Discurso durante a 176ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às manifestações contrárias ao PT durante o velório do Sr. José Eduardo Dutra.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Repúdio às manifestações contrárias ao PT durante o velório do Sr. José Eduardo Dutra.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Eduardo Amorim, Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Jorge Viana, Randolfe Rodrigues.
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2015 - Página 263
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REPUDIO, OCORRENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, COMBATE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PERIODO, FUNERAL, JOSE EDUARDO DUTRA, EX SENADOR, COBRANÇA, LIDERANÇA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), NOTA OFICIAL, CRITICA, DESAPROVAÇÃO, MANIFESTAÇÃO.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Primeiro, eu queria agradecer ao Senador Jorge Viana pela generosidade de ceder este espaço neste momento.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, público que nos assiste pela TV Senado e nos ouve pela Rádio Senado, "petista bom é petista morto". Era o que diziam os panfletos que foram jogados no local onde estava sendo velado o corpo do grande e querido Senador José Eduardo Dutra.

    Chocante? Por certo que é algo chocante, que causa profunda indignação em quem tem um mínimo de civilidade. Afinal, uma das características mais marcantes da nossa espécie, o Homo sapiens, é que ela enterra os seus mortos em rituais de despedida. Até mesmo outra espécie do gênero Homo, o Neanderthal, já enterrava cuidadosamente os seus mortos.

    Os mortos fazem parte do sagrado, pois eles são a ponte entre esta vida e a outra vida. Assim, o respeito aos mortos é algo universal nas culturas humanas. É a base de todas as religiões. É o que sustenta a ideia de transcendência. Na realidade, é algo essencial para definir nossa natureza humana. Assim, a profanação dos mortos é algo que se considera mais que chocante.

    É coisa abominável, coisa que nem os neanterdais do passado faziam. Mas será que é algo surpreendente? Infelizmente acho que, no Brasil doentio e neoudenista de hoje, essas manifestações insanas de ódio político contra o PT e a esquerda em geral tornaram-se corriqueiras, quase banais. Na realidade, não surpreendem mais. São consideradas algo "normal". A nossa imprensa conservadora e a nossa oposição as tratam como coisas irrelevantes, sem importância.

    Recentemente, houve um atentado a bomba contra o Instituto Lula, que mereceu parcas linhas na mídia e comentários jocosos nas redes sociais. Só faltaram dizer: bem feito! Jogaram uma bomba contra o Instituto Lula? Bem feito! Morreu um petista de câncer? Bem feito! Que morram outros.

    No Brasil, como na Alemanha nazista, o mal banalizou-se, diria Hannah Arendt. Gente normal, comum, acha aceitável e desejável a violência contra petistas, marxistas, esquerdistas, bolivarianos e outros tais.

    Hoje considera-se, em certos círculos insanos, aceitável que petistas, simpatizantes do Governo, representantes de movimentos sociais ou esquerdistas de um modo geral sejam insultados, agredidos em restaurantes, aeroportos, hospitais ou mesmo em velórios.

    Há uma escalada extremamente perigosa de ódio político. Em breve, se algo não for feito, se considerará normal agredir fisicamente, ou mesmo assassinar petistas, assim como se considerou normal e desejável, em outros momentos da história, assassinar índios - por exemplo, na grande guerra contra os nativos americanos dos Estados Unidos da América.

    A frase que usaram no velório do ex-Senador Dutra deriva da famosa frase do General Philip Sheridan. Em 1869, logo após uma dura batalha, as forças do exército dos EUA derrotaram e aprisionaram o chefe dos comanches, Tosawi. O prisioneiro, querendo impressionar Sheridan, disse: "Sou Tosawi, um bom índio". Sheridan replicou: "Os únicos bons índios que eu vi estavam mortos".

    Embora Sheridan a tenha renegado, a frase foi registrada por várias fontes confiáveis e, curiosamente, não lhe causou prejuízo algum. Ao contrário, quando morreu, Sheridan tinha o cargo de Comandante em Chefe do Exército, honraria antes atribuída apenas a Washington, Grant e Sherman.

    Em 1886, Theodore Roosevelt, que se tornaria presidente dos EUA, afirmou, numa palestra, que embora não fosse tão longe em considerar que todos os índios bons eram os mortos, achava que esse era o caso de 9 entre 10 índios; e que não tinha muita certeza sobre o décimo.

    Foi essa a mentalidade que provocou o covarde genocídio dos nativos norte-americanos. Foi essa a mentalidade que, em última instância, criou Auschwitz.

    Sr. Presidente, o que torna a violência contra um determinado grupo, político, étnico, religioso ou de orientação sexual algo aceitável? O que torna algo que seria, em princípio, chocante em coisa normal, banal? O que torna a profanação dos mortos algo aceitável?

    Numa palavra: ódio. Porque o ódio desumaniza, desumaniza o alvo do ódio e desumaniza aquele que odeia.

    Desumaniza até mesmo os mortos. O ódio exige cadáveres insepultos. No genocídio armênio, as autoridades turcas impediam os familiares de enterrarem seus mortos. Era necessário que apodrecessem à vista de todos. Era necessário que seus olhos, as janelas da alma, fossem devorados pelos corvos.

    Mas o ódio contra esses grupos não é algo natural, ele não surge por geração espontânea. Como diria Mandela, o ódio é algo que se ensina. Ninguém nasce odiando. O ódio se aprende. E normalmente se aprende com desinformação, com distorção e com mentiras. É necessário desumanizar e demonizar o alvo do ódio para que o ódio seja considerado algo normal e desejável.

    Foi necessário se repetir a exaustão que os problemas da Alemanha tinham a sua origem nos "ratos judeus" para que o Holocausto se tornasse palatável. Foi necessário se afirmar repetidamente que os tutsis eram "baratas" para que 800 mil deles fossem abatidos a golpes de facão.

    E, no Brasil, quem ensinou e ensina esse ódio insano? Quem tornou possível que algumas pessoas se julgassem no direito de profanar o velório do Dutra? O que vem colocando nosso embate político abaixo do nível dos neandertais, que respeitavam seus mortos? Quais fatores criaram esse vale-tudo que ameaça transformar a nossa democracia num vale-nada?

    Sr. Presidente... Eu vou passar-lhe a palavra daqui a pouco, Senador Jorge Viana, mas eu quero falar também sobre o Presidente Lula.

    Não tenho dúvida de que boa parte da nossa mídia e setores irresponsáveis da oposição vêm se encarregando há anos de gerar um clima propício a essa barbárie. A frase absurda dos panfletos já vinha sendo escrita, há tempos, nas mentes dos insanos. Existe, de fato, há muito tempo, uma campanha sórdida, covarde e cínica contra o PT e seus governos. Uma campanha que, baseada nos ensinamentos de Goebbels, repete insistentemente mentiras para torná-las verdades.

    Darei um exemplo claro. Há meses que revistas de grande circulação nacional, especialmente a revista Época, vêm publicando reportagens procurando convencer a opinião pública de que Lula teria cometido crimes fazendo lobby para as grandes empreiteiras nacionais.

    Esta semana, quando o Ministério Público da Suíça denunciou que o Presidente da Câmara dos Deputados tem dez contas secretas naquele país, o que fizeram essas revistas, em tese dedicadas a bem informar a opinião pública? Voltaram a assestar suas baterias contra Lula. Substituíram a divulgação da corrupção comprovada pela divulgação de crimes fictícios. Misturando meias verdades, informações distorcidas e uma alta dose de imaginação, voltaram a criar uma precária peça de ficção policial travestida de reportagem objetiva e imparcial.

    A revista Época, em especial, aposta na paranoia anticomunista e nos preconceitos contra a África para que as suas informações prosaicas e anódinas se convertam numa trama diabólica. Com efeito, essa revista, assim como várias outras no Brasil, navega hoje nas revoltas e obscuras águas do anticomunismo, do "antibolivarianismo" e do antipetismo. Recriaram, em pleno século XXI, o mesmo clima da Guerra Fria que vigorava nos anos 50 e 60 do século passado. É o ódio mais primitivo a tudo o que é de esquerda.

    A revista Época está definitivamente fora de época. Aparentemente, está também um pouco fora de si, cega de ódio a Lula e ao PT. É isso o que explica a ignorância abissal sobre o estratégico tema da exportação de serviços.

    Concedo um aparte ao Senador Jorge Viana.

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Caro colega Senador Lindbergh, foi com satisfação que eu abri mão do meu tempo para que V. Exª pudesse fazer uso da tribuna. Eu queria, primeiro, registrar que é muito importante um discurso como o que V. Exª faz hoje aqui, na tribuna do Senado, para a história, porque é uma leitura, com muita precisão, do momento grave que estamos vivendo, desse ambiente de cinismo que setores da sociedade brasileira estão promovendo - e o pior: na hora que nós tivemos a perda de uma figura importante para o País, para a história do PT, para a história dos avanços que tivemos nesses últimos anos. Refiro-me ao Eduardo Dutra, um grande Senador, um grande presidente da Petrobras, dirigente e presidente do PT. V. Exª faz o registro e faz uma leitura histórica importante da gravidade, ou de como está se agravando essa campanha odiosa...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... que começou sendo feita contra o PT, passou para o Governo, passa para o Presidente Lula. Achando pouco, alguns fazem contra a família do Presidente Lula e agora nem mesmo as perdas estão sendo respeitadas. O desrespeito aos vivos, àqueles que não merecem as injustiças, como é o caso do Presidente Lula e sua família, já virou algo corriqueiro no Brasil, mas agora está se fazendo o desrespeito aos mortos. E, como bem colocou e lembrou V. Exª, Mandela falou claramente que ninguém nasce odiando. Ensina-se. Eu lamento que essa tenha sido ou esteja sendo a postura de setores importantes da imprensa brasileira, importantes da sociedade brasileira. Nós vivemos num País, Senador Lindbergh, em que existem mais de 50 mil assassinatos por ano. O problema é que quase a totalidade desses assassinatos é de pobres, pessoas que vivem à margem dessa economia que preocupa tanto alguns poucos. Eu lamento que a morte de meia centena de milhares de pessoas não seja algo importante. Essa hipocrisia que vai levando a sociedade, esse ambiente em que se vai semeando o ódio, em que se vai semeando o enfrentamento, é como se pegasse o País, que já está doente, porque um país que tem 50 mil assassinatos é um país que está doente, é uma sociedade que está vivendo problemas graves... As marcas estão colocadas, tirando-se a vida. Não se pode, não se deve agravar ainda mais essa doença que o País vive. Ainda agora, eu dei um abraço no Deputado Jean Wyllys, no corredor, porque ele é um dos poucos Parlamentares da Câmara que tem coragem de enfrentar a hipocrisia, de enfrentar esse efeito manada a que alguns tentam levar o nosso País. Eu falei ainda há pouco, o Senador Paim lembrava, que nós precisamos humanizar a política, nós precisamos humanizar a relação da nossa sociedade. Para essa ação de ódio, de destruição dos outros, temos que abrir outra porta. Agora é duro, só há um jeito de fazer isso: é relatarmos o que está ocorrendo hoje; as agressões, a bomba lá no Instituto Lula, a tentativa determinada de setores que acumularam milhões, outros bilhões, contra o Presidente Lula. Não pode ficar da maneira como está ficando. Não é possível que nenhum veículo importante da imprensa brasileira faça jornalismo. Não é possível, com tantos bons profissionais na imprensa brasileira. Não é possível que a gente não tenha o bom senso prevalecendo para que o enfrentamento político siga em frente. A farsa, a ação que estão fazendo agora no plenário do Congresso Nacional, com a atitude da Câmara dos Deputados, isso não tem importância para alguns, que piora a situação, a saúde econômica do País e a vida dos brasileiros, não tem importância porque a sina agora é destruir Governo do PT, destruir o PT, destruir as personalidades do PT. Eu lamento. O Eduardo Dutra haverá de ser julgado pela história, por tudo de bom que ele fez por este País, porque era um grande brasileiro. E esses que agem, que fazem essa ação que nos envergonha a todos são apenas a expressão dessa doença que está tomando conta do Brasil. O Brasil está vivendo uma crise, o mundo está vivendo uma crise civilizatória. Eu lamento que o Brasil esteja querendo ser o endereço dessa crise. Parabéns a V. Exª.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Jorge Viana...

(Soa a campainha.)

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ...eu agradeço muito o aparte de V. Exª e queria aqui fazer uma cobrança aberta aos tucanos também. Porque, veja bem, nós estamos em uma escalada. Houve a bomba ao Instituto Lula, houve o episódio do constrangimento que fizeram no aeroporto - um grupo organizado, sabemos quem são as pessoas - a João Pedro Stédile, constrangimentos em locais públicos e esse caso da bomba.

    Eu não vi aqui uma declaração de uma Liderança do PSDB condenando o fato de fascistas jogarem panfletos no momento do velório de Eduardo Dutra, dizendo: "Petista bom é petista morto". Este é o momento, e eu faço este apelo aqui para Liderança do PSDB, de falarem para os seus setores mais raivosos, dizer: "Isso não". Estão compactuando com práticas fascistas.

    Então, eu faço essa provocação porque eu espero, sinceramente, Senador Jorge, que daqui a pouco, mais tarde, venha alguém aqui dizendo: Olha, nós, do PSDB, nos solidarizamos com o ocorrido no velório do Senador José Eduardo Dutra. É preciso que eles façam isso. É preciso segurar aquela base mais radical, porque são grupos fascistas, não tem outro nome para designar tudo isso.

    Concedo um aparte ao Senador Randolfe.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Depois, eu gostaria de me manifestar, com a anuência do Presidente e de V. Exª.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Senador Lindbergh, eu aproveito o pronunciamento de V. Exª, eu ia solicitar ao Presidente a concessão da palavra, para poder fazer a leitura de uma nota da Bancada da Rede Sustentabilidade aqui no Congresso Nacional. Permita-me, no aparte de V. Exª, então, fazer a leitura dessa nota:

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - "A Bancada da Rede Sustentabilidade no Congresso repudia veementemente as manifestações de ódio ocorridas na segunda-feira, 5 de outubro, durante o funeral do ex-Senador José Eduardo Dutra. Entendemos que uma democracia se constrói no respeito às diferenças e que as arenas para os embates democráticos devem ser o Parlamento, as urnas e as ruas, nos processos de mobilização social. Isso não inclui o desrespeito à memória, à honra e ao luto. Nos solidarizamos com a família e os amigos de José Eduardo Dutra, prestando nossas condolências, desejosos por dias melhores para a luta política do nosso País." A Bancada da Rede Sustentabilidade no Congresso Nacional. Senador Lindbergh Farias, eu gostaria de aproveitar este aparte para fazer a leitura dessa nota e só completar dizendo que nós vivemos momentos tristes para a vida política do País. Acho que, comparáveis a isso, só houve nos momentos que antecederam o golpe e durante a ditadura de 1964. Não é aceitável passar do limite do bom convívio e da tolerância na luta política no País. Não é aceitável por nada; por mais divergências que se tenha ao Governo da Presidente Dilma, por mais diferenças que se tenha com a sua Bancada dos partidos que apoiam o Governo aqui nesta Casa, há um limite para a democracia. Para a democracia existe um limite, existe um limite necessário para convivermos. E esse limite é o diálogo e o respeito. Quem rompe com esse limite, qualquer rompimento com esse limite, com o limite do diálogo e do respeito, principalmente em momentos de comoção coletiva, como é o luto - e o luto não é de qualquer pessoa, Senador Jorge Viana. José Eduardo Dutra é alguém que tem uma inabalável ética, que tem um passado que deve servir de referência para todos que atuam na política brasileira. Então, não é aceitável, de quem quer que seja, esse tipo de comportamento. E eu faço minha a sua advertência. Em nome da democracia que foi conquistada em nosso País com tanto sacrifício, é necessário que se dê um basta em definitivo a esse conjunto de atitudes fascistas, seja a reação em relação a João Pedro Stédile, seja a bomba no Instituto Lula, seja essa atitude horrenda durante o velório de José Eduardo Dutra.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Randolfe, eu agradeço muito a posição da Bancada da Rede Sustentabilidade. Não esperaria outra coisa de V. Exª. Muito obrigado e vou passar para o Senador Valadares, antes dizendo que hoje circulou nas redes um tuíte do José Eduardo Dutra quando morreu o Presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

    Foram Senadores juntos. E o Senador José Eduardo Dutra disse: "Apesar das nossas diferenças políticas, eu quero mandar um abraço fraterno à família, porque respeito muito as posições e a figura pública que era o Presidente do PSDB, Sérgio Guerra." O oposto.

    Senador Valadares.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Senador Lindbergh, eu queria me solidarizar com a manifestação de V. Exª. A sua indignação tem razão de ser, porque aquela frase contida num panfleto anônimo que foi colocado no velório do ex-Senador José Eduardo Dutra configura, acima de tudo, um espírito odiento, vingativo não sei de que, mas que constitui um exemplo diabólico, que não deve ser seguido pela sociedade brasileira, que sempre foi conciliadora, solidária, respeitosa quanto aos atos fúnebres. A esse respeito eu gostaria também de enaltecer a jornalista Tereza Cruvinel, que publicou ontem um artigo sob a denominação de "O ódio político e o vilipêndio a Dutra". Eu vou ler apenas a introdução. Ela disse: "Não é preciso ser sociólogo para constatar que há algo de patológico numa sociedade que viola o tabu da morte e permite que o ódio político invada as cerimônias fúnebres. O respeito aos mortos não é apenas um mandamento cristão, mas um pressuposto da civilização. Na hora da morte devemos ser ainda mais reverentes para com aqueles que acabam de sair da vida". E ela termina dizendo o seguinte:"O artigo 212 do Código Penal refere-se ao crime de vilipêndio aos mortos, assim entendido como a prática de aviltar, ofender, tratar com desprezo ou de forma desrespeitosa os restos mortais [daqueles que desapareceram]". Ela também cita o art. 209 do mesmo Código Penal, que considera como crime a perturbação de cerimônia fúnebre. Veja a gravidade com que essas pessoas agiram nesse ato, atingindo um dos homens públicos mais íntegros da história deste Senado, o Senador Eduardo Dutra, a quem fui homenagear pessoalmente, representando o Senado e o nosso Partido, o PSB. Lá encontrei o Presidente Lula, realmente sentido com a morte daquele seu companheiro, daquele nosso companheiro. Lutamos juntos aqui, neste Senado. Foi um Líder exemplar, Líder do Bloco das Oposições durante oito anos, e jamais eu vi o José Eduardo Dutra desrespeitando um seu adversário, seja em vida ou em morte, para receber, em contrapartida, no dia de seu velório, aquele ato desrespeitoso, que também, infelizmente, aconteceu lá, em Sergipe, através do Presidente do PSDB, com uma nota agressiva, desnecessária, que ninguém compreendeu e que está sendo objeto de repúdio de toda a sociedade sergipana. O Presidente do PSDB do Sergipe, ou seja, Presidente do PSDB, do mesmo partido de Aécio Neves, que deveria, a esta altura dos acontecimentos, estar aqui, chamando a atenção desse Presidente e contribuindo para a boa formação dos mais jovens, porque os mais jovens não podem receber esse exemplo como dignificante, mas como um ato covarde, criminoso, que precisa ser repudiado por todo o povo brasileiro. Agradeço a V. Exª.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu que agradeço a V. Exª por um aparte tão importante, V. Exª que foi Senador com José Eduardo Dutra. Para nós, a solidariedade é fato importante, Senador Valadares, porque aquilo atingiu a todos nós, aquilo não foi só em quem estava lá presente, atingiu a todos.

    Eu fico pensando: onde é que nós vamos parar nessa escalada de acirramento da luta política? Pensam os tucanos que vão ficar fora disso, com esse ensinamento ao ódio cotidiano a que nós estamos indo. É algo muito perigoso, é um terreno muito perigoso em que estamos entrando, que todos os democratas tinham que se posicionar, porque daqui a pouco - e nós vamos sempre desestimular - vai haver gente aqui querendo fazer do outro lado, e esse não é o caminho que nós queremos. Mas...

    Senador Eduardo Amorim.

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Lindbergh, é apenas para tentar aqui fazer uma correção, Senador Valadares. A informação que eu tenho é de que não foi o Presidente do PSDB que colocou aquela nota. O Presidente do PSDB de Sergipe colocou uma nota de pesar - e faço justiça aqui -, se solidarizando. Independentemente das diferenças ideológicas e partidárias, o PSDB de Sergipe se manifestou, com nota de pesar. Agora, no grupo de Whatsapp de uma determinada pessoa foi replicada uma outra nota e essa nota foi levada para a autoria do Presidente do PSDB, mas o PSDB de Sergipe se manifestou com uma nota de pesar. Então, acho que o Senador Valadares não tem informação quanto a esse erro que houve nas redes sociais.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ. Como Líder.) - De qualquer forma, Senador Eduardo Amorim, eu já falei aqui antes...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Presidente.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Valadares.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Lamentavelmente, o Senador Eduardo Amorim...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - ... foi mal informado. Aqui eu tenho: "Presidente do PSDB de Sergipe não respeita a morte de José Eduardo". Eis o que Pedrinho Barreto postou no Whatsapp - entre aspas...

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Valadares.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - "Bom dia a todos, com o falecimento...

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - O PSDB de Sergipe fez uma nota diferente, com todo o respeito.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Então, aqui tem uma nota longa, que eu não vou ler, é até depreciativa contra o nosso Senador José Eduardo Dutra, que está postada no Whatsapp do Presidente do PSDB. Eu sei que V. Exª não é do PSDB, mas poderá ser amanhã, conforme já foi anunciado...

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Valadares, eu não tenho...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - ... e que V. Exª jamais autorizaria, eu conheço, V. Exª tem espírito cristão...

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Eu não, eu não comungo com esse tipo de atitude.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - ... jamais estaria de acordo com uma atitude desse tipo, mas, lamentavelmente, meu amigo Pedrinho Barreto errou e cometeu uma atrocidade contra um cidadão que só fez o bem a Sergipe, ao colocar no seu Whatsapp, está aqui, nas minhas mãos. A não ser...

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Valadares.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) -... que esse Whatsapp seja falso, mas está aqui.

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - O PSDB... Eu acho...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Mandaram para mim uma cópia desse Whatsapp e eu lamento, publicamente, que isso tenha acontecido com, inclusive, um amigo meu, filho de desembargador, dos mais honrados, que fez história em Sergipe. Um advogado, um homem que entende de leis e que, infelizmente, teve, nessa hora infeliz, de redigir algo...

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) - Senhores.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - ... tão negativo contra uma figura de um homem que merecia, nesta hora, e, também, ao lado de sua família, o maior respeito.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) - Srs. Senadores, eu peço compreensão a V. Exªs. Há um orador na tribuna e é um debate paralelo. Em seguida, o Senador Eduardo Amorim terá a oportunidade da palavra.

    O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Mas o objetivo é exatamente corrigir. Eu digo que o Senador Valadares também não viu a nota emitida pelo PSDB. Eu li a nota do PSDB de Sergipe, manifestando realmente seu pesar, mas não vou entrar... E olhe isso, Senador Valadares. Com todo o respeito, olhe isso, porque às vezes isso pode ser replicado.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Ferraço. Bloco Maioria/PMDB - ES) - Peço a compreensão, por termos um orador na tribuna.

    Em seguida, o Senador Eduardo Amorim, pela ordem dos inscritos, fará uso da palavra. Eu peço compreensão, para que nós possamos devolver a palavra ao Senador Lindbergh, pedindo a S. Exª que encaminhe para a conclusão.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Independentemente do que seja a nota do PSDB de Sergipe, ou do que esteja no WhatsApp do Presidente, um fato aqui eu quero reafirmar, e fazemos isso porque achamos que é importante: que os tucanos, que o PSDB nacional, que as Lideranças do PSDB se pronunciem sobre aquele fato terrível que aconteceu no dia de ontem.

    Eu quero encerrar...

    Senadora Fátima.

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador Lindbergh, serei breve. Primeiro, claro, falo aqui também para expressar o nosso repúdio diante dessas manifestações de intolerância, de ódio, enfim, frente ao velório do companheiro José Eduardo Dutra. É lamentável tudo isso. Mais do que lamentável: inaceitável e criminoso. Eu acho inclusive que isso dever servir de reflexão, por parte de toda a sociedade brasileira, na medida em que, Senador Lindbergh, essas manifestações de intolerância e de ódio, muitas vezes, estão sendo alimentadas por certos artigos publicados na imprensa, pelas tribunas parlamentares por este País afora etc. etc. Mas, enfim, registro nosso repúdio total a essas manifestações de intolerância e de ódio e quero me associar, a V. Exª e aos demais, no sentido de render as nossas homenagens a Dutra, pelo militante extraordinário, pelo gestor, pelo excelente Parlamentar e pelo grande homem público que ele foi, que prestou muitos serviços, não só ao seu Estado, mas ao Nordeste e ao Brasil.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Muito obrigado, Senadora Fátima Bezerra.

    V. Exª tem razão. Eu li um trecho do meu pronunciamento, em que Mandela dizia o seguinte: "O ódio é algo que se ensina. Ninguém nasce odiando. O ódio se aprende".

    E eu encerro o discurso dizendo, Sr. Presidente, que esse ódio ao PT, e especialmente a Lula, tem, entretanto, uma origem: o medo. Eles têm medo dessa liderança. E não é só por causa da sucessão presidencial de 2018. Eles têm medo do que essa liderança é capaz aqui e agora. Lula é a única liderança política brasileira capaz de catalisar uma oposição efetiva à destruição do modelo nacional e popular que levou cidadania a 40 milhões de brasileiros.

    Lula é a única personalidade política que tem carisma e legitimidade para dar limites à voracidade do capital e à restauração do neoliberalismo no Brasil.

    Lula é o oposto ao ódio, Lula é a esperança. É necessário matá-la, destruí-la, para que triunfe, definitivamente, o pessimismo e ódio que nos conduzirão ao passado obscuro da desigualdade e da pobreza.

    Mas estão mexendo com pólvora. Um povo que perde a sua esperança é um povo que perde a capacidade de perdoar os seus algozes. O povo não odeia, mas não esquece quem lhe fez mal e, sobretudo, não olvida aqueles poucos que por eles lutaram.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância e pela generosidade com o tempo.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Permite-me, Senador, Lindbergh, desculpe-me.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Claro, Senadora Gleisi.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É que eu cheguei agora ao plenário, ouvi uma parte do seu discurso no meu gabinete e queria ter tempo de fazer um aparte rápido a V. Exª. Primeiro parabenizar pelo discurso. Pedi, inclusive, à minha assessoria que pegasse partes dele para colocar na minha rede social...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Muito obrigado.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... quando V. Exª fala sobre o ódio, sobre a intolerância, sobre a necessidade que nós temos de recompor as relações. Acho que é muito importante isso para o Brasil neste momento. Nós não podemos perder isso de vista. É isso que nos faz humanos, é isso que nos traz dignidade. Com certeza, o desabafo de V. Exª em relação tanto aos atentados contra o Presidente Lula, o desrespeito que ele vem sofrendo, como também ao Sr. José Eduardo Dutra, nosso companheiro, ex-Senador...

(Soa a campainha.)

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... Presidente do Partido. Então quero me somar a V. Exª e parabenizá-lo pelo discurso desta tarde, que, como disse o Senador Jorge Viana, é, realmente, um discurso histórico.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Muito obrigado, Senadora Gleisi. Muito obrigado mesmo.

    Encerro o meu pronunciamento com o aparte da Senadora Gleisi.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2015 - Página 263