Pela Liderança durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre pesquisa divulgada pelo instituto de pesquisas Datafolha referente à avaliação do governo da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL.:
  • Reflexão sobre pesquisa divulgada pelo instituto de pesquisas Datafolha referente à avaliação do governo da Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2015 - Página 74
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, AUTORIA, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, VINCULAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESENÇA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ARTIGO DE IMPRENSA.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (PT - PR Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senadora Ana Amélia, que preside esta sessão.

            Srs. Senadores, Srªs Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, o que me traz aqui é o desejo de fazer uma reflexão sobre a pesquisa do Datafolha que saiu neste final de semana e que tem sido motivo de comentários por articulistas políticos, por Senadores, comentários que muitas vezes dão conta de que vivemos uma situação política desestruturada, à beira do caos, já falando em impeachment da Presidenta.

            Antes de iniciar esta minha reflexão sobre a pesquisa, eu queria falar sobre a transição do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso para o do Presidente Lula. Eu tive o prazer e a honra de acompanhar essa transição, eu trabalhei na equipe de transição, e posso dizer, portanto, que não procede, não é verdadeiro que o Presidente Fernando Henrique entregou ao Presidente Lula uma economia equilibrada.

            Muito pelo contrário: nós tínhamos uma inflação muito alta, mais de 12%, juros na faixa de 25%, risco-país altíssimo, uma dívida líquida de mais de 60%.

            Eu já disse desta tribuna, inclusive na comemoração do Plano Real, e disse na semana passada, que o Presidente Lula salvou o Plano Real, porque quando assumiu o governo tomou medidas firmes e fortes para que a economia do País respondesse. Então, não é verdade que nós recebemos, que o Presidente Lula recebeu, a economia equilibrada, não é verdade. Todos se lembram disso e todos lembram, inclusive, que o Presidente Fernando Henrique Cardoso não conseguiu fazer o seu sucessor e foi um dos Presidentes que saiu com maior impopularidade de seu governo. Qualquer pesquisa atesta isso, exatamente pelo resultado da economia que se mostrava.

            Mas eu quero fazer uma reflexão sobre a pesquisa. Não estou dizendo aqui que nós não temos problemas, que nós não temos situação econômica difícil em nosso País, que nós não temos problema com a Petrobras, que nós não temos problema com o sistema hídrico, não estou dizendo isso. Nós temos problemas e temos que resolvê-los. Agora, fazer dessa pesquisa uma avaliação de que o Governo não tem credibilidade ou colocar credibilidade como popularidade e colocar uma discussão política de impeachment é, no mínimo, desconhecer a história política deste País.

            Eu quero só lembrar aos senhores que, no dia 11 de dezembro de 1998, numa pesquisa também do Datafolha, Fernando Henrique Cardoso tinha 35% de “ótimo” e “bom”. Em 7 de fevereiro de 1999, o Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha apenas 21% de “ótimo” e “bom” e mais de “ruim” e “péssimo” do que hoje aparece em relação à Presidenta Dilma Rousseff. E nós não tínhamos a tempestade que nós vemos agora. Em 1999 não havia esse clima, não se estava discutindo impeachment, não se estava discutindo que o País vivia uma crise sem precedentes na política, não havia esse clima. Era um momento conjuntural, que, aliás, é um momento como nós vivemos aqui. Como disse o Senador Lindbergh, que já foi prefeito: há momentos conjunturais, situações momentâneas em que a avaliação, a popularidade, cresce e decresce. Aliás, V. Exª, no seu Estado, Senadora Ana Amélia, viu isso acontecer em vários governos: governos que estavam ruins e depois melhoraram ou candidatos que estavam ruins e depois subiram.

            É uma avaliação conjuntural. E penso que isso se deve a quatro situações.

            Primeiro, há a crise envolvendo a Petrobras. Obviamente nós temos uma crise, ela é grande, e as denúncias de corrupção criam descontentamento na população.

            É óbvio que criam, principalmente porque o que ocupa a agenda política agora são as denúncias. Nós não tivemos ainda o julgamento e a penalização dos responsáveis pelo que está acontecendo na Petrobras. Aliás, nós não tivemos conhecimento do processo inteiro, de quem exatamente está envolvido, por que está envolvido e como está envolvido. Então, é óbvio que a denúncia política e os vazamentos seletivos criam uma predisposição crítica e de falta de confiança na política e no Governo. E há uma tendência muito grande de se fazer a divulgação dos fatos e das notícias olhando apenas o PT e o Governo, sem olhar o total dos envolvidos.

            O que estamos vendo hoje é que essa situação da Petrobras é muito antiga. Então, obviamente, surgirão atores, não só políticos, mas administrativos, da Petrobras que já estavam envolvidos. Precisamos que isso venha a público, porque não é possível fazer a avaliação de um caso quando nem 1/3 do que está se verificando nessa apuração vem ao conhecimento das pessoas. Nós não temos ainda um julgamento, não temos a penalização.

            Quero dizer que há, por parte do Governo, principalmente da Presidente Dilma, que é uma das pessoas mais corretas que conheço, uma das pessoas mais sérias que conheço, uma vontade muito grande de que as coisas se esclareçam. Se assim não fosse, não teríamos, Senadora Ana Amélia, a Polícia Federal atuando como está atuando. Em nenhum momento houve intervenção do Governo, em nenhum momento o Ministério Público ficou numa situação difícil porque houve pressão do Governo, em nenhum momento o Juiz Moro sofreu qualquer pressão. Tudo está sendo feito de maneira clara, a imprensa tem noticiado. É pena que noticie apenas uma parte, seria bom que noticiasse tudo para que pudéssemos fazer o debate. Tenho certeza de que há muita gente envolvida nessa situação que não é do PT, que não é do Governo, e que vai ter de responder, assim como os do PT e os do Governo têm de responder - nunca varremos para debaixo do tapete. Então, acho que é importante fazer este registro.

            Obviamente que essa situação, Senador - eu ouvi V. Exª falando aqui -, cria um descontentamento, porque por enquanto só vieram a público as denúncias, ainda não tivemos as medidas. Quando tivermos as medidas concretas, vamos, com certeza, esclarecer a opinião pública, vamos responder. Quem tem responsabilidade sobre isso vai responder pelo que está acontecendo. Podem ter certeza de que, por parte da Presidente Dilma, há o compromisso com a verdade.

            Tanto que a Presidenta está preparando agora um conjunto de projetos de combate à corrupção para enviar ao Congresso Nacional. Comprometeu-se com isso na campanha e vai enviar ainda neste primeiro semestre.

            Nós temos também o fator da economia. É óbvio que nós estamos com a situação econômica difícil, mas não é uma situação econômica difícil só para o Brasil. O Brasil está num contexto global. Já falamos disso desta tribuna. A China está crescendo menos, em 25 anos, o que está crescendo agora. Como não vai haver reflexo no Brasil, sendo que é nosso principal parceiro comercial? A Europa está numa situação econômica difícil. As taxas de desemprego estão altíssimas. O Japão está estudando um plano de resgate, também, da sua política fiscal e econômica. Agora que os Estados Unidos estão se recuperando. Como o Brasil não teria esse reflexo? Eu gostaria de saber como o Brasil não teria esse reflexo.

            Quando o Brasil ia bem, a oposição vinha aqui e dizia que o sucesso da economia do governo Lula era porque havia uma economia global sustentada, boa, que estava em desenvolvimento franco. Então, quando é o contrário, não vale? É um discurso oportunista.

            Nós temos uma crise. Agora, esquece-se a oposição de dizer que, mesmo diante dessa crise, uma crise grave, nós mantivemos o emprego. A menor taxa de desemprego, Senador Paim, da nossa história, 4,8 em dezembro; e 4,3 em janeiro. Que país em crise grave segurou o seu emprego? Não houve país. Vamos olhar o desemprego na Espanha. Vamos olhar o desemprego na Itália. Vamos olhar o desemprego na Grécia. Vamos olhar o desemprego em países de Primeiro Mundo. Nós temos menos desemprego do que nos Estados Unidos. Podem dizer: “Mas a economia lá é diferente!”. É óbvio que é diferente. Mas nós somos um país em desenvolvimento. E estamos protegendo, sendo em desenvolvimento, o emprego e a renda da população.

            E é por isso que temos que tomar algumas medidas, Senadora Ana Amélia, como já tomamos, como o Presidente Lula tomou, como o Presidente Fernando Henrique tomou. Aliás, várias medidas amargas. Várias medidas amargas. E muito mais do que essas. Foram medidas que, primeiro, não mexeram no câmbio quando tinham que mexer. E fizeram isso para sustentar a reeleição. Por isso que entrou no segundo mandato com uma queda de popularidade altíssima. Ele entrou não porque tomou medidas amargas. Ele entrou com uma queda de popularidade alta porque deixou de tomar as medidas corretas. Depois, foi recuperando. Conseguiu recuperar. Quando caiu a popularidade? Em 2001, com a crise que enfrentamos, uma crise hídrica muito menor, infinitamente menor do que a que estamos enfrentando agora, que fez com que o governo, por não ter investimento em infraestrutura na área do setor elétrico, tivesse que fazer o racionamento. Por isso.

            Hoje nós estamos enfrentando uma situação de economia. Estamos tomando medidas que são importantes para garantir a renda, para garantir o trabalho das pessoas. Esse é o compromisso da Presidenta Dilma.

            E não é um compromisso que não estava em seu plano de governo. É um compromisso que estava em seu plano de governo, sim.

            Nós temos uma crise hídrica, uma das maiores que o País já viveu. Nem se compara com a crise hídrica que nós tivemos em 2001, mas, até agora, sustentamos e não tivemos racionamento, porque fizemos - e foi a Presidenta Dilma que coordenou isso - a maior reforma no setor elétrico brasileiro. Construímos linhões.

            Lembro-me que, em 2001, quando houve o apagão, nós tínhamos energia sobrando em Itaipu e não podíamos despachar, porque não havia linha para fazer para o Norte, não havia linha para fazer para todo o Sudeste. Sobrava energia no Sul, tinha que ligar o vertedouro, abrir o vertedouro para escoar água, e água é o insumo da produção, porque nós não tínhamos como despachar energia!

            Hoje, não é esse o problema. Nós despachamos energia! Despachamos energia de Itaipu, despachamos energia de qualquer usina, mas estamos tendo uma crise hídrica. E a crise principal é no Sudeste, onde está a maioria da população e onde o Governo do PSDB governa o maior Estado deste País por mais de 24 anos.

            Que medidas de sustentação e de estrutura foram feitas para garantir que uma crise hídrica não deixasse o País chegar a esse ponto? Porque quando nós sentimos que havia uma crise de estrutura no setor elétrico e assumimos o governo, a primeira coisa que fizemos foi uma grande reestruturação do setor elétrico.

            Ficar 24 anos num governo e não fazer uma reestruturação para o sistema de abastecimento de água? Qual é a justificativa? É por isso que nós estamos com um mau humor enorme no País! Uma grande concentração do eleitorado está lá em São Paulo e, muitas vezes, o eleitorado não sabe de quem é a responsabilidade. Acaba tudo caindo no colo da Dilma, inclusive os problemas de São Paulo, com relação à restrição hídrica.

            É óbvio que temos que ter cuidado com o setor elétrico. Nós não queremos que falte luz, temos que fazer economia, e o Governo está fazendo esse esforço. É óbvio que precisamos despachar térmica para não deixar a população sem energia. E aí vem, é óbvio, o impacto na conta de luz. E virá, também, o impacto na conta de água.

            É isso tudo que está colaborando para que a população tenha essa opinião e para que, também, tenha caído, de forma muito grande, a popularidade do Governador Alckmin. Por que o PSDB não fala aqui? Nós sabemos que caiu a da Presidenta Dilma, não estamos escondendo isso, mas por que o PSDB não admite que caiu a popularidade do Governador Alckmin?

            O PSDB está há 24 anos no Governo de São Paulo e não fez o que deveria fazer. Não investiu na estrutura do abastecimento de água. O povo de São Paulo vai pagar esse preço.

            Então, essa restrição hídrica, a baixa oferta de água, e também o aumento da conta de luz por conta do despacho das térmicas. Mas não só isso, por conta também de os Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais não terem aderido, naquele momento, à medida da Presidenta Dilma de baixar energia, nós temos essa consequência.

            E muito me admira vir aqui a oposição falar do aumento da gasolina. Nós tivemos grandes debates neste plenário - e V. Exª, Senadora Ana Amélia, participou também desses debates - em que a oposição cobrava por que a Petrobras não aumentava a gasolina, sendo que o barril de petróleo estava alto e nós tínhamos de aumentar. A Presidenta dizia: “Não, a gasolina é importante; se nós aumentarmos, teremos um impacto inflacionário”. O que estamos corrigindo agora não chega parto do que a oposição queria que corrigíssemos naquele momento. E que ela corrigiria se estivesse no Governo, não se importando com a questão econômica e com o desenvolvimento do País.

            Nós estamos fazendo as coisas de forma balanceada, nós estamos fazendo as coisas no tempo, para que haja equilíbrio, para que o emprego e a renda - repito - sejam cuidados neste País, sejam preservados. É por isso que está sendo feito dessa forma e é por isso que está sendo feito agora. Mas é um momento conjuntural. E, obviamente, temos uma superexposição negativa do Governo da Presidenta Dilma e do PT na mídia.

            E, aí, eu tendo a concordar que temos, realmente, um problema de comunicação: é um Governo que faz muito e se comunica pouco, é um Governo que fala pouco sobre o que faz, enquanto a oposição usa muito a mídia, que também tem a sua condescendência. Você abre os jornais e todos os problemas do Brasil e, quiçá, do mundo são do PT ou da Presidenta Dilma. Eu não estou falando que não temos problemas. Como organização humana, temos falhas, temos problemas. V. Exªs conhecem nossos problemas e nossas falhas. Estão estampadas também nos jornais e estão nas discussões da militância. Temos problemas e temos falhas.

            Agora, dizer que somos responsáveis por tudo de ruim que acontece? Onde estão os fatos positivos deste País? Ninguém fala do desemprego de 4,3%; ninguém fala que nossa renda não teve queda abaixo dos índices de inflação; ninguém fala que conseguimos segurar, sim, a inflação dentro da meta, da banda superior da meta; ninguém fala que nós reduzimos a dívida pública, seja ela bruta ou líquida; ninguém fala dos milhões de pessoas que nós retiramos da miséria...

            Aliás, só um dado: no ano da eleição, o Governo teve a coragem, porque não estavam corretos, de cancelar 290 mil Bolsas Famílias, atingindo mais de 1,3 milhão de pessoas. E fizemos isso em ano de eleição. Portanto, não há contradição nenhuma entre o discurso da Presidenta Dilma na eleição e o que ela está fazendo agora. O que ela está fazendo agora é exatamente para assegurar os direitos sociais que temos.

            E, amanhã, desta tribuna, eu quero fazer um debate sobre cada medida. Já ouvi o Senador Paim e outros Senadores falarem. Acho que há coisas que têm relevância e são importantes, mas a maioria dessas medidas está correta e não afeta o direito dos trabalhadores. Eu acho que nós precisamos explicar isso, porque a versão está sendo mais forte que os fatos, a versão está prevalecendo. E nós não podemos deixar a versão prevalecer.

            Então, dia após dia, há essa superexposição negativa na mídia, que faz a tendência da opinião das pessoas, que faz a tendência do que as pessoas acham. Eu diria, inclusive, que há uma manipulação da opinião pública.

            Senadora Ana Amélia, ouvi seu discurso e sei que V. Exª é ponderada, V. Exª tem sempre colocado aqui, na tribuna, com grande responsabilidade, V. Exª fez cobranças muito duras, mas sei também o que V. Exª passou na campanha no Rio Grande do Sul. Eu sei das acusações que fizeram a V. Exª e que, muitas vezes, não havia espaço ou V. Exª não podia ou não conseguia dar a sua versão porque ou a mídia ou a oposição ou as pessoas que estavam disputando com V. Exª faziam a versão prevalecer. E como é difícil quando a versão prevalece, como é difícil quando você não consegue expor os fatos. E é mais forte uma campanha midiática, uma campanha de desconstrução, porque a desconstrução é sempre muito mais fácil que a construção. É sempre mais fácil destruir que construir. É sempre mais fácil apontar o dedo, fazer acusação, do que, efetivamente, saber o que está por detrás dos fatos.

            Eu assisti a um filme, recentemente, muito interessante sobre manipulação de opinião pública, chamado “Garota Exemplar”. Eu acho que todos os Senadores deviam assistir a esse filme: como se manipula a opinião pública em relação aos fatos, como se constroem os fatos.

            Eu não quero dizer que tudo que acontece é manipulação. Não estou dizendo isso. Eu reconheço os problemas, reconheço os erros e reconheço que temos que enfrentar esses problemas de cabeça erguida e de forma clara, com as medidas corretas, como a Presidenta está fazendo. Reconheço também que precisamos melhorar a nossa comunicação, mas o que não dá é achar que tudo de ruim que acontece, que tudo o que está errado é um problema do PT, é um problema do Governo e que nós somos responsáveis pelos erros históricos deste País.

            O problema que estamos vendo com a Petrobras foi o mesmo problema que Getúlio Vargas enfrentou. Aliás, há uma trilogia do livro de Getúlio para ser lida, há um filme sobre Getúlio para ser visto. É isso que estamos enfrentando. São as mesmas acusações sobre Jango, sobre Jânio. Nós estamos vendo a história se repetir...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (PT - PR) - E parece que isto nunca aconteceu: a direita se reforçar. E me desculpe quem fala pelo impeachment.

            Não é possível que tenhamos uma discussão tão leviana sobre impeachment.

            Eu quero falar disso, mas antes concedo um aparte ao Senador Paim.

            O Sr. Paulo Paim (PT - RS) - Senadora Gleisi, em primeiro lugar, quero cumprimentá-la pelo brilhantismo do seu pronunciamento, pela forma firme como defende o seu ponto de vista. Eu não poderia ajustar o seu comentário sobre a pesquisa, mas achei uma coisa muito interessante nessa pesquisa: que o Presidente Lula foi considerado o melhor Presidente de todos os tempos. A diferença de quem está em segundo lugar e ele é gritante, é de mais de 200%. Isso demonstra que a história construída no mandato do Presidente Lula e agora, claro, num segundo momento, depois da reeleição da Presidenta Dilma, não é somente como alguns contam. E a população sabe disso. Por esse motivo é que ele foi considerado o melhor Presidente de todos os tempos. Também queria falar rapidamente, e V. Exª vai falar amanhã, sobre o que tenho colocado na tribuna com muita precisão. Quero falar a respeito das duas MPs que tratam do direito dos trabalhadores e também da questão dos pescadores; assim como da questão da Previdência, que envolve os aposentados. Sou daqueles que têm um ponto de vista, Senadora - e já dialoguei com V. Exª -, do nosso papel aqui no Parlamento. Achei interessante a proposta que os três ministros estão apontando, de comum acordo com as centrais. Ou seja, fazer uma comissão tripartite, envolvendo os Parlamentares, os movimentos sociais e o Governo, para que possamos debater esses temas na comissão com a profundidade que eles exigem, apontando o caminho da mediação. Sei que o Governo sabe que não vai aprovar, na íntegra, o que mandou para cá. V. Exª lembrou muito bem da própria reforma da Previdência. Fizemos aqui um belo e forte debate, com a participação da sociedade, e chegamos a um entendimento. Eu fui à tribuna e defendi. O acordo foi no sentido de votarmos a proposta apresentada pelo relator, mas com o compromisso de votarmos a PEC Paralela. Lembro-me que, na oportunidade, quando defendi esse ponto de vista, alguns não entenderam e disseram que nunca teríamos a PEC Paralela. Ela foi aprovada, é lei e fez a mediação com a redação da forma original que chegou aqui na Casa. Nesse caso específico, tanto quanto ao seguro desemprego, quanto ao abono, quanto à questão das luvas, eu acho que nós podemos construir, sim, uma redação positiva, que vá na linha do bom senso e do entendimento. A Previdência é nossa, é dos trabalhadores, não é do Governo, não é dos empresários. É dos trabalhadores, porque eles é que dependem da Previdência. E nós podemos, mediante esse diálogo com as centrais - e já está marcada a reunião -, amanhã à noite mesmo teremos reunião com três ministros na busca da construção de uma redação final que vá contemplar o que todos nós queremos: a saúde da Previdência, o interesse dos trabalhadores e o interesse naturalmente da sociedade brasileira. Estou, eu diria, muito otimista com essa linha de diálogo e de entendimento na construção de uma redação que contemple a todos. Por isso, eu só posso cumprimentar V. Exª pela forma firme como defende o seu ponto de vista. Mas tenho dialogado muito com V. Exª e tenho a certeza de que estaremos juntos na trincheira...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (PT - RS) - ... de construir uma redação de entendimento. Parabéns a V. Exª.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (PT - PR) - Obrigada, Senador Paulo Paim. Com certeza.

            Inclusive, as medidas vêm para o Parlamento exatamente para serem debatidas. Acho que a maioria das medidas, como eu disse, são muito justas e importantes, elas não depõem contra o direito dos trabalhadores, mas obviamente há algumas que podemos ajustar.

            Como lembrou V. Exª, quanto à questão da reforma da Previdência, já vivemos situações muito mais drásticas em relação a discussões de medidas fiscais no Parlamento e no Governo do que nesse momento. Por isso, venho aqui reafirmar que essa tempestade feita em relação ao Governo da Presidenta Dilma - e agora, pegando essa pesquisa como bode expiatório para reforçar a tese do impeachment - é muito ruim.

            Aliás eu gostaria, se me permitem, de ler um trecho de uma entrevista que o jurista Dalmo de Abreu Dallari concedeu em razão de um parecer o para o qual Ives Gandra foi contratado, foi pago para exarar em relação ao impeachment técnico, digamos assim, uma base técnica para o impeachment.

            Não temos qualquer problema para falar em impeachment. Não há problema algum. A Constituição reconhece isso. É um instrumento, um instituto da democracia. Agora, quando isso serve para querer patrocinar um golpe, temos de falar sim.

            Eu gostaria apenas, Senadora Ana Amélia, de ler o que disse o jurista Dalmo de Abreu Dallari, porque ele considera que não tem base o Parecer do jurista Ives Granda.

            Ele diz:

Porque a Constituição, no art. 52, dá como atribuição do Senado “processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade”.

Portanto, se [...] [Dr. Ives] considera que, mesmo sem comprovação de conhecimento direto [ou seja, a Presidenta é responsável por ser Presidenta, não tem comprovação de conhecimento direto], existe a obrigação de agir, então essa obrigação existe para os senadores também.

            Nós somos Senadores da República, não temos conhecimento de vários assuntos, inclusive do Parlamento. Então, se estoura um assunto desses, nós também vamos ter a responsabilidade subjetiva, como ele diz, culposa, e não dolosa, para se ter os mandatos cassados?

Coerentemente, ele deveria propor a cassação do mandato de todos os senadores por crime de responsabilidade, o que é evidente absurdo. Há um jogo evidentemente político tentando criar uma aparente fundamentação jurídica que, de fato, não existe. É pura tentativa de criar uma aparência de legalidade quando o que existe é um objetivo político, nada mais.

            Por isso, é importante reforçar isso e dizer que manifestações pró-impeachment e contra impeachment podem acontecer. O que não pode é a oposição vir aqui e, através de subterfúgios, tentar fazer uma discussão dizendo que tem base técnica para um assunto que é exclusivamente político. Não há responsabilidade objetiva. Portanto, vamos parar com isso, não é possível.

            A oposição, primeiro, dois dias antes da eleição, forjou uma matéria que foi capa da revista Veja e que depois foi desmascarada pela mentira que trazia. A Presidenta venceu mesmo com o forjamento dessa denúncia, que foi inclusive divulgada em todos os meios de comunicação 48 horas antes do pleito. Depois, entrou querendo fazer uma averiguação nas urnas eletrônicas, dizendo que elas tinham problema, ou seja, que tinha questionamento e tinha que fazer auditoria. Depois, quiseram fazer uma devassa nas contas de campanha. E agora vêm com impeachment.

            Aceitem o resultado da eleição. Vamos debater os problemas deste País. Vamos discutir, sim, firmemente. Vamos discutir, sim, o que nós temos que ter aqui como responsabilidade do Parlamento em relação à economia...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (PT - PR) - ... e considerar o que está acontecendo no mundo. Vamos discutir, sim, a crise hídrica que nós temos. E vamos discutir sob a perspectiva da responsabilidade dos governos estaduais, que também tinham que ter feito o seu papel. Vamos discutir, sim, aqui a questão da corrupção. Vamos discutir a Petrobras. Mas também vamos discutir o metrô de São Paulo e vamos abrir tudo.

            Por que esse medo? Por que um vazamento seletivo? Vamos discutir tudo. Agora, vamos fazer isso com responsabilidade, e não com irresponsabilidade. A oposição, com esse gesto, está se opondo ao próprio País, ou seja, fica vicejando, fica fomentando todas as notícias negativas que possam acontecer.

            Nós não temos medo do debate e de enfrentar. Já enfrentamos várias vezes, em várias situações, durante o governo do Presidente Lula, estamos enfrentando durante o Governo da Presidenta Dilma e vamos enfrentar de cabeça erguida.

            Agora, nós sabemos que muitas das coisas que acontecem têm exatamente uma manipulação da opinião, como V. Exª sentiu lá, na sua eleição do Rio Grande do Sul.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (PT - PR) - Agradeço, Presidenta, inclusive os minutos que me foram concedidos. Agradeço a todos que estão nos ouvindo, e tenho certeza de que este Parlamento, este Senado da República tem a responsabilidade de ajudar este País a ter o seu desenvolvimento e vai responder à altura dos interesses e das necessidades da Nação.

            Muito obrigada.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2015 - Página 74