que os objetivos dos projetos fossem cumpridos.

            Outro debate importante foi a renovação da CPMF. O Governo não quis reconhecer que a carga tributária estava crescendo muito. No Governo Fernando Henrique, foi em média de 30,2% do PIB; e no Governo Lula foi mais de 34% do PIB. Portanto, não havia mais qualquer necessidade de manter a CPMF nos moldes em que ela havia sido implementada.

            Tentamos, por diversas vezes, conseguir do Governo o compromisso de sua redução gradual ao longo do tempo, sem sucesso. É falso o argumento de que os recursos federais para a saúde caíram depois da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Relatórios do próprio Governo mostram que aumentaram, até porque a arrecadação federal aumentou como um todo, mais do que compensando o fim daquela Contribuição. O problema da saúde não é de recursos, mas de gestão. Qualquer tentativa, aliás, de recriação da CPMF hoje nada mais seria do que um evidente estelionato eleitoral, vindo de uma candidata recém-eleita que se comprometeu com o País em diminuir a carga tributária.

            Na busca de simplificar o sistema tributário, o Senador Francisco Dornelles e eu, em antecipação ao projeto do Executivo, encabeçamos subcomissão para apresentar uma proposta de reforma que foi aplaudida por todos os especialistas e até por membros do Governo. Entretanto, até hoje, a reforma tributária não avançou, fruto da intransigência de uns, da falta de visão de outros, mas, acima de tudo, da absoluta falta de vontade do Governo.

            Em 2008, por indicação e delegação do Presidente desta Casa, Senador José Sarney, de quem eu me orgulho de ser amigo pessoal, novamente, ao lado do Senador Dornelles, fui Relator da Subcomissão de Acompanhamento da Crise Econômica, que teve como objetivo apresentar alternativas de enfrentamento da crise para o Governo. Os principais resultados desses trabalhos foram editados pelo Senado Federal, na forma de dois documentos denominados, respectivamente, “Proposta de Sistema Tributário” e “Crédito Spread - custo da intermediação bancária”.

            Sempre alertamos para o descontrole de gastos do Governo, para os riscos da política de superávits e para a desobediência dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Da mesma forma, criticamos a expansão do crédito como única política de promoção do desenvolvimento sustentado. Apesar de negar tais fatos durante a campanha, a Presidente eleita já dá sinais de reconhecer, felizmente, a gravidade do problema, confirmando esse diagnóstico.

            Se, pelo lado das propostas legislativas, procuramos sempre colaborar, por outro lado, em tempo algum, durante esses oito anos de mandato, abrimos mão do nosso direito e dever de fiscalizar, de cobrar satisfações para alguns mal feitos da República.

            Nesse aspecto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse Governo e seus membros foram por demais pródigos. Foi exatamente por conta de um desses episódios que, em mim, particularmente, desfez-se a ilusão de que estávamos diante de um novo momento da política brasileira. Até pelo contrário, quando em meados de 2004 chegou ao Senado o Projeto de Lei das Parcerias Públicas Privadas (PPPs), chamei a atenção para as gritantes falhas da proposta. Basta lembrar que, entre outros absurdos, o projeto previa a concessão de serviços e obras públicas à iniciativa privada, permitindo que essa tivesse todo o seu investimento financiado por bancos oficiais; ou seja, o parceiro privado seria totalmente financiado com dinheiro público.

            Ao longo dessas discussões, tive o desprazer de tomar conhecimento de uma pessoa até então mais afeta aos bastidores partidários, o Sr. Delúbio Soares. Atentem para o absurdo: o tesoureiro do PT, sem nenhum cargo ou função dentro do Governo Federal, transitava sem o menor constrangimento até mesmo neste plenário, em colóquios e cafezinhos com representantes de grandes empreiteiras e Senadores da base aliada. De que estariam tratando? Qual o seu interesse comum?

        Denunciei essa perniciosa relação, cobrando providências ao Governo, mas, para minha enorme decepção e desencanto, o que sobreveio foi um processo por injúria contra mim no Supremo Tribunal Federal, movido pelo Partido dos Trabalhadores e por Delúbio, posteriormente arquivado por aquela Corte.

            Da mesma forma, trouxemos a público, o Senador Arthur Virgílio e eu, outro personagem até então quase desconhecido e que veio a se tornar muito famoso, o publicitário Marcos Valério. Era o proprietário das agências de publicidade que serviram a um dos maiores escândalos da história brasileira e a uma das maiores farsas, que foi a criação, àquela época, Senador Virgílio, do Banco Popular do Brasil, hoje totalmente esquecido. Não sou eu quem denuncia, mas o Procurador-Geral da República de então, Dr. Antonio Fernandes de Souza.

            A verdade é que, desde o início do atual Governo, por todos os ângulos, desvanecia-se a expectativa de modernização das nossas práticas políticas. A serviço do PT e de seus aliados, o que se via era o progressivo aparelhamento do Estado, a crescente apropriação dos instrumentos de política econômica, das instituições públicas de financiamento, das estatais e dos seus fundos de pensão.

            O loteamento de cargos em troca de apoio no Congresso prevaleceu sobre a competência ou o mínimo de compromisso programático. A cooptação dos ditos movimentos populares, das centrais sindicais e entidades da sociedade civil, por meio de transferência de recursos, era outra estratégia reveladora das pretensões do Governo.

            Lembro-me do profético alerta do saudoso Senador Jefferson Péres para os riscos da mexicanização da política brasileira. O Senador amazonense sabiamente nos advertia sobre a tentativa de pasteurização da política e da imposição de uma força hegemônica, baseada na troca de favores e cargos, e onde a corrupção e o compadrio prevaleciam na gestão pública.

            O caso Waldomiro, primeiro assessor de José Dirceu a ser flagrado em pedido de propina, foi só o início de um largo rosário de desvios de conduta dentro do Governo.

            Chama a atenção o fato de que nada menos do que dois Ministros da Casa Civil, José Dirceu e Erenice Guerra, caíram por envolvimento em escândalos. Fica claro que ali, no coração do Governo, era onde a serpente punha os ovos. Bingos, Celso Daniel, vampiros, Toninho do PT, Correios, sanguessugas, dólares na cueca, Francenildo, aloprados, ONGs, Bancoop, GTech, Gautama, para citar apenas alguns, são verbetes da enciclopédia de escândalos que envolveram o Governo e o Partido dos Trabalhadores.

            Apesar disso, nunca propusemos nem quisemos o impeachment do Presidente Lula, mas nós não poderíamos simplesmente ficar calados diante de tantos descalabros. Este é o dever e o papel da oposição em um regime democrático. Com muito custo, conseguimos a instalação de CPIs para apurar a fundo as denúncias, como o próprio Governo sempre disse estar interessado.

            Nesse particular, a despeito de algumas terem produzido resultado, esse Governo reagiu no sentido de desmoralizar de todas as formas possíveis o Congresso Nacional.

            As comissões parlamentares de inquérito, que outrora serviram de instrumento para o desmantelamento de vários esquemas criminosos e que afastaram da vida pública tantos e tantos malfeitores, foram totalmente desacreditadas pelo Governo e pelo seu rolo compressor.

            Nada, absolutamente nada de relevante pôde, por exemplo, ser levantado pela CPI da Petrobras e pela CPI das ONGs, diante da ação de Relatores submissos e de articulação do bloco de apoio ao Governo.

            Da minha parte, não foi apenas no âmbito da CPI que alertei para episódios que envolviam o uso indevido de recursos públicos. Lembro casos, por exemplo, dos empréstimos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para a Petrobras, inicialmente negados pelos líderes do governo no Senado e mais tarde confirmados pelo auditor das empresas. Alertei também para as compensações tributárias realizadas pela Petrobras que derrubaram a arrecadação federal no ano de crise. As minhas afirmações, negadas e minimizadas pelo presidente da empresa, levaram à queda da Secretária de Receita Federal por ter confirmado que eu tinha razão, ou seja, por ter reconhecido a verdade. Hoje, depois do que vivi e testemunhei, não tenho receio em afirmar: o governo não apenas sabia de tudo, mas foi conivente e, às vezes, até cúmplice de todo esse quadro.

            Julgo eu que o governo reflete sempre o caráter e a personalidade do seu líder. Por isso, eu gostaria de pedir permissão para trazer também, em breve síntese, minhas impressões sobre o Presidente Lula, nada que não tenha sido dito por mim ou por vários observadores e comentaristas, mas simples testemunho de quem acompanhou de perto a política nacional nos últimos oito anos.

            Para mim, e acredito que para muitos milhões de brasileiros, Lula foi uma decepção em vários sentidos. Lula nos decepcionou como político, como liderança comprometida com a ética e com a honestidade, como símbolo da mudança nas relações do governo com a sociedade, do Executivo com os demais poderes e, principalmente, como esperança de algo realmente novo na vida nacional.

            A sua conivência com esses malfeitos e a sua cumplicidade com seus companheiros e aliados não estão, de forma alguma, à altura das expectativas que o povo brasileiro tinha nele. Sua rendição às chantagens políticas e sua união a gente que ele sempre execrou em público para depois fazer conchavos e acordos de bastidores não são compatíveis com seu discurso nem com as bandeiras que outrora empunhava.

            Outro mito que desmorona é a imagem de grande democrata e estadista, desmorona não apenas diante de alianças e apoios explícitos a regimes e a ditadores, mas, principalmente, diante da sua falta de compreensão da importância da oposição em uma democracia. Lula ignora que, se é verdade que nem sempre é possível escolher os aliados, sempre se pode escolher os adversários. Isso porque não há melhor aliado do que um adversário digno, alguém que critique e denuncie os erros, mas também apoie nos momentos em que estiverem em jogos os reais interesses do País, alguém que, inclusive, possa dizer aos aliados de ocasião aquilo que o governante gostaria de dizer, mas não pode, o opositor que não venda seu apoio nem seu silêncio em troca de cargos ou favores.

            Do alto de sua incontestável popularidade, Lula poderia ter sido um grande estadista, ter feito as reformas de que o Brasil precisava - a política, a tributária, a trabalhista -, engrenagens que teimam em travar o nosso avanço e, para isso, teria todo o nosso apoio. Mas não o fez, preferiu seguir o caminho fácil do poder pelo poder.

            Fico com a sensação de estarmos diante de Macunaíma, o herói errático de Mário de Andrade. Não me refiro a um vício de personalidade, mas a alguém que apenas transita pelo mundo ao saber do acaso, sem outro fim ou projeto que não seja o da própria sobrevivência, capaz de tudo para consegui-la.

            Lula se vangloria de ter construído o Brasil, assim como Macunaíma se julgava capaz de controlar o universo manipulando monstros e deuses. Lula não teve a grandeza, mesmo agora, findo o período eleitoral, já no fim do seu mandato, de reconhecer os feitos do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Foi, para mim, profundamente preocupante a insistência obcecada do Presidente em diminuir, desvalorizar e desqualificar as realizações dos governos anteriores, taxando-as de “herança maldita”.

            No fundo, ele sabe que deveria agradecer pelo legado que recebeu. O Brasil mudou e passou a ser respeitado internacionalmente pelas profundas reformas feitas pela visão e pelo espírito público de Fernando Henrique Cardoso, um líder, Srs. Senadores, que não deixou, em nenhum momento, prevalecer a busca pela popularidade fácil e de curto prazo, um estadista que teve sempre suas ações voltadas para a construção de uma nação moderna, baseada em fortes instituições democráticas e econômicas que o atual governo herdou e, em muitos aspectos, continuou.

            No mesmo nível, estava a Drª Ruth Cardoso, que formulou e pôs em prática as políticas para a construção de uma rede de proteção social, sem assistencialismo e apadrinhamento, voltada para a conquista da dignidade através da educação e do trabalho.

            Foi ainda FHC, mesmo com o voto contrário do PT, quem criou o Fundef, que permitiu, desde 2002, que mais de 97% das crianças de 7 a 14 anos passassem a frequentar a escola. Ironicamente, os maiores exemplos da boa herança deixada por Fernando Henrique são exatamente aqueles programas que mais contribuíram para garantir a popularidade de Lula e dar credibilidade a seu governo: a estabilidade da economia, as privatizações e o Bolsa Família.

            O Bolsa-Família, nunca é demais repetir, é o resultado da unificação dos programas de transferência de renda: Bolsa-Escola, Auxílio-Alimentação e Auxílio-Gás, todos criados durante o Governo Fernando Henrique Cardoso.

            As propostas e realizações do PSDB foram sempre negadas ou desmerecidas, especialmente as da área social. Eu mesmo apresentei proposta para fortalecer o Bolsa-Família, vinculando-o ao desempenho escolar. Elogiada por especialistas, ela foi apenas, por ter origem na oposição, negligenciada pelo governo.

            Volto à boa herança deixada por Fernando Henrique: o Plano Real, gestado durante a sua passagem, sob a liderança do Presidente Itamar, foi, sem dúvida, o maior plano de combate à pobreza levado a termo no Brasil. Depois de estabilizada a moeda, foi possível - já no decorrer do Governo FHC - implementar medidas como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a recuperação do BNDES, o fortalecimento e capitalização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. Com o fim da inflação, muitos bancos perderam a receita advinda da ciranda financeira.

            Para evitar os riscos de insolvência do sistema, foi criado o Programa de Recuperação dos Bancos, conhecido como Proer. Pois foi exatamente esse programa - motivo de um pedido de impeachment do Presidente Fernando Henrique pelo PT - que permitiu ao nosso sistema financeiro passar sem maiores sobressaltos pela crise que abalou os mercados mundiais em 2009.

            As privatizações, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, apesar de ser verdade que falhamos na comunicação e na resposta à maldosa exploração política do tema, foram, sim, outro grande feito do Governo Fernando Henrique.

            A revolução feita nas telecomunicações é o melhor exemplo disso. A falta de capacidade de investimento enquanto estatizado fez o setor praticamente estacionar na década de 90. Telefone era artigo de luxo. Hoje, no Brasil, Governador Aécio Neves, existem mais celulares do que brasileiros.

            Após a privatização, a Vale do Rio Doce, que é outro exemplo de sucesso da privatização, viu o seu lucro anual subir de cerca de US$500 milhões em 1996 para, aproximadamente, US$12 bilhões atualmente. De treze mil funcionários em 2006, a empresa já superou os quarenta mil funcionários. A Embraer, antes de ser privatizada, estava à beira da falência. Hoje, é avaliada em 17 bilhões e figura entre as três maiores fabricantes de jatos do mundo.

            A verdade é que o ex-Presidente Fernando Henrique é um grande estadista, um dos intelectuais mais brilhantes do Brasil, reconhecido internacionalmente, alguém a quem a história, certamente, fará justiça.

            Dentro da estratégia oficial de desvirtuar a história, usou-se e abusou-se da tática da demonização do termo privatização e da sacralização da palavra Petrobras. Houve momentos, durante as últimas eleições, em que até o Papa podia ser criticado, mas a Petrobras não. Porém, nem a privatização é um pecado, nem a Petrobras é sagrada. A Petrobras, que se afirme e reafirme, nunca ninguém pretendeu privatizar. Tornou-se, no entanto, um enorme instrumento de barganhas políticas, truques econômicos e propagandas eleitorais.

            É bom registrar que, durante o Governo Fernando Henrique, a produção de petróleo neste País foi de 109% contra um crescimento de apenas 30% no atual Governo. Se, por um lado, os Governos do PSDB não privatizaram a Petrobras - e nem o fariam -, por outro, o atual Governo transformou a empresa em braço político para abrigar seus afilhados. Basta conferir os nomes dos titulares das diretorias e principais cargos para aí se perceber o evidente critério político utilizado no preenchimento dos seus mais altos postos.

            Pelo menos, por duas vezes, manobras mascararam a contabilidade da empresa, seja a mudança para o regime de caixa no meio de um mesmo exercício, seja a recente e suspeita forma de capitalização da empresa. O mercado que tudo ouve e tudo vê respondeu de imediato. As ações da companhia chegaram a perder um terço do seu valor em menos de duas semanas.

            Não quero, porém, registrar apenas críticas. Ressalto e elogio o trabalho de alguns Ministros, para os quais, apesar de nem sempre estar de acordo, expresso o meu profundo respeito. É o caso do Ministro Mantega e do Ministro Meirelles, que souberam administrar, com competência, a crise econômica; o ex-Ministro Patrus Ananias, que teve a sabedoria de dar continuidade e ampliar os programas de transferência de renda do Governo Fernando Henrique; a ex-Ministra Marina Silva, que resistiu o quanto pôde a tentativas do Governo de violação das políticas de meio ambiente e da preservação da Amazônia. Não posso deixar de mencionar também a seriedade com que o ex-Ministro Palocci conduziu a política econômica do País. Ele foi o grande fiador da economia dos primeiros anos do Governo Lula.

            Hoje percebo evidente continuidade de políticas públicas e de modelo econômico nesses dezoito últimos anos, que englobam o mandato Itamar Franco, os dois mandatos FHC e os dois mandatos do Presidente Lula. Os Governos Itamar e Fernando Henrique foram os Governos de construção das instituições. O Governo Lula, fruto da maturação das reformas institucionais dos Governos anteriores e de um cenário externo extremamente favorável, foi o Governo da retomada do crescimento.

            Espero, do fundo do meu coração, que não estejamos trilhando o mesmo caminho de ciclo econômicos já vivenciados, ou seja, construção das instituições, estabilização, crescimento e euforia, seguidos de descontrole nos gastos e períodos de inflação que deságuam em novas crises.

            Para alguns, esse meu receio pode parecer infundado. Lembro, porém, que o choque externo do subprime serviu de pretexto para uma inflexão que parece que veio para ficar na nossa política econômica. Vejo com preocupação a forma como os bancos públicos têm sido fortalecidos, com complexas e obscuras operações de capitalização, inclusive em relação à Caixa Econômica Federal.

            A alteração do marco regulatório do petróleo, o crescimento inexplicável dos gastos públicos no período pós-crise e a criação de inúmeras empresas estatais são indícios de que o Governo Dilma poderá repetir um grande erro do passado: acreditar que o Brasil possa crescer sem aumentar a poupança doméstica e sem retomar o caminho das reformas estruturais.

            Declarações de que não há relação entre a política fiscal e inflação devem servir de alerta para que o País não sofra um processo de destruição de toda a base econômica, construída com sacrifício de tantos brasileiros.

            Ao mesmo tempo em que o futuro Governo fala de responsabilidade fiscal, aplaude o processo pouco transparente e apressado para a construção do trem de alta velocidade. É um projeto caro, com riscos elevados e que hoje não é prioritário em um País que precisa resolver o seu déficit educacional, carece urgentemente de investimentos em portos, aeroportos, rodovias e, principalmente, em saneamento básico.

            Temo por um Governo que se diz de esquerda, mas cujo modelo econômico baseia-se na promoção de oligopólios, com recursos subsidiados; Governo que olha de vez em quando para as pequenas empresas como se fossem pedintes, que precisam de alguns favores para sobreviverem às circunstâncias adversas.

            É isso que se espera de um Governo democrático, que se diz de esquerda? Será que melhorou o ambiente de negócios do Brasil para essa legião de pequenos empresários, que são os verdadeiros capitalistas deste País? Infelizmente, vai se consolidando um modelo econômico em que o sucesso depende das boas relações com o Governo, um capitalismo atrasado, de compadrio, na qual a competitividade de uma empresa ou setor é definida em um gabinete em Brasília e não pelas forças de mercado.

            No momento em que me despeço do Parlamento, na forma desta prestação de contas, faço um breve relato de outras matérias que apresentei e que considero relevantes: correção mais justa do FGTS, combate ao trabalho escravo, tipificação como crime a venda de bebidas alcoólicas para menores, aumento das penas nos crimes relacionados ao tráfico de drogas em escolas e universidades, proibição de venda de bebidas alcoólicas nas estradas, distribuição regional do gasto federal, obrigatoriedade de a Caixa Econômica priorizar a aplicação de recursos no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, criação das ZPEs, extensão dos benefícios do Fundo Garantia Safra aos pequenos proprietários e arrendatários de terra, criação de um fundo de formação de poupança e desenvolvimento da Educação Básica com recursos da exploração de petróleo e gás, entre outras. Com a criação de uma subcomissão específica para tratar do tema, trouxemos para a pauta do Senado Federal a gravíssima situação da segurança pública. Promovemos inúmeras audiências com autoridades, especialistas e membros das forças policiais, discutindo e formulando propostas para o combate à criminalidade.

            São frutos desse trabalho: o Estatuto do Desarmamento e o plebiscito sobre o porte de armas; a reforma da lei de execuções penais, que hoje permite isolamento das lideranças do tráfico de drogas; a videoconferência para interrogatório de presos e depoimento de testemunhas; as pulseiras para monitoramento eletrônico de presos; a regulamentação da progressão de regime no cumprimento das penas de crimes hediondos, dentre outros.

            Também apresentamos uma PEC que possibilita aos Estados-Membros decidirem sobre a possibilidade da unificação das Polícias, que, embora ainda não tenha sido votada, poderia ser um tema relevante para a próxima legislatura.

            Ressalto, ainda, matérias que acredito serem de extrema importância para o País, como o meu projeto de responsabilidade orçamentária, ora na mão eminente e competente do Senador Dornelles, e o Estatuto da Empresa Pública, de autoria e iniciativa do Presidente Sarney e que foi por mim relatado.

            Como colaboração para a recuperação da imagem desta Casa, assim como para aperfeiçoamento dos trabalhos legislativos, deixo os relatórios da reforma administrativa e do novo Regimento Interno do Senado Federal.

            Registro, ainda, o meu esforço no sentido de tornar realidade as promessas do Governo Federal de instalar no Ceará uma siderúrgica, um estaleiro e uma refinaria, promessas tantas vezes repetidas, principalmente nas eleições, mas que até hoje não se tornaram realidade.

            Gostaria finalmente de fazer um alerta de ordem política. Não tenho ilusão quanto ao atual projeto de poder. Está em jogo a democracia brasileira.

            Durante este Governo, a liberdade de expressão esteve permanentemente em risco. Presenciamos recorrentes tentativas de calar a imprensa, das quais menciono algumas: a ideia da expulsão de um correspondente estrangeiro, a esdrúxula iniciativa da criação de um Conselho Federal de Jornalismo e a disfarçada iniciativa do controle de conteúdo da mídia sob o manto da defesa dos direitos humanos.

            Nesse episódio, não fosse a reação de muitos de nós e das entidades de classe do setor, talvez já estivéssemos, hoje, sob o julgo de um modelo venezuelano de controle social dos meios de comunicação.

            Novas tentativas virão, como a imprensa já noticia, a respeito do projeto da criação da Agência Nacional de Comunicação, a ser apresentado à futura Presidente.

            A sociedade brasileira e especialmente esta Casa devem estar atentas e prontas a repelir tais investidas contra a democracia.

            Permanecerão no Governo que se inicia grupos que têm uma visão deturpada das práticas políticas. Aqueles que tratam a Oposição - essencial, como já disse, em qualquer regime democrático - como inimigos a serem aniquilados, pessoas que não conseguem conviver com a imprensa livre e com respeito às liberdades individuais. Por mais facilidades que hoje os que detêm o poder possam oferecer a seus aliados, assim que alcançarem seus objetivos, estaremos todos, aliados, a Oposição e a população brasileira em geral, submetidos ao julgo do esquema por eles montado.

            Não se pode tergiversar nem por um segundo sobre os princípios da liberdade e justiça que orientaram a promulgação da Constituição de 1988.

            O Presidente da República disse até que a derrota de alguns Senadores da Oposição havia sido obra de Deus, quase se declarou instrumento da vingança divina. Mais próximo de Deus certamente está o Padre António Vieira, que, em seu célebre Sermão do Bom Ladrão, comparou os príncipes de Jerusalém aos governantes de sua época, que fingiam, assim como hoje, não saber o que acontecia sob suas barbas. O Senador Sarney deve conhecer, como profundo conhecedor do Padre António Vieira, esse trecho de cor. Se depois quiser recitar, seria muito honroso para nós.

            Volto, mais uma vez, àquele longínquo 19 de março de 2003. Como eu disse no início, evoco porque entendo que o compromisso ali firmado, que hoje renovo, não apenas marca aquele momento do passado, mas explica e determina o presente que hoje vivemos. Se é verdade que o homem é o que determina suas circunstâncias, as circunstâncias daquele dia e as de hoje não mudaram o que sou. A verdade que se encerra no espírito do homem, o que ele é realmente, é forjada ao longo de toda a sua vida, desde seu nascimento. Transmudar-se diante de uma nova circunstância, traindo sua história e sua essência, como fazem alguns, revela seu caráter, ou melhor, a falta dele.

            Assim, não me arrependo, de forma alguma, de ter permanecido firme em meus princípios e convicções. Não me resignei diante da corrupção, muito menos me calei diante dos ataques à democracia. Tenho muito orgulho de poder afirmar, olhando nos olhos hoje de cada um dos meus colegas Senadores, que, em toda a minha atuação nesta Casa, assim como ao longo de toda a minha vida pública, que agi com coerência e segui minhas convicções e princípios. Tinha a exata noção dos riscos que corria. Atraí contra mim todas as forças do poder. Seria muito mais fácil render-me à chantagem e à pressão, cedendo diante de um acordo que facilitasse o meu caminho, mas este caminho seria a negação da minha história, seria a negação dos meus compromissos com os cearenses e com o povo brasileiro. Se assim o fizesse, trairia os ensinamentos do meu pai, a quem sempre busquei honrar. Perdi uma eleição, mas não perdi a minha história.

            Quero, finalmente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradecer a todos aqueles com quem tive o privilégio de conviver nesses últimos oito anos, pela amizade, colaboração e pela enorme dedicação a esta Casa e ao País, desde o mais graduado servidor da Casa, dos órgãos da Direção, da Consultoria, da Secretaria da Mesa, até meus amigos do cafezinho, da portaria, dos elevadores, que me ajudaram, com seu apoio e dedicação, a cumprir os meus deveres aqui no Senado Federal. Aos servidores do meu gabinete, faço aqui o meu agradecimento muito especial pela lealdade e dedicação.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permita-me um aparte, Senador Tasso Jereissati.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Já estou terminando, Senador.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Obrigado a V. Exª.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Aqui, Srªs e Srs. Senadores, aprendi a conviver com diferentes opiniões políticas e ideológicas, com homens e mulheres de diversas origens, que fizeram do meu dia a dia um verdadeiro exercício da democracia e da tolerância mútua.

            Conheci, Srªs e Srs. Senadores, grandes mulheres e homens públicos que me honraram com sua convivência, a quem, neste momento, não posso deixar de homenagear. E diante da profusão de nomes tão dignos, de tantos verdadeiros patriotas, de companheiros tão valorosos, permitam-me fazê-lo genericamente, homenageando a todos esses grandes brasileiros em um pleito de amizade e respeito.

            Aqui aprendi muito, daqui levo muitas lições. Desfiz muitas certezas e firmei muitas outras tantas, mas a principal delas é que o Brasil ainda cumprirá seu destino de grandeza, apesar dos falsos profetas e dos usurpadores dessa esperança.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, muito obrigado, Srs. Senadores. (Palmas.)

            Sr. Presidente, permitiria o aparte dos colegas ainda? Muito obrigado, Senador.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Senador Tasso, também gostaria de um aparte.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Também gostaria de me inscrever para um aparte.

            O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE) - Todos estamos inscritos.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Tasso Jereissati, V. Exª é um verdadeiro homem público e se elegeu por três vezes governador do seu Estado e, após isso, Senador para um mandato de oito anos. Essa é a compreensão que o democrata deve ter. V. Exª não se elegeu o Senador eterno, vitalício, mas Senador por oito anos. As razões do seu não retorno à Casa têm que ser muito bem apreciadas pelos cronistas dessa ocasião, mas V. Exª, durante os seus oito anos, cumpriu à risca, com o seu bom e seu correto mandato. Os autoritários, os ditadores ou os candidatos a ditadores, eles imaginam que o poder deve ser resguardado sob suas asas eternamente, e não raro, ou melhor, quase sempre, eu diria sempre, terminam muito mal, ou pessoalmente, ou do ponto de vista do julgamento que a história fará deles. Alguns não se interessam pela história pela visão curta de que o que interessa é a vida, é o momento presente. São assim meio hippies de Woodstock. Não interessa o que vem depois. Trocaram, como o Presidente Lula fez, o dever histórico de prosseguir as reformas pela coisa imediata da popularidade. Ao invés de fazer o papel do estadista, de Roosevelt, fez o papel da nossa querida Xuxa: vender simpatia; as reformas davam desgaste, enfim. V. Exª falou em herança maldita. Herança maldita foi, na verdade, a que ele repassa para sua principal auxiliar, que é a Ministra Dilma. Aí estão medidas restritivas ao crédito: R$61 bilhões enxugados da circulação e que prejudicam quem não teve nada com a crise fiscal que há anos V. Exª e eu denunciamos dessa tribuna. A crise fiscal, que é culpa da gastança governamental, que, aliás, tinha objetivos eleitoreiros muito claros, essa crise fiscal agora vai ser paga por todos os brasileiros sob a forma de restrição ao crédito, de juros mais caros ao consumidor. E vem também, obviamente, mais dia menos dia, aumento das taxas básicas de juros. E, antes disso, nós já vimos os anúncios, esses sim, corretos, da Presidenta eleita Dilma Rousseff, de que cortes orçamentários devem ser feitos. Mas, sem as reformas - e ela não sei se está disposta a fazê-las, a tentá-las -, esses cortes não serão o bastante, não serão suficientes para, efetivamente, resolverem a equação fiscal, que, há anos, denunciamos desta tribuna - V. Exª, eu e algumas pessoas que têm o mesmo entendimento. O Presidente, além da crise fiscal e do desapego a reformas, legou à sua sucessora a crise da fisiologia. Eu leio com estarrecimento que, talvez, os Ministérios passassem de 38 para 40, 21 reservados para o butim da tal base aliada. Vinte e um! Ou seja, o critério de meritocracia, isso não importa. O importante é construir um rolo compressor que evite aquilo que, para o Presidente, era constrangedor e que, para o estadista, seria enaltecedor, que era a resistência que a ele opunha um Senado que tinha uma expressiva minoria capaz de, sem dúvida alguma, decidir sobre as votações fundamentais desta Casa. O Presidente Lula lega ao País instituições piores, todas elas. Agressões sistemáticas ao Judiciário, a desmoralização do Legislativo, a partir daquela prática nefanda e denunciada e jamais negada ou jamais negável - não há mágico que consiga negar, em nenhuma peregrinação pelo País, o vício do “mensalão” -, e o Executivo, que nós sabemos muito bem o que se passou - V. Exª exaustivamente falou do que se passou nas entranhas do Executivo: a resposta autoritária de que “somos maioria”. Olha, maioria, com 53 milhões de votos; e nós, minoria, com 43 milhões de votos. Quem ignora uma minoria assim está em qualquer órbita que não seja a terrestre. Agora, maioria nem sempre significa justeza, nem sempre significa acerto. Maioria muitas vezes pode significar um delírio momentâneo da população, conforme essa maioria. Ou Adolf Hitler não foi maioria em algum momento da vida da Alemanha, com triste memória para o povo alemão e para a sociedade mundial inteira? O Presidente errou, Senador. Errou, eu diria, por mesquinharia ou por sentimento de vingança - e isso revela um traço pequeno de personalidade -, dividindo o Brasil entre amigos e inimigos - V. Exª denunciou isso muito bem -, ou, por jogo tático estratégico, ele errou ao escolher certos inimigos. Discordo do Senador José Agripino, que se elegeu muito bem, felizmente, Senador e terá um papel de liderança muito proeminente nesta Casa como Líder de Oposição, mas estava no índex para ser derrotado, como eu próprio, V. Exª e o Senador Marconi Perillo, que, com muita coragem, elegeu-se Governador de Goiás, apesar de tudo que contra ele intentaram; o Senador Marco Maciel, que era uma figura que somente alguém que desconhecesse a noção do equilíbrio desta Casa poderia imaginar que esta Casa poderia prescindir do Senador Marco Maciel, pelo seu papel de ex-Presidente da República, por tantas interinidades, Vice-Presidente da República, Presidente das duas Casas, a primeira a Câmara dos Deputados, em idade tenra. Alguém que diz “eu tenho como meta eliminar Marco Maciel” é alguém que, sinceramente, não tem o juízo político no devido lugar. E isso custará caro ao País. Quer ver uma prova de como se plantou ódio neste País? Outro dia, na rede social, eu recomendava a uma amiga sua e minha, uma moça do Ceará, que não tratasse o Presidente Lula com ódio. Eu disse: não tenho nenhum ódio dele, apenas enfrento o Presidente Lula com o mandato, vou enfrentá-lo sem mandato e o enfrentarei em qualquer circunstância, do jeito que seja possível fazê-lo, até pela forma como ele se porta diante do Brasil. Assim como já estive ao lado dele, quando ele foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, e todos os políticos que hoje o bajulam, no Amazonas, fugiam dele. Eu fui com ele até a auditoria e fiquei com ele até a absolvição merecida que ele recebeu. Eu disse: mas não tenha ódio dele, não se trabalha ódio. Eu recebi uns 200 twitters de volta, todos me criticando. No final, eu estava sendo xingado no twitter porque eu estaria, supostamente, defendendo o Presidente Lula. Eu disse: não estou defendendo. Estou dizendo que o ódio não é a melhor forma de se fazer combate político. Eu não sei fazer combate político à base do ódio, à base da vingança. Quer outra prova, Senador? Vejo aqui esta figura honrada, o Senador Suplicy, que vai cumprir o seu dever de, certamente, fazer reparos, sem deixar de fazer a homenagem que V. Exª merece, ao discurso de V. Exª. Mas não há mais ninguém do PT aqui, que eu saiba. Isso é prova da separação entre o bem e o mal na cabeça maniqueísta imposta por Lula a tantos dos seus seguidores. O bem, eles; o mal, os que não estão com eles. Aos que são do “bem”, tudo é permitido, inclusive a prática do “mensalão”. Aos que são do mal, tudo tem que ser negado, inclusive o direito de exercitarem seus pensamentos com liberdade. O fato de não haver ninguém do PT hoje aqui para homenagear V. Exª - todos amigos seus, todos admiradores seus - é prova de que está funcionando mesmo esse jogo maniqueísta medíocre, esse jogo maniqueísta pequeno, que é reflexo da atitude que ele tomou, por exemplo, ao dizer que V. Exª não poderia se reeleger Senador do Ceará, porque, supostamente, votou contra a CPMF, o que não é verdade. Naquela derrota da CPMF, que não fez nenhum mal às finanças brasileiras - e o futuro imediato mostrou isso -, o Presidente Lula percebeu, naquele momento, que não passaria ali a tese do terceiro mandato. Nós, naquele Senado, não deixaríamos passar o terceiro mandato. Isso, sim, deve ter apoquentado muito quem acha bonito o exemplo que vem da Venezuela. A comparação com os dois mandatos de Fernando Henrique é uma comparação estulta, para não dizer, mais grosseiramente, estúpida, porque dois mandatos fazem parte da tradição democrática do mundo. Três mandatos significa abertura para quatro, cinco, seis, para a ditadura e para a tragédia no País. E nós éramos contra e somos contra a idéia do terceiro mandato. Vejo que esqueci do Senador Mão Santa e do Senador Heráclito Fortes, entre os alvos do Presidente. Mas quero dizer que V. Exª fez um discurso absolutamente alto, elevado, duro, fazendo as críticas tópicas todas, e conceitualmente um discurso redondo, um discurso perfeito. Eu fiz a maior questão de estar aqui presente ao seu discurso. Pretendo até fazer algo parecido - e, no meu caso, eu espero até que seja um “até logo” - na quarta-feira que vem. Não sei se com a mesma competência, mas, com certeza, com a mesma dedicação ao País, com o mesmo respeito ao Parlamento. Em outras palavras, encerra-se uma etapa da sua vida, que é o mandato de oito anos. V. Exª não se candidatou a um mandato de dezesseis anos, não se candidatou a Senador biônico, não se candidatou a virar móvel desta Casa. Portanto, devo dizer que, como seu amigo, como alguém que teve a honra de ser seu Líder aqui - na verdade, muitas vezes, seu liderado, pela sua capacidade natural de liderança -, devo dizer do orgulho que tenho de poder ter trabalhado ao seu lado, ouvindo, aprendendo, percebendo a sua capacidade de formar equipes, a sua capacidade de formular, a sua capacidade de, nas horas mais duras, ser solidário. Em outras palavras, o seu mandato foi cumprido à risca, como os três mandatos de Governador do Ceará. E V. Exª diz: “Eu abandono a vida pública”. O que eu acho difícil, Senador, é que nós permitamos que a vida pública abandone V. Exª. Muito obrigado.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio. Oportunamente, eu gostaria de fazer um comentário sobre a sua trajetória nesta Casa. Eu vou fazer até, em homenagem... Vi que o Senador Suplicy gostaria de fazer um aparte. Eu gostaria de pedir licença para dar ao Senador Suplicy o aparte por ele pedido, já que é a única presença do PT aqui.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Obrigado. Prezado Senador Tasso Jereissati, eu gostaria de informar ao Senador Arthur Virgílio e a V. Exª que eu estava, neste instante, falando com o Senador Aloizio Mercadante, que está com uma indisposição, uma gripe muito forte, e precisou ir para casa. Ele está indo para casa, depois de atendimento médico, há pouco. Ouviu o seu pronunciamento e pediu que, inclusive, eu falasse também como Vice-Líder, em nome dele, para aparteá-lo, inclusive em homenagem a V. Exª, que, nesses oito anos, sempre teve um procedimento de muito respeito para comigo e para com o Senador Aloizio Mercadante. Tivemos divergências. Houve um dia, de que me lembro, em que falamos assim com um grau de tensionamento muito grande entre nós dois, para já no dia seguinte ambos termos tomado a atitude de que, afinal, há tantas coisas que nos unem, como a vontade de construir um Brasil melhor, ainda que com pontos de vista diferentes, e não haveria razão para aqui termos um tensionamento entre nós. V. Exª tratou de muitos assuntos.Em primeiro lugar, quero registrar o importante trabalho que V. Exª, como relator da Subcomissão de Reforma Administrativa, presidida pelo Senador Jarbas Vasconcelos, está fazendo. V. Exª está dando uma contribuição muito importante e tem o respaldo da Subcomissão designada pelo Senador Demóstenes Torres. Hoje, V. Exª entregou seu relatório com o nosso respaldo para o Presidente Demóstenes Torres, da CCJ, e todos aguardamos que agora possa o Senado se debruçar, sobretudo com princípios sobre os quais temos afinidade. Esta Casa precisa ser um exemplo na sua forma de administração. O Presidente José Sarney providenciou que a Fundação Getúlio Vargas pudesse realizar um estudo que foi considerado por V. Exª. Houve sugestão de diversos funcionários. V. Exª analisou criticamente esse projeto alternativo e chegou a uma conclusão que leva em conta sobretudo os princípios de transparência que deve haver em uma Casa que tem a responsabilidade de fiscalizar o Executivo. Temos aqui que dar o exemplo, e V. Exª contribui positivamente, tenho certeza, na direção do que poderemos legar para que o Senado não venha a se caracterizar como a Casa onde haja problemas administrativos. Esta Casa tem que dar exemplos na condução e daí também na forma como aqui dialogamos. Em alguns momentos, avaliei que alguns Senadores aqui, por vezes nas críticas ao Presidente, aos Ministros e ao Governo, muitas vezes se excediam. Nem sempre esse foi o melhor caminho. Mas V. Exª hoje coloca como se o Presidente Lula não tivesse tantos méritos para ser considerado um grande estadista. Nessa sua avaliação, permita-me discordar. Estou mais com o Presidente Barack Obama, quando ele disse ao Presidente Lula: “Você é o cara”. Porque tantas vezes eu testemunhei como o Presidente Lula hoje é reconhecido, não apenas no exterior, mas também no Brasil como pessoa que deu extraordinária contribuição. Não é à toa que a sua avaliação perante o povo está em nível superior a 80% a 85%, e por medidas efetivas. Sim, por vezes, o Presidente Lula diz: “Nós conseguimos fazer mais do que os governos anteriores”. É fato, e V. Exª salienta, que o Presidente Fernando Henrique Cardoso como que preparou, com a estabilidade de preços conseguida pelo Plano Real, para que no Governo seguinte, nesses oito anos seguintes, pudesse a economia se desenvolver melhor, como de fato aconteceu. A taxa de crescimento dos 8 anos do Governo do Presidente Lula é significativamente superior e com uma característica que era o objetivo principal do Presidente, qual seja, de procurar combater a fome, a pobreza absoluta, procurar diminuir as iniquidades tão grandes. E os dados mostram que, desde 2002, para 2003, 2004, 2005, 2006, até 2009, o coeficiente de desigualdade, o chamado coeficiente Gini, foi diminuindo todos os anos, gradualmente, de 0,59%, por volta de 2002, para 0,53% por aí, em 2009. Então, consistentemente, houve progresso. V. Exª salienta que, muitas vezes, não houve o reconhecimento adequado daquilo que aconteceu no Governo Fernando Henrique Cardoso. Estava aqui ao lado do Senador Cristovam Buarque, e do nosso ex-Governador e que será o nosso colega, Aécio Neves, que nos honrou com sua presença, e certamente, ele sabe dessas coisas. Mas me permita fazer um breve relato, aqui, sobre essas coisas. Eu sempre procurei fazer questão, Senador Tasso Jereissati, de que a origem desses programas sociais, da sua preocupação e todas, ela vem de muito longe na história da humanidade. Poderia aqui citar que, em 23 de março de 1956, o Deputado Federal Josué de Castro, lá na Câmara dos Deputados, dizia: “Eu defendo o direito de toda pessoa, no Brasil, ter o mínimo necessário para a sua sobrevivência como um direito de ser brasileiro”. Estava lá Celso Furtado, Caio Prado Júnior, Milton Santos, dentre outros, que foram precursores daquilo que veio a ser essa preocupação. O Presidente José Sarney, o Senador Marco Maciel são testemunhas: em abril de 1991, aqui apresentei o primeiro projeto de garantia de renda mínima, sob a forma de um imposto de renda negativo. Em agosto de 1991, num seminário realizado sob a coordenação de Walter Barelli, cerca de 50 economistas se reuniram, e José Márcio Camargo, Antonio Maria da Silveira e eu apresentávamos na reunião o Programa de Garantia de Renda Mínima. E José Márcio Camargo disse: “Eduardo, isso é uma boa ideia, mas seria importante começarmos provendo às famílias carentes uma garantia de renda para que suas crianças estejam indo à escola. Seria um bom caminho”. Escreveu isso na Folha, em dezembro de 1991, e logo outro artigo em dezembro de 1993. Cristovam Buarque, que, desde o final dos anos 80, elaborava um pouco sobre esse caminho, disse a mim, em agosto de 1994: “Eduardo, gostaria que você me ajudasse e apoiasse. Eu vou apresentar uma forma de garantia de renda mínima”. Ao longo da sua campanha, no segundo semestre de 1994, ele apresentou aquilo que, em janeiro de 1995, aplicou no Paranoá como o Programa Bolsa Escola.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu vou concluir, Sr. Presidente. E o próprio José Roberto Magalhães Teixeira, também em novembro ou dezembro de 1994, me chamou para dialogar sobre aquilo que vieram a ser os dois programas pioneiros no Distrito Federal e em Campinas. E daí se espalhou por dezenas de Municípios no Brasil inteiro. Éramos, portanto, pessoas dos mais diversos partidos, PT, PSDB, todos colaborando. E claro e eu próprio levei à presença do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em uma audiência de 50 minutos, em que estava presente Paulo Renato Souza, o Ministro da Educação, e sua equipe, o maior defensor da Renda Básica de Cidadania, Philippe Van Parijs. Ele disse ao Fernando Henrique: “Presidente, a proposta melhor será um dia chegar à renda básica incondicional, mas iniciá-la com a renda mínima associada à educação, como está sendo proposto aqui, é um bom caminho, é um bom começo, porque se relacionará a um investimento em capital humano”. E aí o Presidente Fernando Henrique deu sinal verde para a primeira lei, a Lei nº 9.533, aprovada; depois, em 2000, outra lei. Daí se desenvolveram os programas que ele próprio, José Roberto Magalhães Teixeira, na lei de 2001, denominou também Bolsa Escola, depois Bolsa Alimentação. Enfim, com uma característica também, Senador Tasso Jereissati: todos esses programas, inclusive a Renda Básica de Cidadania, foram aprovados por todos os partidos presentes no Congresso Nacional, por consenso, inclusive a lei que instituirá um dia a renda básica universal incondicional para todos. Então, nesse sentido, é importante que haja a colaboração de todos nós. Eu teria tantas outras observações aqui anotadas, mas não vou abusar, pois tantos querem aparteá-lo. Ao concluir, como observação a respeito da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, registro o quão contente todos estamos - eu, como Senador pelo PT - porque a Presidente Dilma Rousseff expressou com muita clareza: “Eu prefiro o barulho da democracia ao silêncio da ditadura”. Então, liberdade de expressão, de maneira consistente com o que o Presidente Lula hoje defende, vai ser algo fundamental...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) -... no Governo da sucessora do Presidente Lula, a Presidente Dilma Rousseff. Então, quero continuar a dialogar com V. Exª e vou fazê-lo ao longo de todo o restante de nossas vidas, porque tenho por V. Exª respeito. Aprendi a ter não só na nossa convivência diária, mas também desde os tempos em que tive a honra de ser o seu professor na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Suplicy. Meu respeito por V. Exª. V. Exª é conhecedor desse respeito. Esse respeito, tenho certeza que vai cada vez mais se aprofundar.

            Como dissemos aqui, V. Exª ratifica: tudo o que estamos vivendo hoje é decorrente de um processo. O próprio Presidente Sarney é uma das personagens fundamentais desse processo bom da economia, que estamos vivendo hoje. Fiz uma imagem aqui de que o Presidente Sarney foi um homem que consolidou o processo de redemocratização do País. No entanto, não foi o Senador Sarney nem o Presidente Sarney que inventou a democracia. É um processo; tudo faz parte de um processo.

            Senador José Agripino.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP. Faz soar a campainha.) - Antes de conceder a palavra ao Senador José Agripino, pela expressão do nosso Senador Tasso Jereissati, que toda a Casa deseja homenagear, eu pediria que os apartes fossem breves para possibilitar que toda a Casa se manifestasse.

            O Sr. José Agripino (DEM - RN) - Senador Tasso Jereissati, vou procurar ser o mais breve possível, tanto quanto eu possa ser no discurso de despedida de um Senador de sua qualidade. Senador Tasso Jereissati, vamos fazer uma reflexão clara aqui: nós somos 81 iguais, mas a preeminência, normalmente, nesta Casa de 81 iguais, se dá àqueles que exercem cargos na Mesa Diretora, na presidência de Comissões, em relatorias importantes, em lideranças. V. Exª foi relator de matérias importantes, mas não foi Líder, não foi Presidente de Comissão, não foi membro da Mesa, mas V. Exª foi durante esses oito anos um expoente do Senado. E a razão é muito simples, muito fácil. O plenário se encheu de pessoas importantes. V. Exª faz um discurso polêmico, porque essa é uma característica de sua personalidade. V. Exª é uma referência que, pelo fato de ser polêmico, merece respeito - pelo fato de ser polêmico! V. Exª é um homem polêmico e, por ser polêmico, merece respeito; porque é polêmico no bom sentido. V. Exª é combativo, V. Exª tem espírito público, V. Exª tem competência. Veja bem: no campo da economia, quando o Presidente Sarney criou a comissão para estudar os caminhos para combater a crise, pensou-se em algumas pessoas, e disseram: “Chamem o Tasso”. E lá estava o Tasso, porque tinha uma contribuição a dar. Na Lei de Falências, a contribuição pragmática, específica foi dada por aqueles que entendem do assunto, e V. Exª deu algumas das melhores contribuições. No combate ao aumento da carga tributária, V. Exª foi primoroso. Derrotamos juntos a CPMF e sinalizamos ao Brasil que não vem que não tem. Que aumento de carga de imposto tem limite. E esse foi um trabalho importante que fizemos no desempenho da oposição. A oposição - V. Exª entende, como eu entendo - tem que ser exercida com equilíbrio, votando a favor - como V. Exª elogiou alguns pontos do Governo e elogio -, votando a favor das coisas boas, mas denunciando o erro. E aí V. Exª foi implacável, como é preciso ser, na denúncia e no combate à corrupção. Uma enorme parte do seu discurso foi dedicada à identificação de casos de corrupção que mereceram. E outros que vão vir - espero que não venham - vão ser objeto da nossa denúncia e do nosso combate permanente. Então, V. Exª pode estar certo. Eu já perdi eleição, Senador Tasso. É da democracia ganhar ou perder. É contingência, é circunstância. Eu já perdi, já ganhei e voltei a ganhar. O importante é que V. Exª, no seu Ceará, mantenha a liderança que tem e mantenha nosso bastião de resistência lá posto, com a consciência de que V. Exª foi três vezes Governador e ninguém fala mal de V. Exª. V. Exª perdeu a eleição por uma contingência política, não pelo fato de ser alguém cuja conduta tenha sido desabonada por quem quer que seja. V. Exª tem um trunfo que carrega: V. Exª é um ficha limpa, um homem que merece o respeito do Brasil e do seu Ceará. Precisamos de V. Exª, da sua liderança, que se mantém em pé, do seu talento, da sua combatividade e do seu espírito público. V. Exª esteja certo de que eu e meu Partido o temos como um bom brasileiro. Estamos perdendo na convivência diária um bom brasileiro que é o Senador Tasso Jereissati. Era o que tinha a dizer.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Agripino. V. Exª sabe da honra que foi conviver lado a lado com sua liderança durante esses oito anos. E nesse tempo, a minha admiração e estima por V. Exª só fizeram aumentar. Muito obrigado por seu aparte.

            O SR. Edison Lobão (PMDB - MA) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Lobão.

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Senador Tasso Jereissati, nós todos lastimamos perdê-lo neste plenário a partir do próximo ano. V. Exª é uma voz que se opõe àquilo que, a seu juízo, como outros companheiros também o fazem, não está correto no exercício das faculdades da democracia brasileira. Conheci V. Exª quando ainda era Governador do Estado do Ceará. Fui ao seu gabinete pedir que me desse sugestões sobre como governar bem meu Estado. Desde então, tivemos um relacionamento de amizade, sempre calcado nos melhores princípios. Aqui no Senado, V. Exª exerceu, por todo esse tempo, a função de vigia do regime democrático, era um fiscal do regime democrático - isso é bom -, não apenas V. Exª, mas tantos outros companheiros, como José Agripino, Arthur Virgílio, Sérgio Guerra, Alvaro Dias e tantas outras vozes que aqui se levantaram. Isso é bom para a democracia. Foi assim no passado também. À época em que seu pai, que eu conheci, era Deputado Federal pelo PTB, depois Senador da República, havia os pró-homens da UDN que se opunham ao governo, exercendo este papel fundamental. Mas quero também ter uma palavra de reconhecimento das excelências do Governo Lula. Eu não creio que se deva aqui acusar o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Tantas vezes vim a esta tribuna falar bem do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. A crise econômica que ele deixou ao seu sucessor, ele lidou bem com ela; deixou-a ainda ao sucessor, mas tratou com competência, com responsabilidade a crise que não foi produzida por ele, era uma crise internacional. Sucede que o Presidente Lula não apenas completou a correção daquilo que havia em matéria de crise, como também, em 2008, enfrentou, sozinho, grande crise internacional econômica. Soube lidar com extrema competência com ela e retirou o Brasil daqueles horizontes que anunciavam nuvens profundamente preocupantes. O Presidente Lula recebeu o Brasil com US$30 bilhões de reservas externas, vai entregá-lo a sua sucessora com US$300 bilhões de reservas.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Edison Lobão (PMDB - MA) - Pagou... Vou concluir, Sr. Presidente, os meus apartes são sempre restritos. Vai deixar à sucessora com US$300 bilhões; pagou a dívida com o Fundo Monetário. Eu queria fazer só menção a uma empresa que foi objeto do seu longo discurso, a Petrobras. Ela trabalha com extrema competência no Brasil e, sob todos os governos, o País chegou a ter reserva certificada de petróleo da ordem de 12 bilhões de barris. Isso é suficiente apenas para 18 anos de consumo. Foi no Governo Lula, Senador Tasso Jereissati, que se descobriu o pré-sal, e vamos ter cerca de 50 bilhões de barris, no mínimo, para as próximas gerações. Em matéria de petróleo, procede-se hoje para concluir daqui a oito, dez anos. Portanto, elogie-se, reconheça-se o trabalho do Governo Lula no que diz respeito ao grande avanço em matéria de petróleo em nosso País. cumprimento V. Exª e desejo que tenha para o futuro um período de grande felicidade e que não abandone a vida pública, o Brasil precisa da sua presença na vida pública.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Ministro Lobão, vou chamá-lo já de Ministro, quero agradecer-lhe suas palavras e sua amizade. Também aqui reafirmo meu respeito, minha admiração. Tive, logo no início do meu mandato, a honra de ser presidido por V. Exª na Comissão de Constituição e Justiça e ali lhe garanto que aprendi muito sobre a questão legislativa, sob a sua presidência.

            Muito obrigado, Ministro Lobão.

            Vou passar ao Senador Sérgio Guerra a palavra. Ele está protestando veementemente.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Por pressão aqui do Ceará, vou ter que dar o meu lugar e esperar que ela devolva.

            A Srª Patrícia Saboya (PDT - CE) - Com certeza vou devolver. Eu quero agradecer ao Senador Sérgio Guerra. Senador Tasso Jereissati, eu não queria fazer um discurso nem um pronunciamento. Eu quero só dizer a V. Exª o tanto que eu gosto de V. Exª, o carinho, a admiração, o respeito. E de tudo de que eu fui testemunha na minha vida, ainda muito jovem, 19, 20 anos de idade, eu vi a revolução que aconteceu no Ceará; foi uma revolução de verdade, uma revolução em que o povo foi privilegiado, em que os mais pobres foram ouvidos. V. Exª, quando chegou ao Governo do Ceará, teve muitos impedimentos, muitas pessoas torciam para não dar certo, muitos políticos torciam, a elite política torcia para não dar certo. Eu fui testemunha, porque muito jovem eu ia para a Assembleia e ficava nas galerias ouvindo os pronunciamentos, e eram muito poucos os Deputados que defendiam o seu governo. E, hoje, eu vejo V. Exª, depois de tantos anos, desde 1986, aqui no Senado e me dá vontade só de falar do homem que eu conheço. Não só do político que fez tanto bem pelo Ceará, do político que foi capaz de proporcionar essa revolução, do homem, de que eu sou testemunha, que eu vejo andando pelas ruas, pelo interior, pela capital, e o quanto é querido, o quanto é amado, o quanto é respeitado. Eu não quero falar sobre a eleição que passou, porque eu acho que V. Exª é muito maior do que isso, V. Exª tem uma história muito maior do que isso, do que esse episódio que possa ter acontecido. A sua história é muito maior, a sua vida é muito maior. Mas eu queria, num gesto de carinho, de amizade, dizer que nós dois agora voltamos para nossa terra, que é onde adquirimos a nossa energia, a nossa força. Preciso reconhecer que V. Exª, desde muito jovem, me estimulou a estar na vida pública. Em nenhum momento da minha vida pública me faltou a presença, a voz, o carinho de V. Exª. Em nenhum momento. A minha vinda para esta Casa dependeu evidentemente da confiança que V. Exª teve em mim. Eu espero não tê-lo decepcionado. Procurei dar o melhor de mim nesta Casa para fazer jus àquilo que o Ceará esperava ao mandar ao Senado da República a primeira mulher, a primeira Senadora, mas com muitas dificuldades porque sabia que, ao seu lado, o seu brilho seria... Eu teria que lutar muito, correr muito atrás para que um dia alguém pudesse me dar uma palavra elogiosa espontaneamente como saem as palavras de todos em relação a V. Exª. Tasso, acho que agora, nós dois voltamos para a nossa terra, para a nossa família, para os seus filhos, para a sua esposa, D. Renata, que aqui está, para os seus amigos, assim como eu também volto para a minha família, com novas etapas, novas fases. Agora uma muito maior do que qualquer outra coisa, porque sei que é o seu coração que dedica agora a esses dois netos, uma neta e um neto e sei do amor, do carinho e sei que isso é capaz de preencher o coração de qualquer pessoa, em qualquer momento da vida. V. Exª não foi derrotado. V. Exª não perdeu absolutamente nada. V. Exª continua grande, cada vez maior e a minha admiração, o meu orgulho de ter ficado a seu lado cada vez aumenta mais. Parabéns! Muito sucesso, muito brilho! Que Deus o encha de luz, de energia, de paz e de amor para que a gente continue juntos, lutando por aquilo que a gente acredita que é o melhor para o nosso povo, para o nosso Estado e para a nossa população. Parabéns por tudo!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senadora Patrícia. V. Exª sabe do carinho e do afeto todo especial que nos une. E V. Exª, não vou chamá-la de V. Exª, se o Sr. Presidente me permitir, Patrícia querida, foi um orgulho muito grande ter feito política ao seu lado. Durante esses últimos anos, fizemos campanha e, com certeza, como poucos, você honrou o Ceará aqui nesta Casa.

            Muito obrigado e vamos continuar juntos.

            A Srª Patrícia Saboya (PDT - CE) - Muito obrigada. Se Deus quiser.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Sérgio Guerra.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador Tasso, V. Exª fez hoje... não me lembro de nenhum discurso melhor do que este seu último pronunciamento. É um discurso notável, que tem coerência, tem legitimidade. A palavra legitimidade é uma palavra muito importante. O que Tasso Jereissati diz tem a ver com a vida dele, com o comportamento diário dele. Não são palavras jogadas ao vento; são palavras que saem de dentro, e uma ação coerente com essas palavras. Nenhum remendo, nenhum conserto, nada a agregar ao seu discurso, uma peça absolutamente correta para os brasileiros no geral; para os da Oposição com certeza, para os do Governo pensarem, e para o PSDB é uma honra. E não há a menor chance de V. Exª cuidar apenas dos seus netos. O senhor vai continuar a cuidar do Brasil e com a importância que os brasileiros seguramente lhe garantem, pela sua vida, pelo seu papel, pela sua coerência e pelo seu trabalho.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Sérgio Guerra. Entre as enormes conquistas que nós tivemos aqui, nesta Casa, de aprendizado, de admiração pelo seu imenso poder de articular, de raciocinar, de colocar o raciocínio em ordem, eu queria dizer que uma das coisas que eu ganhei nesta Casa - e acredito que seja recíproco - foi a sua amizade, muito importante para mim.

            Eu concedo um aparte ao Senador Jarbas, que precisa... Eu queria pedir que deixassem os colegas de partido, pois têm que viajar para o exterior.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Tenho uma reunião com o Aécio lá.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Tasso Jereissati, eu sempre acompanho a sua trajetória política, ouço seus discursos, acompanho suas falas aqui no plenário e sua atuação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal. A mim parece uma atuação de alguém que está iniciando o mandato, pelo entusiasmo, pela vontade de atuar com correção, com lealdade. Conheci V. Exª entrando na política, no final da década de 80, quando V. Exª era candidato ao Governo do Ceará. Foi convocado para entrar na vida pública e disputar o Governo do Estado, para enfrentar as grandes oligarquias ali implantadas, pela sua trajetória na vida empresarial, uma trajetória vencedora de empresário. Para ser um empresário bem-sucedido, no Brasil, de ontem e de hoje tem que ser um empresário sério, correto, honesto, que paga seus impostos e, principalmente, moderno. E V. Exª era tudo isso. Depois, como Governador de Pernambuco, tive oportunidade de conviver com V. Exª, então Governador do Ceará. Ao se estreitar essa amizade, cada vez mais eu tinha por V. Exª maior admiração, sempre pelas suas colocações, pela sua dimensão, pela sua sensibilidade, pelo fato de V. Exª sempre manter as amizades dentro de um tom de profundo respeito. Cheguei ao Senado há quatro anos e procurei me aproximar de V. Exª, exatamente pelos seus exemplos, por todos esses atributos que deveriam ser inerentes à atividade humana, mas que hoje, infelizmente, são exceções. São poucos os honestos, muito poucos os éticos, menos ainda os corretos. V. Exª é um homem sério, um homem correto e um homem honesto. Não tenho dúvida de que V. Exª foi vítima dessa circunstância atual, hoje presidida pelo Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, que, da mesma forma mesquinha como atuou em Pernambuco e no Piauí, atuou no Ceará, tentando desconstruir sua imagem, procurando eleger pessoas de sua base partidária. É um Presidente da República, que tem um comportamento inadequado, que usa palavras chulas, com agressões incompatíveis com a figura de um Presidente do Brasil. Nas eleições, comportou-se muito mais como cabo eleitoral, muito mais como chefe de uma facção, como disse Fernando Henrique Cardoso, do que como Presidente de todos os brasileiros. Isso passa. Esses momentos de derrota dos oposicionistas e de um triunfo avassalador do Sr. Lula, são episódios que passam, eles não ficam. Ficam incorporados à paisagem, mas passam. Eu queria dizer que V. Exª vai fazer muita falta. A Oposição se encontra reduzida. Ela não pode, além de reduzida, ficar desorganizada, pessimista, sem exercitar o direito constitucional de exercer a oposição. Democracia sem oposição não existe. O Presidente Lula revelou, nos últimos oito anos, uma índole autoritária. V. Exª falou, por exemplo, há pouco, nesse Conselho Nacional de Comunicação. Veja o que foi que aconteceu no Maranhão há pouco tempo. Uma jornalista, se não me engano, da Folha de S. Paulo ou de O Estado de S. Paulo, fez uma indagação a ele, apropriada inclusive, e ele insinuou, ou melhor, disse à repórter que era uma provocação, que ela devia se tratar. Fato como esse antecipa a aprovação do projeto oriundo do Executivo. Sob a nova lei de Comunicação, a jornalista já se enquadraria nas penas da lei. Quer dizer, essa pessoa, que, supostamente, desacatou o Presidente da República com uma indagação, com uma pergunta, poderá, sendo aprovada e sancionada essa proposta, ter sua liberdade ameaçada pelo cerceamento da imprensa. Eu queria parabenizar V. Exª, primeiro, pelo seu comportamento aqui como Oposição consequente. Oposição não devia ter adjetivos, mas no Brasil ela é adjetivada. Oposição é oposição, governo é governo. Quem ganha a eleição vai governar, quem perde a eleição vai fiscalizar. Este é um princípio democrático que deveria existir no mundo inteiro. Mas V.Exª teve aqui um papel exemplar, um papel que serviu de exemplo, de luz para todos nós aqui dentro, primeiro, pelo seu estilo destemido, pela sua coerência, pela sua correção, pela sua lealdade, pela sua coragem cívica de sempre tratar aqueles assuntos que V. Exª achava que deveriam ser tratados. A mediocridade predominou neste período legislativo. Não sei se predominou no outro que V. Exª exerceu. Quanto a este período legislativo, posso testemunhar a mediocridade que predominou aqui dentro. Mas V. Exª sempre esteve longe disso e mais distante ainda dos escândalos que macularam esta legislatura. Aqui dentro, V. Exª também ficou ainda mais distante disso tudo. Senador Tasso Jereissati, este é um aparte de um companheiro de Oposição, de seu correligionário, mas, sobretudo, de um amigo. E eu quero que essa amizade se preserve ao término deste mandato e que continue quando V. Exª não for mais, formalmente, Senador da República. V. Exª, assim como foi, é e continuará sendo um grande empresário, foi um grande Senador da República, um extraordinário Governador do Ceará, por três vezes, e vai continuar sendo, sem dúvida nenhuma, um grande homem público, mesmo sem tribuna e mesmo lá no seu Estado, lá na sua província. Mesmo lá no seu lugar, o Ceará. V. Exª vai ter a sensibilidade e a dimensão que lhe são peculiares para sentir este momento. Não será a retirada desta tribuna, que foi episódica, que vai afastá-lo definitivamente da vida pública. V. Exª vai continuar sempre sendo requisitado, e eu tenho certeza de que será uma referência para ouvir e aconselhar aqueles que precisam ser aconselhados. Esta é a opinião e o aparte de um correligionário e, sobretudo, de um amigo seu.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Jarbas, V. Exª, como alguns outros nesta Casa, é referência política na minha vida e sabe disso.

            Quando eu ainda era muito jovem, antes de entrar na política, V. Exª, ao lado de outros companheiros que estão aqui, exercia um papel fundamental de resistência ao período autoritário militar neste País.

            Para mim, é muito especial poder ouvir essas palavras vindas de sua parte e mais especial ainda ouvir, com muito orgulho para mim, que nós somos amigos pessoais. Muito obrigado, Senador Jarbas.

            Senador Dornelles, por favor, com a palavra.

            O Sr. Francisco Dornelles (PP - RJ) - Senador Tasso Jereissati, foi uma honra muito grande para mim ter estado ao lado de V. Exª nos quatro anos em que exerci meu mandato. Fui testemunha do seu trabalho como Presidente da Subcomissão de Reforma Tributária, que apresentou uma proposta do Sistema Tributário, aprovada pela CAE, que hoje é discutida em todos os foros acadêmicos do País. Sou testemunha do seu trabalho como Relator da Subcomissão da Crise e do documento apresentado por V. Exª sobre crédito e spread. Este documento tomou tal dimensão que chegou a modificar alguns procedimentos no Banco Central no processo de tomada de decisão. Quero me referir ao seu projeto sobre a Lei de Finanças Públicas, que, depois de um debate amplo, do exame profundo por técnicos do Tribunal de Contas, da Secretaria de Planejamento e do Ministério da Fazenda, está pronto para ser votada. Senador Tasso Jereissati, o revés eleitoral nem sempre significa uma derrota política. Este é o seu caso. V. Exª, politicamente, é vitorioso. Foi e é vitorioso, porque ocupou os cargos mais importantes da República e sempre os exerceu com muita competência e com muita dignidade. Pelo trabalho realizado no Senado, V. Exª estará sempre presente nesta Casa. Muito obrigado, Sr. Presidente.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Dornelles. Trabalhar ao lado de V. Exª nesses projetos nessas comissões foi uma verdadeira lição. Sabe disto V. Exª, que é uma das enciclopédias políticas nesta Casa, homem de grande dignidade e também um dos maiores especialistas em finanças públicas deste País. Agradeço a V. Exª a oportunidade que tive de trabalhar ao seu lado e talvez possamos estar juntos novamente no futuro, eu pelo Partido e V. Exª pelo carinho e afinidade de parentesco. Esperamos estar juntos em um futuro próximo.

            Senador Antonio Carlos Júnior.

            O Sr. Antonio Carlos Júnior (DEM - BA) - Senador Tasso Jereissati, V. Exª, nesta Casa, é referencia em todo e qualquer debate, seja ele político, seja ele econômico. É muito rica a produção legislativa de V. Exª, que sempre esteve presente em todos os debates, em todos os momentos importante do Senado nesses últimos oito anos. Tudo isso culminando, inclusive, com esse projeto da Subcomissão de Reforma Tributária, cujo Relator é o Senador Dornelles, que é o melhor projeto que temos hoje no País, mas o Governo não quer votar. O projeto que está na Câmara dos Deputados é absolutamente inócuo, vazio. E esse projeto da Subcomissão é realmente aquele que unifica os impostos indiretos e é o grande projeto que temos para o País. É a contribuição de V. Exª, além de outras muitas que já foram aqui relacionadas. Mas o mais importante é que V. Exª se mantém com a cabeça erguida, porque esse revés foi fruto de um conluio de prepotência e vingança, de um lado, e, do outro lado, falta de caráter, subserviência e traição. Esse conluio foi o que fez chegar a esse resultado, que V. Exª não merecia pelo trabalho que fez pelo Ceará e pelo Brasil. Essas pessoas passam, e seu trabalho fica. E o mais importante são as amizades que V. Exª fez nesta Casa. E eu, que já herdei essa amizade de meu pai e que fortaleci ainda essa amizade com V. Exª, serei seu amigo para sempre. Então, seremos amigos fora daqui e em qualquer lugar. Obrigado, Senador.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Para o Senador Sarney, com certeza, e para nós que tivemos a felicidade de conviver com o saudoso Antonio Carlos, dá uma certa emoção relembrar da sua figura por meio do seu filho.

            Olha, quando V. Exª chegou a esta Casa, havia um certo ar de dúvida, pois como uma pessoa, um filho vai substituir uma personalidade daquele tamanho? Ou, se me permite, daquele espaço? Antonio Carlos era aquele homem que ocupava todos os espaços. Eu vou lhe dizer a coisa que, com certeza, é tudo que V. Exª queria da atuação de V. Exª nesta Casa: seu pai, com certeza, está orgulhoso da sua atuação aqui nesta Casa. Muita dignidade é o que ele sempre defendeu na vida pública.

            Senador Marco Maciel. Estou tentando obedecer o máximo possível aqui o critério.

            Senador Romero Jucá, muito me honra com o seu aparte.

            Há a Senadora...

            Senador Marco Maciel.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Tasso Jereissati, serei breve em minha intervenção, já que praticamente todo o Plenário deseja aparteá-lo e cumprimentá-lo. Desejo, em rápidas palavras, fazer três observações. A primeira: V. Exª destacou um fato muito significativo da história pátria mais recente: a administração do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Realmente, o Plano Real, que começou a ser concebido no fim do Governo Itamar Franco e tomou grande impulso sob a direção de Fernando Henrique Cardoso, tornou possível dar ao País os instrumentos indispensáveis a que se combatesse de forma eficaz a inflação. Hoje, o Brasil convive com taxas relativamente baixas de inflação. Simonsen dizia, com propriedade, que a inflação perigosa é aquela que passa de dois dígitos. Estamos com inflação de um dígito, e tudo indica que, - esperando que o Governo mantenha os mecanismos de que dispõe -, vamos continuar a operar nesse sentido. A segunda observação é que, no seu pronunciamento, V. Exª conseguiu sintetizar uma série de suas ações no Senado Federal, muitas das quais se converteram em realidade. Em terceiro e último lugar, mercê de sua liderança no Nordeste, especialmente no Estado do Ceará, V. Exª desfruta de elevado conceito e de grande prestígio entre seu povo e sua gente. Por isso, V. Exª está destinado, muito em breve, a novas convocações, inclusive a disputar um mandato, para que o Senado da República continue a contar com seu concurso. Mais do que a esperança, tenho a convicção, a certeza de que isso acontecerá para o gáudio do Senado e também para o bom funcionamento do Congresso Nacional. Acredito que, por esse caminho, poderemos pensar em fazer o que V. Exª acaba de lembrar, não somente a reforma político-institucional, a reforma tributária, a reforma trabalhista, mas tantas outras indispensáveis para que o País tenha uma vertebração econômica capaz de desenvolver-se a taxas cada vez mais altas. Meus parabéns a V. Exª.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Marco Maciel. Sem dúvida nenhuma, o Senado vai sentir muito sua ausência. Não é compreensível para nós todos que convivemos com V. Exª a ausência da sua voz, do seu equilíbrio e da sua ponderação de sempre na vida pública brasileira. Tenho certeza de que, como foi dito várias vezes, ausente V. Exª do Senado Federal, continuaremos - nós e o Brasil - com essa voz equilibrada que, durante tantas crises e momentos históricos da nossa política, se fez valer. Muito obrigado pela sua presença.

            Senador Pedro Simon, com muita honra.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Confesso, Senador, que eu jamais imaginava que eu estaria aqui para dar-lhe este aparte. Eu, que estou terminando minha vida pública, via com muita emoção V. Exª, um dos maiores homens públicos da história deste País, iniciar no Senado, no seu primeiro de uma série de mandatos, uma atividade que eu achava muito importante. V. Exª desempenhou um grande papel nesta Casa. V. Exª, pelo seu estilo, pela sua coragem, pela sua integridade, pela sua competência, representou um papel muito importante nesta Casa. Sou um admirador de V. Exª de longa data. Tive a alegria de, num único mandato que tive de Governador, ver o primeiro de V. Exª. Não sei se agradei ou não agradei. Eu sei que fiquei no primeiro, e V. Exª foi mais dois e, além dos mais dois, elegeu mais dois colegas de partido. Desde que V. Exª entrou, mudou, revolucionou o governo no Ceará com sua atividade, que muitos, muitos, consideram que foi o início de um novo estilo de um empresário bem-sucedido entrar na vida pública e colocar na vida pública o estilo de correção, de dignidade, de fazer uma administração diferente. E hoje se veem várias pessoas seguindo o seu exemplo: o Governador de Minas de Gerais, que sai daqui a pouco; o Governador de Pernambuco. São várias pessoas que seguem o estilo, e a imprensa comenta que se iniciou com o Governador Tasso Jereissati, mudando todo o estilo de um coronelismo que existia até então no Ceará e trazendo o Ceará para um estilo moderno, realmente da maior importância. V. Exª foi e é um grande líder nacional. Que pena, lá atrás, naquela reunião dos governadores do MDB, quando V. Exª era um dos que queria que a gente chegasse a um entendimento - inclusive com o Presidente Sarney, com Ulysses e nós todos -, a uma fórmula através da qual a gente fizesse realmente da Nova República uma nova república. V. Exª foi das pessoas, dos governadores mais responsáveis, mais sérios, com mais credibilidade. E V. Exª queria realmente o melhor. Se tivesse dado certo a caminhada de V. Exª e se ali tivéssemos tido a competência necessária para encontrar a solução, o Brasil teria sido diferente. Muito provavelmente, na eleição que viesse logo ali, o candidato, para ganhar, seria o Mário Covas. Lamentavelmente, não foi possível. E V. Exª e inúmeras outras lideranças do seu porte saíram do MDB. À época, fui muito convidado por V. Exª, pelo Covas e por outros tantos para ingressar no PSDB. A tese que eu defendia, hoje não sei se certa ou errada, é que nós deveríamos ter ficado todos juntos até a Constituinte, Arena e MDB; convocada a Constituinte, nós distinguiríamos os partidos todos; na Constituinte, se estabeleceriam grupos, que fariam as vezes de partidos, para fazer uma Constituinte; e aí se daria o prazo de um ano para se formarem os novos partidos. Diria eu que, aí, seria feita não como na Constituinte de 1946 - quem era Getúlio, de um lado; quem era contra Getúlio, do outro lado; e, de outro, PSD, PTB e UDN, que nunca se transformaram em partidos de conteúdo porque foram sempre contra e a favor. Assim, não aconteceria como aconteceu na Arena e no MDB, e que depois continuou no PMDB e nos outros partidos, contra ou a favor do movimento de 1964. Mas, justiça seja feita, no PSDB, que teve um grande desempenho, pessoas como V. Exª, como Mário Covas, como Serra, como Richa, principalmente como Montoro, tiveram um grande desempenho. E, em duas importantes administrações, em governo que merece respeito, V. Exª teve um grande trabalho. E, no PSDB e na Oposição, V. Exª teve um grande trabalho. V. Exª tinha de estar aqui agora, quando nós vamos fazer uma tentativa diferente. Eu rezo para que o Governo da Presidente Dilma possa ter muitas coisas do Presidente Lula que são positivas no Governo do Presidente Lula, mas que não tenha o estilo do Lula, principalmente desse Lula em fim de mandato; desse Lula cuja soberba o está prejudicando; que não está conseguindo sair com a grandeza de quem fez o seu sucessor, de quem fez um grande mandato; que está trazendo à tona questões tão pequenas, que mexem muito mais com a biografia, com a história dele, do que com a das pessoas que ele eventualmente possa ter atingido, ao impedir que retornassem à vida pública. V. Exª vai fazer falta aqui, não tenho dúvida, mas tenho certeza de que o destino escolhe os seus caminhos. Eu dizia ontem ao Marco Maciel e digo hoje a V. Exª: na biografia de V. Exª, faltava algo, faltava perder uma eleição. Todos os grandes líderes da história que ocupam posição e que marcam presença perderam também: De Gaulle, Lincoln, Churchill; todas essas pessoas. E chegou a vez de V. Exª. Creio que V. Exª haverá de interpretar, de entender e lhe digo com a experiência de quem perdeu também: a gente aprende muito mais na derrota do que na vitória. Na vitória, os amigos são fáceis; parece que deu tudo certo. Na derrota, a análise, a interpretação desse momento vai lhe servir de grande utilidade. V. Exª, para mim, é o grande nome no seu partido, o PSDB. V. Exª, na posição em que está e com a liberdade que tem hoje, talvez fosse o grande nome para assumir o comando do PSDB e dar ao Partido uma linha que ele teve quando esteve no Governo, mas - me perdoe - não teve quando esteve na Oposição. O PSDB foi um grande partido no Governo. Repare V. Exª: o PSDB foi um grande partido no Governo, mas não soube encontrar uma linha na Oposição e um discurso, uma proposta que realmente fosse concreta para o PSDB, na Oposição, a caminho do Governo, querendo o Governo, dizer o que ele queria. Essa interrogação ficou no ar. V. Exª pode assumir esse papel. Acho que V. Exª pode voltar à direção do seu Partido e, lá na direção, resolver essa questão que pesou na derrota - me perdoe - do seu Partido; essa questão de PSDB de São Paulo e de Minas Gerais, com uma predominância meio exagerada de São Paulo. Talvez com V. Exª na presidência, poderá toda essa capacidade, essa competência de V. Exª ajudar a todos nós nos anos que vêm aí. Teremos uma Presidente, na minha opinião, com algumas qualidades que considero muito positivas; que está assumindo o governo com muita categoria, enquanto nosso amigo, o Presidente Lula, não está sabendo acabar seu governo. Ele está querendo brilhar, e está brilhando. Está querendo, de certa forma, ofuscar a presidente eleita. Não sei se a está ofuscando. Mas, realmente, nesse Ministério - quando Lula fez o seu, ele o fez com glória, com aplauso, com respeito, escolhendo as pessoas -, ele está aparecendo muito mais do que a Ministra Dilma. Na hora de aparecer o Chefe da Casa Civil, o Ministro da Fazenda, na hora dos grandes, está-se vendo que foi coisa do Lula: esse está lá porque o Lula indicou, aquele está lá porque o Lula indicou, aquele outro está lá porque o Lula indicou. Na hora do abacaxi, na hora de resolver as coisas sem graça com o PMDB, na hora de resolver com o presidente do PMDB um “carguinho” aqui ou ali para o fulano, para o beltrano, deixou para a dona Dilma resolver. Os grandes casos ele resolveu; as coisinhas miúdas, os abacaxis a dona Dilma resolve. Com um presidente da envergadura de V. Exª no PSDB, talvez o Partido de V. Exª possa encontrar esse caminho. Falo como uma pessoa que está chegando ao final. Larguei a presidência do PMDB do Rio Grande do Sul, renunciei. Renunciei para votar: no primeiro turno, na Marina; e, no segundo, na Dilma. Como o MDB do Rio Grande do Sul fechou questão diferente, renunciei ao Partido para votar na minha candidata. E hoje eu estou rezando para que as coisas deem certo. Tomara que o MDB encontre. Não acho fácil. Mas o PSDB tem meio caminho andado: tem o Governo de São Paulo, o Governo de Minas Gerais e o Governo do Paraná. Cá entre nós, a maioria do PIB está nas mãos do Partido de V. Exª. O presidente poderia muito bem, para a felicidade de todos nós, ser V. Exª.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Simon. V. Exª sabe muito bem que, se V. Exª não foi três, quatro, cinco vezes Governador do Rio Grande do Sul, mais que isso, V. Exª marcou a história deste País. Como eu disse em relação ao Senador Jarbas, V. Exª já era, antes de eu entrar na política, uma referência na minha vida, na minha vida pública. E, de lá para cá, sua conduta pessoal, sua dignidade pessoal tornou-se, sem dúvida nenhuma, a grande referência moral, uma das grandes referências morais desta Casa e da política brasileira.

            Com certeza, suas palavras também têm muito de generosidade; muito menos de mérito meu e muito de generosidade, em função desses anos todos, desde que eu olhava, deslumbrado, aquelas reuniões que nós fazíamos de Governadores do MDB, naquele tempo em que eu não conseguia alcançar a felicidade de estar sentado, de igual para igual, com Pedro Simon, com Miguel Arraes e com outros, desde aquela época em que eu ficava apenas boquiaberto, olhando a manifestação daqueles governadores da época.

            Então, é essa generosidade, que agora se somou também à nossa vizinhança; e Dona Ivete, sua mulher, sem dúvida nenhuma, é o esteio disso tudo. Tenho certeza, depois que tive a oportunidade de conviver, com a Renata, junto com a sua esposa, de que ela é o seu esteio. Na verdade, toda essa força, essa dignidade, essa coragem que V. Exª tem hoje deve-se a uma razão muito profunda: o apoio muito grande que V. Exª tem na sua casa.

            Muito obrigado, do coração, por essa homenagem.

            Senador Alvaro Dias, por favor.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Eu quero, uma vez mais, apelar ao Plenário, porque nós temos ainda muitos oradores que querem apartear o Senador Jereissati, para que fôssemos breves, porque temos ainda a Ordem do Dia, com algumas matérias importantes para votar. É um apelo que a Presidência faz aos eminentes colegas.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Vou atender ao apelo de V. Exª, Sr. Presidente, sendo sucinto. Este aparte não tem o objetivo da formalidade. É a manifestação sincera da admiração que devoto a V. Exª, Senador Tasso Jereissati, a quem acompanho desde 1987, quando assumiu o Governo do Ceará, ao tempo em que eu tinha também a satisfação de assumir o Governo do Paraná. Pudemos conviver em um tempo de dificuldades incríveis, durante a maior crise financeira da história da administração pública brasileira. Apesar disso, V. Exª produziu as transformações que fizeram do Ceará um Estado “até Tasso” e “depois de Tasso”. Portanto, hoje tenho convicção de que perdemos muito com sua ausência, mas certamente teremos a exata noção da perda daqui a algum tempo, quando estivermos aqui enfrentando dificuldades, problemas complexos, sem contarmos com sua presença. Certamente, de longe, estará ao nosso lado a nos orientar com sua inteligência, com seu talento, com sua experiência e com sua competência. Mas desde aquele momento, quando ainda era muito jovem - ainda é jovem hoje, mas ainda era muito mais jovem quando assumiu o Governo do Ceará -, aprendemos a admirá-lo. Nossos sonhos muitas vezes se desvanecem em meio às turbulências provocadas pelas incompreensões e injustiças da atividade pública, especialmente quando assistimos à inversão de valores, quando prevalece a ficção sobre a realidade; quando o imaginário se sobrepõe à qualidade da proposta. Infelizmente, o imaginário, trabalhado com inteligência por pessoas que se sobrepõem à verdade com a mentira, acaba produzindo essa inversão de valores, que é nociva aos interesses de futuro do povo brasileiro. A ausência de V. Exª é a resultante deste quadro que acabo de descrever sucintamente. Mas nós esperamos que, nesta tarde, V. Exª não esteja dizendo adeus, mas até logo. Felicidades a V. Exª.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Alvaro Dias, grande companheiro e homem de extraordinária coragem política, que prestou serviços extraordinários, sendo um dos Governadores do Brasil mais bem avaliados naquela época, de lá para cá, a sua permanência no Senado, durante todos esses anos, mostra a consolidação da sua liderança e do seu espírito público, representando o povo do Paraná. Muito obrigado pelo seu companheirismo durante todos esses anos.

            Senadora Marisa, por favor.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Tasso. Quero dizer da minha satisfação e alegria por ter convivido com V. Exª durante esses quatro anos aqui no Senado. Não só a presença de V. Exª aqui no Plenário, mas nas horas mais decisivas, nas horas mais necessárias V. Exª estava aqui e nunca se furtou a dar a sua opinião, a colocar as suas ideias sobre as questões mais relevantes que envolveram este País. V. Exª estava nas Comissões, presente, discutindo, propondo, mostrando ao País que a função do Parlamentar é essa função de ajudar o País a crescer, a se desenvolver, com ideias e com propostas. Mas estava também com seus companheiros, juntando os amigos, os companheiros, discutindo as questões de bancada, discutindo as questões partidárias. Por tudo isso que V. Exª representou nesses quatro anos que convivemos juntos aqui, quero manifestar a minha tristeza - agora é tristeza - por não poder tê-lo como companheiro nos próximos quatro anos que eu ainda tenho nesta Casa. Mas digo a V. Exª que V. Exª não tem o direito de abdicar da vida pública, de continuar trabalhando pelo País. O nosso Partido precisa enormemente da sua presença. Eu tenho certeza absoluta de que sua voz ponderada, de companheiro leal, vai estar sempre aberta a discutir as maiores questões nacionais. E nós não podemos prescindir da sua pessoa e, principalmente, das ideias que V. Exª tem para o nosso País. Portanto, deixo aqui este libelo: precisamos continuar juntos, trabalhar juntos e acreditar juntos no nosso País. Muito obrigada.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, querida amiga, Senadora Marisa, por sua elegância, por sua inteligência, que se tornou, sem dúvida nenhuma, um ponto de equilíbrio dentro da nossa Bancada. Tenho certeza, pelo que acompanho, de que V. Exª ainda vai ter muito que dar de seu trabalho, de sua experiência pelo nosso País e, principalmente, pelo seu Estado de Mato Grosso do Sul. Nosso País ainda vai ouvir muito da senhora, e eu vou ficar muito orgulhoso disso.

            Senadora Lúcia.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Antes, eu queria prorrogar a sessão pelo tempo necessário à conclusão dos nossos trabalhos.

            A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Senador Tasso, quando V. Exª falava, eu pensava comigo: “Que perda para o nosso Partido e para o País!”. O discurso de V. Exª revela seu equilíbrio e sua serenidade; a serenidade e o equilíbrio com que V. Exª conduziu seus trabalhos nesta Casa. Seu discurso revela também seus princípios, que V. Exª ardorosamente defendeu aqui, que são lealdade, verdade e sinceridade. V. Exª elencou uma série de desmandos deste Governo e apresentou algumas críticas a ele, demonstrando na sua fala muito mais um dever cívico do que o objetivo de desqualificar o nosso opositor. V. Exª também, no seu discurso, não deixou de lembrar o legado deixado pelo nosso ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, orgulho para todos nós. E V. Exª deu o exemplo, com sua fala, de um Parlamentar aplicado, como sempre foi em todas as Comissões. Eu tive a oportunidade de me espelhar em V. Exª em vários momentos. Tive a oportunidade de acompanhá-lo em algumas Comissões e em alguns trabalhos. Vi com que aplicação V. Exª se dedicou à construção da Lei de Falências, não se preocupando em ser, naquele momento, um opositor, mas, principalmente, se preocupando em oferecer ao País uma das mais modernas leis, naquele momento, com o objetivo de diminuir o spread bancário. E V. Exª ali - eu fui testemunha - aprovou 54 emendas; praticamente a Lei de Falências é de autoria de V. Exª. Acompanhei também a sua dedicação na área social, na Comissão de Assuntos Sociais, quando V. Exª, com muita força e muita determinação, enfrentou a articulação para a aprovação das células-tronco, que V. Exª colocou aí e que é um grande benefício para a humanidade. Portanto, toda a sua trajetória aqui é motivo de orgulho para todos nós e é referência para a nosso Partido. Eu quero dizer a V. Exª que sinto, sinto muito, a sua falta aqui, porque era no seu gabinete que, todas as quartas-feiras, nos reuníamos, tínhamos a possibilidade de estreitar o nosso relacionamento como bancada, mas, ao mesmo tempo, podíamos usufruir da competência de V. Exª, que levava para conversar conosco e discutir projetos da mais alta relevância para o País, levava técnicos de grande gabarito, técnicos da Fundação Getúlio Vargas e outros tantos técnicos que V. Exª conhecia. Portanto, por esses momentos vividos por nós e pela liderança de V. Exª nesta Casa, é sempre muito dolorido dizer adeus. É muito forte pensar que V. Exª não estará conosco na próxima legislatura, mas pode ter certeza de que a sua marca, a sua presença, a sua força serão, sem dúvida nenhuma, a grande referência do nosso Partido, o PSDB. Obrigada.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senadora Lúcia. Eu não sei o que lhe dizer. Eu só posso lhe dizer uma coisa: se V. Exª tem essa tristeza, quero dizer que tenho a alegria de Goiás ter feito justiça e tê-la trazido de volta ao Senado Federal, para representar o seu querido Estado, pelo trabalho e pela aplicação. Eu sempre disse que V. Exª é uma das Senadoras mais aplicadas desta Casa. Fico muito feliz e muito tranquilo de deixar esta Casa, sabendo que o nosso Partido tem Senadores do quilate de V. Exª.

            Eu queria pedir ao João Tenório, que já tinha pedido na frente, que trocasse com o Senador Romero, que parece que tem...Então, Senador João Tenório e, em seguida, S. Exª.

            O Sr. João Tenório (PSDB - AL) - Senador Tasso Jereissati, V. Exª e a grande maioria dos Senadores aqui presentes fizeram referência ao período em que V. Exª foi Senador da República e deu toda essa contribuição não só para o nosso Partido, para a unidade do nosso Partido, mas para o País, com as suas ideias, com o seu empenho, no sentido de buscar as soluções mais objetivas e mais adequadas para o andamento da nossa economia, do nosso social e da nossa política. Apenas dois Senadores se referiram a outro período, sobre o qual eu gostaria de falar, que é o seu período como Governador do Estado, por uma razão muito simples: V. Exª criou uma escola de ser Governador, não apenas no Nordeste, mas no Brasil como um todo. V.Exª inaugurou um período em que mudou completamente a forma de interpretação, a forma de atuação, a forma de gestão que os Governadores até então tinham no Nordeste, em particular, e no Brasil como um todo. Foram citados aqui alguns casos de sucesso absoluto do seguimento dos seus ensinamentos como Governador, como é o caso do Governador Aécio Neves, do Governador de Alagoas, Teotonio Vilela, seu grande amigo e seguidor, e eu gostaria de citar exatamente essa sua contribuição. Foi uma contribuição muito grande, muito forte, porque até então fazer governo, fazer gestão estadual não tinha nenhum compromisso, por exemplo, com a meritocracia. A meritocracia não existia. V. Exª, como Governador do Ceará, iniciou um processo em que a performance daqueles que faziam o seu Governo, a performance daqueles que compunham o quadro administrativo do seu Governo era considerada e, sem sombra de dúvida, dado o devido valor. Então é esse período que foi tocado levemente nesta tarde que eu gostaria de ressaltar. Foi uma escola que V. Exª montou para o Nordeste e para o Brasil como um todo. Portanto, eu, como nordestino e como brasileiro, agradeço em nome de todos os nordestinos aquilo que V. Exª criou e implementou do novo sistema de se governar os Estados nordestinos, em particular, e brasileiros, de um modo mais geral.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador João Tenório, pelas palavras. Novamente, credito isso também à nossa amizade. E quero dizer que V. Exª trouxe uma contribuição que surpreendeu muitos, porque, chegando a esta Casa como suplente do Senador - hoje Governador - e querido amigo Teotonio Vilela e sendo um grande empresário conhecido não só no Nordeste inteiro, esperava-se um empresário como Senador. E não é verdade! Nós tivemos a felicidade de descobrir aqui um grande homem público. O seu espírito público prevaleceu muito mais do que se imaginava que um grande empresário já tão bem sucedido pudesse ter, e V. Exª provou isso aqui. Sinto muita pena que não tenha continuado também. Acho que era uma vocação política, e até hoje não entendi direito por que, lá nas Alagoas, não continuou essa vocação, que fez tanto bem a esta Casa e ao Brasil.

            Quero, agora, passar a palavra ao Senador Romero e ao Senador Mozarildo.

            O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Meu caro Senador Tasso Jereissati, quero também abraçá-lo nesta tarde, somar a minha voz a todas as vozes aqui que enalteceram o seu trabalho, o seu mandato e as suas ações e registrar, até como Líder do Governo, já que estive em posições divergentes, em posições antagônicas, em debates às vezes acalorados, em disputas às vezes duras, que, em todos esses embates, em todos esses posicionamentos, V. Exª sempre procurou fazer o melhor pelo País, sempre ajudou a construir propostas importantes para o próprio Governo. Quero aqui registrar isso, é importante que se registre. A contribuição sempre foi proativa, sempre foi positiva, sempre foi uma ação no sentido de fazer com que o País ganhasse. No debate e também nos embates, sempre defendeu, com sua convicção, suas ideias e seus posicionamentos. Então, quero abraçá-lo, registrando que tenho certeza de que, com a admiração que o povo brasileiro tem por V. Exª - e também me incluo entre os que o admiram como homem público, como político, como pessoa que coloca o coração e a alma no embate político -, vai continuar a prestar relevantes serviços ao País. Não tenho dúvida disso. Então, quero abraçá-lo, quero agradecer toda a colaboração e todo o apoio e quero agradecer os embates que tivemos, porque aprendi também nos embates. Sem dúvida nenhuma, V. Exª deixou marcada, nestes oito anos, uma ação extremamente feliz, importante e construtiva para o Brasil e para o Estado do Ceará. Meus parabéns! Leve nosso carinho, nosso afeto e nosso reconhecimento.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Romero. Na verdade, tivemos embates muito duros. Mas é muito importante seu testemunho aqui de que, nos momentos realmente importantes, nosso objetivo era comum: encontrar uma saída que, apesar das nossas divergências, fosse a melhor para o País.

            Quero, inclusive, dizer que, em determinados momentos - faz parte dos meus defeitos -, a gente se emociona demais no acalorado das discussões, mas V. Exª tem uma característica muito própria dos líderes, principalmente dos líderes parlamentares, entre os quais V. Exª, sem dúvida nenhuma, se destaca como um dos melhores deste Parlamento Nacional. Ai do Governo se não fosse a habilidade de V. Exª, a compreensão e a necessária tolerância para conviver com essas diferenças!

            Muito obrigado por essa convivência, de posições diferentes, mas sempre de muito respeito.

            Senador Flexa Ribeiro.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Meu amigo, irmão, Líder, Senador Tasso Jereissati, o nosso Presidente, Senador José Sarney, pediu-nos que fôssemos breves em função da necessidade de se iniciar a Ordem do Dia. Mas, Presidente José Sarney, é impossível ser breve para poder fazer uma homenagem mais do que merecida ao Senador Tasso Jereissati. Tenho alegria de ter a amizade do Senador Tasso há vinte e tantos anos, e o tenho como uma bússola. Quero lhe dizer isso, Senador. Na minha vida, sempre procurei seguir os seus passos, a sua orientação. Como família, V. Exª é um pai exemplar. Temos aqui a presença de sua esposa, nossa querida Renata, que veio assistir, hoje, a esta homenagem do Brasil inteiro a V. Exª. Como empresário, dos maiores empresários do Nordeste, tenho certeza absoluta, entre os maiores do Brasil. Como político, vitorioso. Já foi dito aqui que V. Exª fez referência e teve a transparência de fazê-lo, porque é necessário, de reconhecer que o Brasil está na situação que hoje se encontra porque Fernando Henrique Cardoso iniciou as reformas lá em 94/95, no Governo Itamar, com o Plano Real, e depois como Presidente. Mas, antes disso, V. Exª já tinha iniciado essa nova forma de gestão no Brasil e o Ceará servia de exemplo para todos nós. Lá no Pará, nós usávamos o Ceará como exemplo. V. Exª recebeu um Estado que era dominado por uma oligarquia que não avançava, um Estado pobre, e o transformou num Estado exemplo para o Brasil. E nós, no Pará, procurávamos olhar sempre para o Ceará e dizer: olha, vamos fazer aqui. Então, o início não foi em 95, mas muito antes, como já foi dito aqui, lá em 87, quando V. Exª assumiu o governo, vindo da área empresarial, como presidente do centro das indústrias. V. Exª chegou à conclusão de que ou assumia o Estado, para que o Estado tomasse o rumo de crescimento, ou iria passar como omisso em relação aos seus irmãos cearenses. Então, eles tiveram a inteligência de colocá-lo no governo por três vezes. O Ceará, hoje, realmente, é fruto daquilo que V. Exª iniciou, assim como o Brasil de hoje é fruto daquilo que foi iniciado por Fernando Henrique e a que foi dado continuidade nos governos do Presidente Lula. Lamentavelmente, as reformas que precisariam ser feitas, continuadas, não foram feitas. Apenas o Presidente Lula manteve a política, a orientação, mas não avançou nas reformas. Eu espero que a Presidenta eleita, Dilma, possa dar continuidade às reformas. O Presidente Lula fala sempre que recebeu uma herança maldita, o governo. Eu lamento é a herança maldita que vai receber a Presidenta Dilma, porque o que se vê agora é a necessidade de cortes, a necessidade de fazer ajustes. V. Exª, por diversas vezes, veio à tribuna alertar a população brasileira, alertar o Presidente Lula da necessidade de melhorar a qualidade dos gastos, de diminuir o tamanho da máquina, de fazer os ajustes necessários, porque o País não aguentava o tamanho dos gastos que estavam sendo feitos. E o próprio Ministro Mantega reconheceu que nos dois últimos anos foram feitos gastos exagerados. E nós sabíamos por que, sabíamos que quem recebesse o Governo agora, no caso, a Presidenta Dilma, ou o nosso candidato, que não chegou à vitória, o Governador Serra, teria que fazer, como terá que ser feito pela Presidente, os ajustes, os cortes necessários em 2011: diminuição de crédito, aumento de taxas de juros, tudo isso que estava claro de que precisava ser feito em função da economia. Mas para tudo isso, Senador Tasso Jereissati, em nossas reuniões de bancada, sob a sua liderança, V. Ex.ª sempre chamou à atenção, sempre alertou, nas vezes em que V. Ex.ª subia à tribuna e era ouvido com atenção por todos nós, porque estava realmente fazendo uma oratória importante para o País. Eu não gostaria de ter aparteado V. Ex.ª por esse motivo. Eu realmente acho que o povo do Ceará cometeu, eu não diria nem uma injustiça, mas um erro em não reconduzi-lo a mais um mandato do Senado Federal. Mas tenho certeza absoluta de que V. Ex.ª não dirá adeus, como foi dito aqui. Eu diria até breve ou até amanhã, porque V. Ex.ª continuará comandando e orientando, sendo essa liderança que é no PSDB. E nós todos estaremos certos de que V. Ex.ª continuará a sua luta política pelo Ceará e pelo Brasil. Que Deus o abençoe, que Deus continue iluminando V. Ex.ª e sua família. E fique certo: onde V. Ex.ª estiver, os seus amigos também estarão.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Flexa, pelo carinho de sempre, a amizade antiga. E quero dizer também que estou muito feliz com V. Exª, porque sua carreira aqui não foi como um flecha, foi como um foguete, voltando à Casa, às vezes muito desacreditado sobre as suas possibilidades eleitorais, teve uma das vitórias mais espetaculares para o Senado Federal. E posso dizer que estou até mais feliz do que V. Exª porque sei da aplicação, é um dos Senadores mais trabalhadores desta Casa, às vezes, até demais, está envolvido sempre. Eu queria dizer dessa felicidade e que a nossa amizade continuará, com toda certeza.

            Senador Cícero Lucena.

            O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Senador Tasso Jereissati, vou falar muito menos em meu nome, que tive o prazer e a satisfação de, mesmo admirando-o antes, ter tido a oportunidade da convivência com V. Exª aqui nesta Casa. Desde o primeiro instante, como presidente ainda do partido, abrigou aqueles que aqui estavam chegando, de portas abertas e escancaradas, como é a sua vida, a sua história política, aconselhando-nos e ajudando a desenvolver o nosso papel como representantes dos nossos Estados, com a preocupação da Federação. Mas, permita-me falar mais como um caboclinho lá do sertão da Paraíba, da minha querida São José de Piranhas, que a trato carinhosamente de Jatobá, que teve a felicidade de ser limite com a Cidade de Barro, no Ceará. E, como cidadão de Jatobá, de São José de Piranhas, vizinho ao Ceará, acho que tenho o atrevimento de dizer como os cíceros da vida, lá da região de Juazeiro, os josés, os antônios, os joões, as marias, as beatrizes e tantos outros do Ceará, dizer que nós somos gratos à sua história, ao seu envolvimento, ao seu compromisso de cidadão, à sua colaboração para mudar a história do Ceará. Todos têm a consciência de dizer que o Ceará foi um antes de Tasso Jereissati, e outro, depois de Tasso Jereissati. Mas eu queria lhe dizer algo, a você que ensinou tantos jovens, tantas gerações que procuraram se espelhar em você como exemplo de administrador e de homem público - é verdade que alguns o escutaram, aprenderam, usufruíram, mas não foram gratos: peço-lhe, em meu nome, em nome dos meus conterrâneos e do povo do Ceará, que V. Exª continue nos ajudando, ensinando e colaborando, com as suas preocupações, com as suas ideias e com o seu trabalho. Permita-me dizer que reencontrei aqui um jovem do Ceará que entrou na política recentemente - que, com certeza, esse vai escutá-lo e lhe ser eternamente grato -, que é o Pedro Fiúza. Em nome dele, acho que estou representando toda a geração do futuro do Ceará, pedindo para que V. Exª continue a nos ajudar.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Cícero, nosso vizinho ali da Paraíba, pela amizade, pelo companheirismo, pelo trabalho que tivemos juntos e pela oportunidade que tivemos de convivência.

            Eu gostaria de dizer da sua competência nesta Casa, da sua aplicação. Eu não imaginava que V. Exª estivesse tão preparado para exercer este cargo, como muitos outros que sei que virão, novamente virão, para a sua carreira. E tenho fé em Deus de que isso vai acontecer.

            Muito obrigado.

            Senador Mozarildo e, em seguida, o Senador Heráclito.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP. Fazendo soar a campainha.) - Senador Tasso, desculpe-me, mas eu queria pedir licença a V. Exª, porque tenho um compromisso com o Presidente da Câmara, uma reunião. Talvez eu não tenha tempo de voltar a presidir esta sessão. Mas, antes de sair, eu queria dizer que, nesta Casa, talvez eu seja o mais velho que conheceu V. Exª. Eu conheci V. Exª, um jovem galã no Ceará, ainda nos tempos da sua mocidade, e já com grande espírito público e precocemente dirigindo o centro das indústrias. E nós todos íamos sempre lá, de onde construíamos a solução para os problemas do Nordeste, onde ele passou a ser um fórum de debates. E V. Exª logo se revelou um homem que tinha um grande espírito público. Eu comecei a conhecer logo que V. Exª teria uma brilhante carreira. E comecei a ser um dos primeiros a incentivá-lo a entrar na política e ajudar mais de perto tudo o que nós fazíamos no Nordeste.

            Depois, nos caminhos da vida, muitas vezes divergimos de partidos, divergimos de posições, mas nunca perdemos o afeto que tivemos, o carinho, e essa amizade que nasceu desde aquele tempo, amizade que se consolidou pelo seu casamento com a filha de um dos maiores amigos que tive na vida, Edson Queiroz. Então, passamos, em conjunto, a ser uma família muito bem relacionada - a minha, a sua e a de sua esposa.

            V. Exª sempre teve algumas virtudes fundamentais. V. Exª sempre foi um grande trabalhador. V. Exª sempre enfrentou as situações com grande dedicação. V. Exª sempre se aprofundou em todos os problemas que lhe foram submetidos.

            Essa admiração que tenho por V. Exª, devo dizer que ela foi manifestada concretamente, não somente em palavras.

            Quando Presidente da República, fui um dos incentivadores para que o Ceará escolhesse V. Exª candidato a Governador do Estado. Aqui no Senado, reencontrando-nos, tive oportunidade de, sabendo de suas qualidades, nas missões mais importantes, onde necessitávamos de um homem aplicado, sempre colocar, e coloquei, V. Exª.

            Presidente da República, quando vagou o Ministério da Fazenda, convidei V. Exª para ser Ministro da Fazenda, em uma prova de confiança e de suas virtudes.

            Portanto, lamento profundamente, mais do que ninguém - e disse isso a V. Exª em vários telefonemas que lhe dei -, a sua ausência nesta Casa, porque sei que V. Exª é um Senador extremamente aplicado, que dá valor aos nossos trabalhos, que valoriza nossos trabalhos.

            Portanto, eu que comecei a vê-lo bem jovem continuarei - V. Exª Senador, V. Exª já vovô - com a mesma amizade, com o mesmo carinho, com o mesmo relacionamento que tivemos, sabendo que V. Exª cumpriu uma carreira de grande homem público, que é coroada nesta tarde pelo respeito de todos os seus colegas, pelas manifestações de todos nós, o que mostra que V. Exª, realmente, merece os elogios que recebe e, ao mesmo tempo, a ausência que nos faz.

            Muito obrigado.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Antes de V. Exª se retirar, eu gostaria de também dizer duas palavras.

            Primeiro, dizer que V. Exª é um homem de gestos. Quero agradecer esse gesto de V. Exª ficar aqui do início ao fim deste meu discurso, com todos esses apartes. Entendo e agradeço profundamente o significado desse gesto.

            Segundo, quero dizer, aqui e agora, que acho que estamos chegando à curva final, vamos dizer assim, de uma carreira política. E que V. Exª, quando Presidente da República, não foi um dos incentivadores da minha carreira: V. Exª foi o incentivador da minha carreira. Com certeza, sem aquele incentivo e aquele apoio que foi dado àquela época, dificilmente eu teria tido esta vida pública ou teria entrado na vida pública.

            Portanto, eu queria declarar aqui - todos sabem, mas, mais uma vez, quero dizer, nesse momento de despedida, vamos dizer assim - que V. Exª sabe que foi fundamental para a minha vida pública.

            Terceira palavra - eu disse que seriam duas, mas direi uma terceira: sempre admirei e considero - apesar de divergências pontuais que nós tivemos, até porque acompanhei de perto - o seu temperamento e a sua cultura profundamente democrática como essenciais para a consolidação e a redemocratização do País e o momento que nós vivemos hoje. E eu queria - e V. Exª sabe que eu acho isso - deixar isso também, mais uma vez, neste momento, declarado e dizer que tenho certeza de que este afeto mútuo que nos liga vai continuar enquanto Deus permitir as nossas vidas.

            Muito obrigado.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Tasso Jereissati.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Muito obrigado.

            Eu quero apenas dizer da minha réplica: dê um abraço em Renata.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - O baixo clero está esperando ter a sua vez aqui.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Garibaldi - não sei se cotado ou já convidado para Ministro, não é, Cristovam? -, baixo clero é modéstia do orador, a esta altura, em relação a essa plebe rude que hoje aqui lhes fala, um Ministro se intitular...

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB -RN) - Eu não faço questão de ser o primeiro desses restantes, não. Mas eu quero, pelo menos, ser o último.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Deixe-me apenas dar a palavra ao Senador Mozarildo, que já está aguardando. Fico muito honrado, Senador Garibaldi, com um aparte de V. Exª.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Tasso, quero, primeiro, dar um testemunho, embora de longe: reconheço que V. Exª representa a nova geração de políticos do Ceará. O Ceará é o Estado natal do meu pai e, portanto, sempre acompanhei de perto a história do Ceará, inclusive, tendo feito lá uma parte do curso científico. Mas tudo que foi dito aqui assino embaixo, aliás, se for possível, duas vezes. Mas eu quero sintetizar. O que eu pude ver da sua atuação aqui encoraja aqueles que querem realmente continuar fazendo política e aqueles que querem entrar para a política, porque a sua atuação demonstra, não só como Governador, mas exclusivamente como Senador, que é possível, sim, fazer política sendo trabalhador, sendo sério, sendo honesto, sendo corajoso e sendo leal. Isso V. Exª demonstrou em todos os momentos, nos embates ou nas defesas, nas posições que atravessamos aqui. Em muitas delas, estivemos sob seu comando inclusive. Portanto, quero deixar esta mensagem para os jovens e para aqueles que ainda estão na política para que olhem o exemplo de V. Exª como a possibilidade de que se pode fazer política com todas as letras maiúsculas. Portanto, parabéns! Foi um prazer conviver com V. Exª; tenho certeza de que, em breve, se não aqui no Senado, em outra parte da cena política, nós teremos V. Exª presente.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Obrigado, Senador Mozarildo. Eu quero-lhe dizer que foi um prazer meu a amizade que nós, com certeza, cultivamos aqui. A sua coerência política é um exemplo importante. Já que V. Exª falou nos jovens que querem entrar na política, esse espírito e essa sua coerência são, sem dúvida, uma referência que vai ser seguida, não só por todos os que acompanham o Senado, mas principalmente no seu Estado. Muito obrigado por sua palavra.

            Ouço o Senador Heráclito e, em seguida, o Senador Garibaldi, do altíssimo clero.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Tasso Jereissati, não sabe V. Exª como é difícil e complicado para um Senador quase da sua geração - um pouco mais novo, graças a Deus - participar desse ato de despedida. Nós somos vizinhos de Estado, e eu acompanhei a sacudida que V. Exª deu não só no Ceará, mas também no Nordeste, em todo o Nordeste, quando, desafiando as estruturas políticas do Ceará, lançou-se candidato em um desafio comparável ao desafio à lei da gravidade. Elegeu-se Governador, e, aí, o Ceará nunca mais foi o mesmo: ficou bem melhor. O Ceará hoje é o Ceará que o Brasil todo admira, porque V. Exª ali construiu os pilares de um Estado industrialmente irreversível, já que vivia a dificuldade de ter apenas uma indústria têxtil completamente sucateada, falida, embora reconheço alguns esforços de governos anteriores. V. Exª deu a oportunidade da diversificação, porque deu credibilidade ao Brasil de investir no Ceará, abrindo as portas daquele Estado por meio de incentivos. E inverteu um processo: saiu daquela mesmice de Estados que brigavam por arrecadações, disputavam quem arrecadava mais. Passou a ser um Estado generoso na concessão de anistias e de incentivos fiscais. E o Ceará mudou. E o Ceará com que V. Exª surpreendeu o Brasil ao construir o Porto do Pecém em quatro anos. Esse é o Ceará que V. Exª construiu. Essa é a geração cuja mentalidade V. Exª mudou. Aliás, eu me lembro daquela primeira campanha, quando a sua candidatura extrapolou as fronteiras. Eu pensava que era apenas um reflexo no meu Piauí, mas, depois, observei que, em todos os Estados limítrofes, V. Exª era um símbolo da renovação e incentivou vários e vários jovens a entrarem na vida pública, querendo ser um novo Tasso. Este é exatamente o Senador que veio para cá, com a experiência e a maturidade de um extraordinário administrador. No Senado, não foi diferente. Aliás, V. Exª tem marcado a sua vida por surpreender. Quando a sua geração esperava que Tasso, jovem, filho de empresário abastado, fosse o rei da noite ou um playboy, V. Exª assumiu, criança, as responsabilidades do negócio da família e se constituiu em um dos maiores empresários do Ceará e do Brasil. No começo - eu me lembro -, V. Exª tinha ojeriza a político. Conheci V. Exª no gabinete de Flávio Marcílio, amigo comum, mas V. Exª não era dos mais afeitos a tratar da política, porque tinha como objetivo os negócios. Mas o Ceará precisou do seu concurso, da sua força e do seu trabalho. E V. Exª não fugiu, foi Governador, derrubando uma república chamada, à época, dos coronéis - alguns injustiçados, outros não. Na realidade, V. Exª mudou a fisionomia administrativa do Ceará, fazendo a maior renovação de quadros de que se tem notícia naquele Estado. Traído por alguns, por outros, não, mas fez uma escola. V. Exª aqui, no seu período de Senador, foi uma referência, foi um norte, foi perfeito. V. Exª não sai daqui, porque a sua digital, a sua marca, a sua grife, ficará vagando por esses corredores como exemplo. E isso exatamente é o que vale a pena. É saber que V. Exª, ao passar por esta Casa durante oito anos, cumpriu aquilo que deve ser cumprido pelo homem público que para cá vem por delegação do seu Estado. O Senador Sarney, agora há pouco, e lamentavelmente ele não está aqui, falou sobre o seu convite para Ministro. E eu comentava aqui com Simon o episódio. V. Exª depois pode até me corrigir ou não. O convite feito pelo então Ministro José Reinaldo Tavares, homem da absoluta confiança do Senador Sarney. Eu me lembro muito bem. Era de manhã cedo, eu tomava café na casa do Dr. Ulysses Guimarães com alguns amigos, quando José Reinaldo, Ministro todo-poderoso, comunicou ao Dr. Ulysses que V. Exª não aceitava ser Ministro, fazendo críticas, inclusive, e justificando o porquê da não aceitação, solicitando ao Dr. Ulysses que, de maneira imediata, abrisse a temporada para escolha de outras opções. Estou falando isso agora, porque esse é um episódio muito mal contado; é um episódio que magoou muito o velho Ulysses. Eu ouvi diversas vezes ele dizer: “Olha, eu sou injustiçado. Uma das injustiças que tenho na minha vida pública é de me acusarem de eu não ter aceito a escolha do Tasso, meu companheiro de Partido”. Hoje, nós temos aí o Dr. José Reinaldo, que pode testemunhar se o que estou dizendo é verdadeiro ou não. Algumas pessoas que testemunharam aquela conversa ainda estão vivas. E é preciso que a história reponha determinados fatos, porque essa versão, eu lhe digo, Senador Tasso, sei que magoou V. Exª, e, como ela foi divulgada, magoou profundamente o velho Ulysses. E eu tive o privilégio de ouvir, até seus últimos dias de vida, algumas confidências. Essa talvez tenha sido a mais recorrente, porque ele não aceitava aquele carimbo de ter sido responsável pela sua não ida para o Ministério da Fazenda. Quero fazer isso por dever de justiça e estou deixando para fazer agora no seu último pronunciamento na Casa, infelizmente. Mas eu não poderia deixar de, neste momento, congratular-me também com a Drª Renata, sua esposa, que está aqui e que, de maneira silenciosa, o acompanhou, sempre esteve presente durante todo esse seu período e que - tenho certeza - é a mais feliz de todas nesse episódio. O Brasil vai perder um Senador, e a Drª Renata vai receber de volta um marido que vai poder dedicar-se agora aos seus negócios e ao seu lar. E o Brasil vai ter saudade, Senador Tasso. Fique certo. Ser derrotado pelo Lula, como eu fui, como V. Exª foi, como o Senador Arthur Virgílio foi, talvez não seja bom neste momento, seja triste. Mas, numa história breve, pode ser um troféu. Não fomos derrotados pelos erros que cometemos, mas pelos acertos e pela determinação de defender o Brasil. E o Brasil todo sabe como esses fatos aconteceram. Aliás, eles vão começar a estourar. Senador Arthur Virgílio, jogaram um cesto de pedras para cima e se esqueceram de sair de baixo. Essas pedras cairão na cabeça de cada um dos responsáveis. A maneira irresponsável com que se administrou a coisa pública nessa eleição - tenho certeza, Senador Mozarildo - virá à tona, e a verdade aparecerá. Portanto, meu caro Senador Tasso, só quero lhe fazer um pedido: deixe seu endereço e seu telefone - aquele celular - para, nas horas de sufoco e de saudade, saber como encontrá-lo. Muito obrigado.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, querido e grande amigo Senador Heráclito Fortes, homem naturalmente vocacionado para o Parlamento. Acho que dificilmente vamos encontrar outras pessoas tão vocacionadas para o Parlamento como V. Exª. Com uma inteligência profundamente aguda, rápida e às vezes até mordaz, de quem nunca perde o espírito, este plenário com certeza vai ficar muito sem graça sem o discurso de V. Exª. Mais ainda vai ficar o Piauí. Era rara a semana em que não víamos V. Exª ao lado do nosso querido Mão Santa naquela tribuna. Não sei por que sempre naquela tribuna do lado direito, se havia alguma conotação ideológica, mas sempre naquela tribuna, defendendo o Estado do Piauí e falando do Estado do Piauí.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Apenas para não confundir: era para mostrar ao Brasil que o Governo ficava do lado onde está V. Exª, e eu ficava do outro lado. É superstição.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Então, muito obrigado. Com certeza, vamos ter muito o que conversar, trocar ideias, e eu a aprender e usufruir da sua inteligência. Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes.

            Senador, Ministro? Ministro ou Senador Garibaldi Alves, como devo chamá-lo?

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Tasso Jereissati, realmente tenho grande admiração por V. Exª, como todos os Senadores que estão aqui e que já deram o seu testemunho a respeito do seu trabalho. Lembro-me muito bem que, quando fui eleito Governador do Estado do Rio Grande do Norte - acho que V. Exª se lembra, V. Exª já era Governador do Estado do Ceará -, eu pegava um avião em Natal em companhia do nosso Secretário de Finanças e Planejamento, Bira Rocha, e íamos ao Ceará só para ouvir os conselhos de V. Exª, porque estávamos empenhados em fazer alguma coisa que viesse representar o que V. Exª fez no Ceará. Depois eu me tornei Senador, encontrei V. Exª aqui como Senador, e novamente fui sempre um daqueles que procuravam ouvir a palavra do Senador Tasso Jereissati. Eu, a exemplo de todos os Senadores, não entendo o que houve no Ceará, porque, quando começou a eleição, V. Exª estava muito bem colocado nas pesquisas, e depois eu tive a notícia de que V. Exª não mantivera aquela sua posição. Eu não posso entender. Por falta de trabalho aqui no Senado não foi, porque V. Exª, eu poderia citar aqui, até mesmo na Comissão de Assuntos Econômicos, há uma série de projetos apresentados por V. Exª; falta de firmeza, de coerência não foi também. Eu não sei, pode ser que tenha sido falta de divulgação desse trabalho, mas eu fico pensando que V. Exª sempre teve condições, possibilidades de divulgar o seu trabalho. Não sou eu que vou entrar para fazer aqui uma análise da política cearense. O que quero dizer é que o Senador Tasso Jereissati foi injustiçado. Ninguém me tira da cabeça que V. Exª foi injustiçado. O povo, dizem que o povo é que faz justiça, mas, desta vez, eu não entendi. Muito obrigado.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Garibaldi. Essa sua palavra V. Exª sabe como é importante, companheiro que foi como governador. É uma modéstia muito grande a sua de que ia ao Ceará aprender comigo. V. Exª teve muito a ensinar, e não propriamente a aprender. Um dos líderes mais populares do Nordeste brasileiro, poucos homens públicos sabem lidar com a população nordestina como V. Exª. Em todas as oportunidades que eu tive de ir ao Rio Grande do Norte, deu para sentir como é permanente o carinho que aquele povo tem por V. Exª. Eu queria dizer que suas palavras, sua amizade me honraram muito e, com certeza, vão continuar a me honrar. Muito sucesso aí na nova missão que, me parece, tem pela frente.

            Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Tasso Jereissati, em primeiro lugar, quero dizer que feliz do homem público que é capaz de fazer um discurso de despedida de mandato com a qualidade de estadista do discurso que o senhor fez hoje. Não digo que assino embaixo, porque só ouvi, e eu só assino o que leio. Não dá para assinar só pela audição. Mas o seu discurso é uma análise muito coerente, muito fria, de um homem que tem espírito público e não apenas encarna uma oposição sem análise de cada item. Então, em primeiro lugar, quero dizer que, no dia em que eu for fazer o discurso de despedida, vou tentar fazer um que tenha a qualidade do seu. Não necessariamente com as mesmas posições, com o mesmo conteúdo, mas eu gostaria que tivesse a qualidade do seu. Segundo, quero dizer que essa eleição tem uma característica estranha. Os Estados não elegeram alguns dos seus homens públicos com mais representatividade nacional. E não é só o seu caso; há outros casos também de não eleitos que são personagens nacionais. Ontem, vimos aqui o Marco Maciel, do meu Estado de origem, como o Heráclito Fortes e como outros que são mais do que simples representantes do Estado - o que já é uma qualidade boa num Senador -, mas que, além disso, têm uma dimensão nacional que vai além do seu Estado. Aconteceu isso. Como cearense honorário que sou, gostaria de ter votado no senhor, mas o processo levou a que, nessa eleição, muitos dos grandes nomes nacionais não tenham voltado para cá. Ao mesmo tempo em que falo da qualidade do seu discurso, quero falar da quantidade e qualidade dos apartes feitos até aqui. Eu não contei, até porque tive que sair um momento para uma reunião, mas raramente se veem tantos falando. E isso se deve - porque fica difícil falar alguma coisa nova - isso se deve a um pequeno resumo que quero fazer das qualidades que ouvi ao longo do que os outros falaram. Aqui se falou muito de uma qualidade sua, que é a boa relação, a amizade que a gente consegue desenvolver nas conversas nos almoços no seu gabinete, nos jantares em casa, nas conversas sobre livros. Essa é uma qualidade, e o senhor deixa uma marca forte. Outra, a qualidade do acompanhamento dos grandes temas nacionais. Seus discursos eram todos de acompanhamento dos grandes temas nacionais. Outro assunto importante, no meu caso pessoal, é a possibilidade de parceria em projetos. Não me esqueço do projeto que fizemos sobre royalties do pré-sal. Lamento muito que não tenha saído da maneira como foi elaborado, porque aquele projeto teria dado uma dimensão completamente diferente, transformando uma riqueza provisória em uma riqueza permanente. Fica a minha lembrança de ter sido seu parceiro naquele projeto. Fica também a qualidade do patriotismo com que o senhor se comportou aqui, do seu espírito público, sem jamais abrir mão do seu compromisso local com o nosso Estado do Ceará - eu como cearense honorário digo “nosso Estado” - e com o Nordeste também - falo como nordestino. Então, são essas qualidades que levaram tantos de nós aqui a falar, para deixar registrado nesse seu discurso o nosso sentimento de que o senhor vai fazer grande falta, vai fazer grande falta neste plenário, mas, certamente, não vai fazer falta no Brasil porque vai continuar em atividade empresarial e política também, pois isso não é uma questão de mandato; isso é uma questão de vocação e de compromisso. Espero que, mesmo não estando aqui compartindo o plenário com o senhor, possa compartir muitas conversas ainda em Fortaleza, em Brasília ou em qualquer outro lugar. Foi um grande prazer compartir com o senhor aqui e vai ser um grande prazer continuar compartindo onde for, neste País, lutando por um Brasil melhor, como o senhor demonstrou que é capaz de fazer. Parabéns pelo seu mandato! E parabéns a gente não deve dar quando um mandato começa. Parabéns a gente deve dar quando um mandato se encerra. E o senhor merece parabéns!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Cristovam. Eu fico, realmente, como estou aqui, de maneira geral, muito tocado com todas essas palavras vindas de homens pelos quais tenho respeito. E V. Exª sabe que isso acontece enormemente em relação à sua pessoa. É um respeito muito grande. E tenho certeza de que esse discurso de despedida V. Exª não vai fazer tão cedo, porque o Senado, mais do que nunca, precisa de homens da sua qualidade aqui. É fundamental. E eu tenho tranquilidade em saber que homens públicos de altíssima qualidade, como V. Exª, vão continuar aqui, dando o equilíbrio e defendendo os temas, a democracia. V. Exª é especialmente o grande defensor daquilo de que todos nós devíamos ser defensores: a questão da educação. Agora mesmo, vimos os índices de educação. Não dá para o País se vangloriar enquanto tivermos índices de educação como aqueles. E V. Exª tem sido o grande guerreiro a favor da educação neste País. Muito obrigado. Vamos, se Deus quiser, continuar nossa amizade, que para mim é tão gratificante.

            Senador Tião Viana e Senador Demóstenes.

            O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Caro Senador Tasso Jereissati, eu tenho muita sensibilidade também para falar neste momento, que é um momento que o Senado Federal apresenta um reconhecimento, na sua história, a um grande Parlamentar do Congresso Nacional. V. Ex é uma referência de vida para mim. Eu, quando acompanhei, na época ainda do movimento estudantil, na vida partidária, a trajetória de V. Exª como Governador do Ceará, pelas vezes que foi; as mudanças nos indicadores sociais; a evolução da qualidade de vida do povo cearense; o processo de desenvolvimento econômico do Ceará; o processo de industrialização do Ceará; a luta contra a mortalidade infantil, reconhecida mundialmente; a luta contra a subnutrição por comprometimento de vitaminas de que eram carentes as crianças do Ceará. Então, foi uma grande trajetória política, de responsabilidade social e política que V. Exª cumpriu com muita grandeza. Isso fez com que V. Exª fosse conhecido no Brasil. Ressalto o seu combate na luta partidária num Partido que era um paralelo da redemocratização, o meu Partido, o PT; a sua chegada no Senado Federal; a elevação da qualidade dos debates na área econômica que V. Exª trouxe para nós; o processo legislativo tão bem acompanhado por V. Exª; os momentos de crise do Senado; a sua altivez; a sua resistência, acreditando na vida institucional do Brasil; os momentos em que eu, como petista, torcia pela quase aproximação de diálogo que havia entre V. Exª e o Presidente Lula. Isso não acontecia, e eu ficava naquela espera que ocorresse. Mesmo com as diferenças partidárias, o diálogo era importante. E eu ouvi do Presidente Lula, às vezes, que ele entendia que era importante o respeito e o processo de diálogo com pessoas como V. Exª. Essa é uma coisa que eu já cheguei a lhe dizer. Houve momentos difíceis, de divergências. Lembro-me daqueles momentos das CPIs. Como eu sofria, porque amigos meus estavam naquela hora em julgamento político na CPI. V. Exª tinha suas obrigações partidárias, de fiscalização, e tinha que agir da maneira que agiu, e eu tinha obrigação de defender e o fazia também por convicção, o limite em que chegávamos à compreensão, a função fiscalizadora, a responsabilidade ética, até chegarmos aos momentos de crise nesta Casa, procurando uma saída. V. Exª sempre esteve ao lado dos que defendiam um Congresso Nacional à altura do século XXI, das gerações que estão vindo. Então, acho que V. Exª cumpre um papel histórico no mandato de Senador que emprestou ao Brasil. Não é um mandato do Ceará, não é um mandato do Nordeste, mas é do Brasil. V. Exª ocupou funções que o credenciaram, tanto na vida partidária como Governador, como dirigente político, a ocupar qualquer cargo neste País. Entendo que V. Exª está preparado para qualquer função dentro do Brasil, e está saindo em uma hora em que o combate eleitoral disse que sua etapa é outra. Agora acho que nada descreve o que é o amanhã por uma eleição. Nada descreve! Os exemplos na vida pública são tantos... Então, quero dizer que graças a Deus fiz um amigo, uma pessoa de grande responsabilidade com o Brasil, um grande combatente do bom combate ideológico, na defesa de um Estado Nação à altura dos tempos em que vivemos. Acredito que V. Exª leva saudade, leva amizade e deixa amizade aqui. Sorte!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Tião Viana. Acho que desde o primeiro dia nesta Casa, apesar das diferenças partidárias, desenvolveu-se uma amizade, uma afinidade entre nós que só fez se consolidar durante os oito anos.

            Acho que esse é um grande exemplo de como podemos cultivar uma amizade e ter posições partidárias e políticas, às vezes, diametralmente opostas.

            V. Exª é um democrata, tem uma grande habilidade. Tenho certeza, e é o que desejo do fundo do coração, de que V. Exª, além de ter sido um grande Parlamentar, vai ser um grande Governador do Estado do Acre.

            Muito obrigado por toda essa convivência que tivemos.

            Senador Demóstenes.

            O Sr. Demóstenes Torres (DEM - GO) - Senador Tasso Jereissati, eu admirava a sua pessoa de longe. Eu o admirava como um homem cogitado para ser Ministro; depois, como Governador revolucionário que transformou o Estado do Ceará - eu tive oportunidade de conhecer o Estado do Ceará antes que V. Exª fosse o Governador. Jamais pensei em entrar na vida político-partidária. Resolvi me candidatar em 2002, ano em que me elegi Senador, e alimentava ali a esperança... Eu sempre dizia aos amigos e colegas que tratavam desses assuntos que gostaria de vê-lo candidato a Presidente da República. Eu achava que 2002 era o ano em que V. Exª poderia emplacar como Presidente da República. E nós tínhamos um slogan: “presidentasso”. Eu até cheguei aqui brincando com V. Exª chamando-o de “presidentasso”, e V. Exª disse, até falou: “Coincidência. Houve realmente uma cogitação e meus marqueteiros gostariam que o nome fosse realmente este: presidentasso.” Acho que, se V. Exª tivesse sido Ministro, Presidente do Banco Central, Presidente da República, o Brasil estaria muito bem servido. V. Exª é um talento. E não é um talento só na área empresarial, não é um talento só na área de economia, onde V. Exª dá um show. Eu sou testemunha, logo que nós entramos, naquela Subcomissão que V. Exª presidiu, por delegação do nosso saudoso Antonio Carlos Magalhães, a Subcomissão de Segurança Pública, de que fez parte também o nosso querido Senador Tião Viana, nós apontamos uma série de soluções que, se o Brasil tivesse implantado, nós teríamos feito uma revolução na área de segurança pública. Ali, fiquei extremamente surpreso, e gratamente surpreso, com o conhecimento que V. Exª tinha da área de segurança pública. Nós não conseguimos aqui fazer a unificação das polícias que V. Exª tanto clamou. Pelo contrário, no dia que nós iríamos votar aqui, a Polícia Militar invadiu e teve Senador saindo correndo da sala com medo da Polícia Militar. E não é a solução resolver as coisas com truculência. Mas tenho certeza de que nós teríamos uma polícia melhor, mais limpa, mais enxuta. Uma polícia estranha a outra. Nós vimos aí uma dando tiro na outra, em São Paulo. Então, poderíamos ter caminhado, com o RDD Max, com o isolamento para preso do crime organizado, com a redução da maioridade penal, com a participação das Forças Armadas na segurança pública, tudo isso que hoje se preconiza. E o Governo resolveu investir naquilo que a gente já sabia que era um fracasso. A causa da criminalidade é essencialmente pessoal. São mais de cem causas. E o Governo disse que iria resolver o problema melhorando as condições sociais. Nós gostamos de ver o Governo melhorando essas condições. Aliás, a propaganda da candidata a Presidente, hoje eleita, Dilma Rousseff é exemplo disso, não é verdade? O Governo dizia que tirou 28 milhões de brasileiros da miséria, que tirou 34 milhões de brasileiros da pobreza, que outros tantos da classe média se transformaram em ricos, e, no entanto, no mesmo período, a violência aumentou em quase cem por cento. Então, é o fracasso da doutrina de segurança pública tentando resolver as questões sociais. É claro que nós devemos investir nas questões sociais muito bem, mas não devemos ter essa utopia. Mas V. Exª defendeu tudo isso porque é um estudioso, sabe que o mundo caminha nessa direção. Se o Congresso Nacional, se o Governo tivesse encampado as suas ideias, logicamente, nós não estaríamos atravessando estes momentos de turbulência que estamos atravessando hoje. E tudo indica, pela declaração do novo Ministro da Justiça, que o mesmo caminho, da bobagem, da leniência, da entrega dos presídios para o banditismo, que esse caminho vai continuar, lamentavelmente. Terei aqui perdido um companheiro nesse debate saudável em favor do Brasil. Mas V. Exª é um homem extremamente correto, nosso conselheiro... Quantas vezes V. Exª não nos alertou a todos dos perigos que vinham embutidos em determinados artigos e alíneas aparentemente inofensivos das medidas provisórias, em que o Governo enxerta ali suas maldades ou tenta passar alguma coisa à nossa revelia ou contemplar determinado setor indevidamente, injustamente, pelo menos colocando em discussão algo que não deveria ser discutido naquele momento. V. Exª é o que nós podemos chamar de craque. É o nosso camisa dez, o verdadeiro capitão do time, sem mensalão. Isso é que é bonito. V. Exª está indo embora, nós vamos ficar, claro, saudosos... Não adianta só culpar o povo, que erra mesmo. Li nos jornais V. Exª dizendo que vai cuidar da família, vai cuidar da neta... Quem sabe V. Exª não reflui desse posicionamento, porque o Brasil precisa de pessoas como V. Exª para cuidar dele. Precisa de gente que tem verdadeiro espírito republicano, que tem dedicação, que tem conhecimento, que tem vontade de ser político, que saiu da sua área temporariamente... Tenho certeza de que estariam suas empresas muito melhor se V. Exª tivesse continuado lá como gestor. Mas V. Exª abriu mão disso tudo em favor do seu Ceará, em favor do Brasil. É um conhecedor profundo de música popular brasileira. Tive oportunidade de ir à casa do Senador, a convite dele. Ele fica testando se a gente tem conhecimento musical mesmo. “Olha quem é que está tocando isso aí: Francisco Alves, Gastão Formenti, Dircinha Batista, Isaura Garcia...” O homem sabe tudo, Cristovam. Ele só não sabe a diferença entre vinho tinto e vinho do Porto. Mas ele ainda vai ter um tempo longo de vida para aprender isso. Senador, desculpe-me as brincadeiras, mas V. Exª é um homem que vai fazer falta demais a este Congresso, a este Senado, pelo que V. Exª é e pelo V. Exª fez, pelo que demonstrou saber, pelo que demonstrou conhecer, pela sua disposição em trabalhar. Hoje, depois de muito tempo este plenário deu quórum. Estamos aqui às 19h15, quando Senador não costuma ficar aqui se não tiver algo importante para fazer. Então, V. Exª é essa importância. V. Exª, hoje, para nós, é tão importante quanto votar o fim da CPMF. Aliás, muito mais importante. Esse companheirismo que V. Exª deixou aqui, tenha certeza, da minha parte, se estenderá por muito tempo. Meu gabinete, minha casa, minha família estarão sempre à disposição de V. Exª. Que Deus o abençoe!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador.

            Às vezes, ficamos sem saber o que dizer, o que responder a essas manifestações, para mim tão fortes. Dizer que V. Exª é um craque também pareceria ser apenas uma mera troca de elogios, mas quero dizer que não conheço nenhum Senador que tenha conhecimento jurídico, das questões jurídicas como V. Exª. Apesar de dizer que fui seu conselheiro, na verdade, toda vez que eu tinha uma dúvida em relação a tudo que concerne ao Direito, era você que eu estava chateando, ou ao telefone ou pessoalmente. Também essa admiração apareceu quando tivemos, logo no início dos nossos mandatos aqui, a oportunidade de trabalhar juntos nessa subcomissão, em que V. Exª teve um papel fundamental para um dos melhores trabalhos que foram feitos no Legislativo nos últimos anos. Tenho certeza, não foi a minha experiência, mas o conhecimento que V. Exª tinha da área, do estudioso que V. Exª é.

            Espero, realmente, que essa amizade só seja cultivada daqui para frente. Muito obrigado, mais uma vez.

            Senador Augusto Botelho.

            O Sr. Augusto Botelho (Sem Partido - RR) - Senador Tasso Jereissati, sou médico e o acompanhei quando o senhor entrou lá em 1987. Fiquei muito entusiasmado quando vi um Governador que se preocupava com a mortalidade infantil. Eu o vi no primeiro mandato e sei que V. Exª conseguiu baixar mais de 20 pontos a mortalidade infantil naquele seu primeiro mandato. Eu já lhe falei que o admirava desde aquele tempo. Quando eu o conheci aqui, vi sua firmeza nas convicções, o cuidado de fazer oposição com responsabilidade e coragem para defender os seus pontos de vista. Tomei conhecimento da sua honestidade ao conversar com os cearenses e com as pessoas aqui. Sei que o Brasil está perdendo com a sua ausência no Senado, mas tenha certeza de que V. Exª fez um mandato brilhante e que foi bom para os brasileiros, para o Brasil. Parabéns pelo mandato de V. Exª!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Augusto Botelho, muito obrigado pelas suas palavras. Quero dizer também do respeito que tenho por V. Exª, um homem, dentro da nossa política, que exige uma exposição cada vez mais constante, um homem profundamente discreto, profundamente dedicado ao seu Estado e a seu trabalho, principalmente na área da saúde, fazendo isso sempre com muita seriedade. Tenha a certeza de que V. Exª leva não só de mim, mas de todos os seus colegas, esse respeito pelo que fez aqui nesta Casa.

            Senador Inácio Arruda.

            O Sr. Inácio Arruda (Bloco/PCdoB - CE) - Senador Tasso Jereissati, eu gostaria de fazer referência a um episódio que permite que eu esteja presente aqui. Nós travamos uma grande luta para redemocratizar e consolidar o processo democrático do nosso País. E foi ali que nos encontramos pela primeira vez: campanha das Diretas; depois, colégio eleitoral; e as eleições de 1986, quando também fui candidato pela primeira vez. Ali, a candidatura era para representar o Partido, que recém-ganhava o direito de poder defender as suas propostas, as suas ideias na vida pública brasileira. Então, V. Exª, com um grupo de cearenses, assumiu, junto com o movimento social, com o movimento popular e com as correntes políticas proscritas, que não tinham direito sequer a falar... Então, essa questão da democracia, da consolidação do processo democrático, da liberdade política, da opinião, de se poder dar as ideias, de oferecê-las, mesmo que ainda tenhamos circunstâncias em que os meios para veicular as ideias sejam limitados, porque ainda estão em poucas mãos no nosso País - precisavam ser ampliados, mais gente deveria ter acesso a isso e ter domínio desses instrumentos... Mas considero esta a batalha primeira: a que consolidou a possibilidade de que todas as correntes de opinião pudessem estar presentes na vida pública brasileira e de que a gente pudesse ter o processo eleitoral, a disputa legítima, em que a gente ganha, a gente perde. E quem faz política, porque considero um pouco assim... Eu, quando fui disputar o mandato de Senador, alguém chegou para mim e disse: “puxa, Inácio, mas você tem o mandato certo de Deputado Federal”. Eu disse: “mas esse não é o problema. Eu posso fazer política sem mandato. Eu posso amanhã ir para casa, eu continuo fazendo política”. Eu conheci V. Exª fazendo política sem mandato. V. Exª não tinha mandato, e eu também não tinha. Mas fazíamos em esferas diferentes: V. Exª, entre os empresários da época, no CIC; eu, ali, no movimento social. Mas considerei que o mais importante e significativo foi que batalhamos para consolidar o processo democrático e da vida mais livre e independente em nosso País, porque, assim, o meu Partido pode estar aqui hoje, o meu Partido pode estar na Câmara e pode participar de quase todas as esferas da vida pública brasileira. Acho que essa foi uma batalha que nós vencemos, e V. Exª participou ativamente dela. O mandato de V. Exª já fala por si, porque todas as pessoas o acompanharam no meu Estado e no Brasil. Mas, sem a batalha anterior, sem a gente ter calçado a nossa caminhada lá atrás, para garantir esse presente hoje, que permite eleições... Vocês imaginariam um operário dirigir o País sem a consolidação, sem ter calçado lá atrás a democracia e a liberdade, sem ter enfrentado aquele caminho? Não conseguiríamos. Mesmo uma mulher do campo democrático, popular e da esquerda alcançar a Presidência da República? Ou um sociólogo que originariamente também partiu da luta política democrática e popular, como foi o Governo de Fernando Henrique? Ou mesmo uma espécie de aventura eleitoral, que foi a de 1989? Isso não poderia acontecer. Mas aconteceu porque homens e mulheres do povo reagiram numa hora adequada para consolidar o processo democrático e político brasileiro. Essa página também fica escrita no processo político de que V. Exª participou. E V. Exª vai continuar fazendo política. Eu às vezes fico preocupado quando uma pessoa diz: “vou me despedir”. Vai se despedir de uma parte da atividade política. Mas a atividade política continua, tenho certeza - a de V. Exª e a de todos nós, cada um numa esfera, participando ativamente da vida política e democrática -, porque nós conquistamos isso no Brasil. Não foi fácil. Alguns poucos, felizmente, no Brasil, talvez pensem em retornar aos tempos em que não se tinha esse ar, esse oxigênio para respirar. Hoje, nós temos. Acho que o mais marcante na nossa vida, na nossa trajetória, entre tantos feitos de que participei, como a campanha para governar o Estado do Ceará, em que tive a possibilidade de votar em V. Exª para o governo de meu Estado... Acho que foi um passo muito significativo para o Estado do Ceará. Nada, nada, nada disso teria acontecido se a gente também não tivesse empunhado a bandeira forte da consolidação do processo político democrático. Isso é um aprendizado para todos nós. O que nós não queremos é o retrocesso, mas a caminhada, a experiência do povo, deixar que o povo faça a sua experiência. E essa contribuição V. Exª deu para a história do nosso País. Isso para mim tem um significado sem igual, para o nosso Partido tem um significado sem igual. Felicito V. Exª pela trajetória que teve até aqui entre nós e continuará tendo, sem dúvida, porque isso aqui é apenas um momento na vida política de cada um de nós. Parabéns.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Inácio Arruda.

            Fico muito feliz com seu aparte, com sua palavra. Afinal de contas, como V. Exª salientou, na vida político-eleitoral, nós iniciamos praticamente juntos, e lutando, apesar já das diferenças ideológicas, mas lutando por um ideal comum, que era a redemocratização deste País e a implantação de uma democracia que, tenho certeza, V. Exª e eu também respeitamos, até por termos feito parte dessa geração que sofreu essa época de autoritarismo. Nós, dessa geração, respeitamos muito mais esta liberdade e esta democracia.

            E nós sempre estivemos, depois disso, em campos diferentes, mas sempre houve um respeito mútuo, nunca trocamos nem ofensas nem acusações pessoais. E que essa convivência, eu também espero que ou agora ou depois, continue nesse nível que nós sempre mantivemos, e eu respeito muito a atuação política de V. Exª não só aqui no Senado como no nosso Estado, no Estado do Ceará.

            Muito obrigado pela sua palavra.

            Senador Efraim Morais.

            O Sr. Efraim Morais (DEM - PB) - Senador Tasso Jereissati, claro, todos os nossos companheiros, nossos Senadores e Senadoras já se dirigiram a V. Exª. Se o Brasil não conhecia V. Exª, hoje pode ter certeza de que milhares de brasileiros e brasileiras passaram a entender a figura de Tasso Jereissati, a importância do cidadão Tasso Jereissati não só para o seu Estado, o querido Estado do Ceará, mas para o Brasil. Eu diria até que o mandato de V. Exª nunca terminará, porque o Brasil vai precisar sempre de V. Exª. O seu Estado, o seu povo, a sua gente sabe exatamente o quanto foi importante a vinda do cidadão Tasso Jereissati, do empresário, do político, do administrador. E nós tivemos a felicidade de participar ao lado de V. Exª neste mandato e tivemos a oportunidade, muitas e muitas vezes, de ver o Senador Tasso Jereissati com a sua firmeza, com a sua determinação, temperamento forte, mas sempre buscando o entendimento, como precisa o Parlamento, buscando a boa conversa, buscando as saídas que se faziam necessárias para os momentos mais difíceis que nós vivemos nesta Casa. Então, V. Exª pode ter certeza: cumpriu aqui nesta Casa aquilo que o povo do Ceará determinou. O cearense elegeu V. Exª para ser um homem de oposição neste mandato, e V. Exª cumpriu este mandato com determinação, repito, com firmeza, mas, acima de tudo, buscando o melhor para o Brasil. E, dentro do Parlamento, V. Exª, posso até dizer, foi bem melhor, acredito, talvez por não ter vivido os bons momentos que o Ceará viveu quando V. Exª governou aquele Estado. Mas, aqui nesta Casa, não só no Senado, mas no Congresso Nacional, V. Exª buscou sempre o melhor para o Brasil. Então, pode ter certeza de que serão muitos os seguidores de V. Exª nesta Casa. Aprendi muito com V. Exª, aprendi porque entendi que o Brasil precisa de homens do quilate, da importância, da determinação, da firmeza de V. Exª. O Ceará, com certeza, vai ter um Senador a mais. Pode ter certeza. V. Exª nunca poderá deixar de ser o político, o homem que vai continuar com a sua experiência, em todos os cantos e recantos pelos quais V. Exª passou. Por isso, a história de V. Exª está escrita no Parlamento como a de um Senador que teve, acima de tudo, respeito pelo seu povo, porque veio para cá para fazer exatamente o que ele determinou. Fez oposição e o fez, acima de tudo, com competência, sabedoria, buscando o melhor para o seu Estado e para o Brasil. Parabéns a V. Exª pelo brilhante mandato.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Efraim, eu queria agradecer e dizer que também lamento profundamente que V. Exª não continue a fazer esse papel firme e corajoso que desempenhou aqui nesta Casa como representante da Paraíba, representante do nosso Nordeste - a meu ver, tão esquecido -, sempre com a palavra muito firme, muito corajosa e, na maioria das vezes, também muito apaixonada, mas sempre mantendo aquela imparcialidade nos cargos que V. Exª ocupou durante esses oito anos do seu mandato.

            Lembro-me muito bem - estava agora me lembrando - de que, apesar de ser, como eu, um defensor apaixonado das coisas em que acredita, V. Exª, presidindo uma comissão aqui, estava cem por cento do lado em que eu estava, mas, mesmo assim, como presidente, sentiu-se na obrigação de me dar um carão porque eu estava me excedendo e não titubeou em fazê-lo cumprindo com o seu dever de presidente daquela comissão, o que me impressionou muito em V. Exª. Apesar de sua paixão, cumpriu sua obrigação regimental, o que demonstra o homem público que V. Exª é.

            Tenho certeza - e vi aqui o seu amor pela Paraíba - de que, ao lado do Cícero, vão ficar juntinhos e vão fazer muito ainda pela Paraíba e pelo nosso Nordeste.

            Muito obrigado também.

            Senador Roberto Cavalcanti.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Senador Tasso Jereissati, empresário Tasso Jereissati, eu o acompanho há muitos anos. Tentei fazer uma conta rápida aqui; há pelos menos uns trinta anos, eu o acompanho como empresário - na verdade, como fornecedor de caixas plásticas para as fábricas de Coca-Cola de V. Exª. Desde aquele tempo, extraordinário cliente, atencioso cliente, e isso nos aproximou de forma significativa, porque aprendi, na verdade, como empresário, a acompanhá-lo. Depois, tive a oportunidade, como cidadão, como nordestino, de acompanhar o projeto inédito de V. Exª no tocante a fazer com que um grupo de empresários, do centro das indústrias do Ceará, transformasse a forma de fazer política no seu Estado. Isso foi emblemático, isso foi uma lição, uma semente que prosperou e transformou o Estado de V. Exª. O Estado do Ceará, na verdade, tem uma Linha de Tordesilhas, tem uma linha imaginária, mas, na verdade, ela é real, após a forma e a condução do trato da coisa pública com o foco e com o feeling empresarial que é nato de V. Exª. Da mesma forma com que V. Exª é um empresário vitorioso, pujante, V. Exª conseguiu, com esse mesmo talento, com essa mesma vocação, transformar-se em um político pujante, vitorioso. Eu diria que V. Exª fez e faz história, pois transformou a cabeça do nordestino, no entendimento de que se pode conciliar política com visão empresarial. Esta conjunção de forças, político e empresário, fez com que o Estado do Ceará se transformasse, ao longo da sucessão - inclusive de outros governos, alguns deles patrocinados inicialmente por V. Exª -, nesse gigante que hoje desponta como um dos Estados que mais se desenvolve e mais cresce. A semente, o nascedouro dessa semente, dessa visão de progresso de mentalidade política no Ceará deve-se a V. Exª. Eu o parabenizo e acho que V. Exª terá, sem dúvida, voos permanentes, porque V. Exª é um permanente vitorioso. Parabéns!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Roberto Cavalcanti, muito obrigado por suas palavras. Realmente, nós nos conhecemos há muitos anos - eu não sabia que eram trinta anos e tomei um susto quando vi que V. Exª tinha razão. V. Exª era fornecedor, junto com seu sócio, naquela época, da nossa empresa, quando tivemos a oportunidade, realmente, de travar um conhecimento. Naquela época também éramos dois jovens muito idealistas, que já demonstravam não só o dinamismo empresarial, mas me lembro de nós conversarmos bastante sobre política, de trocarmos ideias. E já ali se via a sua vocação também para a política e para a coisa pública. Espero também que continue a sua vida política lá, no seu Estado, na Paraíba, e não fique somente dando o seu dinamismo à área empresarial.

            Concedo um aparte à Senadora - Governadora - Rosalba, minha amiga e vizinha.

            A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Obrigada, Senador Tasso. Eu gostaria aqui de colocar, para que todo o Brasil soubesse, a impressão que sempre me deixou o seu trabalho, a sua luta: a melhor possível. Por ser vizinha e por ter tido a oportunidade de, durante um período da minha vida como estudante, ter ficado em Fortaleza cerca de dez anos - daí a nossa proximidade com a minha cidade natal -, isso fez com que sempre tivesse notícias do Ceará. Eu lembro que o senhor marcou, desde o início da sua juventude, pelo empreendedorismo inteligente, dinâmico, ousado. Como empresário, mostrou que realmente podia fazer acontecer; e, quando na política, o Governador Tasso Jereissati fez realmente uma transformação no Ceará. O senhor foi eleito em um período em que o Ceará passava por uma crise não somente econômica, mas também moral, de credibilidade. E V. Exª teve a coragem de, realmente, enfrentar todo o corporativismo, de enfrentar as maiores adversidades, obstáculos imensos, mas transformou, colocou o Ceará no caminho do desenvolvimento, fazendo inclusive escola para aqueles que lhe sucederam. Se hoje o Ceará tem bons administradores, com certeza o seu exemplo de luta, de trabalho, de honestidade, de dedicação e de amor ao Ceará é um espelho não somente para aqueles que hoje administram o Estado, mas também as cidades, de uma maneira geral, pela sua coerência política e pela sua ética. Isso também é marcante para todos nós. Então, tive a alegria, a honra de estar nesta Casa ao lado do amigo e do grande Senador, que orgulha a sua terra, o seu povo e o Brasil, Tasso Jereissati.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senadora, Governadora. Eu tive a oportunidade, recentemente, já depois de V. Exª eleita, de fazermos uma viagem juntos. Minha mulher estava junto e comentou que é difícil a gente ver uma governadora ou um governador eleito que em nenhum momento se referiu a si mesmo ou tomou uma atitude como governadora, como uma autoridade. Ficou impressionada como a sua simplicidade é natural. O seu jeito de ser não muda. Com certeza, isso tem muito a ver com a votação expressiva e excepcional que V. Exª teve no seu Estado. Também como ex-Prefeita de Mossoró, conheço o seu trabalho, já que Mossoró - sei que vocês não gostam muito que eu diga isso - é quase Ceará, e sei da revolução, principalmente na área de educação, que foi feita em Mossoró e que é uma referência.

            Tenho muita esperança. Com certeza, vou ficar acompanhando muito de perto e com muita torcida o seu governo no Rio Grande do Norte, porque, pessoalmente, Senadora Rosalba, esse é um dos governos em que estou, olhando para frente, apostando muito. Tenho certeza de que não vou me decepcionar, para alegria não só do Rio Grande do Norte, mas de todos nós do Nordeste.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Há algum Senador que queira se manifestar ainda? Antonio Carlos Valadares? Porque eu quero me inscrever.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Já que me manifestei primeiro...

            A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Senador Mão Santa, quero só agradecer ao Senador Tasso as suas palavras, o seu voto de sucesso. Nossa administração começa a partir de 1º de janeiro. Pode ficar certo de que vou olhar muito para o trabalho que sei que o senhor desenvolveu e vou querer receber seus conselhos, suas orientações.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado.

            A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Até porque, como o senhor disse, Mossoró é uma cidade muito cearense, pela proximidade, e nossas lutas históricas sempre foram de mãos dadas, desde a libertação dos escravos, tanto que se discute qual foi a cidade que libertou primeiro os escravos, Redenção ou Mossoró. Mossoró faz dessa data da libertação dos escravos, cinco anos antes da Lei Áurea, a sua data maior, porque foi um marco, foi um grito de liberdade. E Redenção recebeu o nome também por essa luta que fizemos em conjunto. Então, a nossa história vem de muitos e muitos anos. Hoje mesmo, falando com o Senador Inácio Arruda, eu dizia que começamos juntos uma luta pela duplicação da BR-304, que liga o Ceará ao Rio Grande do Norte. E vamos continuar, porque sei que esse é um sonho do Senador Tasso, do cidadão Tasso, do cearense Tasso, de que possamos ter também duplicada a BR-304. Mas tenho certeza, Senador, de que hoje, mais do que nunca, e em um futuro bem próximo, o Ceará irá fazer a justiça que ainda não fez ao grande trabalho que V. Exª realizou.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Rosalba.

            Senador Antonio Carlos Valadares, Senador Eduardo Azeredo.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Tasso Jereissati, eu já tive oportunidade de fazer-lhe uma justa homenagem antes do discurso de V. Exª, já que eu estava me referindo a muitos Senadores que estavam deixando esta Casa e não poderia deixar de me referir a um dos maiores Senadores da República que passaram pelo Congresso Nacional. E, aqui, o que nós sentimos nos mais diversos depoimentos dos Senadores e Senadoras é uma realidade incontestável: V. Exª é o símbolo da renovação política no Estado do Ceará. E esse processo de renovação, tão salutar para a vida política e administrativa do Estado do Ceará, certamente serviu de exemplo a outros Estados do Nordeste brasileiro. Esse processo foi desencadeado em outros Estados, inclusive no Estado de Sergipe. Eu fui eleito Governador na mesma época em que V. Exª estava começando a mudar o Estado do Ceará. Fomos eleitos juntos no mesmo ano, na mesma eleição, e eu pude receber os influxos da sua inteligência, da sua cultura e dos seus ensinamentos na Sudene. V. Exª defendia bravamente o direito de o Nordeste existir como uma Região viável economicamente e sem ser explorada pelos Estados mais ricos. V. Exª defendeu ardentemente a independência do Nordeste e dos seus Estados. Por isso, ao terminar, ao ser o penúltimo orador nesta sessão, porque depois vem o seu companheiro de Partido, este grande mineiro, Eduardo Azeredo, eu gostaria de, mais uma vez, registrar a minha admiração pelo seu trabalho, pelo seu esforço em desenvolver o seu Estado, o Nordeste, e em prestar um serviço enorme à Nação com sua participação como Senador da República. Podia acontecer que, num ou noutro projeto, eu não estivesse de acordo com V. Exª, mas eu estava admirando o seu trabalho. Podia ser que, naquela hora, eu não estivesse de acordo com o seu pronunciamento, mas eu entendia aquele pronunciamento como um ato de devotamento ao nosso País. Por isso, meus parabéns! E até logo, pois V. Exª não vai deixar a política. A política não o deixou. E V. Exª não vai deixar o povo do Ceará, de forma nenhuma, porque aquele povo lhe prestou homenagens várias, elegendo-o, por três vezes, Governador do Ceará. Felicidades para V. Exª e sua família!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Valadares. Muito obrigado mesmo. V. Exª é um homem sério e eu comprovei isso como Governador e como Senador. E, além de sério, um dos mais aplicados desta Casa. Às vezes eu até me irritava um pouco quando eu chegava a uma Comissão e via que V. Exª estava em todas elas e, cada matéria, V. Exª tinha lido detalhadamente e sabia cada pontinho e levantava aquele pontinho que não estava bom na questão. “Meu Deus, como aquele Valadares foi pegar isso nesse projeto!”, quando nós estávamos em desacordo - o que até, aliás, não foi frequente, algumas vezes aconteceu. E, portanto, queria dizer que sou fã do seu trabalho pela sua aplicação como Senador, levando esse trabalho extremamente a sério e sendo, por causa disso, um exemplo. Muito obrigado. Vamos continuar nossa amizade, se Deus quiser.

            Senador Eduardo, meu amigo-irmão, é o último, não por acaso, mas, talvez por ser dos mais amigos de tantas e tantas jornadas, sua palavra, para mim, é uma honra.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Tasso, eu quis exatamente falar por último mesmo. Eu tinha me inscrito mais cedo, mas fui em uma reunião com o Governador Aécio e a nossa Bancada. Eu o conheci na época em que eu era ainda Prefeito de Belo Horizonte, V. Exª já era Governador do Ceará. O seu trabalho no Ceará foi um norte para todos nós. Nós estávamos no início do PSDB, estávamos começando o Partido, e o que foi possível fazer no Ceará, mudando as práticas, mudando o Estado, abrindo o horizonte novo fez com que o Estado se transformasse. E foram três mandatos como Governador do Ceará. Depois começamos aqui, juntos, em 2003, no Senado. Terminamos agora esse mandato de oito anos, e o seu trabalho foi, sem dúvida alguma, como relatado no seu discurso, mas como é testemunhado por todos, um trabalho muito eficiente, sempre presente, e nas principais causas que foram discutidas aqui. O Governador Mário Covas disse um dia que o seu nome era um nome indicado para Presidente da República. Mário Covas era um grande estadista, era um homem de grande visão. O destino não fez com que isso acontecesse. E nós não podemos, de maneira alguma, seus companheiros, seus amigos, concordar com o seu afastamento da política. Esse é um momento apenas, e é fundamental que a sua participação continue, pela sua liderança, pelo seu preparo, pela sua dedicação, pela sua amizade, pela sua lealdade, não só ao seu Partido, aos seus amigos, mas principalmente ao Brasil, às causas mais importantes que o País tem. De maneira, Senador Tasso Jereissati, que quero, realmente, dizer que foi muito bom estar esse tempo todo aqui ao seu lado, trabalhando juntos, tendo a sua liderança, e lhe desejar realmente muito sucesso, e dizer que não queremos de forma alguma que se afaste da política. Eu vou sair daqui e vou para outra Casa, mas vamos continuar sempre trabalhando no desejo de que o PSDB se fortaleça e de que o Brasil cresça, como cresceu desde anos antes, especialmente desde o Plano Real. Isso é que é importante que seja sempre repetido. Nós, na verdade, não conseguimos traduzir isso para a população com clareza, ou muitos não quiseram entender que o Brasil realmente não começou agora. O Brasil teve uma realidade muito forte, como foi lembrado no seu discurso, em vários e vários pontos. Parabéns pela sua atuação.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Meu querido amigo Eduardo Azeredo, muito obrigado pela sua amizade e pela convivência irmã que tivemos aqui. E, como todos os irmãos, às vezes, temos aqueles desentendimentos fraternos que fazem parte da convivência e mostram até essa fortaleza de laços. V. Exª, assim como o Júnior, de que já falei aqui, honra a cepa e a tradição da sua família, do seu pai, Renato Azeredo, que foi dos políticos mais importantes. Tenho certeza de que vai continuar honrando, cada vez mais, toda a história política da sua família e do seu Estado. Tem trabalho grande pela frente nos próximos quatro anos, como bom mineiro e bom tucano que é. Com certeza, vamos estar juntos nele. Muito obrigado e meu abraço.

            Senador Mão Santa, dou minha palavra final...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Tasso Jereissati, quis Deus que eu presidisse o final. Desde o começo, eu estava secretariando o Presidente Sarney. Mas quis Deus, porque somos vizinhos, nós nos conhecemos. Antes de você, eu conheci uma figura: Carlos Jereissati. Mil novecentos e cinquenta, Deputado Federal. Eu estudei, interno, no Colégio Cearense, fiz Faculdade de Medicina, fiz CPOR. Carlos Jereissati era empresário, um político avançado do PTB de Getúlio e João Goulart. Votei nele por volta de 1962/1963. Eu imagino V. Exª, porque ele muito novo morreu; eu acho assim, como o nosso John Fitzgerald Kennedy, com uns 46 anos, mais ou menos.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Quarenta e seis.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Então V. Exª devia ser menor mesmo, quatorze, dezesseis anos...

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Tinha quatorze anos

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Pois eu votei no pai de V. Exª, e eu vi o Ceará chorar; um homem de visão, um empresário, trabalhador, a imagem do político, do Getúlio, do João Goulart, do trabalhismo, do verdadeiro PTB. Quero dizer o seguinte: a minha vida toda lá. Depois, V. Exª, sei que estudou em São Paulo, Mackenzie, Fundação Getúlio Vargas, nos Estados Unidos - eu estudei lá, formei em Medicina lá. Então eu quero dizer o seguinte: depois , saí do Piauí para buscar a ciência, consciência, fiz umas pós-graduações em cirurgia e voltei, como V. Exª, com o mesmo amor ao Nordeste.

            Mas, eu conheci, em 1958, o Ceará, a seca. Eu era interno do Colégio Marista, o povo faminto. Tinha uma hospedaria Getúlio Vargas. Os Irmãos falavam: “Quem quer buscar gêneros e entregar?” Eu era o primeiro, para gazear as aulas, e ia entregar. O Ceará era difícil. Eu conheci o Ceará da seca, da fome; eles tentavam invadir Fortaleza; era quase um campo de concentração.

            Essa é a minha imagem da hospedaria Getúlio Vargas, em 1958. Você devia ser bem pequenininho; a imagem, o terror...

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Eu conheço.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - A seca, a fome, a miséria. Esse era o Ceará.

            Aí nós fomos também... Eu voltei. Fomos mais ou menos na mesma época, eu fui Prefeito da minha cidade; você, Governador. Depois, governamos os Estados na mesma época, e Deus nos trouxe aqui.

            Mas, Tasso, V. Exª mudou aqui.

            E o povo do Ceará era vaidoso. Ceará, terra do sol! Fortaleza, terra do sol! Quero dizer que o Tasso Jereissati é mais do que um sol para o Ceará. O sol ilumina de dia. Tasso Jereissati iluminou, agigantou, modernizou o Ceará dia e noite. E digo isso, confessando a gratidão e o respeito dos piauienses aos cearenses, desde aquela Batalha do Jenipapo, em que expulsamos os portugueses e fomos buscar irmãos cearenses em Granja.

            Eu digo o seguinte: V. Exª a todos nós arrastou. Foi uma escola de novos princípios administrativos.

            O Nordeste teve o antes. V. Exª fez parte desse antes. V. Exª foi mais do que o sol. O sol era só de dia. V. Exª, dia e noite, trabalhando, iluminando, desenvolvendo.

            E para terminar e ser breve, conheci a sua família, e junto estivemos. Eu quero dizer o seguinte, uma passagem para terminar. Falar em nome do Piauí eu falei. Em 1999, quando reeleito Governador do Piauí, levei minha equipe e o escolhi como modelo de administrador.

            Lá, em nome do Piauí, da gratidão e do respeito, coloquei no seu peito a maior comenda: Grã-Cruz Renascença.

            Mas quero agora falar pelo povo do Ceará, que é quase minha segunda Pátria, dar aqui uma gratidão. É o seguinte, Tasso: você não era, mas já estava atraído pela política - um líder. Otimista, sorridente e de desenvolvimento, ele chegou ao fim, na última viagem que fez a Fortaleza - Juscelino Kubitschek. Romero, a satisfação do cumprimento de missão! Juscelino, no apagar das luzes do Governo - já tinha sido eleito Jânio Quadros -, visita o Ceará. Eu, que fazia o cursinho vestibular Ézio Pinheiro, no Centro, fui atraído pelo sorriso de Juscelino. Lá, no velho abrigo que V. Exª modernizou totalmente, empolgou os Prefeitos e não existe mais, havia o Pedrão da Bananada, torcedor do Ceará. Eu torcia pelo Fortaleza. Mas fui, e Juscelino fez questão de tomar um café. Era de manhã - mais ou menos, 11h30. Ele tinha ido à Assembléia, e os Deputados, todos de paletó, cercavam Juscelino.

            Eis que, Tasso Jereissati, um cearense, aquele do campo, a quem V. Exª levou água, luz e educação, devoto de São Francisco, que diz: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz!” Tasso rezou: “Senhor, fazei-me instrumento de desenvolvimento do Ceará!”

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Mão Santa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - E Deus o atendeu como atendeu a São Francisco.

            Mas nessa confusão com Juscelino, eu também estava querendo me aproximar - estudante do curso Ézio Pinheiro.

            Aí um caboclo, com aquele chapéu de sol, do campo, da seca, queria ir e não podia, os de paletó não deixavam ele se aproximar, e o Juscelino sorridente, no café... Ele não resistiu e fez a sua saudação. O caboclo do Ceará - e gritarei em nome de todos que eu represento, amo também o Ceará, a minha pátria irmã, o Piauí e o Ceará -, não se controlou, não podia se aproximar e gritou: “Ô Presidente pai d’égua!”. E agora em nome do Ceará, do Nordeste, eu quero dizer: Tasso, o pai d’égua do nosso Brasil!

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Mão Santa. Muito obrigado mesmo.

            Antes de fazer o meu encerramento, quero dizer que, evidentemente você sabe, entre o Rio Grande do Norte, o Piauí e o Ceará há sempre uma grande afinidade, uma interferência, uma intersecção na vida, no cotidiano quase que constante. E eu tenho muita pena do não retorno de V. Exª, assim como o do Heráclito; o talento, a oratória do Heráclito, a sua participação nesta Casa. Quero dizer que o Piauí, que é um dos Estados mais pobres do País, tinha uma representação, aqui no Senado, realmente fantástica em termos de peso político e em termos de visibilidade e que talvez V. Exª tenha sido o homem que deu mais visibilidade nacional ao Piauí - talvez até na sua história. Aonde eu chego, perguntam-me pelo Mão Santa, e deve acontecer com você, Romero: “E o Mão Santa? Como é o Mão Santa? Como deixa de ser o Mão Santa?”

            E a expressão que V. Exª cunhou aqui - “o Piiiauí” - é uma brincadeira nacional, todo mundo fala. É profundamente lamentável que o Estado do Piauí, que é quase um Ceará, são irmãos, vizinhos, não tenha tido o cuidado - eu não digo injustiça -, não tenha tido o cuidado de honrar essa representação extremamente importante que estava dando essa visibilidade, esse prestígio ao Estado do Piauí.

            Mas sei que V. Exª - eu o conheci como Governador e o acompanhei de perto - já foi profundamente injustiçado. Uma das maiores injustiças que vi na vida pública brasileira foi quando V. Exª foi afastado do Governo do Piauí, que foi uma injustiça tremenda, mas, enfim, nunca vi ressentimento seu, em nenhum momento. Pelo contrário, sempre o vi falando e levando com essa alegria e com essa verve, que se tornou conhecido no Brasil inteiro. Tenho certeza de que essa verve e esse amor ao Piauí, descrito nesse já famoso “o Piiiauí”, com certeza, ainda vão ser também reconhecidos pelo povo do Piauí.

            Muito obrigado pelas suas palavras.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu queria ainda fazer a última homenagem à família. Nós vimos o político, o empresário, o homem de visão, a família, o amor dele e de Renata. Por sinal, temos quatro filhos: três mulheres, igual a mim, e um homem. Mas é o exemplo. Então já que citamos o pai de V. .Exª, também V. Exª foi abençoado por Deus. Teve dois pais. o sogro, Edson Queiroz, e fica a mensagem dele: se algum dia vocês forem surpreendidos pela injustiça ou pela ingratidão, não deixem de crer na vida e engrandecê-la pela decência de construí-la pelo trabalho. Foi o que Tasso Jereissati sempre fez.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Muito obrigado, Mão Santa.

            Senador Adelmir Santana ainda, se V. Exª permitir.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Tasso Jereissati, eu tive que me ausentar aqui do Parlamento para outros encontros fora do Senado, mas ouvi inicialmente as palavras de V. Exª. E a história não tem idade. Eu acompanhei quando V. Exª assumiu a primeira vez o Governo do Ceará. Aquele Estado certamente foi pródigo com V. Exª, elegeu-o várias vezes governador, três vezes governador do Ceará, e Senador da República. Mas uma passagem me chamava a atenção em contato com muitos empresários País afora, com jovens empresários: o seu espírito empreendedor, quando assumiu o governo do Ceará a primeira vez, o espírito focado na inovação, focado em coisas de futuro. E uma passagem me foi revelada por jovens empreendedores, a Associação dos Jovens Empreendedores, mostrando o entusiasmo de V. Exª, já lá, antes de chegar ao governo, com os jovens empreendedores. Estimulava inclusive o empreendedorismo entre eles, a substituição de empresários pelos seus sucessores, mas com formação empreendedora. E me chamava a atenção quando eu ouvia de jovens empresários essas referências a V. Exª. Então, quero lhe dizer que a convivência que tivemos aqui, no decorrer destes últimos anos, só nos enriqueceu a todos.

            Certamente muitos já lhe disseram nisso. Eu não tive a oportunidade de ouvi-los porque tive que me afastar, mas queria externar também a minha solidariedade a V. Ex.ª. Perde-se uma eleição, mas não se sai da vida pública. Os compromissos que a gente tem com a democracia, com a representação política, com os nossos sonhos, com os sonhos que são também de V. Ex.ª, tenho certeza de que não vão terminar aqui. Pelo contrário, eles se fortalecem num pronunciamento que faz nesta tarde, com o aparte de todos os seus Pares nesta Casa. Quero lhe revelar também que aprendi a admirá-lo, na convivência do dia a dia. Mas já o fazia. Essa minha admiração vem de antes, pela sua passagem pelo Governo do Ceará e pela sua visão empreendedora, visão de futuro, visão de inovação que me foi externada pelos jovens, já no passado, nas minhas passagens pelo Sebrae, Sebrae Nacional, associações de jovens, Junior Achievement,. Enfim, todos fazem referências a esse seu sentimento de inovador sempre. Quero aqui render as minhas homenagens e dizer que, para mim, foi um momento de grande felicidade essa convivência no decorrer desses últimos anos. Vou lamentar profundamente me privar dela no dia a dia, mas quero que saiba que estarei sempre aqui naquilo que precisar. Em Brasília, estarei sempre as suas ordens, independentemente da representação política. Meus parabéns a V. Ex.ª pelo pronunciamento desta tarde e pela análise que fez da sua vida pública no decorrer desses últimos anos.

            O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Senador Adelmir Santana, o prazer e a alegria foram meus. V. Exª é um homem ligado, historicamente, a sua vida inteira às associações de classes empresariais, mas não aquela tradicional de se juntar, se unir, para pedir, para reivindicar vantagens ou benesses. Ao contrário, de construir o espírito empresarial independente, de gente que possa realmente fazer parte da construção do País. E V. Exª é um desses homens que tem sido líder à frente desse movimento que é fundamental, em qualquer parte do mundo, para o crescimento sustentado de uma nação.

            A possibilidade dessa convivência foi para mim muito grata. Espero que a gente continue a ter essa convivência que, para mim, é muito enriquecedora.

            Eu queria finalmente, Senador Mão Santa, primeiro, fazer um agradecimento a V. Exª como Presidente, ao Presidente Sarney, de me darem esse enorme privilégio de ficar aqui mais de quatro horas, se não me engano, praticamente cobrindo esta sessão toda, prejudicando, de alguma maneira, os trabalhos normais do Senado.

            Agradeço profundamente essa manifestação de amizade, de carinho, de todos os meus Pares Senadores. Esta Casa foi uma grande lição de vida para mim, foi uma grande lição, também, aprender com a grandeza de vários e vários homens públicos, Senador Mão Santa, com os quais a gente pôde aqui conviver. O Governador de Roraima está aqui presente, e queria agradecer, dizendo da honra de sua presença aqui. Apesar da imagem que tem a classe política, como existem homens públicos realmente devotados, independentes, honestos e sérios e que, boa parte das vezes, são tão injustiçados na sua imagem!

            Eu, realmente, saio daqui esperando contar, ainda, com a amizade de cada um deles, que foi tão grata e tão rica para mim ao longo de todos esses anos.

            Faço um agradecimento especial, ainda, ao povo do Ceará, que me prestigiou ao longo de todos esses anos, sempre me deu o seu apoio, o seu suporte, elegeu-me Governador do Estado do Ceará por três vezes. Agradeço, ainda hoje, a cada lugar que nós vamos, aquele aperto de mão, Senador Mão Santa, que V. Exª conhece e sabe que é tão importante, aquele sorriso no meio da rua, aquele aceno que recebemos de uma pessoa que passa ou cruza por nós, enfim, que dá aquele retorno que nós precisamos ter para o nosso trabalho.

            Agradeço também essas eleições. Eu recolho esse resultado. Como eu disse, sou um homem, Senador Cristovam, assim como V. Exª, que nasceu e teve a adolescência durante o período autoritário. Valorizo imensa e sagradamente o voto. Quero dizer que acolho com humildade e com a certeza de que nós perdemos também porque tivemos menos votos. O povo assim quis, e temos que nos resignar diante da vontade do povo, como homens públicos democratas que nós somos. Quero agradecer àqueles que votaram em mim e àqueles que não votaram em mim e dizer que meu amor, minha fidelidade ao Ceará vai continuar sempre, em função de que tudo o que aconteceu em minha vida foi colocado sempre como uma das razões de ser da minha vida. E essa demonstração de amizade de tantas pessoas altamente respeitáveis, por quem tenho tanto carinho, a maioria admirada por todo o Brasil, me dá nesta tarde, nesta noite, a consciência daquilo que é mais importante do que ter ganho ou ter deixado de ganhar a eleição: a consciência do dever tranquilo, de quem tentou fazer o bem, tentou fazer o melhor e cultivou amizades dentro do seu campo de trabalho e deixando uma marca boa. Deixando uma marca boa para que os meus filhos, os meus netos, novos netos agora, venham a respeitar e se orgulhar disso.

            Muito obrigado a todos vocês.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2010 - Página 57573