Pela Liderança durante a 23ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do início dos debates sobre o impeachment da Presidente da República a fim de se superar a crise político-econômica do País, e leitura do artigo "Como sair da crise" do Sr. José Pastore, Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras, publicado no Estado de S. Paulo.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Defesa do início dos debates sobre o impeachment da Presidente da República a fim de se superar a crise político-econômica do País, e leitura do artigo "Como sair da crise" do Sr. José Pastore, Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras, publicado no Estado de S. Paulo.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho, Ivo Cassol, José Medeiros, Randolfe Rodrigues, Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2016 - Página 61
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, INICIO, DEBATE, ASSUNTO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, RETORNO, CONFIANÇA, GOVERNO FEDERAL, LEITURA, COMENTARIO, ARTIGO, AUTORIA, JOSE PASTORE, PROFESSOR, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), PUBLICAÇÃO, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, FORMA, MELHORIA, SITUAÇÃO, PAIS, REFERENCIA, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA NACIONAL.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Telmário, que preside a nossa sessão neste momento, senhoras e senhores telespectadores da nossa TV Senado, a quem cumprimento, e também os ouvintes da Rádio Senado, que acompanham este nosso pronunciamento, na cidade de Cuiabá, nós temos a Rádio Senado, que é muito bem ouvida, tem uma avaliação muito boa, uma programação muito boa. As pessoas têm acompanhado não só o trabalho dos Senadores de Mato Grosso, mas também dos Senadores de outros Estados, os seus posicionamentos.

    Eu tenho vindo à tribuna frequentemente, Sr. Presidente, meus colegas Senadores e Senadoras, para falar sobre a economia do País. No dia de hoje, acompanhei atentamente as falas dos nossos colegas. A grande maioria está falando sobre a questão da condução coercitiva do ex-Presidente Lula para um depoimento. Eu penso que aqui no Senado nós ouvimos hoje um debate muito grande entre PSDB e PT, entre quem é contra, quem é a favor, mas penso que esse é um assunto que requer bastante cuidado, um assunto que requer uma avaliação bastante profunda, já que se trata de um assunto de Justiça, um assunto de polícia, não é tanto um assunto relacionado à nossa atividade aqui no Congresso Nacional.

    Agora, o que é relacionado à nossa atividade no Congresso Nacional são as consequências desses atos, não só dessa operação, das demais operações, mas também em relação ao posicionamento que o Governo vem tendo nos últimos meses - nos últimos anos, posso até dizer -, de descuido e desleixo, e como vem conduzindo a economia do País, levando o Brasil a uma profunda recessão, uma recessão gigantesca, e nós não sentimos e não vimos saídas para o problema que nós temos. Acoplada à questão econômica, nós temos também a questão de credibilidade do Governo, que vem se desgastando em função de todos esses acontecimentos.

    Então, quando nós juntamos a crise econômica com a crise política, nós temos uma situação bastante complicada, uma situação que nos leva a fazer uma reflexão profunda do que será o País daqui a alguns meses, daqui a um ano, daqui a dois anos.

    Quando assumo a tribuna, em muitas oportunidades, para fazer a defesa de que nós temos que ir para o debate do impeachment, eu o faço porque não vejo como sair dessa situação sem ir para o debate do impeachment. E já defendi aqui na tribuna que após o embate e o debate do impeachment é que nós vamos ter uma saída para o Brasil, uma pequena oportunidade para o Brasil.

    Se iniciado o processo do impeachment, se efetivamente for levado adiante e a Presidente for afastada do cargo, nós teremos a assunção do Vice-Presidente ao cargo de Presidente da República, o qual não tem, vamos dizer assim, respaldo popular, não tem gordura eleitoral para queimar e precisa fazer um governo - se for ele - que seja um governo de coalizão nacional, junto com o Congresso Nacional e com as lideranças da sociedade civil organizada. Então, vejo que essa é uma alternativa, para nós não ficarmos sangrando até 2018, porque senão nós chegaremos totalmente, Senador Ivo Cassol, em frangalhos, assim como os maragatos e os chimangos, lá no Rio Grande do Sul: cada um só com a capa da gaita, e o outro só com o toco da espada, porque perderam tudo.

    A outra situação é que, começado o processo de impeachment, a Presidente tenha condições na Câmara, e também no Senado, de se manter no poder. Ora, se ela tiver essa capacidade e tiver o respaldo dos colegas aqui e também dos Deputados, que também a oposição dê a possibilidade de se governar este País, de fazer com que chegue vivo, inteiro, em 2018.

    Então, temos essas duas opções, e penso que o pior dos mundos é não tomarmos a decisão. Sempre que adiamos uma decisão, sempre que não conversamos sobre ela, muito provavelmente, no outro dia, ela estará maior, mais forte e com maiores problemas.

    Sou defensor de que esse processo precisa avançar, precisa ser discutido na política e ouvi aqui o Senador Caiado falar que a saída para o Brasil está aqui no Congresso Nacional. Falei com o Senador Caiado, hoje, um pouco mais cedo, nos nossos lugares, que também me disse isto: a saída para o Brasil é uma saída política. E penso que a saída política para o Brasil é a discussão do impeachment. Não dá para varrer para debaixo do tapete como se não estivesse acontecendo nada, porque a situação no País é bastante grave, Senador Ivo Cassol, uma situação que merece todo o nosso cuidado.

    Quero, hoje, aqui na tribuna, ler um artigo que diz muito do que precisamos fazer pela frente.

    As decisões que nós Parlamentares temos que tomar - e o Congresso Nacional tem que tomar - são muito difíceis de serem tomadas, porque lembro-me de que, em 2013, 2014, houve muitos movimentos sociais, muitas leis aqui foram apoiadas por esses movimentos, muitas "conquistas" - podemos dizer assim, entre aspas - foram conseguidas aqui no Congresso Nacional.

    Lembro-me de que, a cada semana, era o que poderíamos chamar de pauta bomba, uma festa para isso, uma festa para aquilo, e várias e várias vezes se posicionaram aqui da nossa Mesa para comemorar e cantar o Hino Nacional. Eu dizia, naquele período, que cada entoada daquele Hino Nacional, aqui no Senado Federal, significava R$1 bilhão ou R$2 bilhões a mais nas contas do País. Infelizmente, estávamos certos e as contas hoje estão aqui a chegar, estão chegando e não temos os recursos para pagar todos esses benefícios, essas contas que foram conquistadas legitimamente no Congresso Nacional.

    Não podemos só botar culpa lá do outro lado da rua, na Presidência da República, como se não tivéssemos feito nada, fizemos muitas coisas aqui, foram aprovadas muitas leis, muitos gastos foram aprovados sem ter a contrapartida necessária, Senadora Vanessa Grazziotin - que preside a Mesa neste momento -, sem a contrapartida necessária, de onde vem o dinheiro. Para cada benefício que se dá, precisa haver um recurso do outro lado; para cada presente que se dá para alguém, tem haver dinheiro para comprá-lo. Não pode simplesmente deixar a conta para pagar depois.

    Então, o que nós vivemos hoje no Brasil, de certa forma, é o resultado e o reflexo da irresponsabilidade da política brasileira, não só do Executivo, mas do Legislativo e também do Judiciário. Aqui não tem ninguém que não seja culpado. E aí, Senador Cassol, o senhor que é de origem italiana, tem um ditado que fala assim: "Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão".

    O Brasil está vivendo neste momento uma grande confusão porque faltou dinheiro. Se faltou dinheiro, falta harmonia; faltou dinheiro, acaba a sociedade, há briga em família, é uma confusão geral. Nós estamos neste momento. O Brasil está sem dinheiro, o Brasil está tecnicamente quebrado, está sem liderança, está sem poder ter uma Presidenta ou um Presidente de pulso firme que dê rumo ao nosso País, que crie as condições de confiabilidade para a gente andar para a frente.

    Olhe o que está acontecendo na Argentina. Na Argentina, não mudou nada até agora, Senadora Vanessa. Mudou a intenção, mudou a vontade do governo de dar um outro rumo para o país e as instituições, o capital, o trabalho... Todo mundo diz: "Poxa vida, agora temos um rumo, agora sabemos aonde vamos chegar e, nessa toada, vamos chegar a um bom lugar". E as coisas clareiam para o país, as coisas ficam melhores, todo mundo fica animado, começam as construções, começam os empreendimentos, começam os investimentos e a coisa muda de lugar.

    Ouço o Senador Medeiros, que levantou o microfone, com o maior prazer.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Agradeço pelo aparte, Senador Blairo Maggi. É apenas para registrar que o que V. Exª está dizendo agora, na verdade, é o resultado de parecer até uma profecia que V. Exª dizia no ano passado, no início do ano. Lembro-me de certa feita, quando da posse do Ministro Joaquim Levy. V. Exª já indagava e falava sobre esse rumo de que o mercado precisava, de que o povo brasileiro precisava. E, de lá para cá, tem sido quase como um pingo d'água V. Exª sempre batendo nessa mesma tecla de que precisávamos ter um ambiente econômico tranquilo, de que precisávamos ter um campo para que os jogadores pudessem jogar com tranquilidade. Recentemente, tive oportunidade de fazer uma defesa do seu nome, porque vi uma crítica sobre uma postagem que V. Exª teria feito no Facebook, e alguém dizendo que V. Exª não teria moral para fazer crítica alguma, porque era da Base de Apoio ao Governo e que só agora estava se insurgindo. Eu falei: não, desde o ano passado que ele vem avisando que o Governo precisava tomar outro viés, que o mercado estava colhendo sinais muito contraditórios e que, dessa forma, o ambiente de negócio ia ficar muito complicado. E era justamente isso que V. Exª dizia. O Governo estava parecendo o Ronaldinho Gaúcho, olhando para um lado e tocando para o outro. Congratulo-me com V. Exª por esse depoimento, esse seu pronunciamento, porque domingo, Senador Blairo Maggi, a gente está convidando, justamente, as pessoas para irem para a rua, porque nós precisamos do marco zero. Nós precisamos do marco zero. Isso que V. Exª fala é da mais alta importância, porque na Argentina a constatação é essa que V. Exª disse: não mudou nada. Simplesmente mudou o ambiente e a percepção das pessoas de que pode acontecer alguma coisa nova. Muito obrigado.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador José Medeiros. Obrigado pela intervenção e pela defesa. Na semana passada, V. Exª tem razão, eu gravei um vídeo para o Movimento Muda Brasil, convidando as pessoas para irem às ruas no dia 13, porque, se eu acho que não está bom, se as pessoas acham que não está bom, reivindiquem, vão para a rua. Quanto mais gente estiver na rua no dia 13, mais gente vai dizer para o Governo: "Olhe, Governo, eu não estou satisfeito com o que está aí". E o Governo terá que se posicionar, dizer: "Vou atender ao ruído das ruas, vou entender que isso não está bem e vou mudar minha política econômica, vou mudar minha política de conduzir as coisas". Já dizia, se não me engano, Roberto Campos, ou alguém, o seguinte: "Se você quer uma boa política me dê uma boa economia". Quando as coisas estão bem, a economia está bem e a política vai bem também. Vice-versa é também verdadeiro.

    Eu ouço o Senador Telmário com o maior prazer.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senador Blairo, eu estava ouvindo atentamente a colocação de V. Exª. Eu acho que a Argentina mudou sim, mudou a responsabilidade da oposição e do Congresso em ajudar o governo. Aqui, não. Aqui a oposição não quer ajudar, ela atrapalha. Infelizmente, o Governo não tem uma base sólida e absoluta, porque, inclusive, a maior base é do próprio PMDB, que tem hora que está de um lado e tem hora que está do outro. O PMDB não é base do governo em cima de programa, mas em cima de seus interesses. Ele faz as suas pautas e assim o debate. Então, o que está faltando é esta Casa ter políticas, preocupada com o Estado. O que nós vemos aqui é briga de poder, é interesse de poder. A oposição não vem com uma proposição que possa ajudar o Estado a sair dessa crise. Por isso a oposição não tem nome. Ninguém vê, não tem nome. A população não é tão tola, ela vai ver. Ela vai para a rua gritar para mudar o que, se o Congresso emperra? Se o Congresso não ajuda? Nós temos um Presidente da Câmara Federal que devia estar na cadeia, não devia estar sentado na Presidência. A maioria dos Senadores está envolvida em atos e talvez não tenha mais autonomia para reagir. O Supremo manda prender um Senador em pleno exercício da função, o Senado se ajoelha. Então, nós temos que fazer uma autocrítica, e V. Exª começou nesse sentido. Agora, a assembleia, não é o povo na rua que quer mudar. Então tem que tirar todo mundo, tirar o Presidente, tirar os Senadores. É todo mundo renunciar. Eu abro mão dos oito anos que tenho e vamos todo mundo para as urnas, para nós realmente darmos ao Brasil uma nova cara. Essa é a minha proposição.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Obrigado, Senador Telmário.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Só me permita, Senador Blairo?

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Mas eu discordo de V. Exª na questão das ruas. Nós não temos um sistema de recall em que nós possamos conferir se o Governo está bem ou está mal. Uma das formas de se fazer isso é por meio da manifestação popular. Se a manifestação popular for grande, enfim, se as pessoas não estiverem contentes que vão para a rua e falem: "Não estou contente e quero mudar."

    Eu passo a palavra para o Senador Medeiros.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - É só para dizer ao Senador Telmário, Senador Blairo Maggi, que a Oposição foi eleita não para governar, não para dar rumo ao País. Oposição tem que fiscalizar e derrubar Governo, eventualmente, se não estiver bom. Esse é o papel da Oposição. Quem tem que governar é quem foi eleito para isso. É o Governo. E se há Senadores que estão trabalhando contra a sociedade, cabe também ao Senador Telmário representar no Conselho Ética, como eu e o Senador Randolfe Rodrigues fizemos no caso do Senador Delcídio. Muito obrigado.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Medeiros.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Como V. Exª deu ao Senador Medeiros duas oportunidades, eu queria também. Eu fui citado.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Pois não, Senador.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - O Senador Medeiros está confundindo alho com bugalho. Não é pela pessoa fazer política contra a população, e está visto toda hora, que eu vou entrar na Comissão de Ética. Comissão de Ética é quando há falta de decoro ou coisa mais grave. Mas não se preocupe não, que na Comissão de Ética todo aquele que chegar com a devida irregularidade será punido. Agora que a Oposição está aqui para derrubar Governo? Me assustou, Senador Medeiros. Obrigado.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Inclusive o senhor é o Relator do Senador Delcídio. Não custa lembrar.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado.

    Bem, eu ainda tenho quatro minutos. Eu quero ler o objeto do início da minha fala para mostrar que não só os Parlamentares, mas a sociedade civil organizada e muitos articulistas falam aquilo que nós deveríamos falar todos os dias aqui.

    No dia 23 de fevereiro, saiu no jornal O Estado de S. Paulo um artigo do Sr. José Pastore, que hoje é Professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras. Então, eu quero reproduzir aqui no plenário, com a sua aquiescência, para os nossos telespectadores as palavras desse artigo intitulado "Como sair da crise?"

    Ele começa assim:

No mesmo dia em que a Presidenta Dilma Rousseff diz que enviará ao Congresso Nacional um projeto de reforma da Previdência Social, o seu Ministro do Trabalho e Previdência Social junto com os Parlamentares do Partido dos Trabalhadores dizem que não concordam com isso. E a Presidenta aceita. Será que tudo não passa de uma mera encenação?

Temos de ser realistas. É inevitável mudar as regras legais que criam despesas obrigatórias insustentáveis.

    Aí vêm as perguntas.

[Será que haverá] e há recursos para manter indefinidamente um sistema previdenciário em que as pessoas vivem, em média, 75 anos e se aposentam com 55 anos?

[Será que haverá] [...] recursos para continuar com as aposentadorias precoces de mulheres e professores? [E com as aposentadorias dos trabalhadores rurais] [...] sem contribuição?

[Haverá] [...] recursos para sustentar o valor da aposentadoria dos funcionários públicos dez vezes maior do que a dos empregados do setor [público] [...]?

Eu não estou perguntando se isso é justo ou injusto. Indago apenas se há recursos [para isso]. E a resposta é não. Os dados estão aí. O déficit da Previdência Social (pública e privada) chegou a R$164 bilhões em 2015. E será muito maior daqui para a frente.

Já que estou fazendo perguntas a respeito da disponibilidade de recursos, adianto mais algumas que envolvem outros desequilíbrios criados por lei: [será que haverá] [...] recursos para manter os filhos das famílias [mais] ricas nas universidades públicas gratuitamente? [Haverá] [...] recursos para manter uma jornada de apenas 6 horas [por dia] para bancários, 5 horas [por dia] para jornalistas e 4 horas [por dia] para advogados?

Se, de um lado, não há recursos, devesse dizer que nada disso é ilegal. São desequilíbrios criados e sustentados pelas leis vigentes. É isto mesmo...

(Soa a campainha.)

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) -

Muitas das nossas leis são fontes de graves desigualdades sociais. E isso se aplica a vários dispositivos constitucionais.

No Contrato Social de 1762, Rousseau dizia - [abro aspas]: "Se me perguntarem como puderam os homens chegar a tanta desigualdade, eu não sei responder. Mas, se me perguntarem como pôde tamanha desigualdade ser legitimada, isso eu sei responder... A legitimação veio das convenções criadas pelos próprios homens (as leis). Afinal, o direito nada mais é do que o poder convencionado". [...]

Essa é a questão. No Brasil, os insiders [quer dizer, as corporações] conseguem aprovar leis que os protegem, criando uma vida infernal para [o povo] os outsiders.

(Interrupção do som.)

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) -

... criando uma vida infernal para os outsiders. Quem analisa os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional vê a profusão de propostas que criam obrigações sem a contrapartida de recursos. No fundo são obrigações que, para serem cumpridas, oneram os preços dos bens e serviços.

Em cima de tudo isso o povo brasileiro elegeu um governo que agravou as distorções, implementou políticas econômicas equivocadas e criou mais despesas para uma receita cadente [receita que está caindo].

Vamos falar claro: para o País sair desta crise é [...] preciso fazer mudanças no atual quadro legal. Na Constituição de 1988 a palavra direito aparece 76 vezes; dever...

(Soa a campainha.)

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) -

... dever, 4 vezes; produtividade, 2 [vezes]; e eficiência, [apenas] 1 vez. Como governar um país que tem 76 direitos, 4 deveres, 2 produtividades e [apenas] 1 eficiência?

Não há escapatória. A saída da crise exigirá uma reavaliação dos sonhos criados por nossa Constituição. É uma tarefa difícil e que exigirá uma liderança confiável que [...] não existe [neste momento], mas que pode emergir quando o medo e o pânico tomarem conta dos agentes econômicos, fazendo-os ver ser inevitável perder alguns anéis para conservar os dedos. A volta da confiança é essencial para o sucesso de uma concordata desse tipo.

Certo dia o discípulo perguntou a Confúcio: "O que é importante para bem governar um país?". Confúcio disse: "Que o governante tenha armamento, alimento e confiança".

- E se eu não puder dispor dos três? De qual devo abrir mão?

- Abra mão do armamento [em primeiro lugar].

- E se eu não puder dispor dos dois?

- Abra mão do alimento porque, sem a confiança do povo, é impossível governar um país.

    Abra mão do alimento, porque sem a confiança do povo é impossível governar um país.

    É o que tenho dito.

    Muito obrigado, Presidente.

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Blairo Maggi.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Senador Blairo Maggi, por favor, quem foi o autor desse artigo?

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Foi o Prof. José Pastore, que é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Ele é muito conhecido, muito respeitado, muito apreciado e foi muito lúcido, não digo em todas as colocações, porque não li detidamente.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Mas reproduzi aqui o que efetivamente ele escreveu no jornal.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - O que eu acho é que, sobre o tempo do verbo, ele pergunta muito "haverá".

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Já não teve...

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Acho que o tempo do verbo poderia mudar para "há".

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, caro Ministro.

    Quero cumprimentar aqui a presença dos nossos Vereadores, lá de Mato Grosso, Audison Lima e Luciano Demazzi, que são de Aripuanã e estão aqui prestigiando este momento de sessão do Senado.

    Sejam bem-vindos. Um abraço a vocês e a todos os nossos amigos de Aripuanã.

    Senador Ivo Cassol, V. Exª quer fazer um aparte?

    O Sr. Ivo Cassol (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RO) - Com certeza, Senador Blairo Maggi. Quero parabenizá-lo pelo discurso que V. Exª leva hoje a todo nosso povo brasileiro, especialmente o senhor, que tem uma visão de grandeza não só estadual...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ivo Cassol (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RO) - ... nacional, mas também internacional, pelo seu conhecimento e vivência. Nesse passo, sempre digo o seguinte: se um governo - municipal, estadual ou federal - ou mesmo uma empresa perder a credibilidade, perder a confiança, dificilmente se levanta. Pode até não haver dinheiro, mas, se houver a confiança e a credibilidade, com certeza um povo acaba movimentando montanhas. Hoje, enfrentamos do Governo Federal a falta de recursos, como aconteceu no ano passado. V. Exª esteve junto em várias audiências com o Ministro Joaquim Levy, quando vinha com propostas novas, mas não pagavam as contas passadas. Infelizmente isso acabou gerando um déficit na sociedade. Boa parte da crise foi por falta, na verdade, de eficiência de alguns desses Ministros que faziam parte do Governo. A preocupação é muito grande, mas a grande vantagem de V. Exª e de todo o povo brasileiro é que, acima de tudo, é um povo guerreiro. Quando eu falo guerreiro, é lutador para poder vencer essas dificuldades que estão pela frente. Com certeza, V. Exª, quando citou o professor, falou das obrigações e deveres que todo mundo tem. Uma empresa, numa época de crise, diminui o quadro, qualquer empresa ou comércio diminui o quadro. Infelizmente nós estamos com os nossos órgãos públicos, municipais, estaduais e federais, em muitos locais, inchados. Isso tem um custo - quero lembrar que quem acaba pagando os custos é a própria sociedade - e isso tem dificultado muito. Eu não sou contra, estou a favor, porque é preciso ter um quadro, mas, ao mesmo tempo, é como V. Exª falou agora há pouco: enquanto uns querem contrato de seis horas, outros querem contrato de quatro horas...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Ivo Cassol (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RO) - ... enquanto muitos querem manter, ou aumentar o salário e diminuir as horas trabalhadas, temos que fazer o inverso: em época de crise, nós temos que automaticamente aumentar o trabalho para poder superar a crise. Então, parabéns pelo discurso.

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Obrigado, Senador Ivo Cassol.

    Eu estava aqui lembrando, enquanto V. Exª falava, que eu fiz uma citação de Confúcio, mas meu pai não era nenhum pensador, nenhum Confúcio: era um homem trabalhador e que sabia dos compromissos.

    Lembro-me muito bem, quando criança, de que nós íamos de manhã, no domingo, à missa. Terminada a missa, enquanto eu queria voltar para casa logo para ir para o campinho de futebol ou para o rio tomar banho, meu pai ficava na porta da igreja conversando com um, conversando com outro, Senadora Vanessa, e eu ficava irritado com aquele negócio de meu pai não ir embora. Eu só vim descobrir, bem mais à frente, que o que meu pai fazia ali, na porta da igreja, conversando com os amigos dele, era prestar conta do que ele fazia no dia a dia, porque ele tomava dinheiro emprestado. Ele não tinha e tomava dinheiro emprestado dos outros agricultores...

(Soa a campainha.)

    O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - ... para tocar o negócio dele. Então, ele tinha transparência, porque dizia o que estava fazendo.

    Sempre me dizia o seguinte: "Olhe, meu filho, é preferível você estar duro, sem dinheiro no bolso, mas ter crédito, porque, com dinheiro no bolso e sem crédito, você não vai a lugar nenhum."

    Então, o que nós estamos dizendo aqui é que o Governo precisa de credibilidade, e essa credibilidade vai vir pelo embate político que nós vamos ter que fazer nesta Casa, não tenho dúvida nenhuma. Não é pela rua, não é pela confusão que nós vamos resolver os problemas; vamos resolvê-los aqui, no Congresso Nacional.

    Muito obrigado. Obrigado, Presidente. Obrigado, Senador Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2016 - Página 61